Depois dos três espectaculares dias relatados no
post anterior, acabo de viver mais dois dias e meio ... de um autêntico hino à vida, à paixão pela montanha, à amizade, à partilha. Com mais três elementos do fabuloso grupo que viveu as anteriores "aventuras" ... eu e a minha "parceira" tínhamos no programa ficarmos mais dois dias naquelas terras mágicas, numa semi-autonomia baseada na cabana de
Pinhô, pertencente à
Vezeira de Fafião, a cabaninha que nos tinha recebido aos dois em
Julho de 2012.
Mas aos cinco "aventureiros" ... ia-se juntar alguém muito especial...
2ª fª 7 de Outubro:
Cascatas do Rio Arado ... ou quando nos instalamos no paraíso...
Feitas algumas compras ainda na vila do
Gerês, o primeiro destino eram as cascatas da
Fecha das Barjas, a que alguém um dia começou a chamar "do Tahiti", onde o
rio Arado se precipita no
Toco. Depois das fortes chuvas dos últimos dias de Setembro, o espectáculo das águas era impressionante, aconselhando contudo à máxima prudência. A mínima falta de atenção ou de senso ... pode ser fatal; aquele paraíso já ceifou a vida a várias pessoas...
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Fecha das Barjas, rio Arado, 7.Out.2013: lavando o olhar e a alma! |
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Cascata do Arado |
Mas naquele paraíso ... infelizmente também havia múltiplos vestígios da passagem dos vândalos. Não da tribo germânica do século V, mas sim da tribo bem mais actual que deixa toda a espécie de lixo espalhada por onde passa. Numa certamente ingénua tentativa pedagógica, recolhemos toda aquela imundície para um saco, que deixámos encostado às guardas da estrada, com um cartaz a apelar ao civismo dos "turistas"...
Mas o rio Arado iria ainda evidenciar a sua grandeza na turística "
cascata do Arado". Quantas vezes aquela ponte, aquelas escadas, aquelas pedras e águas viram passar sucessivos grupos de alunos meus, umas vezes a pé, outras transportados em "cómodas" camionetas de caixa aberta, desde a
Portela do Homem, ou desde o
Vidoeiro...
Ainda com o apoio das quatro rodas, o almoço foi no
Curral dos Portos ... cuja cabana já me acolheu, com a minha "menina", em
Junho de 2011.
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Dos Portos à Tribela foi um salto. Os "bólides" ficaram a descansar durante 48 horas; ia começar a autonomia. |
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Pelo vale do Conho, com a Roca Negra e o Cutelo de Pias ao fundo ... |
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... chegamos à fantástica Cabana de Pinhô |
E na cabana de
Pinhô estava combinado sermos nós, os visitantes ... a receber a "rainha" da montanha. O nome
Dorita ecoa hoje pelas aldeias, pelas corgas, pelos vales e currais do Gerês! Quando
um dia a conheci, foi a sua e minha paixão pelo Gerês que nos uniu, foi o amor de quem conhece o
Gerês como a palma das suas mãos, de quem irradia e respira o amor pela montanha ... "
esse Amor que me leva na busca incansável dessa Alma perdida que se encontra lá… Esse amor que de todas as vezes que se lá vai… dá… só dá… porque é na dádiva que a gente mais sente prazer…". Verdadeira
White Angel de um tempo carenciado de amor e de dádiva, a Dorita ali estava, para passar aquelas duas noites e dias connosco, para se entregar e nos entregar à sua Serra, à terra-mãe da qual seguramente ela brotou.
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Pouco passava das cinco da tarde em |
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Pinhô ... e chega alguém muito especial! |
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E a noite se fez mágica... |
3ª fª 8 de Outubro:
Pinhô - Bicos Altos - Lagarinho - Amarela - Pradolã - Carvalhosa - Pinhô
Para terça-feira, tinha destinado uma caminhada em que iria mostrar aos meus companheiros parte do "meu" Gerês, mas também de descoberta de uma zona que ainda desconhecia, entre o percurso tradicional da
vezeira e o vale do rio de
Fafião. "
Mas há alguma coisa no Gerês que tu não conheças?", perguntava-me um dos companheiros de "aventura"; depois de conhecer a "rainha" da montanha ... ficou a saber o que é conhecer o Gerês...!
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O "despertar dos mágicos", no Curral de Pinhô, 8.Out.2013 |
Após um verdadeiro "despertar dos mágicos", a nossa
White Angel guiou-nos ao longo de uma caminhada fabulosa, levou-nos a alguns "santuários" completamente "perdidos" naquela serra "mágica", como o curral velho de
Pinhô, os velhos trilhos de pastores e montanheiros, dos
Bicos Altos ao
Lagarinho, à paisagem "lunar" da
Sesta da Amarela, ao concílio dos deuses da pedra, aos prados verdejantes, às panorâmicas de cortar a respiração! Meu Deus, Dorita, tu só podes ser filha daquela mãe terra, daquele solo, da energia telúrica que dele emana e nos trespassa.
