domingo, 19 de maio de 2013

GRD Gerês / Xurés ...
Da Misarela à aldeia velha de Juriz ... passando pelos Carris e Sombras

Quando em Janeiro de 2012 caminhei pela primeira vez com um grupo de adeptos dos percursos longos e de alguma dureza - as GRDs (grandes rotas duras) - logo soube que havia de viver com eles mais "aventuras". Por isso os acompanhei nas Serras de Aire e Candeeiros, na Arrábida, ainda há pouco nos campos de Oledo e da Idanha ... por isso os levei já às terras do Côa, à Malcata, à Serra da Gata.
17.05.2013, 9:25h - Perto da Barragem da Venda Nova...
a caminho das terras mágicas do Gerês ... com arco-íris
Num grupo onde impera a amizade e a disponibilidade, onde a sensibilidade desperta a cada curva do caminho, onde no canto de cada sonho nascem vontades ... há muito que uma travessia do Gerês estava no imaginário destes amigos das GRDs. Os dados estavam lançados para um novo desafio...
A partir de Vale de Espinho, onde mais uma vez me encontrava em "retiro", na sexta feira fui-me encontrar com parte do grupo na mítica Ponte da Misarela, lá onde o Barroso confina com o Minho, onde o Rabagão é transposto pela ponte que o diabo não queria deixar erguer, lá onde se baptizavam as crianças ainda no ventre materno.
Ao percorrermos a velha ponte e as muitas fragas que a ladeiam, ao som das águas agitadas do Rabagão, quase nos parecia ver surgir o mafarrico e a sua voz tonitruante: "Salvo-te, pois claro ... mas se me deres a alma em troca". Nós ... salvámo-nos com um bom almoço em Sidrós, a aldeia barrosã unida à minhota aldeia de Frades pela Ponte da Misarela... J. E ao fim do dia reuniamo-nos ao resto do grupo em Pitões das Júnias ... a "aldeia mágica".

Ponte da Misarela, lá onde o Rabagão separa terras minhotas das terras do Barroso
Em Pitões das Júnias ... claro que nos esperavam as minhas velhas amigas da "Casa do Preto"  Quantas vezes já ali fiquei? Quantas vezes as abracei? Quantas vezes me emocionei com o carinho com que ali sou recebido? Obrigado Srª Maria (mãe e filha), Tina, Sandra ... obrigado a todas e todos os que ali me têm recebido ao longo de mais de 30 anos! Eu sinto-me um pouco de Pitões das Júnias...

Pitões das Júnias ... a aldeia mágica. O panorama meteorológico não era dos melhores...
Sábado era o dia da grande rota! A ideia era a grande travessia Pitões - Fonte Fria - Carris, descendo depois a vertente galega para as Sombras e para os banhos quentes de Rio Caldo. A meteorologia tinha-nos metido medo durante quase toda a semana ... mas não esperávamos por neve!
Os planos alternativos eram vários ... mas o meu já proverbial e habitual "pacto" com S. Pedro vingou... J. Juntamente com a alegria e o companheirismo de todos, vivemos assim um fabuloso fim de semana, de paisagens, sensações e emoções inesquecíveis.

18.05.2013, 6:15h - A "grande marcha" tinha começado: Pitões - S. João da Fraga - Carris - Sombras - Rio Caldo
Carvalhal do Beredo
Subida à mítica Ermida do S. João da Fraga
Acabámos por cortar apenas a subida à Nevosa, ponto mais alto do Gerês e de todo o norte. Dadas as condições de chuva e nevoeiro, em que nada veríamos nas alturas da Fonte Fria à Nevosa, optámos pelo percurso de meia encosta, pelo S. João da Fraga, Cornos de Candela e Lamalonga.

