Da Serra das Ellas a Quadrazais ... com o GCGC nos Trilhos Raianos
Nos meus quase 20 anos de e com o "
Grupo de Caminheiros Gaspar Correia", já por diversas vezes levei aquela minha "família" caminheira às terras
que adoptei e me adoptaram há quase meio século: a
Raia Sabugalense ...
a "minha"
Vale de Espinho. Mas agora ... há já 7 anos que não
partilhava com eles os trilhos e as velhas
bredas das serras e das
aldeias raianas. Era tempo de regressar...
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Puerto de Santa Clara,
10.Junho.2022, 11h30
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Com um feriado à sexta feira, tínhamos três dias pela frente, pelo que
delineei três caminhadas raianas, a primeira do lado de lá da Raia, em terras
dos
nuestros hermanos do
Vale do Xálima ... ou
Xalmas.
Trilho da Serra das Ellas
Depois de pouco mais de quatro horas de viagem desde Lisboa, atravessando a
raia entre Penamacor e Valverde, às onze e meia estávamos no
Puerto de Santa Clara, onde já perdi a conta
às vezes em que já ali comecei ou acabei "aventuras". Na base do "meu" Xalmas,
a ideia era descer para sudoeste, vigiados pelos paredões rochosos das
Torris de Fernán Centeno. Claro que, além
das aventuras daquele senhor de Peñaparda e do seu lendário Castelo de
Rapapelo, também falei aos meus "gasparitos" nos vetões, parentes próximos dos
lusitanos, que aqui há 22 ou 23 séculos habitavam as terras das actuais
províncias de Salamanca e de Cáceres e o leste da nossa Beira Interior; os
leitores mais atentos destas fragas e pragas sabem, aliás, que Xalmas era o
deus vetão das águas.
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Vista "aérea" sobre
San Martín de Trevejo e o
Vale do Xálima ... sob um calor tórrido...
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As previsões meteorológicas para estes dias eram de calor extremo ... e
infelizmente confirmaram-se. No início da caminhada valeu-nos a altitude
(1050m) e a aragem que corria na serra, mas, à medida que descíamos, as
"tropas caminheiras" começavam a sentir na pele o calor das terras
extremeñas, embora continuassem a extasiar-se com as panorâmicas que
tínhamos a sul. Eu bem lhes falava no bosque em que iríamos entrar a seguir ao
Cancho del Cuervo ... mas o bosque nunca mais chegava...
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O granito reflecte o calor ... e qualquer pequena sombra foi
aproveitada...
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Mas finalmente o bosque chegou, permitindo o merecido almoço e o
necessário descanso
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O projecto era, passando as
Ellas, continuar
até
Valverde del Fresno ... mas a
temperatura ao Sol seguramente ultrapassava os 40º ... e fez-se sentir em meia
dúzia de caminheiros e caminheiras que precisaram do apoio e da ajuda de
todos; talvez os meus leitores fiquem perplexos, ao saberem que a faixa etária
dos heróis e heroínas presentes ... vai até para além das oito décadas! E o
que ali se viveu naquela descida da Serra das Ellas foi sem dúvida uma
emocionante evidência ... de que a Amizade é um dom! Bem hajam, Caminheiro(a)s
... novos e "velhos" ... tanto em idade como no Grupo!
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De novo ao Sol, implacável, com
Valverde del Fresno ao fundo
... e as Ellas mais perto...
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Não havia dúvidas: continuar para Valverde seria penoso ... e ninguém ali
estava para sofrer. O autocarro foi-nos buscar às
Ellas ... mas nas apertadas
callis da aldeia geminada com os
Fóios, um grupo tão grande
ainda "tresmalhou" por caminhos diferentes, mas todos acabámos por ir dar à
Plaza de la Constitución ... e às
cañas do bar
U Barruquiñu 😂
Por
Navasfrias e
Aldeia do Bispo regressámos a Portugal; afinal até era Dia de
Portugal! À semelhança da última vez que levei o GCGC às terras raianas, o
Hostal Pelicano
foi a base onde o grupo pernoitou. Primeiro a piscina ... e mais tarde o
belíssimo jantar do
El Dorado, nos
Fóios ... fizeram esquecer as agruras do calor tórrido, retendo
apenas as belas panorâmicas.
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... dois momentos que fizeram esquecer as agruras 😊
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Trilho das Aldeias
Em terras de RibaCôa, chamei "trilho das aldeias" ao segundo percurso
deste fim de semana prolongado. Efectivamente, começando junto à raia dos
Fóios e sempre por trilhos de pé posto, passaríamos por
Aldeia do Bispo e Aldeia Velha, para terminarmos em
Aldeia da Ponte. Para evitar o calor, começámos o mais cedo que foi
possível, e o traçado permitia pontos de neutralização nas aldeias, ou até,
como houve, a opção por percorrer apenas o primeiro e o terceiro troços.
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Aldeia Velha, 11.Junho.2022, 10h55, depois dos primeiros 7 km
de caminhada, passando por Aldeia do Bispo
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Muito mais arborizado do que o anterior, apesar do calor a jornada decorreu
sem incidentes, com uma boa paragem de descanso no aprazível parque de
merendas de
Aldeia Velha, junto à ribeira do mesmo nome, à qual no
entanto alguma toponímia chama Ribeira de Aldeia da Ponte e outra chama Rio
Cesarão. A atender pelas cartas militares, só se chama contudo
Rio Cesarão depois da confluência com a Ribeira de Forcalhos. Mas
... a seca que temos vivido quase levou toda a água destas ribeiras, reduzidas
na maior parte dos locais a meros fios de água quase estagnada 😒
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Entre Aldeia Velha e Aldeia da Ponte, cruzando a
Ribeira de Forcalhos e à beira do Cesarão ... quase
secos...
