Quando comecei a escrever as minhas memórias de quase meio século de "aventuras", começava assim a
apresentação aos meus "
instantâneos de uma vida ao ar livre".
O tal rapaz urbano e pacato ... vai agora a caminho dos 70 anos ... tem filhos e netos ... já palmilhou "
léguas sem fim" ... e apaixonou-se também pelos
Caminhos Peregrinos ... os Caminhos da espiritualidade.
Vão longe os
tempos "pré-históricos" da espeleologia, do mergulho amador, das caminhadas pelos grandes espaços, dormindo ao relento, em palheiros, no fundo de grutas, entre caixotes no porão de traineiras ou em tendas armadas no alto de serras, ou no meio de matas luxuriantes. Para trás ficaram também os mais de 30 anos em que conduzi grupos de jovens na aprendizagem desse Amor pela Natureza.
Ao longo de todas essas "aventuras", tive sempre um razoável sentido de orientação. Caminhava em grupos, mas muitas vezes também sozinho, como à descoberta da "minha" Malcata, por exemplo. Quando necessário, recorria a guias, ou aos velhos mapas em papel, à velha bússola, aos azimutes, mas a navegação era eminentemente à vista, baseada nos sentidos ... e nunca me perdi...
😃.
Nos últimos anos do século passado, contudo, o
GPS veio revolucionar tudo.
Global Positioning System: depois de um uso exclusivamente militar, de início,
a localização e navegação por satélite passava a estar disponível para uso civil gratuito. Claro que não entrei no mundo do GPS de imediato ... mas a minha atracção para as tecnologias (os meus
vídeos são um exemplo) levou-me ao mundo da navegação por GPS, assim que aquela foi economicamente viável para o comum dos mortais. É assim que, na
Nauticampo de 2002, adquiri um receptor
Magellan Meridian Gold, um receptor de GPS provido de um mapa base de 16 MB e um écrã com uma "espectacular" resolução ... de 120 x 160 pixels. Mas quase tudo me era estranho naquele "mundo", na altura; a aprendizagem não foi fácil, mas tal como nas minhas carolices nos "mundos" do vídeo e da informática (nos quais tinha entrado respectivamente há mais de 10 anos e há quase 20), a melhor e mais eficaz formação foi a auto-aprendizagem, a leitura, a experiência, a tentativa e erro, a correcção.
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Serra da Malcata, Agosto de 2003 |
Um dos primeiros testes de campo deste
Magellan foi na épica viagem
pelas terras celtas da Irlanda e Gales, nos tempos áureos da autocaravana. Curiosamente, a minha
adesão aos Caminheiros Gaspar Correia, em Outubro de 2002, coincidiu com os primeiros registos mais a sério com aquele dispositivo pioneiro. A fase de treino e de experiência continuava ... e nem sempre os resultados me satisfaziam. Desde cedo que me senti limitado pelo mapa muito pouco pormenorizado. A
Garmin, concorrente da
Magellan, não me oferecia garantias melhores; cheguei aliás a experimentar o modelo eMap, através de uma campanha na Nauticampo do ano seguinte.
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Serra da Malcata, Junho de 2005 |
Em ambos - e nos receptores GPS em geral - aquela limitação era importante; era possível associar outros mapas, mas apenas mapas da marca, via cartão SD. No entanto, foi aquele
Magellan que me lançou na navegação por satélite; o desbravar da "minha" Malcata, a pé, de bicicleta e de jeep, a ele o devo ... associado à "descoberta" que entretanto tinha feito nas pesquisas na internet: o
OziExplorer. Este fabuloso
software permitia-me estudar mapas e percursos na comodidade do ecrã do computador; quaisquer mapas, desde que georreferenciados, o que podia eu próprio fazer, introduzindo as coordenadas de pelo menos três pontos no mapa. As velhas cartas topográficas ganhavam de novo vida. Podia traçar e estudar percursos no computador, passá-los para o
Magellan e segui-los no terreno, bem como registar percursos no terreno e visualizá-los no mapa, no ecrã.