O S. João da Fraga ia ficando para trás...
Ribeiro Teixeira
E a longa marcha prossegue,
rumo à Lamalonga
Ribeiro da Biduiça
Vale da Biduiça
E passada a Ribeira das Negras, chegamos à Lamalonga
Ao longo do percurso tivemos de tudo: Sol, muitas nuvens, chuva (pouca), vento, granizo ... e neve! Mas nada que impedisse a marcha. À hora do almoço estávamos na Lamalonga, na base da vertiginosa subida para os Carris ... que foi feita debaixo de uma mistura de granizo e neve! E que espectáculo se nos iria deparar lá no alto, com as ruínas do complexo mineiro completamente "perdidas" na neve e no nevoeiro que por vezes teimava em envolver-nos, a nós e àquelas paragens onde se sente a força da natureza e da história!
Subida para os Carris ... debaixo de neve!
No "reino perdido" dos Carris (1450m alt.), 18.05.2013, 14:50h
Com cerca de 16 km percorridos, deixámos os Carris pelo velho estradão mineiro, até um pouco antes da Ponte das Abrótegas, inflectindo então para norte, para o vale da Amoreira. O objectivo eram agora as Minas das Sombras ... e os tão desejados e esperados banhos quentes no Rio Caldo! Mas ainda faltava quase outro tanto...

Pico do Sobreiro, perdido nas nuvens e na neve
Descendo o vale da Amoreira, rumo ...
... à fronteira entre terras lusas e galegas, entre o Gerês e o Xurés
E entramos no fabuloso Vale das Sombras
A descida para a vertente galega esteve contudo sempre interrogada até a iniciarmos, já que as previsões meteorológicas eram bem piores do que para o lado luso; a alternativa seria descer pela Sesta da Lamalonga ou pelo Castanheiro, direito a Lapela. Mas mais uma vez ... tivemos o S. Pedro do nosso lado! Ao fundo via-se Sol e algumas aldeias galegas. O vento empurrou as nuvens negras para sul, largaram alguns ligeiros borrifos de chuva e granizo ... e vieram sucessivas abertas de bom Sol, permitindo admirar o fabuloso vale das Sombras (o vale do Rio de Vilameá), com as suas espectaculares cores, as sucessivas cascatas e piscinas naturais ... o autêntico Shangri-La que eu um dia "descobri", em caminhada solitária, em Outubro de 2010. Descendo o vale, à nossa direita tínhamos o paredão rochoso do Pión de Paredes ... que naquele mesmo dia 20 de Outubro de 2010 trepei a bom trepar, para as alturas do galego Altar dos Cabrós e do fronteiriço Pico do Sobreiro... J.
Minas das Sombras, 18.05.2013
Altar dos Cabrós (Altar de Cabrões), 20.10.2010
Descendo o fabuloso Vale das Sombras, ou do Rio de Vilameá, 18.05.2013
Ponte de Porta Paredes, sobre o rio de Vilameá
Já a 700 metros de altitude, a ponte de madeira de Porta Paredes atravessou-nos para a margem esquerda do rio de Vilameá ... e pouco depois mudámos de vale: um pouco acima da Ermida de Nosa Señora do Xurés seguimos o Sol poente e descemos para o vale do Rio Caldo e para Torneiros ... rumo às tão desejadas águas caldas do Rio Caldo!

Já à vista do vale do Rio Caldo ...
... e da aldeia de Torneiros
Passavam 20 minutos das 19 horas portuguesas quanto "aterrámos" naquelas maravilhosas águas.
Nos banhos quentes do Rio Caldo ... onde todo o cansaço e
todos os "males" se desvaneceram... J! (Foto: Cristina Ribeiro)
Com exactamente 30 km nos pés, um desnível acumulado de 1800 metros de subida e 2500 de descida ... os cerca de 40ºC a que a água deveria estar foram uma cura milagrosa para todos os "males" de que nos pudéssemos eventualmente queixar!
Foram sensivelmente 13 horas de uma fabulosa travessia, bem dura, é certo, que eu já conhecia ... mas que não me cansei nem cansarei de repetir ... na companhia de tão bons e heróicos caminheiros e amigos!
O mini-bus da "Casa dos Braganças", de Tourém, levou-nos de regresso a Pitões ... onde nos esperava a afamada e deliciosa posta barrosã da "Casa do Preto" ... para repôr as energias gastas durante a espectacular caminhada que tínhamos acabado de viver.