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14h35 ... e entramos em Aldeia da Ponte, cruzando o
Cesarão pela ponte que dá o nome à aldeia
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Se eu sou "filho adoptivo" de Vale de Espinho e da Raia ... um dos caminheiros
presentes é filho biológico de
Aldeia da Ponte.
Há 10 anos
já tínhamos tido aliás uma
actividade raiana por ele organizada, centrada na Aldeia. Agora, a inestimável
colaboração do caminheiro aldipontense complementou a jornada de sábado com
uma belíssima visita cultural, que incluiu a Igreja Matriz de Santa Maria
Madalena, o
Museu Etnográfico e o
Colégio de Aldeia da Ponte
... além de nos ter transmitido tanta da sua paixão pelas suas raízes. E, para
terminar, além das visitas, o Zé André Vaz e a Licínia, com a presença e a
colaboração da
Associação de Amigos de Aldeia da Ponte, brindaram-nos com um opíparo lanche no parque de merendas ... onde até a
família se associou, incluindo a sua estimada mãe. Sem dúvida ... um jorrar de
Felicidade, Amizade e Espírito Raiano! Bem hajam!
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Um aldipontense, que até já foi Presidente dos
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Caminheiros Gaspar Correia, junto à casa onde nasceu
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Trilho do Côa
Para terceiro e último dia ... Vale de Espinho tinha de fazer
parte do programa! Mais curta, a caminhada começaria no Largo das Eiras,
claro, e não poderia deixar de levar o Grupo à Igreja Matriz e ao velho
Campanário; uma e outro fizeram as delícias de quem ainda não conhecia ... e o
painel de azulejos alusivo à figura do Mestre-Escola foi excelentemente
"emoldurado" pelos 42 elementos que participaram na festa da Amizade que foram
estes três dias.
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Largo das Eiras de Vale de Espinho, 12.Junho.2022, 8h35
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Igreja Matriz e Campanário de Vale de Espinho (Foto de Grupo: André Sancho)
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Pela velha estrada nunca acabada que ligaria Vale de Espinho a Malcata,
descemos à praia fluvial e à Ponte Nova. O
Côa foi o tema para
este último trajecto; apesar de alguns troços mais ou menos a corta mato ...
fiquei com a sensação que todos adoraram o cantar da água e a "aventura" das
pontes suspensas do "
Trilho do Manego", mesmo não o tendo percorrido na totalidade.
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O Côa no sítio da Ponte Nova e da praia
fluvial de Vale de Espinho, 9h40
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Hoje quem guiou a caminhada ... foi
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a minha pequenina arraiana, à esquerda 💖
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Recantos do paraíso à beira do Côa, próximo da Capela do
Espírito Santo e da praia fluvial de Quadrazais
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Da praia fluvial de
Quadrazais às ruínas dos velhos Moinhos do
Salgueiral, João Lourenço e Mursa ... quem levou calções activou um pouco a
circulação sanguínea... 😂. Apesar da pouca chuva, esta primavera adubou bem
os
fieitos e demais vegetação ribeirinha; dir-se-ia ... que parecíamos
exploradores tropicais ... num paraíso tropical.
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(Foto: Natércia Dias)
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Passado o Moinho das Poldrinhas e junto à ponte suspensa de
Vale Cabreiro ... estávamos a terminar o "trilho do Côa"
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Eram horas de almoçar ... mas a "crónica" destes belos três dias não ficaria
completa sem algumas imagens da autêntica reportagem fotográfica do meu "Mano
velho" Mousinho; uma reportagem a que ele próprio chamou ...
"Vida selvagem, ao longo dos Trilhos Raianos "
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"Vida Selvagem ao longo dos Trilhos
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Raianos" (Fotos de António Mousinho)
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O almoço esperava por nós na
TrutalCôa. Ao desenhar o "programa" desta actividade caminheira, quis também
distribuir as três refeições principais por outras tantas unidades de
restauração ... e também me quis parecer que a gastronomia agradou a esta
"horda" de "gasparitos" que mais uma vez levei ... às "minhas" terras da Raia
... às terras que adoptei e me adoptaram há quase meio século.
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Almoço de encerramento da 352ª Actividade dos Caminheiros Gaspar
Correia, na
TrutalCôa
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Obrigado,
Caminheiros Gaspar Correia; obrigado amigos! Se fossem precisas provas ... estes três dias foram a
prova provada de que a Amizade é um Dom ... de que existe esperança.
Curiosamente, nas vésperas desta actividade "tropecei" por acaso num pensamento que cada vez mais se aplica ao palco onde todos nós
actuamos...
A Vida é uma peça de teatro que não permite
ensaios;
por isso e por muito mais ... há que
cantar, dançar, rir ... há que Viver ...
antes que a cortina se feche e a peça
termine sem aplausos...
💓💞
(
Vale de Espinho -
Quadrazais; qualquer das caminhadas pode ser
vista no perfil
Xalmas)
3 comentários:
Que boa e completa descrição. Assim se vê a força e a amizade do nosso estimado grupo, agora evidenciada de forma tão eloquente. Obrigado Callixto, também pela narrativa.
O conhecimento e a paixão pela região raiana do concelho do Sabugal e não só, transparece no detalhado e belo texto com informação muito útil para futuros visitantes, salientando os atributos paisagísticos, gastronómicos e culturais da região!
Muito obrigado pela partilha, generosa, do seu vasto conhecimento. Como apaixonado pela geografia e história da raia do Sabugal e Penamacor, muito lhe agradeço. Bem haja
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