domingo, 6 de outubro de 2013

De regresso às terras "mágicas" do Gerês (I)

Em Maio passado levei os adeptos das auto-denominadas GRDs - Grandes Rotas Duras - a uma longa travessia de 30 km da Serra do Gerês, na qual tínhamos projectado subir à Nevosa, o cume daquelas terras "mágicas". Contudo, a meteorologia ofereceu-nos naquele dia um misto de algum Sol, pouco, algum nevoeiro, chuva ... e neve! Condições que ditaram que a travessia tenha sido feita a meia encosta, pelo S. João da Fraga e Candela.
Portela do Homem, 04.Out.2013, 11:35h
Logo ali nasceu, da parte dos participantes, o projecto de regressarmos ao Gerês, para então subir à Nevosa, numa travessia que claro que seria diferente ... e que claro que incluiria outras "aventuras", nomeadamente uma semi-autonomia baseada na cabana de Pinhô, que conheci em Julho de 2012. É assim portanto que, mais uma vez, cá estou a calcorrear as terras "mágicas" do Gerês. 6ª feira, com a minha fiel companheira de vida e um amigo destas "aventuras", partimos de Lisboa antes das seis da manhã, rumo ao Gerês. A "aventura" reuniu aliás de novo nestas fragas quase toda a "equipa" com quem, no início de Julho, vivi a fantástica "aventura" do Monte Perdido Extrem!

6ª fª 4 de Outubro: Costa de Sabrosa - Prados - Conho - Lomba do Pau - Vidoal - Leonte
Reunido o grupo na vila das Caldas do Gerês, logo partimos para a Portela do Homem. O primeiro objectivo era subir o bom desnível da Costa de Sabrosa. Depois das muitas chuvas dos dias anteriores, a serra apresentava-se em todo o seu esplendor e magia, à qual não faltava a magia do velho "deus" daquela encosta íngreme e escarpada.

Rio Homem, em toda a sua imponência
E começa a subida da Costa de Sabrosa

Há magia nos bosques...
Sobre o vale da Ribeira do Forno

Há um "deus" na Costa de Sabrosa...
"Conta-se que, há muitos, muitos anos, terá um deus descido à Terra e por ela viajado, extasiando-se com a sua beleza, sorrindo à sua diversidade e apaixonando-se pelo seu ritmo, mas foi ficando preocupado com a fragilidade do equilíbrio que permitia a sua vida; à medida que ia galgando rios, atravessando serras, perdendo-se por planícies, por florestas e por mares, foi nascendo nele um estranho mas agradável sentimento que mostrava como monótona e insípida era a vida no céu de onde viera, e onde nada nascia ou morria e depois renascia; um fim de tarde, em que estava particularmente emocionado com as sensações que experimentava, adormeceu e sonhou que era ali o seu céu, pois os pequenos deuses que nele habitavam pareciam não o apreciar devidamente; porém, só havia uma maneira de ali poder continuar para sempre, fazer-se um dos habitantes da Terra: escolheu uma forma de vida simples, acordando do seu sono como rocha, a boca aberta de tanto espanto, o nariz ainda um bico dos tempos em que fora ave, os olhos semicerrados para que nada da beleza circundante lhe escapasse; quem lhe olha agora o rosto nota como dele se vão desprendendo areias que o deixam com um ar bexigoso, mas outra forma não encontrou de continuar a correr mundo levado pelo vento e pela chuva; assim, os outros deuses não conseguiriam dar com ele e ter a tentação de o resgatar, e talvez os humanos não o destruíssem com a ambrósia da sua inveja."

O almoço foi à vista dos belos Prados Caveiros, com a mole rochosa do Cabeço do Cantarelo do lado de lá do pequeno vale. E seguiram-se os Prados da Messe e o "meu" Curral do Conho, que, com a minha "parceira", nos recebeu há já 2 anos numa noite "mágica", em autonomia por esta Serra "mágica".

Prados Caveiros

Descida para os Prados da Messe
Cabana dos Prados da Messe
Atravessamos a Ribeira do Porto das Vacas
O "mágico" Curral do Conho
Pela Lomba do Pau, Chã da Fonte, Freza e Vidoal (Mourô) ... pouco depois das seis da tarde estávamos em Leonte, de onde os "motoristas" foram de táxi buscar os carros à Portela do Homem, onde tinham "descansado" durante esta nossa primeira abordagem destes novos dias no Gerês.

