domingo, 20 de outubro de 2013

Somiedo em tons de Outono...

Continuando em Somiedo depois de ter entrado a pé nestas "montanhas mágicas", o mote principal desta incursão era conhecer os tons de Outono, afinal a única estação do ano em que ainda não tínhamos vindo a este paraíso. Isto para além de dar a conhecer a minha terceira "terra natal" aos nossos amigos e companheiros, claro.
18.Out.2013, 11h - O vale de Saliencia, desde La Farrapona
Assim, na passada sexta feira o programa que havíamos desenhado levou-nos ao espectacular vale de Saliencia, para uma versão circular da "ruta de los lagos", com início e fim no alto de La Farrapona, a 1708 metros de altitude e de novo nos limites de Astúrias e Leão. Para lá do vale leonês de S. Emiliano, lá estava o sempre imponente maciço das Ubiñas, com "capacete" de nuvens num dia que se revelaria bastante ventoso, mas limpo. Tanto ao longo da estrada de Saliencia como na magnífica panorâmica que dali se divisa, as encostas escarpadas e ricas de frondosos bosques revelavam-nos já bem a presença das cores outonais. E às onze horas iniciámos assim a nossa marcha, pelos trilhos já tantas vezes percorridos com alunos e com os "nossos" Caminheiros. Desta vez, pelo menos nesta parte inicial, íamos fazer de guias aos amigos que trouxemos em mais esta jornada por terras do paraíso somedano.

Lago de La Cueva
Como um pouco por toda Astúrias, estas paragens testemunharam histórias de vida e de trabalho nas minas de ferro que por aqui proliferavam. São ainda visíveis os vestígios da exploração mineira, hoje integrados contudo numa espectacular paisagem de montanha. Ao Lago de La Cueva sucedeu a Laguna Almagrera, praticamente seca, e o Lago de Cerveiriz, junto ao qual rumámos a sudeste, para contornar o Lago de Calabazosa, o mais profundo de Astúrias (chega aos 50 metros de profundidade), o que lhe dá um tom negro profundo e justifica que seja também conhecido por Lago Negro.

Ainda sobre o Lago de La Cueva (Foto: António Mousinho)
A partir do ponto de inflexão para contornar os lagos, o percurso já era novo para qualquer de nós quatro ... levando-nos a descobrir mais alguns recantos paradisíacos nestas paragens altaneiras. Mais uma vez, as camurças e até corças mostraram que são as rainhas e senhoras dos cumes. Mas também as vacas, algumas pastando tranquilamente em locais aparentemente inacessíveis.

Lago de Cerveiriz
Lago de Calabazosa, ou Lago Negro
À beira das límpidas águas do Lago de Calabazosa, não podíamos ter melhor cenário para almoçar. Trutas bebés passeavam-se junto à margem, provavelmente admiradas com aqueles quatro estranhos seres que lhes foram incomodar a paz das montanhas que as rodeiam.

Contornando o
Lago de Calabazosa
Subindo a encosta sul dos lagos ...
O estudo da carta topográfica mostrava que o regresso à Farrapona poderia ser feito pelo Colado de La Forcada, sobre o Lago de La Cueva, permitindo-nos não só regressar por um percurso diferente como também subir acima dos 1800 metros de altitude e admirar toda aquela assombrosa panorâmica. À medida que subíamos, já se percebiam aliás os Picos Albos, as Morteras e o maciço de Peña Orniz, agora na perspectiva oposta àquela que eu havia testemunhado na véspera. Mas o regresso à Farrapona ficou contudo assinalado por um pequeno/grande "incidente": saindo conscientemente do percurso antes estudado, ao encontrar o que parecia ser um bom e largo trilho de montanha na direcção pretendida ... rapidamente fomos vendo que a "auto-estrada" não só desaparecia como nos conduzia a uma zona bastante inclinada e perigosa. No ponto em que a progressão deixou de ser possível ... fizemos "inversão de marcha" e recuámos quase um quilómetro, para então sim apanharmos o bom trilho. Já tínhamos estado acima dos 1700 metros de altitude ... mas tivemos de descer para voltar a subir a bom subir para o Colado de La Forcada, a 1814 metros de altitude.
É assim que se aprende, sempre ... que quando se estuda um percurso não se deve sair dele...

