Numa semana de despoluição e com a mesma equipa de seis, depois do paraíso de
Somiedo
tínhamos em agenda ...
Montesinho. Mas o dia de ligação permitiria
recordar, para uns, ou conhecer, para outros, outros espaços naturais nos
limites entre Leão, Galiza ... e Trás-os-Montes. A escolha recaiu sobre as
Médulas de Carucedo, antiga exploração romana de ouro a céu aberto, que originou uma paisagem
insólita, de formações avermelhadas no meio de bosques de castanheiros e
carvalhos. Curiosamente, quando há 23 anos conheci Somiedo ... também
regressámos a Portugal pelas Médulas.
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25.Set.2020, 11h30: as fantasmagóricas formações rochosas das Médulas de Carucedo, resultantes do trabalho de milhares de escravos romanos, em
explorações auríferas a céu aberto
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Mas
Carucedo e
Las Médulas ... é Caminho de Santiago!
Caminho de Inverno! E, quase sem dar por isso ... o Caminho veio ter comigo ... ou o Universo
levou-me ao Caminho. Um dia ... qualquer dia.
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Miradouro de Chao de Maseiros, junto
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ao Lago Somido, próximo das Médulas
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Lago de Carucedo e os montes
... em que nos despediríamos de terras astur-leonesas
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Pouco depois das quatro da tarde estávamos em
Bragança, pela fronteira
de Hermisende/Parâmio. E, coisas do destino ... em Bragança estava de novo no
Caminho ... a variante portuguesa da Via da Prata.
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Bragança: Castelo e Domus Municipalis ... no
Caminho de Santiago
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Na Senda do Sabor
Sábado 26.Set:
Cova da Lua - França (circular)
Reservámos dois dias para o
Parque Natural de Montesinho. Depois de
uma longa ausência, ainda
em 2019
lá andámos; em pouco mais de um ano ... voltei por três vezes à velha casa
da
Lama Grande,
25 anos depois
da última vez que lá me alojei com grupos de alunos e com colegas do ensino.
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Cova da Lua, 26.Set.2020, 9h45 - Íamos iniciar a primeira de
duas caminhadas na senda do Sabor
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Deixámos um carro na aldeia de
França e outro na aldeia de
Cova da Lua. Assim, poderíamos fazer uma caminhada linear (Cova da
Lua - França) ou circular. E assim, começámos por subir em direcção
nordeste, até próximo do geodésico da
Carba (1013m alt.), por
entre soutos de castanheiros já bem carregados de ouriços. A subida é suave,
a minha "velha" estrela fê-la sem problemas, ela que já se cansa ... mais do
que quando ambos tínhamos 25 anos... 😊
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Subida aos montes da Carba, através de soutos de castanheiros
e com panorâmicas para o vale da Ribeira de Ornal
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A descida para o vale do
Sabor foi fácil e rápida. Ao meio dia
estávamos junto à antiga casa florestal ... em ruínas. O porquê de todo este
património construído, quando a Conservação da Natureza não era letra morta,
ter sido abandonado e por todo o país se encontrar em ruínas ... permanece
um mistério.
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Descida para o vale do rio Sabor ...
Menina estás à janela... ⏬
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Na antiga Casa Florestal do rio Sabor ... em ruínas
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Memórias perdidas no tempo ...
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Moinho do Souteio, no Sabor
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Vale do Sabor ... rumo a França
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Não ... não íamos para terras de França ... íamos a caminho da aldeia de
França, a aldeia onde muitos "passadores" largavam os emigrantes que
queriam deixar o país "a salto" ... e lhes diziam que já estavam em França.
Mas, antes de França, detivémo-nos no antigo posto aquícola do
Prado Novo ... ou no que resta dele, já que igualmente se
encontra abandonado e em ruínas. Ali almoçámos, num local bem aprazível e
que poderia e deveria estar adaptado a parque de merendas e de lazer.
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Ruínas do antigo posto aquícola do Prado Novo, à beira do
Sabor ... ou como num recanto aprazível se pode desperdiçara
Natureza e o património edificado...
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No
Prado Novo separámo-nos: a Lala, Zé Manel e Dina terminariam
a jornada em
França, enquanto que a
Lucy, o João e este carola
aceleraram o passo ... para em França inflectir rumo aos montes da
Fonte Jungueira e de
Mata Galão, regressando à Cova
da Lua em caminhada circular.
