No final de Janeiro, o excelente documentário “
Malcata – Conto de Uma Serra Solitária” levou-me a uma caminhada a solo ...
à (re)descoberta da Malcata: as minas de ouro, o vale abandonado pela captura do rio
Bazágueda ... e tanto mais.
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Pontão do Moinho do Rato, 5h50
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Enquanto que o
Côa é o principal rio na encosta norte da
Malcata, na encosta sul o Bazágueda disputa a sua importância com a
Ribeira da Meimoa, pertencentes ambos à rede hidrográfica do Tejo,
através respectivamente do Erges e do Zêzere, de que são afluentes.
Também em Janeiro, estabeleci uma sã conversação numa rede social acerca da
nascente do
Rio Bazágueda, erradamente referido na
Wikipedia
como nascendo no Concelho do Sabugal. Relativamente perto do limite entre os
Concelhos do Sabugal e de Penamacor, o Bazágueda nasce na encosta sul da
Malcata, portanto concelho de Penamacor, até pela simples razão de que, se
nascesse no concelho do Sabugal ... teria de correr para norte; basta
consultar a carta topográfica militar M888-238. Várias linhas de água formam a
cabeceira do Bazágueda, como a Barroca do Pedro Lopes e a do Passil,
convergindo ambas na Malhada do Barroso, de onde segue para a Veiga Grande, a
Malhada do Cieiro e a Quinta do Major, recebendo até lá várias outras
linhas de água, como a Ribeira das Ferrarias.
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Sarças ardentes?... Não, é o Sol que vai
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nascer! Lá ao fundo é Vale de Espinho
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Cabeço da Moura (1076m alt.), 6h35
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Todo o curso do
Bazágueda na Serra da Malcata corre em vales profundos
e estreitos ... dificilmente acessíveis ou mesmo inacessíveis. Nas minhas
várias incursões na Malcata, conheço bem a zona da
Quinta do Major, ou,
mais a sul, na zona da Mouca, onde ainda se vêem as ruínas dos
Moinhos do Bazágueda, onde viveu a única habitante da Reserva da
Malcata, a
ti MariZé Salgueiro. Dali, já mais largo e mais calmo, continua para o Moinho do Maneio e para a
barragem, já depois da estrada de Penamacor. Faz fronteira desde a foz do rio
Torto até desaguar no rio Erges, afluente do Tejo, próximo das ruínas de
Salvaleón ... que um dia também tenho de ir conhecer.
A referida troca de conhecimentos acerca da nascente do
Bazágueda fez nascer a vontade de a ir procurar ... sabendo embora que
teria provavelmente de andar a corta mato; desde que não houvesse silvas ...
tudo bem! E, na mesma jornada pedestre, poderia aproveitar também para
explorar a nascente da Ribeira da Meimoa, esta mais facilmente
localizável, entre a belíssima fonte do Espigal e o cabeço da
Machoca. E assim ... saí do meu retiro de
Vale de Espinho às cinco e meia da manhã; a minha raiana ficou
como bela adormecida ... e às 6h20 poderia ver nascer o Sol, lá para os lados
da nascente do Côa. As cores do nascer do Sol vi ... mas depois ele perdeu-se
numa neblina vinda precisamente das terras do Sol nascente. E no cabeço da
Moura ... tinha o "mundo" aos meus pés...
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Panorâmica perto do Cabeço da Moura para sul. Ao longo deste
vale uma ténue linha de água corre já para o Bazágueda
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O afloramento quartzítico do Barroco Branco, a poente da Moura,
7h15
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A "aventura" ia começar pouco depois do Barroco Branco. Ainda por estradão,
cheguei à cabeceira da
Barroca do Pedro Lopes. Sendo esta a principal
linha de água que concorre para a formação do Bazágueda, pode-se considerar
que é ali a nascente do grande rio selvagem que atravessa a encosta sul da
Malcata. Aliás, diversos mapas referem-na já com a designação "
Rio Bazágueda".
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A vermelho o percurso seguido, à descoberta da nascente Na
foto, 30 metros de desnível mais abaixo, à esquerda, nasce o
Bazágueda, que no seu curso jovem é a Barroca do Pedro Lopes
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Neste ponto, ilustrado na foto ... saí do estradão e desci para aquela ladeira
que parecia impenetrável. Foi como se de repente tivesse anoitecido de novo.
