quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Salvaleón ... uma cidadela fantasma num enclave lendário

... e o "Milagre" do Bazágueda e do Erges

Depois de tantas e tantas vezes a ouvir cantar as águas do Bazágueda, na "minha" Malcata, em Junho passado desci o seu curso para lá da Marvana, até onde recebe o rio Torto, que o promove a linha de fronteira até à sua foz no Erjas, o rio extremeño que desce das Torris das Ellas ... e que passa a ser o nosso também fronteiriço rio Erges até chegar ao Tejo. Cerca de 19 km a sudoeste de Valverde del Fresno, a foz do Bazágueda no Erjas/Erges situa-se junto aos vestígios do castelo e das muralhas de Salvaleón ... um enclave "fantasma" que há muito estava nos meus planos de "aventuras" raianas.
Localização das ruínas de Salvaleón, no contexto da raia de
Penamacor / Valverde del Fresno e dos rios Bazágueda e Erges
E a "aventura" proporcionou-se neste seco inverno, com receio de ver os rios a suspirar por chuva, mas com a esperança transmitida pelas imagens a que chamei "O Milagre do Côa", nas "minhas" terras de Vale de Espinho. E assim ... saí de Vale de Espinho bem cedo, rumo a Valverde del Fresno; às 9 horas lá estava, na estrada Valverde - Penamacor, preparado para partir à descoberta de Salvaleón.

9.fev.2022, 8h30 - Nasce o dia, na estrada Navasfrias - Valverde. À esquerda as Ellas, à direita Valverde
O dia mais parecia de Primavera, apesar de estarmos a meio do Inverno. Apesar de verdes, os campos de Valverde denotam a seca prolongada, tal como em Vale de Espinho. Mas ao cruzar os velhos ribeiros de Sobreiro e Pesqueiro, ainda na estrada, renasceu a esperança de ver o Bazágueda com água ... esperança que felizmente se viria a concretizar.
Para trás e para norte ... ficava o "meu" Xalmas...
Para sul e sudoeste ... já via o "meu" Bazágueda...
E com 8 km percorridos em pouco mais de hora
e meia de caminho, às 11 h estava em Salvaleón
Cerca de 19 km a sul de Valverde, as ruínas da fortaleza e praça forte de Salvaleón situam-se num cerro circundado pelos rios Eljas (o nosso Erges) e Bazágueda. Carregado de história, aquele lugar encerra lendas e mistérios nunca aclarados, tal é o enigma da sua progressiva decadência e destruição. Hoje, percebem-se apenas os restos do recinto amuralhado, mas Salvaleón terá sido uma cidadela importante, conquistada aos árabes por Fernando II de Leão em 1166-67, a caminho de Alcântara.

Nas ruínas da cidadela de Salvaleón, carregadas de história e de lendas
São correntes algumas lendas ligadas às ruínas do recinto amuralhado de Salvaleón, como a de uma princesa encantada numa grande cobra bastarda, que guardava grandes tesouros. Outra, fala de um homem que correu para Valverde del Fresno, morto de medo, porque uma grande serpente lhe teria dito “si te quedas aquí a dormir tres días y tres noches, te haré inmensamente rico”; também se conta que esta circunstância foi favorecida ... pela combinação de muito Sol e aguardente... 😂
Muito Sol eu tinha ... a aguardente não ... e por isso desci à fronteira, ou seja ao Bazágueda, rumo à confluência deste no Erges, ou Eljas. Do outro lado ... estava Portugal.

O "milagre" do Bazágueda. Claro que nesta altura seria normal muito mais água ... mas para a seca que temos vivido...
O "milagre" do Erges, que igualmente traz muitas e límpidas águas, vindas das alturas da Sierra de Gata
Já do lado português, a confluência do Erges (vindo de frente) e do Bazágueda (vindo da esquerda)
Num Inverno chuvoso seria provavelmente impossível atravessar o Bazágueda, mas, pedra a pedra, metendo as botas ao rio mas não metendo água nas botas ... entrei em Portugal. E o troço que se seguiu, descendo o agora Erges até à foz da Ribeira da Nave do Peixe e depois subindo esta em direcção ao Vale Feitoso ... foi sem dúvida o troço mais bonito desta jornada "inverno-primaveril".

Descida do Erges, entre a foz do Bazágueda e a da Ribeira do Peixe
Foz da Ribeira da Nave do Peixe no Bazágueda
Ribeira da Nave do Peixe, vinda dos lados de Vale Feitoso, em terras de Penha Garcia
À hora a que eu estava a Viver este paraíso ... a mais de 300 km de distância estava a decorrer o funeral do último dos meus tios. Irmão da minha Mãe, o meu tio Raul era também um amante da Natureza. Dediquei-lhe a jornada de hoje, especialmente este troço lindíssimo ao longo do Erges e deste seu afluente. Da família biológica, da geração dos meus pais ... não resta mais ninguém...

Rumo a noroeste e já de regresso, ainda em terras portuguesas, com a Marvana ao fundo
Agora afastado dos rios, o regresso foi por terras portuguesas com topónimos tão originais como Eira dos Ataques, Cabeço dos Tiros e Corpechana; os dois primeiros recordam a história e as estórias destas terras de fronteira. Mas iria voltar a descer ao Bazágueda, mais a norte, onde ele recebe o rio Torto, local já meu conhecido de Junho passado ... e de quando há 9 anos me lancei de Vale de Espinho a Penha Garcia, comemorando com 40 km a pé os meus 40 anos de Vale de Espinho.

E de novo o Bazágueda, agora mais a norte, junto à foz do Rio Torto ... e de novo o "milagre"...
Ponte internacional improvisada sobre o Bazágueda... 😄
E o adeus ao rio. Faltavam-me 4 km para regressar ao ponto de origem
Ainda não eram cinco horas quando regressei ao carro, que tinha ficado a descansar junto à estrada Valverde - Penamacor. Tinha 28 km nos pés, nem todos propriamente fáceis ... mas uma bela jornada.

16h50 - O Duster esperava por mim, no final desta romagem a Salvaleón e às terras do Bazágueda e do Erges
A tarde primaveril ainda me "convidou" ... para duas cañas na "Casa Laura", em Valverde del Fresno, acompanhadas de um bom pintcho... 😂. A minha estrelita arraiana esperava-me em Vale de Espinho ... e antes de o Sol se pôr já cá estava... 😍
Uma pequena hidratação e
não só, em Valverde del Fresno... 😂

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