Domingo 27.Set: Na Senda das
Nascentes do Sabor
Desde que no ano passado voltei à
Lama Grande, fiquei sempre com
vontade de ir à procura da nascente do rio
Sabor. Sabia que o Sabor
nasce em Espanha, na
Sierra de Gamoneda, mas
muito perto da fronteira, para já em terras lusas atravessar a serra de
Montesinho. Assim, o que propus à
Lucy e João (a minha donzela
ficou no descanso em Bragança) foi dar-lhes a conhecer o coração da
Serra de Montesinho, incluindo a Lama Grande ... a partir da qual
começaria a "exploração". Também sabia ... que não havia trilhos...
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Barragem da Serra Serrada, Montesinho, 27.Set.2020, 9h40: ia
começar uma caminhada ... na senda da nascente do Sabor
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Só com um carro, a caminhada tinha forçosamente de ser circular. O Duster
ficou a descansar a seguir à
Barragem da Serra Serrada e à imagem da
Senhora dos Viajantes, bem no coração de Montesinho. Já a pé, pouco
depois das 10h00 estávamos na "minha" casa da
Lama Grande ... que
continua no miserável estado de abandono a que o Estado a votou... 😢
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Casa da Lama Grande: em pouco mais de um ano vim aqui 3 vezes
... 25 anos depois de pela segunda vez ter nela alojado um grupo de
mais de 20 alunos e colegas ... nos tempos áureos em que as Escolas
eram Escolas e o Ensino era Ensino...
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Na
Lama Grande ... começava a "exploração". Até perto da linha de
fronteira, a carta indicava um trilho na direcção do jovem rio
Sabor, a
noroeste da Lama Grande. Seguimo-lo e cruzámos o rio ainda em Portugal; depois
... depois começou o corta mato puro e duro ... mas desafiante.
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Ainda há trilho ... ainda estamos em Portugal ... e em Portugal
cruzamos o jovem Sabor
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Mas aqui já estamos na linha de fronteira e acima dela, já estamos no
mato puro e duro ... e começamos a perceber as
fuentes del Sabor, a bacia de onde
provêm as águas que hão-de ir ter ao Douro
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Quase sempre com o GPS na mão (abençoado
Locus Map), fomos seguindo a linha de água indicada nas cartas (tanto na carta 11 do
IGeoE como nas
LoMaps de Portugal e de Espanha) ... e fomos começando a perceber que não há
uma nascente do Sabor, há várias pequenas linhas de água que, naquela pequena
bacia entre as eólicas espanholas e a linha de fronteira, se juntam para
formar o Sabor. Daí falar nas nascentes do Sabor, no plural. Tomámos assim
como referência aquela em que vimos água corrente mais a norte, bem acima já
dos 1500 metros de altitude.
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Nascente (42º 0,104' N 6º 47,691' W) ... ou uma das nascentes do
Sabor
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A(s) nascente(s) do Sabor estava(m) "descoberta(s)"...
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É daqui que ele corre para a fronteira, atravessa a Serra de
Montesinho e corre para o Douro
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A "descoberta" da nascente do
Sabor foi comemorada ... com um
almoço, frugal. Como nunca gosto de ir e voltar pelo mesmo percurso, fui
"desenhando" na carta um corta mato um pouco mais a oeste ... rumando ao marco
de fronteira 382 ... a
Piedra de los Tres Obispos.
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Mais 2 km e pouco de corta mato puro e duro ... e chegamos à Piedra de los Tres Obispos ... onde entrámos em Portugal
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Já fartos de quase 5 km de corta mato, os meus dois companheiros de "aventura"
preferiram a opção que lhes pus de voltarmos ao ponto onde havíamos deixado o
trilho e mesmo à
Lama Grande. Mais longe ... mas mais rápido e menos
cansativo. O objectivo era agora a represa de
Porto Sabor, já minha
conhecida e que lhes propus conhecerem ... e se se deliciaram com aquela bem
vinda "praia"!
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Do corta mato ... regressámos ao conforto dos trilhos... 😊 (próximo
da Lama Grande)
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Não estamos
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sós...
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Porto Sabor, três da tarde ... uma "praia" que seria bem
apreciada...
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Pois ... os pés não se aguentavam muito tempo dentro de água... 😊
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De
Porto Sabor já não faltava muito para regressarmos ao carro,
apreciando as panorâmicas sobre a
Barragem de Veiguinhas. Com 15 km
percorridos (quase 5 em corta mato puro e duro), às quatro e
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Barragem de Veiguinhas, Rio Sabor
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meia da tarde dávamos por terminadas as nossas actividades pedestres desta
semana começada em terras de
Somiedo e terminado em terras de
Montesinho. Uma curta passagem pela aldeia ... o regresso a
Bragança onde a minha "estrela" nos aguardava ... e no dia
seguinte seria o
coming home. Tínhamos passado uma semana de
despoluição ... e sem covid...; venham as próximas "aventuras"!
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(Clique no mapa para ver no
Wikiloc)
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