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Curral velho de Pinhô: há magia nos bosques, |
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de onde saltam fadas e duendes... |
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Rumo aos Bicos Altos |
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Curral de Bicos Altos |
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De olhos semicerrados ... vejo o meu mundo... |
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O calor da terra mãe... |
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O concílio dos deuses... |
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Verdadeiros totens |
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vegetais e pétreos... |
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A caminho do Lagarinho |
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Curral e cabana do Lagarinho |
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Somos pequenos ante esta imponência...! Sobre o vale do rio de Fafião, com Porta Ruivas e o vale da Touça à esquerda |
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Não é um descanso ... é uma entrega à rocha mãe, uma entrega à montanha e à energia que dela emana |
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Subida para a Sesta da Amarela |
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Na paisagem "lunar" da Sesta da Amarela,
no marco triangulado sobre a Touça e Porta Ruivas |
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Vale do Rio Laço, da Sesta da Amarela |
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Curral e cabana da Amarela |
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Corga de Vale Longo |
Bordejando a encosta sul do
Rio Laço, as
Rocas Negra e
Alva já tinham surgido no horizonte. Caminhávamos agora em direcção ao "estreito", esse já meu velho conhecido de várias passagens de e para os belos prados do
Vidoirinho e da
Rocalva. Mas, como infelizmente já sabia ... os olhos viam o que não queriam ver: toda a envolvência a sudoeste das Rocas estava vestida de negro. O incêndio de há cerca de duas semanas lavrou aquele paraíso que tão bem conheço. O Vidoirinho terá desaparecido? Os belos prados onde por vezes cresce o algodão terão desaparecido? O próprio vale alto do
rio do Conho estava despido e negro de morte...! Preferi desviar o olhar e a máquina fotográfica para sul, passadas céleres levaram-nos para longe daquele cenário ... no que dizem ser um Parque Nacional ... no que já foi um Parque Nacional...
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Curral e cabana de Pradolã ... bem guardada |
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Abeirando-nos do vale do rio do Conho, reaparece-nos a Roca Negra e o Cutelo de Pias |
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Descida da Carvalhosa para Pinhô, em tons de um pôr-do-Sol que se aproxima |
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Há ou não magia em estado puro?... |
O regresso foi pela cabana de
Pradolã e pela
Carvalhosa. Junto à cabana, passeavam calmamente as dóceis vacas que habitualmente por ali andam, numa vida ao correr dos pastos que felizmente ali voltavam a ser abundantes.
E descendo a vertiginosa encosta da
Roca de Pinhô, por vezes encostados à vertente do
Rio do Conho, antes das sete horas estávamos de regresso à "nossa" cabana. Tínhamos acabado de viver um dia fabuloso, respirando a magia dos bosques, dos esconderijos secretos onde se abrigam entidades mitológicas, recebendo a força da Natureza ... mas também a de uma mulher que ama a Serra como a uma mãe que tudo lhe dá, cuja alma um dia ficará eternamente a pairar naqueles lugares ... a "
Alma de montanhista"...
"A alma pode ser chamada o centro da natureza, a intermediária de todas as coisas, a corrente do mundo, a essência de tudo, o nó e a união do mundo" ("White Angel")
Tudo tem de ter um fim ... mas um fim é sempre um início, é um adeus que é só um até breve. Na madrugada de
Pinhô, ouvia-se ainda por vezes o piar das corujas, quando o dia começou a clarear. E um novo "despertar dos mágicos" lançou-nos para o último destes três dias mágicos...
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"É preciso muita força interior para parir uma estrela que brilha..." (Foto e legenda: White Angel) |
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9.Out.2013, 8:00h - Novo "Despertar dos Mágicos" ... no último dia destes dias mágicos! |
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Vamo-nos despedir da cabana de Pinhô... |
De novo pela
Ponte das Servas, sobre o
Rio do Conho, regressámos à
Tribela. Lá estavam os carros, mal sabendo o que tínhamos vivido na sua ausência.
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Adeus vale do Conho, Roca Negra, Cutelo de Pias ... |
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De regresso à Tribela, no fim |
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de uma autonomia inesquecível |
Para despedida, ainda passámos pela turística
Pedra Bela. A vista levava-nos da
Caniçada ao
Bom Jesus de Braga ... e ao
Pé de Cabril que havíamos subido 3 dias antes. Há mais de 30 longos anos ... quantos e quantos alunos meus por ali passaram?...
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Barragem da Caniçada, vista do Miradouro da Pedra Bela |
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Pé de Cabril e vale do Rio Gerês |
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Não é um adeus ... |
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é só um até breve...! |
Um belo almoço no
Gerês fechou esta "aventura". A partir daí a "caminhada" ainda era longa ... mas rodoviária. E termino a descrição da mesma forma que a anterior: obrigado, companheiros! É isto a vida, é isto a amizade, é isto a paixão! Mas ... um obrigado muito especial ao "anjo branco" que um dia tive a felicidade de conhecer. Mais do que uma grande mulher, sonhadora e amante destas terras a quem se entrega, é um grande ser humano, com uma grande alma, uma enorme alma ... uma "
Alma de montanhista". Obrigado Dorita!
2 comentários:
Não tendo estado presente, consegui viver uma pequenina parte destes dias aqui descritos. Obrigada Callixto por esta "viagem" :)
Passeei pelo Gerês e gozei as delícias das paisagens, da aragem, da simplicidade da gente e de sonhos que nunca acabam. Foi há muitos anos. Hoje, há momentos, deliciei-me a admirar estas fotos e imaginei os meus amigos Lala e José Carlos Callixto a sentirem-se no paraíso, talvez de onde nunca saibam sair. São apaixonados pela Natureza. Por isso eu os admiro tanto. Beijinhos
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