Menos de dois meses depois de
regressar de Somiedo e menos de três semanas depois de regressar do meu primeiro
Caminho de Santiago ... estive de novo em
Somiedo ... e fui de novo a
Santiago e às terras do
Fim do Mundo...!
Domingo, 27 de Julho: De Llamardal a Mumián e a Pola de Somiedo
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27.Julho.2014, 10:05h - Chegamos à Braña de La Peral |
Foi, desta vez, com os "meus"
Caminheiros Gaspar Correia, na tradicional actividade de verão, que apenas em 2013 se não realizou. Relativamente a Somiedo foi, para a maioria dos presentes, recordar Somiedo, já que muitos dos que agora participaram conheceram
Somiedo, comigo, nos anos que, parecendo que foram ontem ... já passaram
há 7 e
há 9 anos!
Depois da habitual viagem desde Lisboa, entrámos no paraíso pelo
Puerto de Somiedo, descendo até
Pola ... e às instalações do nosso amigo Hermínio, do
Hotel "Casa Miño". O "cheirinho" dado a conhecer do paraíso de Somiedo consistiu numa única caminhada, a da velha ligação entre a antiga
braña vaqueira de
La Peral e
Pola de Somiedo, por
Mumián e
Coto de Buenamadre.
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Não somos só nós |
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a apreciar a paisagem...! |
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Vale de Somiedo, do Miradouro Príncipe de Astúrias, La Peral |
A travessia do
Trabanco, entre
La Peral e
Llamardal ... não se comparou com a "épica" travessia de
há menos de dois meses! E toda a caminhada decorreu ao som das sucessivas exclamações de encanto e admiração de quem ainda não tinha tido o privilégio de conhecer o paraíso...
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Ao longo do Canto Mostachal, sobre o vale de Somiedo |
Tratando-se de uma rota que já perdi a conta a quantas vezes a palmilhei ... mais uma vez concluí que nunca me canso destas paragens. A
braña de Mumián, o fabuloso
Bosque de La Enramada,
Coto de Buenamadre, a nossa amiga
Rosalía da
Casa Buenamadre ... nunca estas paisagens já bem conhecidas são iguais. E não tendo pessoalmente tido eu essa felicidade ... um elemento do grupo deu de caras com
um urso, já no troço entre Coto e Pola! O espanto foi tal que não houve tempo de usar a máquina fotográfica, mas o testemunho de que os ursos estão aqui felizmente em expansão vimo-lo através das numerosas fezes encontradas, carregadas de cerejas "roubadas" aqui e ali!
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Braña de Mumián |
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Janela aberta ... para o paraíso! Peña Furada, a partir do Bosque de La Enramada |
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Ao longo do vale do Rio Sousas ... |
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... e fezes recentes de urso, às portas de Pola de Somiedo |
No dia seguinte esperava-nos a costa cantábrica, ainda no paraíso asturiano e, depois, já na nossa "irmã"
Galiza! Fica, como sempre, o percurso desta caminhada Somedana.
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Pola de Somiedo à vista, 27.Julho.2014 |
3ª feira, 29 de Julho: Da Praia das Catedrais a Ribadeo...
ou a espectacularidade do litoral nordeste da Galiza!
Depois de
Somiedo, rumámos ao litoral cantábrico, para visitar duas preciosidades da costa asturiana -
Cudillero e
Luarca - e prosseguir para as terras galegas de
Ribadeo.
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Cudillero, Astúrias, 28.Julho.2014 |
Nas diversas deambulações por estas costas, nos velhos tempos da autocaravana e muito antes dela, nunca ocorreu aperceber-me da existência de um autêntico monumento natural nestas paragens: a
Praia de Augas Santas (devido ao ferro e às suas propriedades), mais vulgarmente conhecida como a
Praia das Catedrais.
A Praia das Catedrais deve o seu nome turístico à forma peculiar das arribas no lado oriental, as quais formam o que faz lembrar uma catedral medieval, devido aos sucessivos arcos naturais.