Mas ainda havia domingo. Pequena ... mas ainda havia caminhada! E caminhada a três dos locais mais emblemáticos de Pitões das Júnias: o vetusto Mosteiro de Santa Maria das Júnias, a Cascata de Pitões ... e a aldeia velha de Juriz, que eu "descobri" há menos de um ano.

O vetusto Mosteiro de Santa Maria das Júnias, dos sec.s XIII e XIV, ligado à Ordem de Cister (19.05.2013)
Junto ao Mosteiro de Pitões ... procedemos 
à plantação de pequenos carvalhos
E do Mosteiro seguimos para a Cascata de Pitões
No Miradouro da Cascata de
Pitões  (Fotos: Carlos Mota e Lena Casal)
A caminho da aldeia velha de Juriz  (Foto: Carlos Mota)
No local da aldeia medieval de Sancti Vincencii de Juriz, referida já nas Inquirições Afonsinas, parece ter havido um castro celta, onde o denso carvalhal camufla e protege os toscos vestígios do povoado, onde se ouvem nas sombras as especulações sobre o seu abandono no século XV, talvez devido à peste, talvez devido a uma praga de formigas … talvez ... talvez!

Na senda da aldeia velha de Juriz, 19.05.2013
E de repente, por entre a ramagem, surge a cruz da velha "igreja" do Juriz...
Na "igreja" do Juriz ...
magia em estado puro...
Mais uma plantação
de carvalhos!
E o adeus a Pitões das Júnias e às terras mágicas do Gerês.  Mas não é um adeus ... é só um até breve...
A aldeia velha de Juriz marcou o fim deste fabuloso fim de semana, em que vivemos a magia do Gerês ... mas em que vivemos também a magia de uma camaradagem e de uma alegria de viver estampada nos rostos de todos quantos o viveram. Vivemos Amizade, vivemos Natureza, vivemos Aventura ... ou não fosse "A dose certa de aventura o ingrediente que nos permite provar o sabor, por vezes escondido, que a vida nos reserva em jeito de pura liberdade..." (Luís Vendeirinho)
"Poderia eu dizer que é bom caminhar pela mais bela das montanhas ... poderia eu fazer um grandioso hino à amizade ... poderia divulgar a mais linda poesia ... mas basta dizer simplesmente que foi alegria tamanha ... de momentos de solidariedade ... de dias que se resumem, no tempo e na vida, como um "grande dia" ... e de prendas para a natureza que nos acolhe docemente."
Obrigado, amigos! Viveremos seguramente novas "aventuras" ... em jeito de pura liberdade!

5 comentários:

Lena disse...

Amigo Callixto realmente todos os adjectivos que usas na descrição acima não são suficientes para descrever o fim de semana espectacular em todos os sentidos! Obrigada por tudo e, sim, voltar áquelas paragens é imperativo ;)Drop tifidut

Joaquim Gomes disse...

Parabéns grande amigo.....belo trabalho...descrevendo na perfeição os belos momentos que passamos nesta fantástica caminhada na companhia de grandes amigos.....muito obrigado pela superior orientação e organização.Um abraço.

Caminhadas disse...

Mais uma GRD feita com mão de mestre. Obrigado a todos os que participaram nesta caminhada e que me "obrigaram" a por à prova todos os sentidos do meu corpo.

Unknown disse...

Foi com um misto de nostalgia e saudade, que revi e reconheci, quase todos estes locais, que ficaram marcados na minha memória! Parece-me impossível, como reconheço as pedras do Ribeiro Teixeira ou do Ribeiro da Biduiça, ou as cascatas do Rio de Vilameá! Estas terras marcam-nos e foi sensacional, voltar a encontrá-las aqui! Obrigado, por as teres trazido até mim...

José Carlos Callixto disse...

Obrigado pelas vossas simpáticas palavras ... mas não sei quem são os dois últimos, "Caminhadas" e o "unknown". Saudações montanheiras para os que me acompanharam, presencialmente ou através da leitura do blog.