quarta-feira, 9 de outubro de 2013

De regresso às terras "mágicas" do Gerês (II)

Depois dos três espectaculares dias relatados no post anterior, acabo de viver mais dois dias e meio ... de um autêntico hino à vida, à paixão pela montanha, à amizade, à partilha. Com mais três elementos do fabuloso grupo que viveu as anteriores "aventuras" ... eu e a minha "parceira" tínhamos no programa ficarmos mais dois dias naquelas terras mágicas, numa semi-autonomia baseada na cabana de Pinhô, pertencente à Vezeira de Fafião, a cabaninha que nos tinha recebido aos dois em Julho de 2012.
Mas aos cinco "aventureiros" ... ia-se juntar alguém muito especial...

2ª fª 7 de OutubroCascatas do Rio Arado ... ou quando nos instalamos no paraíso...

Feitas algumas compras ainda na vila do Gerês, o primeiro destino eram as cascatas da Fecha das Barjas, a que alguém um dia começou a chamar "do Tahiti", onde o rio Arado se precipita no Toco. Depois das fortes chuvas dos últimos dias de Setembro, o espectáculo das águas era impressionante, aconselhando contudo à máxima prudência. A mínima falta de atenção ou de senso ... pode ser fatal; aquele paraíso já ceifou a vida a várias pessoas...

Fecha das Barjas, rio Arado, 7.Out.2013: lavando o olhar e a alma!
Cascata do Arado
Mas naquele paraíso ... infelizmente também havia múltiplos vestígios da passagem dos vândalos. Não da tribo germânica do século V, mas sim da tribo bem mais actual que deixa toda a espécie de lixo espalhada por onde passa. Numa certamente ingénua tentativa pedagógica, recolhemos toda aquela imundície para um saco, que deixámos encostado às guardas da estrada, com um cartaz a apelar ao civismo dos "turistas"...
Mas o rio Arado iria ainda evidenciar a sua grandeza na turística "cascata do Arado". Quantas vezes aquela ponte, aquelas escadas, aquelas pedras e águas viram passar sucessivos grupos de alunos meus, umas vezes a pé, outras transportados em "cómodas" camionetas de caixa aberta, desde a Portela do Homem, ou desde o Vidoeiro...
Ainda com o apoio das quatro rodas, o almoço foi no Curral dos Portos ... cuja cabana já me acolheu, com a minha "menina", em Junho de 2011.

Dos Portos à Tribela foi um salto. Os "bólides" ficaram a descansar durante 48 horas; ia começar a autonomia.
Pelo vale do Conho, com a Roca Negra e o Cutelo de Pias ao fundo ...
... chegamos à fantástica Cabana de Pinhô
E na cabana de Pinhô estava combinado sermos nós, os visitantes ... a receber a "rainha" da montanha. O nome Dorita ecoa hoje pelas aldeias, pelas corgas, pelos vales e currais do Gerês! Quando um dia a conheci, foi a sua e minha paixão pelo Gerês que nos uniu, foi o amor de quem conhece o Gerês como a palma das suas mãos, de quem irradia e respira o amor pela montanha ... "esse Amor que me leva na busca incansável dessa Alma perdida que se encontra lá… Esse amor que de todas as vezes que se lá vai… dá… só dá… porque é na dádiva que a gente mais sente prazer…". Verdadeira White Angel de um tempo carenciado de amor e de dádiva, a Dorita ali estava, para passar aquelas duas noites e dias connosco, para se entregar e nos entregar à sua Serra, à terra-mãe da qual seguramente ela brotou.
Pouco passava das cinco da tarde em
Pinhô ... e chega alguém muito especial!
E a noite se fez mágica...
3ª fª 8 de Outubro: Pinhô - Bicos Altos - Lagarinho - Amarela - Pradolã - Carvalhosa - Pinhô

Para terça-feira, tinha destinado uma caminhada em que iria mostrar aos meus companheiros parte do "meu" Gerês, mas também de descoberta de uma zona que ainda desconhecia, entre o percurso tradicional da vezeira e o vale do rio de Fafião. "Mas há alguma coisa no Gerês que tu não conheças?", perguntava-me um dos companheiros de "aventura"; depois de conhecer a "rainha" da montanha ... ficou a saber o que é conhecer o Gerês...!

O "despertar dos mágicos", no Curral de Pinhô, 8.Out.2013
Após um verdadeiro "despertar dos mágicos", a nossa White Angel guiou-nos ao longo de uma caminhada fabulosa, levou-nos a alguns "santuários" completamente "perdidos" naquela serra "mágica", como o curral velho de Pinhô, os velhos trilhos de pastores e montanheiros, dos Bicos Altos ao Lagarinho, à paisagem "lunar" da Sesta da Amarela, ao concílio dos deuses da pedra, aos prados verdejantes, às panorâmicas de cortar a respiração! Meu Deus, Dorita, tu só podes ser filha daquela mãe terra, daquele solo, da energia telúrica que dele emana e nos trespassa.