Chã da Freza: sobre o Shangri-La do Camalhão e do vale da Teixeira
O Pé de Cabril envolto em mistérios...
Prado do Vidoal, ou de Mourô

Sábado, 5 de OutubroTravessia Portela do Homem - Carris - Nevosa - Negras - Xertelo
Sábado era o dia da grande "aventura": a travessia da Serra, com a almejada subida ao cume da Nevosa ... onde em dia comemorativo da implantação da República deixaríamos a bandeira republicana no ponto mais alto das terras geresianas.
5.Out.2013, 7:15h - O dia nasce com neblina na Portela do Homem ...
Ainda o dia começava a clarear, já estávamos a partir da Portela do Homem, envolta àquela hora numa neblina que rapidamente se iria dissipar. A subida aos Carris seria pelo mítico trilho da Cumeada, ao longo da Encosta do Sol, a margem direita do fabuloso vale do Homem.
Ora com fabulosas panorâmicas para a vertenta galega, ora para o vale do Homem e as múltiplas vertentes da sua margem esquerda, a ascensão foi forçosamente lenta, vencendo os mais de 500 metros de desnível do troço inicial ... até ao verdadeiro "santuário" em que um dia passei uma noite, completamente sozinho, no misticismo da serra.

Subida do trilho da Cumeada (Encosta do Sol)
Nasceu um "oceano" na vertente galega...
E o meu "santuário" de Maio de 2011...
Antes do meio dia estávamos à vista do vale da Amoreira, com o Pico dos Carris à frente ... e uma vasta zona incendiada há pouco mais de uma semana, incluindo parte do vale do alto Homem. Recusei-me a tirar fotografias àquela miséria e tragédia ... deixando cair uma lágrima ao encarar aquele cenário dantesco; valha-nos a fabulosa "inteligência" da Natureza, o fabuloso "deus" que nela existe, que rapidamente fará recuperar pelo menos o estrato herbáceo e arbustivo que cobre a maior parte daquelas encostas, currais e prados.

Vale do alto Homem
Curral das Albas
Subida da Amoreira para o Pico dos Carris
O repouso para almoço foi no Pico dos Carris, ante a magnífica panorâmica que de ali se divisa, desde as ruínas do velho complexo mineiro à lagoa dos Carris, à Nevosa, às alturas da Fonte Fria, à aldeia "mágica" de Pitões das Júnias.
Um almoço no Pico dos Carris (1508m alt.), sobre a lagoa da represa dos Carris
Ao longe os Cornos da Fonte Fria
Aos nossos pés, as ruínas das Minas dos Carris, perdidas no esquecimento de um tempo que se perdeu na história
E seguia-se ... a "conquista" da Nevosa, a "alma" que deu o mote a esta actividade. E sendo dia 5 de Outubro ... porque não deixar a bandeira da República no cume do Gerês?... Pelo menos até que os ventos a levem, a bandeira das quinas ali ficou desfraldada, dominando a imponente panorâmica de 360º de que a Nevosa é rainha e senhora.

Vale da Ribeira das Negras
Lagoa dos Carris
"Corredor" de acesso à Nevosa
A bandeira da República no cume da Nevosa
E uma pose já clássica, nos 1548 metros da Nevosa ...
... Nevosa que agora vai ficar para trás
A parte mais dura desta travessia estava cumprida. Da Nevosa descemos a Garganta das Negras, acompanhando depois o vale da Ribeira das Negras e cruzando o percurso que havíamos feito em Maio, vindos de Pitões das Júnias para a Lamalonga. E não é que no início deste troço, ainda pouco abaixo da Nevosa ... volto a encontrar os agora grandes amigos Narciso e Vítor, conhecidos pela primeira vez em Julho de 2008 nas circunstâncias então descritas? O Gerês prende, une ... e faz reencontrar os seus amantes!

Vale da Ribeira das Negras
A Nevosa ainda no horizonte
Vale da Fecha do Castanheiro
Às seis da tarde estávamos sobre o profundo vale da Fecha do Castanheiro. Alguns dos meus companheiros assustaram-se ante a perspectiva de a descida ser por aquela íngreme vertente...! E pelas Portas do Castanheiro cruzámos o velho estradão do Porto da Laje, para continuar a rumar a sul e à aldeia de Xertelo, onde chegámos com o dia a declinar, pelas sete e meia daquela que foi uma dura mas fabulosa jornada de Sol a Sol.

Horizontes e formas
mágicas numa Serra mágica...

Ao fundo já se percebe o vale do Cávado
E o dia já declinava, num esplendor de cores,
quando em Xertelo terminámos esta fabulosa jornada!
Com 27 km nos pés, o dia terminou com o regresso no mini autocarro da Empresa Hoteleira do Gerês. Tinhamos acabado de viver em conjunto mais uma fabulosa travessia desta serra que, de certo modo ... também é minha!