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Luarca, Astúrias, 28.Julho.2014 |
Desenvolvendo-se sempre no sentido poente/nascente, iniciámos a caminhada na praia de
Santiago de Reinante. A parte inicial foi a descida à
Praia das Catedrais, a maior parte da qual só é possível percorrer na maré vazia. Depois, as arribas e alcantilados levaram-nos a
Rinlo e a
Ribadeo, com o azul do mar e do céu a acompanhar-nos, ao longo de sucessivas e belas enseadas.
As fotos dizem mais que as palavras...
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Santiago de Reinante, 29.Julho, 10:03h |
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Corvo marinho |
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A espectacular Praia das Catedrais |
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Antigos viveiros de marisco, à entrada de Rinlo |
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Rinlo, pequena vila piscatória entre Reinante e Ribadeo |
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Farol de |
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Ribadeo |
E do litoral nordeste da Galiza ... seguiríamos para
Santiago de Compostela e para a
Costa da Morte...
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30.Julho, 12:05h - Menos de 3 semanas depois ... regressei a Santiago de Compostela... |
5ª feira 31 de Julho: Camiños de Muxía
E assim, menos de três semanas depois do "meu"
Caminho de Santiago ... voltei a
Santiago de Compostela e aos
Camiños da Fín da Terra, no culminar da actividade caminheira que nos levou a
Somiedo e à costa nordeste da Galiza. As caminhadas que agora fizemos foram as que preparámos
em Maio, quando igualmente rumámos a estas terras com velhos e grandes amigos. Mas ... esta foi a primeira vez que cheguei às "terras do fim do mundo", a pé, depois do "meu"
Camiño...
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Próximo de Xurarantes, Muxía ...
... nos Caminhos de Santiago, 31.7.2014 |
Diferentes das sensações vividas com os meus Irmãos da "aventura" do
Camiño, este regresso proporcionou-me contudo de novo a sensação de entrega, de partilha, de catarse, de comunhão com a Natureza destes lugares místicos e mágicos. E a sensação de partilhar os sentimentos e as vivências com pessoas de quem gosto!
No último dia de Julho, o percurso foi quase circular, em terras de
Muxía e da sua
Virgem da Barca. A partir da aldeia com o curioso nome de
Xurarantes, acompanhámos a Vieira e as setas amarelas e azuis, que sinalizam a etapa
Muxía -
Fisterra ou o inverso. Tal como
em Maio, a praia de
Lourido deliciou estes "peregrinos" caminheiros, depois das fabulosas panorâmicas do
Monte do Facho.
Ao percorrer estes caminhos e ao ver passar os peregrinos ... pareceu-me sentir o sentir deles...! Na praia de Lourido, conversámos com uma jovem americana que estava no seu
Camiño, no caso o Caminho Francês; estava com mais de 900 km nos pés, em mais de 30 dias de viagem.
Atravessado o litoral poente de
Muxía ... chegámos à
Ponta da Barca. O Santuário continua em obras de restauro, após o pavoroso incêndio do Dia de Natal de 2013, mas o local impõe como sempre o seu peso e o seu respeito.
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A fabulosa Praia |
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de Lourido |
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Santuário da Virgem da Barca, Muxía |
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Pedra dos Cadrís, na Ponta da Barca, Muxía |
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Porto de Muxía |
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Cascata de Ézaro, Rio Sallas, 31.Julho.2014 |
Terminada a caminhada de
Muxía, acabámos a tarde de 5ª feira junto à
Cascata de Ézaro, na base do
Monte Pindo ... ainda calcinado pelo incêndio de 2013.
6ª feira 1 de Agosto: Camiños de Fisterra
A última caminhada deste périplo pelas Astúrias e Galiza ... terminaria no
Cabo Fisterra, o
finis terrae, onde terminam todos os
camiños, onde o fim se torna início. Ao contrário dos anteriores, o dia estava cinzento, com o céu repleto de nuvens. Mas começámos a caminhada quase ao meio dia, confiantes que, no fim, tivéssemos um pôr-do-Sol semelhante ao que vivi no dia
no dia 14 de Julho, menos de três semanas antes. E como nada é igual ... a dádiva dos céus foi mágica...