Curral velho de Pinhôhá magia nos bosques,
de onde saltam fadas e duendes...
Rumo aos Bicos Altos
Curral de Bicos Altos
De olhos semicerrados ... vejo o meu mundo...
O calor da terra mãe...
O concílio dos deuses...
Verdadeiros totens
vegetais e pétreos...
A caminho do Lagarinho
Curral e cabana do Lagarinho
Somos pequenos ante esta imponência...! Sobre o vale do rio de Fafião, com Porta Ruivas e o vale da Touça à esquerda
Não é um descanso ... é uma entrega à rocha mãe, uma entrega à montanha e à energia que dela emana
Subida para a Sesta da Amarela

Na paisagem "lunar" da Sesta da Amarela,
no marco triangulado sobre a Touça e Porta Ruivas
Vale do Rio Laço, da Sesta da Amarela
Curral e cabana da Amarela
Corga de Vale Longo
Bordejando a encosta sul do Rio Laço, as Rocas Negra e Alva já tinham surgido no horizonte. Caminhávamos agora em direcção ao "estreito", esse já meu velho conhecido de várias passagens de e para os belos prados do Vidoirinho e da Rocalva. Mas, como infelizmente já sabia ... os olhos viam o que não queriam ver: toda a envolvência a sudoeste das Rocas estava vestida de negro. O incêndio de há cerca de duas semanas lavrou aquele paraíso que tão bem conheço. O Vidoirinho terá desaparecido? Os belos prados onde por vezes cresce o algodão terão desaparecido? O próprio vale alto do rio do Conho estava despido e negro de morte...! Preferi desviar o olhar e a máquina fotográfica para sul, passadas céleres levaram-nos para longe daquele cenário ... no que dizem ser um Parque Nacional ... no que já foi um Parque Nacional...

Curral e cabana de Pradolã ... bem guardada
Abeirando-nos do vale do rio do Conho, reaparece-nos a Roca Negra e o Cutelo de Pias
Descida da Carvalhosa para Pinhô, em tons de um pôr-do-Sol que se aproxima
Há ou não magia em estado puro?...
O regresso foi pela cabana de Pradolã e pela Carvalhosa. Junto à cabana, passeavam calmamente as dóceis vacas que habitualmente por ali andam, numa vida ao correr dos pastos que felizmente ali voltavam a ser abundantes.
E descendo a vertiginosa encosta da Roca de Pinhô, por vezes encostados à vertente do Rio do Conho, antes das sete horas estávamos de regresso à "nossa" cabana. Tínhamos acabado de viver um dia fabuloso, respirando a magia dos bosques, dos esconderijos secretos onde se abrigam entidades mitológicas, recebendo a força da Natureza ... mas também a de uma mulher que ama a Serra como a uma mãe que tudo lhe dá, cuja alma um dia ficará eternamente a pairar naqueles lugares ... a "Alma de montanhista"...

"A alma pode ser chamada o centro da natureza, a intermediária de todas as coisas, a corrente do mundo, a essência de tudo, o nó e a união do mundo" ("White Angel")



4ª fª 9 de Outubro: Não é um adeus, é só um até breve...

Tudo tem de ter um fim ... mas um fim é sempre um início, é um adeus que é só um até breve. Na madrugada de Pinhô, ouvia-se ainda por vezes o piar das corujas, quando o dia começou a clarear. E um novo "despertar dos mágicos" lançou-nos para o último destes três dias mágicos...

"É preciso muita força interior para parir uma estrela que brilha..."   (Foto e legenda: White Angel)
9.Out.2013, 8:00h - Novo "Despertar dos Mágicos" ... no último dia destes dias mágicos!
Vamo-nos despedir da cabana de Pinhô...
De novo pela Ponte das Servas, sobre o Rio do Conho, regressámos à Tribela. Lá estavam os carros, mal sabendo o que tínhamos vivido na sua ausência.

Adeus vale do Conho, Roca Negra, Cutelo de Pias ...
De regresso à Tribelano fim
de uma autonomia inesquecível
Para despedida, ainda passámos pela turística Pedra Bela. A vista levava-nos da Caniçada ao Bom Jesus de Braga ... e ao Pé de Cabril que havíamos subido 3 dias antes. Há mais de 30 longos anos ... quantos e quantos alunos meus por ali passaram?...

Barragem da Caniçada, vista do Miradouro da Pedra Bela
Pé de Cabril e vale do Rio Gerês
Não é um adeus ...
é só um até breve...!
Um belo almoço no Gerês fechou esta "aventura". A partir daí a "caminhada" ainda era longa ... mas rodoviária. E termino a descrição da mesma forma que a anterior: obrigado, companheiros! É isto a vida, é isto a amizade, é isto a paixão! Mas ... um obrigado muito especial ao "anjo branco" que um dia tive a felicidade de conhecer. Mais do que uma grande mulher, sonhadora e amante destas terras a quem se entrega, é um grande ser humano, com uma grande alma, uma enorme alma ... uma "Alma de montanhista". Obrigado Dorita!

2 comentários:

Lena disse...

Não tendo estado presente, consegui viver uma pequenina parte destes dias aqui descritos. Obrigada Callixto por esta "viagem" :)

Aurora Martins Madaleno disse...

Passeei pelo Gerês e gozei as delícias das paisagens, da aragem, da simplicidade da gente e de sonhos que nunca acabam. Foi há muitos anos. Hoje, há momentos, deliciei-me a admirar estas fotos e imaginei os meus amigos Lala e José Carlos Callixto a sentirem-se no paraíso, talvez de onde nunca saibam sair. São apaixonados pela Natureza. Por isso eu os admiro tanto. Beijinhos