sábado, 10 de janeiro de 2015

Nos trilhos de Alcamé ... com uma visita ao EVOA

Muitas vezes, os locais próximos de onde se habita são os que menos visitamos...! Das janelas de minha casa vejo o Tejo, de Vila Franca à Ponte Vasco da Gama, o mouchão da Póvoa, os sapais e a lezíria da margem esquerda do rio. Contudo, só por duas vezes me "aventurei" naquela que é a maior zona húmida do país e uma das mais importantes da Europa.
Ponta da Erva, 22 de Abril de 1979
A primeira foi em Abril de 1979, mas numa incursão motorizada, até onde o VW Brasília que então possuía conseguiu ir...; a segunda, em Dezembro de 1988, fez parte de uma visita ciclista, com alunos da "minha" velha Escola Secundária de Sacavém. De ambas as vezes, claro que o objectivo foi a mítica Ponta da Erva, na Foz do Sorraia, extremo sul da lezíria grande de Vila Franca de Xira. No meio da lezíria, mais a norte, a Igreja de Nª Srª de Alcamé foi também ponto obrigatório de passagem. Mas o atractivo número um do estuário do Tejo é a imensa riqueza faunística, no que respeita principalmente às populações de aves aquáticas. Foi esse atractivo que me levou a uma terceira incursão ... 26 anos depois da última! Os "meus" Caminheiros Gaspar Correia agendaram para este sábado uma visita ao EVOA, um novel Espaço de Visitação e Observação de Aves implementado junto à Ponta da Erva. Ora, aproveitando os belos dias deste início do ano de 2015, terça feira passada desafiei meia dúzia de habituais carolas das caminhadas longas para uma jornada ... nos trilhos de Alcamé. Assim, as duas actividades foram um agradável complemento uma da outra.

Junto à Igreja de Nossa Senhora de Alcamé, 6 de Janeiro de 2015
Chegar à Ponta da Erva a partir da estrada Vila Franca - Porto Alto implicaria mais de 35 km de percurso. A opção foi, assim, iniciar a jornada pedestre junto à Igreja de Nª Srª de Alcamé, mandada construir em meados do século XVIII pelo 1º Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida. A igreja impressiona sobretudo pela sua solidão, no meio dos campos e pastagens, pertencentes à Companhia das Lezírias, onde deambulam cavalos e touros. Apesar de dedicada a Nossa Senhora da Conceição, o povo deu-lhe o nome de Nossa Senhora de Alcamé, nome de origem árabe, que significa “trigo”.
Ao longo da margem do Tejo,
frente ao Mouchão de Alhandra
Pelo meio dos campos e pastagens, pertencentes à Companhia das Lezírias, onde deambulam cavalos e touros...
Após um troço à beira rio, até frente ao Mouchão do Lombo do Tejo, os terrenos do EVOA obrigam-nos a inflectir para o interior, atingindo a Ponta da Erva pela margem esquerda da longa vala do Mar de Cães. Em diversos pontos do percurso a concentração de aves é assinalável.


Há vida nas águas e nos ares da lezíria...
E aí vou, a caminho da Ponta da Erva, já no horizonte
A Ponta da Erva é um local que prende pela paisagem e pelo isolamento. No extremo sul da lezíria grande de Vila Franca de Xira, onde as águas do Sorraia se lançam no Tejo, dali se avista o espraiar do estuário, a Ponte Vasco da Gama e até, ao fundo, o relevo de Palmela e da Arrábida.
Estava, afinal ... praticamente em frente de casa, do outro lado do rio...

Na magia da Ponta da Erva, junto à Foz do Sorraia
O regresso tinha de ser em grande parte pelo mesmo caminho. A hipótese de subir o curso do Sorraia até ao Mouchão da Cabra não garantia que pudéssemos depois virar a poente. Assim, aos quase 4 km rectilíneos que havíamos feito para sul, no regresso da Ponta da Erva acrescentámos-lhes mais 3 km ... percorrendo assim aquela que talvez tenha sido a nossa maior recta pedestre de sempre: 7 km sempre para a frente! Para um dos "aventureiros", este galgar de metros infinitos fez lembrar a travessia das vastas planuras de Castela, no Caminho Francês de Santiago...

Na interminável recta de regresso da Ponta da Erva
Cruzando as valas da lezíria, por entres aves e cavalos ... regressámos à Igreja de Alcamé
Na terça feira, percorremos assim 26 km nos trilhos de Alcamé, num belo dia de Sol e até de algum calor.



E à caminhada de terça feira seguiu-se, hoje, a visita ao EVOA. Este Espaço de Visitação e Observação de Aves foi implementado junto à Ponta da Erva; integra três zonas húmidas, num total de 70 ha. Estas lagoas são importantes para as aves, sendo utilizadas como área de refúgio ou nidificação. O espaço dispõe de três observatórios, diversos pontos de observação camuflados e um Centro de Interpretação, onde se encontra patente a exposição permanente "EVOA, onde o mundo encontra o Tejo".

10.Jan.2015, 9:50h - Centro de Interpretação
do EVOA ... onde o mundo encontra o Tejo
Lagoa Grande: ao fundo, a Ponta da Erva
O voo da
águia sapeira
Ponta da Erva ... voltei...
Rio Sorraia
O espaço EVOA constitui um excelente exemplo de turismo de Natureza. Mais do que palavras ... as fotos falam da riqueza faunística deste Espaço.
Trilhos de Alcamé

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