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Praia de Rostro, a norte de Fisterra, 1.Agosto, 12:00h |
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Rumo ao Cabo da Nave (Veladoiro, 234m alt.) |
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Sobre Fisterra e a Praia do Mar de Fóra |
Tal como
em Maio, por
Castrominán e
Vilar de Duio subimos às antenas de
Veladoiro, no
Cabo da Nave ... quase vendo debaixo das águas a mítica cidade de
Duio, destruída por Deus como castigo pela indiferença das populações às homilias do
Apóstolo Santiago e pelo culto pagão ao Sol.
Do
Cabo da Nave ... já se avistavam as "terras do fim do mundo"!
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Praia do Mar de |
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Fóra, Fisterra |
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O Cabo da Nave vai |
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desaparecer nas nuvens... |
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Cabo da Nave e baía do Mar de Fóra, vista do Monte de San Guillermo |
O nevoeiro descia e caíam algumas pingas de chuva, mas à medida que subíamos o
Monte de San Guillermo ... os céus abriam-se para nos dar uma espécie de pôr-do-Sol antecipado! Pedaços de céu azul já se descortinavam à volta daquele autêntico túnel de luz, que nos parecia levar para um outro mundo, uma outra dimensão. À volta desse túnel de luz que se projectava no mar ... o nevoeiro descia!
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Por entre as brumas da cidade perdida de Duio ... |
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... surge o Farol de Finis Terrae ! |
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São 19h e 18m ... faltam quase três horas para o pôr do Sol ... mas o Sol já se está a pôr por entre as brumas... |
Ainda não eram oito horas, mais de duas horas antes do pôr-do-Sol ... voltei assim a chegar a pé ao Km 0 de todos os Caminhos, ao marco que simboliza o princípio e o fim. Por qualquer magia ou energia do local ... senti ali, comigo, a presença física dos Irmãos com quem, 18 dias antes, ali havia chegado! Mas desta vez levei também a estrela que ilumina o meu caminho...
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Km 0, 14.Julho.2014
Com os Irmãos do meu Camiño... |
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Km 0,
Com a estrela que
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1.Agosto.2014
ilumina o meu caminho...
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A bota do peregrino, em bronze, contra o prateado do mar e do Sol poente |
Na ponta do Cabo ... pareceu-me sentir os pés doridos de quantos peregrinos ali chegavam, as catarses que transportavam, o êxtase e a libertação sublimados no fogo das pequenas fogueiras, onde os objectos terrenos se queimam no fechar de cada ciclo. Nos braços abertos da entrega ao mar e aos céus, nos rostos e olhares calmos e silenciosos de quantos se espalhavam, de rocha em rocha, de pensamento em pensamento, revi-me com os três companheiros com quem ali vivi, no dia 14 de Julho, talvez os minutos mais intensos e emocionantes da minha vida! E, se ao voar do pensamento se pode chamar orar ... orei e roguei também por eles, para que cada um encontre o seu Caminho...
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É aqui que tudo acaba ... e tudo começa! |
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A dádiva do Cosmos ... |
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... do Cosmos do qual recebo a energia vital, o fluido cósmico universal, o Orgone, responsável pela Vida! |
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1.Agosto.2014, 20:15h - Os milagres de Fisterra brindaram-nos com um pôr do Sol antecipado,
que depois se fechou de novo nas brumas dos Camiños da Fín da Terra |
E nas terras do fim do mundo, com o Sol a deitar-se no mar e o Olimpo do
Monte Pindo do outro lado da ampla baía de
Fisterra, coberto de nuvens tão escuras como as suas encostas mártires, terminámos esta actividade de verão caminheira. No dia seguinte, seria o
coming home, o longo regresso a casa...
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