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OziExplorer: "We have been developing and updating OziExplorer and related products since 1996 and are still providing free updates for all our software products" |
Mas a versatilidade que o
OziExplorer me dava no computador, não a tinha no terreno, onde continuava limitado por cartas com pouco pormenor. Mesmo nos eventuais modelos topo de gama da
Magellan ou da
Garmin, ficaria sempre dependente dos respectivos mapas. Foi, mais uma vez, o
OziExplorer que conduziu a minha evolução na navegação por satélite:
em meados de 2005, surgiam as primeiras versões estáveis do
OziExplorerCE ... destinadas aos então chamados Pocket PC's e PDA's, precursores dos actuais
Smartphones. Por outras palavras, passava a ser possível ter no bolso, no terreno, a versatilidade que o
OziExplorer dava no ecrã do computador! Ou, dito de outra maneira ... os velhos mapas em papel, quaisquer cartas ou mapas (inclusive obtidos por
scanner e georreferenciados) podiam agora ser consultados e usados no ecrã de um aparelho de bolso. Era a "filosofia" dos dispositivos GPS dedicados, da
Magellan, da
Garmin ou de qualquer outra marca ... mas com a liberdade de usar quaisquer mapas, com as características, a escala e o grau de pormenor que quisesse.
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Qtek 9000 ... uma máquina potentíssima para a altura |
E assim ... em finais de 2005 vendi o
Magellan Meridian Gold e comprei o meu primeiro PDA/telemóvel, o
Qtek 9000, baseado em
Windows Mobile, sucessor do
WindowsCE.
Os PDA's e os primeiros
smartphones não possuíam contudo um receptor GPS integrado, ou, os que o tinham, não era suficientemente fiável. Mas essa era uma falha fácil de colmatar: um receptor GPS externo (por vezes chamado uma "antena GPS"),
comunicando por
bluetooth com o
OziExplorerCE no PDA, não só resolvia o problema como poupava (e muito) a bateria daquele. Os receptores GPS externos até eram acessíveis; a minha opção recaiu no pequeno
GlobalSat BT338.
É também em 2005/2006 que se dá o advento de três ferramentas que em muito contribuíram para a minha ligação entre as novas tecnologias e a vida ao ar livre: o bem conhecido
Google Earth, modelo tridimensional da Terra, construído a partir de um mosaico de imagens de satélite, e duas bases de dados que oferecem gratuitamente percursos para GPS (
tracks) e pontos (
waypoints) que os membros podem partilhar. São elas o
Wikiloc e o
GPSies. Sou membro de ambas, com o
nickname 'Xalmas'; no
Wikiloc, tenho mais de 700 percursos registados, tendo mais de 300 seguidores.
2005 marca também o ano a partir do qual tenho todos os meus percursos pedestres registados, excepção feita a percursos exclusivamente urbanos. A minha página "
léguas sem fim" enumera-os; tendo em conta os poucos registados entre 2002 e 2004, os que foi possível estimar com algum rigor antes de 2004 e nos "tempos históricos" ... devo estar a caminho dos 20 mil km a pé...
😊. Não é muito; conheço quem tenha feito bem mais.
Em resumo: em fins de 2005/início de 2006, com o
OziExplorer e um dispositivo
Windows Mobile ... tinha o mundo no meu bolso! E nunca me arrependi da opção e do "modelo"; o
Magellan Meridian tinha-me iniciado na navegação por satélite, com as vantagens que um receptor GPS dedicado indubitavelmente tinham, ao nível das características
outdoor e da duração da bateria; mas a versatilidade de um sistema "livre", em que eu posso escolher tudo, desde os mapas à configuração do ecrã e às informações fornecidas, associada ao facto de poder ter num mesmo aparelho um telemóvel e um pequeno computador, com ligação à internet ... na minha opinião vale tudo. E a evolução, a partir daí ... foi a evolução dos
smartphones e respectivos sistemas operativos. Em 2009, o meu passo seguinte foi o
Samsung Omnia II, ainda baseado em
Windows Mobile, mas foi mais uma vez o
OziExplorer a levar-me ... para o mundo dos
Smartphones Android: no início de 2011, o OziExplorer lançava as primeiras versões
beta do
OziExplorer Android, para os dispositivos Android igualmente em início da sua fulgurante expansão.
