quarta-feira, 8 de março de 2017

Uma "odisseia" na Fórnea...

Não, não se assustem os meus habituais leitores com o título da fraga que hoje vos trago. Apesar de chamar habitualmente "aventuras" às minhas andanças por fragas e pragas ... uma odisseia seria demasiado ... daí as aspas... 😃
Vale de Alvados, 8.03.2017
Acontece que a "aventura" de hoje, vivida apenas com a minha "pequena arraiana", teve por base uma oferta de um dos populares packs do "odisseias.com". A esgotar-se o prazo para gozar a "fuga a dois" ... a escolha recaiu no "Retiro da Avó Lídia", na pequena aldeia de Mendiga, em pleno Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros. Quem conhece a zona já estará, assim, a perceber o título: o "odisseias" deu origem ... a uma "aventura" na Fórnea de Alcaria. Exactamente ... a Alcaria das minhas "aventuras" de há quase meio século, quando a Espeleologia me lançou nas "aventuras" ao ar livre, nos "anos loucos" de 1970 a 1972. Claro que já tinha voltado a estas terras, mas a minha arraiana não conhecia a famosa Fórnea, a não ser um leve bordejar do seu cume, há 4 anos, com os Caminheiros Gaspar Correia ... num dia de chuva. Hoje, pelo contrário, estava um óptimo dia de Sol, prenúncio de uma Primavera a chegar ... inspirador para viver "aventuras" ... e "odisseias"... 😂. E, assim, no Dia da Mulher ... a minha estrela subiu e desceu a Fórnea!

Subida de Zambujal de Alcaria ao Cabeço da Fórnea pela face norte, mais suave
A Fórnea é uma formação geológica espectacular, única no país. Trata-se de um magnífico anfiteatro natural, com cerca de 500 metros de diâmetro e 250 metros de altura, onde brota a ribeira da Fórnea, uma das linhas de água que formam o rio Lena, que desagua no Lis na cidade de Leiria. Subir ou descer a Fórnea não é para todos; os quase 300 metros de desnível, entre Zambujal de Alcaria e o cume do Cabeço da Fórnea, requerem esforço. A jornada teria de ser por isso compassada, a distância total não poderia ser muita ... e optei pelo "ataque" pela encosta norte, mais suave, virada a Porto de Mós.

Porto de Mós ao fundo,
com o seu Castelo
Pouco passava do meio dia quando o bordo da Fórnea se abriu à nossa frente. A heroína do dia seguiu o trilho que passa próximo da aldeia de Chão das Pias, este "aventureiro" subiu mesmo aos 525 metros do Cabeço da Fórnea. Aquela "taça", escavada pela Natureza em plena serra, faz-nos sentir pequenos ... e convida a abrir asas e voar ... pelo menos nas asas da imaginação.
E a Fórnea abre-se diante de nós
Aldeia de Chão das Pias, junto ao bordo oeste da Fórnea
Dêem-me asas ... para voar sobre este anfiteatro natural...
O almoço, ligeiro, foi nesta espectacular varanda ... da qual havia agora que descer, de regresso a Alcaria. A minha arraiana prefere sempre os declives maiores a descer do que a subir ... pelo que iniciámos o autêntico "mergulho" na vertente sul da Fórnea ... num permanente teste de travagem...

A vertiginosa descida para o fundo da Fórnea, em permanente teste de travagem
Sensivelmente a meio da descida, um pequeno desvio leva-nos à Cova da Velha, a gruta de onde brota o Ribeiro da Fórnea. Nestes terrenos cársicos, a água aparece e desaparece rapidamente, consoante a precipitação. Ainda não há muitos dias vi fotografias (e vídeos) de uma impressionante quantidade de água a jorrar desta nascente. Bastaram contudo meia dúzia de dias sem chuva para da Cova brotar apenas uma diminuta cascata interna. A panorâmica para o vale e as paredes que nos circundam valem contudo bem aquele pequeno desvio, a partir do qual se desce para o troço final, até Alcaria.

O vale da Fórnea, da Cova da Velha

Cova da Velha: nascente da Ribeira da Fórnea
Impressionante, o que já descemos!
E, vale abaixo, seguimos o curso do Ribeiro da Fórnea, o jovem rio Lena
Zambujal de Alcaria à vista
Antes das três da tarde estávamos de regresso a Zambujal de Alcaria ... e ao meu velho Café da Bica ... onde me esperava uma surpresa boa! Começo por transcrever o que escrevi há 6 anos, a propósito da velha Zambujal de Alcaria e das minhas "aventuras" perdidas na noite de quase meio século:

"Que será feito da D.ª Meireles e do velho "Café da Bica", em Zambujal de Alcaria, Serra d'Aire? Na minha primeira "missão" à serra d'Aire – 14 e 15 de Novembro de 1970 – dormi, como os outros, no palheiro a que chamávamos a Casa Abrigo do Centro Nacional Juvenil de Espeleologia. Começámos a subir a serra antes das 7 horas, ainda de noite. Percorremos uns km pelos píncaros e pelas 8 começou a nascer o Sol! Sem frio, com o grande cenário das serranias a perder de vista, o Sol elevava-se sobre o horizonte e nós caminhávamos entre vales e serra, sobre estreitos e tortuosos atalhos, ao som do velho hino:
O velho "Café da Bica" lá continua

Minhas botas, velhas, cardadas,
palmilhando léguas sem fim,
quanto mais velhinhas e estragadas
quanto mais vigor sinto em mim"

Pois o velho "Café da Bica" lá continua em Zambujal de Alcaria ... e a Dª Meireles continua à frente dele!!! Afinal ... a Dª Meireles era pouco mais velha do que nós éramos, naquele remoto início dos anos 70 do século passado! Eu e a maioria dos meus companheiros de "aventuras" tínhamos 17, 18, 19 anos; ela ... a Dª Meireles ... teria 20 e poucos!!! E, hoje, 8 de Março de 2017, mais de 46 anos depois ... fui encontrar de novo a Dª Meireles. Foi ela que me serviu a bica que lhe pedi ... foi ela que me falou do Cordeiro, do Marques, do Serra, do Batáguas. Falei-lhe do Prof. Vilar Moreira ... não sabia que já não está entre nós. E ali, naqueles 5 minutos de uma bica ... pareceu-me ter recuado quase 50 anos no tempo! Alcaria, de alguma forma ... ficou a fazer parte de mim.

"Retiro da Avó
Lídia", Mendiga
Terminada a "aventura" pedestre ... seguia-se a "odisseia" de que íamos gozar. No muito que ainda restava de uma tarde de Sol, esperava-nos o "Retiro da Avó Lídia", em Mendiga. E que esplêndida e acolhedora casa aqui viemos encontrar! Casualmente no Dia da Mulher ... a minha "pequena arraiana" teve o fim de tarde de que gosta... 😊. E o jantar foi no não menos acolhedor "Gigas", em Marinha da Mendiga, a apenas 2 km da "avó Lídia"; outra bela referência sem dúvida a aconselhar, pela qualidade, simpatia ... e excelente preço. Pena amanhã já acabar esta "odisseia"... 😏
Ver o álbum completo

1 comentário:

Anónimo disse...

Depois de uma atenta leitura, o meu pensamento foi, Lua de mel bem merecida :-)
Abraço
Joao J. Fonseca