domingo, 18 de março de 2018

Pelos Caminhos de Fátima, desde Santarém

Em Janeiro, a minha "Mana" Paula lançou um desafio aos Amigos "peregrinos" mais chegados:
Dois Manos agradecem ao "deus" Sol, no
Caminho de Fátima, 17.03.2018
"Um convite que faço aos meus Amigos a acompanharem-me pelos Caminhos de Fátima, espero contar com a vossa presença".
Nos meus já diversos Caminhos de Fátima, há oito meses já tinha também respondido a idêntico desafio da minha "Mana" para a ligação Santarém - Fátima. Nessa altura, a Paula conheceu o "verdadeiro" Caminho, já que anteriormente tinha feito aquela ligação ... pela estrada. Infelizmente, muitos peregrinos continuam a preferir a estrada aos caminhos rurais, apesar de estes estarem perfeitamente sinalizados e serem, de longe, muito mais seguros e de uma beleza incomparavelmente superior. É pena, é mesmo lamentável!
Desta vez ... só eu alinhei à partida. Às oito horas de sábado os dois "Manos" estavam assim a partir de Santarém, acreditando que a prevista depressão "Hugo" teria piedade de nós. As "tempestades" agora têm nome ... mas tal como há uma semana a depressão "Félix" não estragou a caminhada em terras de Alqueva ... também o "Hugo" se manifestou apenas por ligeiros borrifos. S. Pedro e Santiago acompanham-nos... 😊
No Cantinho dos Peregrinos, do Sr. Francisco Torre, entre Azóia de Baixo e Advagar ... sem o Sr. Francisco
Sendo para ambos uma repetição de anteriores peregrinações - relembro que "peregrinar" significa atravessar os campos - estes dois dias de caminhada não têm muita história para contar. No que a mim me toca ... fiz em dois dias metade do que em Outubro fiz em pouco mais de um, quando do meu desafio Bobadela - Fátima non stop. Pouco depois das dez horas estávamos no "Cantinho do Peregrino", mas o Sr. Francisco Torre não estava no seu "posto". Esperamos que, nos seus 80 anos, se encontre bem de saúde e apenas tenha evitado sujeitar-se aos azedumes da depressão "Hugo".

Pouco antes de Advagar, com a Serra de Aire à vista. Verdes são os campos...
Tal como há 8 meses, o almoço foi no Miradouro da Chã de Cima, espraiando a vista, tal como então, sobre o vale da Ribeira do Espinheiro. Três jovens peregrinas inglesas que havíamos encontrado durante a manhã, reapareceram quando ali estávamos; iam também para Fátima, mas com o objectivo de dormirem em Minde. Voltaríamos a encontrá-las mais vezes. E pouco depois das duas da tarde estávamos nos Olhos de Água do Alviela, com 29,8 km percorridos à boa média geral de 4,83 km/h

Olhos de Água: o "meu" velho Alviela corre bem gordo, com as águas deste mês de Março bem chuvoso
Também como há 8 meses, a unidade de alojamento do Centro "Ciência Viva" foi o "albergue" escolhido para o fim de etapa, pelo que o resto da tarde foi de descanso, naquele tão aprazível local. Quando fomos tomar uma bebida no restaurante/bar ali existente ... lá estavam as três inglesas, que entretanto tinham chegado para uma pausa, antes de seguirem para Minde.
Mesa pronta para o jantar... 😋
Nós, no dia seguinte, tínhamos pela frente outros tantos quilómetros até ao destino, numa segunda etapa com mais relevo, como também já conhecíamos ... e como tão bem me recordava da minha "maratona" de 27 horas seguidas...
Domingo tínhamos combinado sair pelas oito e meia ... mas antes das oito já estávamos de mochilas às costas e ao Caminho. O dia acordara soalheiro, embora fresco ... mas não tardou muito para que ambos estivéssemos de manga curta!
Olhos de Água, 18.03.2018, 7h45 - O dia acordou soalheiro e com o céu quase limpo
A nossa segunda etapa iria ser caracterizada pelo sucessivo veste e despe das capas. Confirmando plenamente a previsão do BestWeather, alternaram-se os pequenos aguaceiros com bons períodos de Sol, à medida que avançávamos ao longo da manhã, pelas aldeias de Monsanto e do Covão do Feto.