Mantive-me contudo fiel ao
Omnia II até 2013, deixando estabilizar as versões tanto do Ozi como do próprio Android. Em Agosto daquele ano ... então sim entrei no "reino" Android, através de uma "bomba" lançada pela Optimus/NOS, o
Optimus Boston 4G.
Com a versão 4.1.2 do Android e a versão 1.2 do
OziExplorer Android ... o primeiro
track registado foram os
60 km comemorativos dos meus 60 anos 😊! Ainda tinha o
Omnia II ... e pelo sim pelo não levei os dois; em 62 km ... houve uma diferença de menos de 500 metros; tinha entrado no mundo
Android.
Com um receptor de GPS interno suficientemente fiável, o
Boston 4G dispensou o
GlobalSat. Além disso, mais ainda do que no
OziCE ... todas as funções do
OziAndroid são configuráveis: em estreita ligação com a versão PC, o
Screen Designer permite "desenhar", no computador, cada um dos vários ecrãs que queremos no
smartphone, como os queremos e com a informação que queremos.
A expansão dos dispositivos
Android levou contudo ao aparecimento de aplicações específicas para navegação por satélite, inclusive dos já referidos
Wikiloc e
GPSies. Utilizo por vezes a
app do
Wikiloc, mas não me preenche a versatilidade e fiabilidade a que o
OziExplorer me habituara; utilizo o
Wikiloc com frequência ... mas como base de dados e partilha de percursos, no computador.
Entre as
apps que surgiram no mundo
Android, houve contudo uma que me começou a despertar a atenção: o
OruxMaps. Para além da possibilidade de usar quaisquer mapas georreferenciados, como no
Ozi, o
Orux apresentava-me mais informação, com toda a estatística de cada percurso, gráficos de altimetria, diversos mapas
online e
offline, ecrãs com informação configurável, etc., tudo numa
interface moderna e intuitiva. E assim, continuando a usar o
OziExplorer no PC, para estudo e desenho de percursos (ou para visualizar e registar os percursos realizados) ... em Janeiro de 2014 o
OruxMaps passou a ser o meu novo navegador no terreno ... e assim permanece até hoje!
De 2014 até à actualidade, o sistema
Android evoluiu (vamos a caminho da versão 10,
Android Q), o
Orux actualizou-se (versão actual 7.5.4 GP) ... e as máquinas que os suportam também se actualizaram. Melhores aplicações, mais pormenor ... requeria ecrãs maiores, maiores resoluções ... câmaras fotográficas melhores. O
Boston 4G, com um ecrã de 4.5″ e uma resolução de 540x960 ... em Maio de 2015 deu lugar ao
ASUS Zenfone 2 (5.5″, Full HD 1920x1080) e em Outubro de 2016 ao
ASUS Zenfone 3 Deluxe (5.7″, Full HD 1920x1080, 64GB de memória interna ... e uma incrível câmara traseira de 23Mpx).
Nesta evolução de
hardware, claro que houve um avanço centrado nos processadores, mas também ao nível do receptor GPS, afinal componente essencial quando se pretende um
smartphone destinado à navegação por satélite. Outras duas características fundamentais são ainda a memória interna (64 GB, no
Zenfone 3) e a capacidade da bateria. Os
powerbanks contornam a esgotabilidade daquela ... mas representam um equipamento (e peso) suplementar nas actividades de campo...
Em termos de
software, desde 2014 que o meu "modelo" continua a ser o mesmo:
1) Selecção prévia de percursos, no PC, a partir das bases de dados
Wikiloc,
GPSies ou outras;
2) Edição e estudo em
OziExplorer (versão PC);
3) Gravação do(s)
track(s) no
Smartphone (ficheiro(s) GPX, KML, KMZ, PLT...);
4) Navegação, no terreno, com o
OruxMaps, seguindo o
track.
