domingo, 3 de agosto de 2014

Das brañas de Somiedo às terras do fim do mundo...

Menos de dois meses depois de regressar de Somiedo e menos de três semanas depois de regressar do meu primeiro Caminho de Santiago ... estive de novo em Somiedo ... e fui de novo a Santiago e às terras do Fim do Mundo...!

Domingo, 27 de Julho: De Llamardal a Mumián e a Pola de Somiedo
27.Julho.2014, 10:05h - Chegamos à Braña de La Peral

Foi, desta vez, com os "meus" Caminheiros Gaspar Correia, na tradicional actividade de verão, que apenas em 2013 se não realizou. Relativamente a Somiedo foi, para a maioria dos presentes, recordar Somiedo, já que muitos dos que agora participaram conheceram Somiedo, comigo, nos anos que, parecendo que foram ontem ... já passaram há 7 e há 9 anos!
Depois da habitual viagem desde Lisboa, entrámos no paraíso pelo Puerto de Somiedo, descendo até Pola ... e às instalações do nosso amigo Hermínio, do Hotel "Casa Miño". O "cheirinho" dado a conhecer do paraíso de Somiedo consistiu numa única caminhada, a da velha ligação entre a antiga braña vaqueira de La Peral e Pola de Somiedo, por Mumián e Coto de Buenamadre.

Não somos só nós
a apreciar a paisagem...!
Vale de Somiedo, do Miradouro Príncipe de Astúrias, La Peral
A travessia do Trabanco, entre La Peral e Llamardal ... não se comparou com a "épica" travessia de há menos de dois meses! E toda a caminhada decorreu ao som das sucessivas exclamações de encanto e admiração de quem ainda não tinha tido o privilégio de conhecer o paraíso...

Ao longo do Canto Mostachal, sobre o vale de Somiedo
Tratando-se de uma rota que já perdi a conta a quantas vezes a palmilhei ... mais uma vez concluí que nunca me canso destas paragens. A braña  de Mumián, o fabuloso Bosque de La Enramada, Coto de Buenamadre, a nossa amiga Rosalía da Casa Buenamadre ... nunca estas paisagens já bem conhecidas são iguais. E não tendo pessoalmente tido eu essa felicidade ... um elemento do grupo deu de caras com um urso, já no troço entre Coto e Pola! O espanto foi tal que não houve tempo de usar a máquina fotográfica, mas o testemunho de que os ursos estão aqui felizmente em expansão vimo-lo através das numerosas fezes encontradas, carregadas de cerejas "roubadas" aqui e ali!

Braña de Mumián
Janela aberta ... para o paraíso! Peña Furada, a partir do Bosque de La Enramada
Ao longo do vale do Rio Sousas ...
... e fezes recentes de urso, às portas de Pola de Somiedo
No dia seguinte esperava-nos a costa cantábrica, ainda no paraíso asturiano e, depois, já na nossa "irmã" Galiza! Fica, como sempre, o percurso desta caminhada Somedana.

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Pola de Somiedo à vista, 27.Julho.2014
3ª feira, 29 de Julho: Da Praia das Catedrais a Ribadeo...
ou a espectacularidade do litoral nordeste da Galiza!

Depois de Somiedo, rumámos ao litoral cantábrico, para visitar duas preciosidades da costa asturiana - Cudillero e Luarca - e prosseguir para as terras galegas de Ribadeo.
Cudillero, Astúrias, 28.Julho.2014
Nas diversas deambulações por estas costas, nos velhos tempos da autocaravana e muito antes dela, nunca ocorreu aperceber-me da existência de um autêntico monumento natural nestas paragens: a Praia de Augas Santas (devido ao ferro e às suas propriedades), mais vulgarmente conhecida como a Praia das Catedrais.
A Praia das Catedrais deve o seu nome turístico à forma peculiar das arribas no lado oriental, as quais formam o que faz lembrar uma catedral medieval, devido aos sucessivos arcos naturais.
Luarca, Astúrias, 28.Julho.2014
Desenvolvendo-se sempre no sentido poente/nascente, iniciámos a caminhada na praia de Santiago de Reinante. A parte inicial foi a descida à Praia das Catedrais, a maior parte da qual só é possível percorrer na maré vazia. Depois, as arribas e alcantilados levaram-nos a Rinlo e a Ribadeo, com o azul do mar e do céu a acompanhar-nos, ao longo de sucessivas e belas enseadas.
As fotos dizem mais que as palavras...

