Depois de tantas e tantas vezes a ouvir cantar as águas do
Bazágueda,
na "minha" Malcata, em Junho passado desci o seu curso
para lá da Marvana, até onde recebe o rio Torto, que o promove a linha de fronteira até à sua
foz no
Erjas, o rio
extremeño que desce das
Torris das Ellas ... e que passa a ser o nosso também fronteiriço
rio
Erges até chegar ao Tejo. Cerca de 19 km a sudoeste de
Valverde del Fresno, a foz do Bazágueda no
Erjas/Erges situa-se junto aos vestígios do castelo e das muralhas de
Salvaleón ... um enclave "fantasma" que
há muito estava nos meus planos de "aventuras" raianas.
Localização das ruínas de Salvaleón,
no contexto da raia de Penamacor /
Valverde del Fresno e dos rios
Bazágueda e Erges
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E a "aventura" proporcionou-se neste seco inverno, com receio de ver os rios a
suspirar por chuva, mas com a esperança transmitida pelas imagens a que chamei
"
O Milagre do Côa", nas "minhas" terras de
Vale de Espinho. E assim ... saí de Vale de
Espinho bem cedo, rumo a
Valverde del Fresno; às 9 horas lá estava, na
estrada Valverde - Penamacor, preparado para partir à descoberta de
Salvaleón.
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9.fev.2022, 8h30 - Nasce o dia, na estrada Navasfrias - Valverde. À
esquerda as Ellas, à direita Valverde
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O dia mais parecia de Primavera, apesar de estarmos a meio do Inverno. Apesar
de verdes, os campos de Valverde denotam a seca prolongada, tal como em Vale
de Espinho. Mas ao cruzar os velhos ribeiros de
Sobreiro e
Pesqueiro, ainda na estrada, renasceu a esperança de ver o
Bazágueda com água ... esperança que felizmente se viria a
concretizar.
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Para trás e para norte ... ficava o "meu" Xalmas...
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Para sul e sudoeste ... já via o "meu" Bazágueda...
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E com 8 km percorridos em pouco mais de hora
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e meia de caminho, às 11 h estava em Salvaleón
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Cerca de 19 km a sul de
Valverde, as ruínas da fortaleza e praça forte
de
Salvaleón situam-se num cerro circundado pelos rios
Eljas (o nosso Erges) e
Bazágueda. Carregado de história, aquele
lugar encerra lendas e mistérios nunca aclarados, tal é o enigma da sua
progressiva decadência e destruição. Hoje, percebem-se apenas os restos do
recinto amuralhado, mas Salvaleón terá sido uma cidadela importante,
conquistada aos árabes por Fernando II de Leão em 1166-67, a caminho de
Alcântara.
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Nas ruínas da cidadela de Salvaleón, carregadas de história e
de lendas
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São correntes algumas lendas ligadas às ruínas do recinto amuralhado de
Salvaleón, como a de uma princesa encantada numa grande cobra bastarda,
que guardava grandes tesouros. Outra, fala de um homem que correu para
Valverde del Fresno, morto de medo, porque uma grande serpente lhe teria dito
“
si te quedas aquí a dormir tres días y tres noches, te haré inmensamente
rico”; também se conta que esta circunstância foi favorecida ... pela combinação
de muito Sol e aguardente... 😂
Muito Sol eu tinha ... a aguardente não ... e por isso desci à fronteira, ou
seja ao Bazágueda, rumo à confluência deste no Erges, ou
Eljas. Do outro lado ... estava Portugal.
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O "milagre" do Bazágueda. Claro que nesta altura seria normal
muito mais água ... mas para a seca que temos vivido...
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O "milagre" do Erges, que igualmente traz muitas e límpidas
águas, vindas das alturas da Sierra de Gata
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Já do lado português, a confluência do Erges (vindo de
frente) e do Bazágueda (vindo da esquerda)
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Num Inverno chuvoso seria provavelmente impossível atravessar o
Bazágueda, mas, pedra a pedra, metendo as botas ao rio mas não metendo
água nas botas ... entrei em Portugal. E o troço que se seguiu, descendo o
agora
Erges até à foz da Ribeira da
Nave do Peixe e depois
subindo esta em direcção ao
Vale Feitoso ... foi sem dúvida o
troço mais bonito desta jornada "inverno-primaveril".
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Descida do Erges, entre a foz do Bazágueda e a da
Ribeira do Peixe
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Foz da Ribeira da Nave do Peixe no Bazágueda
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Ribeira da Nave do Peixe, vinda dos lados de
Vale Feitoso, em terras de Penha Garcia
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À hora a que eu estava a Viver este paraíso ... a mais de 300 km de distância
estava a decorrer o funeral do último dos meus tios. Irmão da minha Mãe, o meu
tio Raul era também um amante da Natureza. Dediquei-lhe a jornada de hoje,
especialmente este troço lindíssimo ao longo do
Erges e deste seu
afluente. Da família biológica, da geração dos meus pais ... não resta mais
ninguém...
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Rumo a noroeste e já de regresso, ainda em terras portuguesas, com a
Marvana ao fundo
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Agora afastado dos rios, o regresso foi por terras portuguesas com topónimos
tão originais como
Eira dos Ataques,
Cabeço dos Tiros e
Corpechana; os dois primeiros recordam a história e as estórias destas
terras de fronteira. Mas iria voltar a descer ao
Bazágueda, mais a
norte, onde ele recebe o rio Torto, local já meu conhecido de
Junho passado
... e de quando há 9 anos me lancei
de Vale de Espinho a Penha Garcia, comemorando com 40 km a pé os meus 40 anos de Vale de Espinho.
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16h50 - O Duster esperava por mim, no final desta romagem a Salvaleón
e às terras do Bazágueda e do Erges
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A tarde primaveril ainda me "convidou" ... para duas
cañas na "
Casa Laura", em
Valverde del Fresno, acompanhadas de um bom
pintcho...
😂. A minha estrelita arraiana esperava-me em Vale de Espinho ... e antes de o
Sol se pôr já cá estava... 😍
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