A sequência inversa também se aplica, se estivermos a registar no
Orux um percurso efectuado em grupo, ou à "aventura", para posteriormente o visualizar no computador. Neste "modelo", é contudo de referir ainda uma ferramenta muito útil que se veio associar ao
OziExplorer na segunda das fases acima: trata-se do
WTracks, um editor totalmente
online de
tracks e
waypoints, que portanto permite trabalhar no computador, criando, editando ou lendo percursos sobre mapas
online, por exemplo para apagar pontos em que a recepção por satélite foi deficiente. Dado que não requer qualquer instalação, é possível inclusivamente utilizar o
WTracks num
browser em Android, permitindo assim a edição ou pequenas correcções de percursos acabados de registar.
Com o
WTracks e o meu "modelo" ... chegamos à actualidade ... ou quase. Ainda se lembram das vantagens que referi, no início, que um receptor GPS dedicado indubitavelmente tem?
Exacto: características
outdoor (resistência à água, poeiras, quedas) e duração da bateria. A versatilidade de um sistema "livre" conquistou-me sempre ... mas claro que juntar aquelas vantagens a um
smartphone convencional seria reunir o melhor de dois mundos.
Juntá-las ... é o que reúnem os denominados
rugged smartphones, ou "telefones robustos", com
graus de protecção definidos por padrões internacionais. Várias são as marcas e modelos destes
rugged phones, sendo a
Caterpillar talvez a mais conhecida. Os preços, contudo, nunca foram muito convidativos ... até Janeiro deste ano ... quando o
Zenfone 3 deu lugar a um
Ulefone Armor 6: 6.2″ de ecrã, Full HD 2246x1080 ... 6GB de RAM ... 128GB de memória interna ... uma bateria de 5000mAh ... num aparelho virtualmente indestrutível ... certificado IP68/IP69K.
Opinião desde Janeiro? Francamente positiva! Claro que é um
smartphone grande, pesado (268g) ... mas os compromissos assumem-se. Bateria a durar entre 2 a 3 dias em utilização frequente; já percorreu o meu
Caminho de Santiago de 2019, com etapas de 9 e 10 horas consecutivas em registo GPS ... e a terminar sempre acima dos 40 a 50% de bateria. Precisão do GPS normalmente entre 1 a 3 metros, raramente mais; bússola; barómetro; medidor de UV...
Em fase experimental, recentemente tenho utilizado também no campo uma outra aplicação que, esta sim, poderá competir com o
OruxMaps. Trata-se do
Locus Map, uma aplicação checa com versão gratuita e uma versão
full, com umas boas dezenas de funções úteis. À semelhança do
Orux, pode utilizar também quaisquer mapas georreferenciados, mas possui de raiz excelentes mapas topográficos
online e
offline, além de incluir uma excelente base de dados de percursos pedestres. No exemplo ilustrado à direita, o percurso assinalado a azul, em baixo, com as cores branca e vermelha das GRs, faz parte da Grande Rota do Vale do Côa … na área da "minha" Vale de Espinho.
Em resumo, a minha opção e conselho apontam sem dúvida para a utilização de:
Smartphone: de preferência "todo o terreno", com um bom processador e bateria;
Software no PC:
OziExplorer e/ou
WTracks, para estudo das cartas e percursos;
Software no Smartphone:
Oruxmaps e/ou
Locus Map, para navegação e orientação.
Com estas ferramentas ... ninguém se perde em ponto nenhum do planeta, desde que tenha as respectivas cartas ... e saiba usar as ferramentas. Próximos capítulos desta "história"?... Nunca se sabe. Para já ... gostei de a contar. Este foi um
post, nestas minhas memórias, diferente de todos os outros. Foi a história ... da evolução tecnológica da minha paixão pela vida ao ar livre ... da navegação à vista à precisão do GPS...
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