Santiago de Reinante, 29.Julho, 10:03h
Corvo marinho
A espectacular Praia das Catedrais
Antigos viveiros de marisco, à entrada de Rinlo
Rinlo, pequena vila piscatória entre Reinante e Ribadeo
Farol de
Ribadeo

E do litoral nordeste da Galiza ... seguiríamos para Santiago de Compostela e para a Costa da Morte...
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30.Julho, 12:05h - Menos de 3 semanas depois ... regressei a Santiago de Compostela...

5ª feira 31 de Julho: Camiños de Muxía

E assim, menos de três semanas depois do "meu" Caminho de Santiago ... voltei a Santiago de Compostela e aos Camiños da Fín da Terra, no culminar da actividade caminheira que nos levou a Somiedo e à costa nordeste da Galiza. As caminhadas que agora fizemos foram as que preparámos em Maio, quando igualmente rumámos a estas terras com velhos e grandes amigos. Mas ... esta foi a primeira vez que cheguei às "terras do fim do mundo", a pé, depois do "meu" Camiño...
Próximo de Xurarantes, Muxía ...
... nos Caminhos de Santiago, 31.7.2014
Diferentes das sensações vividas com os meus Irmãos da "aventura" do Camiño, este regresso proporcionou-me contudo de novo a sensação de entrega, de partilha, de catarse, de comunhão com a Natureza destes lugares místicos e mágicos. E a sensação de partilhar os sentimentos e as vivências com pessoas de quem gosto!
No último dia de Julho, o percurso foi quase circular, em terras de Muxía e da sua Virgem da Barca. A partir da aldeia com o curioso nome de Xurarantes, acompanhámos a Vieira e as setas amarelas e azuis, que sinalizam a etapa Muxía - Fisterra ou o inverso. Tal como em Maio, a praia de Lourido deliciou estes "peregrinos" caminheiros, depois das fabulosas panorâmicas do Monte do Facho.
Ao percorrer estes caminhos e ao ver passar os peregrinos ... pareceu-me sentir o sentir deles...! Na praia de Lourido, conversámos com uma jovem americana que estava no seu Camiño, no caso o Caminho Francês; estava com mais de 900 km nos pés, em mais de 30 dias de viagem.
Atravessado o litoral poente de Muxía ... chegámos à Ponta da Barca. O Santuário continua em obras de restauro, após o pavoroso incêndio do Dia de Natal de 2013, mas o local impõe como sempre o seu peso e o seu respeito.

A fabulosa Praia
de Lourido
Santuário da Virgem da Barca, Muxía
Pedra dos Cadrís, na Ponta da Barca, Muxía
Porto de Muxía
Camiños de Muxía
(álbum completo)
Cascata de Ézaro, Rio Sallas, 31.Julho.2014
Terminada a caminhada de Muxía, acabámos a tarde de 5ª feira junto à Cascata de Ézaro, na base do Monte Pindo ... ainda calcinado pelo incêndio de 2013.

6ª feira 1 de Agosto: Camiños de Fisterra

A última caminhada deste périplo pelas Astúrias e Galiza ... terminaria no Cabo Fisterra, o finis terrae, onde terminam todos os camiños, onde o fim se torna início. Ao contrário dos anteriores, o dia estava cinzento, com o céu repleto de nuvens. Mas começámos a caminhada quase ao meio dia, confiantes que, no fim, tivéssemos um pôr-do-Sol semelhante ao que vivi no dia no dia 14 de Julho, menos de três semanas antes. E como nada é igual ... a dádiva dos céus foi mágica...