À semelhança do dia anterior, a reposição de energias foi com um bom jantar no Hotel Baltazar, na vila do Gerês, onde aliás parte do grupo estava alojado. Sem dúvida uma boa referência para alojamento e gastronomia ... nestas terras "mágicas"...!

Domingo, 6 de OutubroPé de Cabril
Em dia de regresso a casa para a maior parte do grupo, a "aventura" de hoje tinha de ser necessariamente curta ... mas não menos fabulosa para quem não conhecia ainda o mítico Pé de Cabril ... e para quem não se cansa de mais uma vez o subir!

Leonte, 6.Out.2013, 10:00h - Vai começar a terceira e última caminhada deste périplo
Pé de Cabril ... objectivo à vista
Águias de asa redonda
sobrevoam o Pé de Cabril
Começa o "ataque" ao Pé de Cabril
Vindos do
ventre da terra...
Na imponente mole do Pé de Cabril
Desta vez a subida ao Pé de Cabril revestiu-se contudo de um carácter especial, ao obrigar ... a uma "operação de resgate"! A minha máquina fotográfica resolveu sair da bolsa onde habitualmente a transporto ... e lá a vi enfiar-se numa fenda rochosa daquela imensa mole. Era o adeus às fotos de hoje e à minha fiel companheira das reportagens fotográficas e filmadas ... mas um companheiro do fabuloso grupo destes fabulosos dias disponibilizou-se de imediato para a tentar resgatar, com dois paus e quase enfiado de cabeça para baixo na fenda ... e a operação teve sucesso! Mais: apesar da queda e de algumas pequenas escoriações ... a máquina continuou a funcionar!!! Obrigado Renato ... o teu aniversário revestiu-se deste especial episódio "histórico"...!

Uma "operação de resgate" muito especial...! 
(fotos de Anabela Rey Esteves)
A espectacular panorâmica do cume do Pé de Cabril
No cume do Pé de Cabril ... já depois da "operação de resgate"...
No regresso do Pé de Cabril, um outro companheiro revelou-se um verdadeiro encantador de cavalos, ao cativar e mesmo "falar" com uns simpáticos garranos.
Um verdadeiro encantador de cavalos...
Regresso a Leonte ... no fim de três dias fabulosos


Com o regresso ao Gerês e um almoço final de confraternização ... terminaram estes três fabulosos dias! Mais uma vez ... obrigado companheiros! É isto a vida, é isto a amizade, é isto a paixão!
Mas, com mais três elementos deste fabuloso grupo ... eu e a minha "parceira" ainda cá ficamos mais dois dias ... para as "aventuras" dos próximos "capítulos"...

6 comentários:

Lena disse...

Obrigada, digo eu, amigo Callixto, pelos três dias maravilhosos a caminhar pelo Gerês que mais uma vez proporcionaste.
Continuação de bons caminhos por aí, nos próximos dias!
Beijinho e até à próxima que, espero eu, não tarde muito :)

António Mousinho disse...

É sempre extasiante ver estas belas imagens e beber as tuas descrições apaixonadas, quando te perdes, sem nunca perderes o norte, por esta maravilhosa serra do Gerês!

Miguel Bento Lopes disse...

Corpinho moido mas coração contente. Obrigado amigo Calixto e a todos os companheiros que me apoiaram nesta maravilhosa e inesquecivel aventura que esperemos que seja a primeira de muitas. Faço aqui o brinde que não tive oportunidade de fazer no jantar de Sabado...á vossa e á nossa. Até á próxima. Obrigado MBL

Anónimo disse...

Mais uma maluqueira, sim senhor, sempre a abrir. Excelentes fotos e uma prosa que prende do princípio ao fim.
Um abraço.
Carlos Fernandes

J. Gomes disse...

Parabéns grande amigo....li e reli tudo com grande atenção e emoção....foram realmente três dias fantásticos com grandes caminhadas superiormente guiadas por ti.....na companhia de um grupo de pessoas fantásticas, num grande ambiente digno de louvar.....um grande abraço e muito obrigado.

Paulo disse...

Sou relativamente novato nestas andanças, mas aos pouco vou conseguindo fazer o que gosto, que é conhecer a maravilhosa serra do gerês, já subi o pé de cabril, estive no marco geodésico da junceda, do cabeço da calcedónia mas o meu objectivo será atingir o pico da nevosa, não passará deste ano certamente... parabens pelo post.
abraços a todos