8h15 - Monsanto à vista
Uma hora depois - Covão do Feto à vista ... e a Serra de Aire a aproximar-se
Covão do Feto ... com mílharas arraianas
como reforço de pequeno almoço 😋
As belas mílharas (ou papas de carolo) que havia levado deram-nos a energia suficiente para subir a íngreme Costa da Azinheira, entre o Covão do Feto e o "miradouro" sobre Minde. Bem me lembrava do que custou aquela subida, no meu desafio non stop ... feita seguramente a menos de metade da velocidade de agora. E quando, pouco depois das dez horas, atingimos o cimo ... maravilhámo-nos com a panorâmica sobre Minde e o seu polje, que nunca me lembro de ter visto com tanta água.


Na íngreme e pedregosa subida da Costa da Azinheira
Panorâmica sobre Minde e o seu polje
O polje de Minde, ou "mar" de Minde, forma-se quando as condições de pluviosidade fazem com que os terrenos atinjam um nível de saturação que não lhes permite absorver mais água. Quando a entrada de água no sistema é superior ao caudal permitido pelas nascentes, a água eleva-se dentro da rede e inunda esta área deprimida, formando este mar temporário.

Igreja Matriz
de Minde
E vamos para a última subida a sério, rumo ao Covão do Coelho: já só faltam 16 km
As "nossas" três peregrinas inglesas tinham dormido em Minde, de acordo com o que nos tinham dito, pelo que não seria muito provável voltar a encontrá-las. Mas, no início da subida para o Covão do Coelho, a intuição da Paula disse-lhe que as íamos ainda ver ... e elas apareceram à nossa retaguarda, como que vindas do nada! Tinham dormido a maior parte da manhã... 😜

Subida para o Covão do Coelho
Em Minde tínhamos procurado em vão uma padaria. Mas era domingo...; até o Mercado estava fechado. Dos nossos mantimentos restavam-nos uns bifes panados ... que saberiam bem num pãozinho fresco. À entrada do Covão do Coelho a Paula perguntou a uma senhora se haveria algum sítio onde comprar pão. "Olhem, vão rápido que o padeiro está ali ao pé da Igreja ", respondeu a senhora ... e lá estava, o "nosso" padeiro caído do Céu! Aliás eu disse-lhe isso mesmo ... "o senhor caiu-nos do Céu "; ele riu-se! Assim, sentados à porta de uma casa que ostentava a Senhora de Fátima e Santo António em bonitos azulejos, almoçámos pãozinho fresco com bifes panados, regado no meu caso com o que restava de um bom "Quinta dos Termos". Mas, parados, a minha Mana começou a ficar com frio ... e como come mais rapidamente do que eu nem tempo tive de completar a refeição com uma banana ... que acabou por regressar a casa incólume... 😊

O Céu continuava a alternar entre boas abertas, de Sol que nos aquecia o corpo e a mente, e alguns pequenos aguaceiros
Os 15 quilómetros finais foram um quase permanente veste e despe dos ponchos de protecção da chuva. Não que os aguaceiros fossem fortes ... mas molhavam. No pequeno aglomerado de Moita do Martinho, fizemos mesmo de uma garagem aberta o nosso refúgio de um aguaceiro um pouco mais forte e teimoso. Estávamos já perto de Fátima ... e às 14h40 estávamos a entrar no recinto do Santuário de Nossa Senhora do Rosário. A "missão" a que nos havíamos proposto estava cumprida!

Fátima, 14h45 - Dois Manos chegaram, mais uma vez, ao final de mais um Caminho ... ou será começo de outro?...
Continuo a não saber o que é que sou ... mas ali, naquele lugar de Fé, testemunha da Fé de quem me tem acompanhado nos Caminhos ... pedi ao Universo (Deus, Universo, inteligência do Cosmos?...) pela Saúde e Felicidade de todas as pessoas que Amo! Dentro de pouco mais de um mês voltarei àquele lugar. Nessa altura a minha Mana Paula lá estará já à minha espera ... para partirmos, pelo terceiro ano consecutivo, rumo a outro lugar de Fé, muito mais antigo e mais místico! Namastê!

O brilho do Sol no brilho e nos reflexos do chão molhado pela chuva ... numa união mágica e mística entre o Céu e a Terra

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