Praia de Rostro, a norte de Fisterra, 1.Agosto, 12:00h
Rumo ao Cabo da Nave (Veladoiro, 234m alt.)
Sobre Fisterra e a Praia do Mar de Fóra
Tal como em Maio, por Castrominán e Vilar de Duio subimos às antenas de Veladoiro, no Cabo da Nave ... quase vendo debaixo das águas a mítica cidade de Duio, destruída por Deus como castigo pela indiferença das populações às homilias do Apóstolo Santiago e pelo culto pagão ao Sol.
Do Cabo da Nave ... já se avistavam as "terras do fim do mundo"!

Praia do Mar de
Fóra, Fisterra
O Cabo da Nave vai
desaparecer nas nuvens...
Cabo da Nave e baía do Mar de Fóra, vista do Monte de San Guillermo
O nevoeiro descia e caíam algumas pingas de chuva, mas à medida que subíamos o Monte de San Guillermo ... os céus abriam-se para nos dar uma espécie de pôr-do-Sol antecipado! Pedaços de céu azul já se descortinavam à volta daquele autêntico túnel de luz, que nos parecia levar para um outro mundo, uma outra dimensão. À volta desse túnel de luz que se projectava no mar ... o nevoeiro descia!

Por entre as brumas da cidade perdida de Duio ...
... surge o Farol de Finis Terrae !
São 19h e 18m ... faltam quase três horas para o pôr do Sol ... mas o Sol já se está a pôr por entre as brumas...
Ainda não eram oito horas, mais de duas horas antes do pôr-do-Sol ... voltei assim a chegar a pé ao Km 0 de todos os Caminhos, ao marco que simboliza o princípio e o fim. Por qualquer magia ou energia do local ... senti ali, comigo, a presença física dos Irmãos com quem, 18 dias antes, ali havia chegado! Mas desta vez levei também a estrela que ilumina o meu caminho...
Km 0, 14.Julho.2014
Com os Irmãos do meu Camiño...
Km 0,
Com a estrela que
1.Agosto.2014
ilumina o meu caminho...
A bota do peregrino, em bronze, contra o prateado do mar e do Sol poente
Na ponta do Cabo ... pareceu-me sentir os pés doridos de quantos peregrinos ali chegavam, as catarses que transportavam, o êxtase e a libertação sublimados no fogo das pequenas fogueiras, onde os objectos terrenos se queimam no fechar de cada ciclo. Nos braços abertos da entrega ao mar e aos céus, nos rostos e olhares calmos e silenciosos de quantos se espalhavam, de rocha em rocha, de pensamento em pensamento, revi-me com os três companheiros com quem ali vivi, no dia 14 de Julho, talvez os minutos mais intensos e emocionantes da minha vida! E, se ao voar do pensamento se pode chamar orar ... orei e roguei também por eles, para que cada um encontre o seu Caminho...

É aqui que tudo acaba ... e tudo começa!
A dádiva do Cosmos ...
... do Cosmos do qual recebo a energia vital, o fluido cósmico universal, o Orgone, responsável pela Vida!
1.Agosto.2014, 20:15h - Os milagres de Fisterra brindaram-nos com um pôr do Sol antecipado,
que depois se fechou de novo nas brumas dos Camiños da Fín da Terra
E nas terras do fim do mundo, com o Sol a deitar-se no mar e o Olimpo do Monte Pindo do outro lado da ampla baía de Fisterra, coberto de nuvens tão escuras como as suas encostas mártires, terminámos esta actividade de verão caminheira. No dia seguinte, seria o coming home, o longo regresso a casa...

Camiños da Fín da Terra
(álbum completo)

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