Primeiro não via água ... mas ouvia-a. O que já tinha ouvido antes, mais
acima, no estradão, não era imaginação. E ... lá estava ela! Um fiozinho muito
ténue, mas que quase logo recebeu o seu primeiro pequeno afluente, vindo dos
lados do barroco branco. Dir-se-ia que eu estava num reino fantasmagórico, com
sulcos profundamente cavados pelas águas de invernos mais rigorosos,
mergulhado na penumbra do denso arvoredo. Aos 'esses' (como o mapa ilustra
bem), fui descendo o curso da barroca ... ou do incipiente
Bazágueda. E
naquele mundo perdido ... qual não é o meu espanto quando chego a umas ruínas,
assinaladas em carta nenhuma. Ruínas de quê? Uma espécie de portal ... muros
... aparentemente uma casa tosca, pequena. Quem seria o Pedro Lopes que deu o
nome à barroca? Seriam aquelas pedras toscas a sua morada? Seja como for ...
ali houve vida, trabalho, suor ... memórias certamente perdidas na voragem do
Tempo.
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E do incipiente Bazágueda ... ia passar para a cabeceira da
Ribeira da Meimoa
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Deixando o
Bazágueda seguir o seu curso, rumei a noroeste, para o
vale da incipiente
Ribeira da Meimoa. Da nascente do Bazágueda à
nascente da Ribeira da Meimoa medeia cerca de um quilómetro e meio em linha
recta ... ou não tivessem sido já, geologicamente, as duas linhas de água
gémeas, antes da captura fluvial do Bazágueda para o vale do Erges. A Ribeira
da Meimoa nasce ligeiramente a norte do
Espigal, entre este e o alto da
Machoca. Foi para lá que me dirigi.
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Subindo as primeiras águas
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da Ribeira da Meimoa
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Sítio, tanque, Casa e Fonte do Espigal, 9h45
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O belo sítio do
Espigal, com a água puríssima daquela fonte
"milagrosa", foi o local de maior paragem desta caminhada; reforço alimentar
... e algum descanso ... para a seguir continuar a subir o curso da
Ribeira da Meimoa até que as águas deixaram de se ver. Dependendo
dos invernos serem mais ou menos pluviosos, a nascente situar-se-á, portanto,
mais perto do Espigal ou mais perto da Machoca.
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Ribeira da Meimoa próxima da nascente ... até que a água
desapareceu, entre o Espigal e a Machoca
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Torre da Machoca à vista. Estava terminada a senda das
nascentes dos dois rios principais da encosta sul da Malcata
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Às 11h50 estava no alto da
Machoca, junto à torre de vigia. O dia tinha
ficado meio fosco, mas a Barragem do Sabugal, a cidade do
Sabugal, a
Serra da Estrela a poente ... a panorâmica que de ali se admira é sempre
cativante.
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Alto da Machoca (1072m alt.), 10h50: a panorâmica abre-se
agora a norte, para a Barragem do Sabugal
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Na
Machoca começava o regresso. A opção foi a descida rumo ao
Alcambar. Afinal ... estava a tempo de ir almoçar com a minha estrela
arraiana, que só me aguardava lá para meio da tarde... 😁
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Descida para o Alcambar e para Vale de Espinho, rumo à
velha estrada nunca acabada que ligaria Vale de Espinho a Malcata
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Ao meio dia e meia hora estava a cruzar o
Côa na
Ponte Nova, junto à praia fluvial de Vale de Espinho. Para não repetir
caminho, ainda deu para dar a volta pelo
Moinho da Ervaginha, subindo
depois até à estrada de Quadrazais e entrando na aldeia por noroeste.
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A Ponte Nova e o Côa, junto à Praia Fluvial de
Vale de Espinho, 12h30
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Moinho da Ervaginha
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Entrada em Vale de Espinho pelo caminho proveniente da
Ervaginha
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O campanário estava a dar a uma da tarde quando entrei em casa. Tinham sido 23
km de "descoberta", por montes e vales, dentro e fora de trilhos. Uma boa
manhã, de novo a solo ... recompensada com o belo almoço que a minha bela
adormecida entretanto preparara. A senda das nascentes ... já é passado. As
águas do
Bazágueda e da
Ribeira da Meimoa seguem o seu curso.
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A "Santinha", como o povo de Vale de Espinho lhe chama,
recebeu-me quase em fim de jornada, 12h45
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Clique no mapa para ampliar, ou
aqui
para ver no
Wikiloc
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3 comentários:
Excelente descrição, fica-se com vontade de explorar. Verificaste a presença de coelhos? Um abraço
Parabéns amigo pela excelente descrição dessa caminhada per terrenos que nos dizem muito. Também eu, sendo de Malcata, conheço a serra e esses lugares míticos que nos encantam. Obrigado pela sua reportagem. Abraço
Incredible description...
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