Não era bem por ali... (Foto: António Mousinho)
... mas sim por aqui!
O soberbo Vale de S. Emiliano, na vertente leonesa abaixo do Alto de La Farrapona
Às quatro da tarde lá estávamos de regresso a La Farrapona, sobre o soberbo vale de S. Emiliano, com o maciço das Ubiñas em pano de fundo. Já motorizados, no regresso a Pola de Somiedo a pequena aldeia de Saliencia ainda foi, claro, motivo de visita. Saudades dos dias já longínquos ali passados com alunos e, mais tarde, com os "meus" Caminheiros Gaspar Correia, na antiga escola transformada em Albergue, que aliás felizmente continua a sê-lo, agora com uma nova gestão que se mostrou tão simpática e acolhedora como a do nosso velho amigo Roberto Menendez.

Lagos de Saliencia

(Wikiloc: versão corrigida do percurso)
Llamardal, Somiedo, 20.Out.2013, 10:15h - Vamos começar mais uma travessia do paraíso...
Um dia de descanso em Pola de Somiedo antecedeu a última caminhada neste recanto do paraíso. Escolhemos um percurso de características diferentes: menos montanha ... mais bosque ... mais cores de Outono. E assim, pouco depois das dez horas de uma manhã a ameaçar chuva, estávamos em Llamardal, na estrada Pola - Puerto de Somiedo, para fazermos a ruta da Braña de Mumián até Coto ... e Pola. Eu e a minha parceira já a conhecíamos integralmente ... mas Somiedo nunca cansa!

Deixando Llamardal para trás, para subir a encosta do Canto Mostachal
Vale de Somiedo, do Canto Mostachal
O dia acabou por se pôr razoável ... e o percurso através do Canto Mostachal, da Braña de Mumián e, depois, ao longo do bosque de La Enramada, foi uma sucessão de cores, de imagens que só se imaginam no paraíso ... no "paraíso perdido" de Somiedo!
Braña de Mumián
No meio do bosque, por entre a ramagem e as formas fantasmagóricas dos troncos cobertos de musgos, a todo o momento esperávamos ver sair um urso pardo. Sim, Somiedo é o último reduto de uma população felizmente crescente do urso pardo cantábrico! Não seria de todo impossível surpreendermos uma fêmea com crias, ou um imponente macho como o da foto que na véspera havíamos visto na exposição "Somiedo y el Oso", da Fundação Urso Pardo, em Pola de Somiedo.

Bosque de La Enramada: um mundo de cores, sons e cheiros!
No reino dos
fungos ...
No reino das formas fantasmagóricas, onde pululam fadas
e duendes, xanas e nuberus...
Urso pardo cantábrico
(Exposição "Somiedo y el Oso", Pola)
Coto de Buenamadre e as encostas de La Enramada

 
Pouco depois do habitual almoço volante, já na pequena aldeia de Coto de Buenamadre, lá fomos mais uma vez bater à porta da nossa amiga Rosalía Alvarez, da "Casa Buenamadre", feita amiga quando há uns anos nos alojámos naquela sua acolhedora casa. Não estava ... mas pouco depois lá nos contactámos ... e o jantar foi a partilhar precisamente a "afición, pasión, vida" que ela tão bem transmite no seu blog, "Desde Somiedo".

Pola de Somiedo à vista, descendo o bosque que ladeia o Rio del Valle, desde Coto de Buenamadre
Llamardal - Braña de Mumián - Coto - Pola de Somiedo
(Álbum completo)
O jantar na "Casa Buenamadre" marcou o final desta nossa "aventura" em terras de Somiedo. Em tons de Outono ... era suposto que a "aventura" asturiana continuasse ainda para outro santuário natural, o bosque de Muniellos, em terras de Cangas de Narcea. Contudo, a previsão de muito mau tempo dissuadiu-nos ... deixando aquele outro "paraíso perdido" para outra ocasião. O bosque de Muniellos deve aliás estar verdadeiramente encantado ... já que também em Agosto de 2004 nos vimos impedidos de o visitar, devido a uma greve mineira. Não haverá certamente duas sem três...

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