sexta-feira, 5 de junho de 2020

Global Nature Activity ... nas terras da Raia Sabugalense

... ou uma circular de 40 km entre Vale de Espinho e as terras de Alfaiates

05.Jun.2020, 6h20 - Vale de Espinho vista do Areeiro ... à luz de pouco depois do nascer do Sol
O Clube de Montanhismo da Guarda, no quadro da pandemia que estamos a atravessar, lançou aos sócios um desafio especial para a comemoração do Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho.
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Naquele dia ou nos dois seguintes, o convite visava a realização de uma actividade em contacto com a Natureza, individualmente ou em pequenos grupos, partilhando-a depois através do Clube ou pelas formas mais adequadas. Tendo chegado dois dias antes ao meu "retiro" de Vale de Espinho, após quase três meses de confinamento ... claro que tinha de responder ao desafio. Assim, sendo um dos objectivos propostos a identificação e sinalização de percursos ... idealizei uma caminhada circular, a partir de Vale de Espinho para norte. O primeiro repto era estudar a possibilidade de recuperação do chamado "caminho velho" do Soito. A carta militar 227 ainda o apresenta ... mas a actualização 227-2 já só assinala o "caminho novo", ligeiramente mais a nascente. Mesmo assim fui à procura, sabendo que no mínimo iria encontrar parte do trilho ocupado pela ribeira dos Urejais, ao atravessar o vale. Mas para lá deste ... o "caminho velho" pura e simplesmente desaparece num mato bastante cerrado, restando velhas pedras dos muros que o ladeavam. Só mais a norte, onde o mato dá lugar aos barrocos, é possível avançar mais abertamente ... atravessando múltiplos arames de propriedades abandonadas pelos tempos.
Do "caminho velho" do Soito ... só restam memórias ... além de muita água, mato, muros esboroados ... e arames...
Da Có Pequena ao reencontro com o "caminho novo" ... levei uma hora! Já passava das oito quando passei os mil metros de altitude da Malhada Alta, a caminho do Soito, com a Serra da Estrela à vista.
Geodésico e Capela da
Malhada Alta (1002m alt.)
A caminho do Soito, com a Serra da Estrela à vista
No Soito entrava na GR22, a Grande Rota das Aldeias Históricas, rumo a Alfaiates. Sendo a verificação da sinalização de percursos pedestres um dos itens incluídos no desafio do CMG ... reparei na deficiente sinalização daquela Grande Rota neste troço. À saída do Soito, em direcção à Fonte da Cal, não vi uma única sinalização, a não ser as marcas branca e vermelha, já mais à frente, num ou noutro local. Os efeitos da chuva dos meses anteriores faziam-se igualmente sentir no próprio trilho, obrigando-me a sair para terrenos laterais ... onde pastavam tranquilamente algumas vacas e bois.

Sinalização (esporádica) da GR22 e PR4SBG ⏫



⏪ Pois é ... o trilho virou ele próprio ribeira...


Curiosas perante o "intruso", estas "proprietárias" do
terreno devem ter percebido que a intenção era pacífica ⏬
Uma bela "janela" para os campos verdejantes que ladeiam este troço da GR22
No local denominado de Abrunheiro, num cruzamento de caminhos, foi onde vi melhores indicações da GR22 e do PR4 SBG. Quase logo a seguir, contudo, uma cruz numa árvore assinala, num cruzamento, que a GR não seria por ali ... mas o LocusMap dizia-me que era ... e pouco depois lá estava a marca branca e vermelha, pouco antes dos Moinhos do Janadão e da Barragem de Alfaiates.
Cruzamento dos GR22 e PR4, próximo do Abrunheiro; as melhores indicações deste troço ...
... seguidas de um cruzamento enganador; repare-se na cruz na árvore à direita da fotografia ... mas a GR22 é por ali!
Moinho do Janadão, semi-recuperado ... abaixo à esquerda visto do interior
Natureza multicolorida, nas imediações da Barragem de Alfaiates
Sempre ao longo da GR22, chego ao grande espelho de água da barragem da ribeira de Alfaiates, com a aldeia ao fundo
Antes das onze horas estava na aldeia histórica de Alfaiates, que fez parte do Reino de Leão até finais do século XIII. Certamente por efeito da pandemia de Covid-19 (que no entanto no Concelho do Sabugal não tem casos), não se via quase ninguém nas ruas.

Castelo de Alfaiates, com a sua torre
ocupada por uma família de cegonhas
Em Alfaiates deixei a GR22, que segue para Vilar Maior, e rumei a nascente, para o Santuário / Convento da Sacaparte e ao encontro das ribeiras de Aldeia Velha e de Forcalhos, ligeiramente a sul de onde ambas confluem para formar o Rio Cesarão, a sul também de Aldeia da Ponte. Deserto claro que já o esperava encontrar, mas admirou-me o certo estado de abandono em que se encontra todo o espaço da Sacaparte, com erva alta ao longo de todo o recinto.

Santuário e Convento da Sacaparte ... com todo o recinto a necessitar cuidados e arranjos
Construído no século XVIII, o Convento da Sacaparte foi ocupado por monges dedicados ao apoio a doentes e peregrinos. Foi abandonado em 1834, com a expulsão das ordens religiosas.

Rumo a nascente ... por campos que são autênticos quadros naturais
Uma vez cruzada a estrada Alfaiates - Aldeia da Ponte, o trilho que segue para leste bem se poderia chamar o trilho dos campos multicolores. Aproximava-se o meio dia, o calor começava a aumentar ... e que melhor local poderia escolher para almoçar se não junto às águas da Ribeira de Aldeia Velha?

Esplendores da Natureza, junto à Ribeira de Aldeia Velha e entre esta e a Ribeira de Forcalhos
Antes de inflectir para sul, iniciando o regresso, a Ribeira de Forcalhos mereceu bem o pequeno desvio para cruzá-la, de pouco mais de 100 metros. Dezenas de borboletas esvoaçavam nas margens, como se bailassem alegremente, numa primavera que caminha rapidamente para o verão.

vida no ar e no solo, junto à Ribeira
de Forcalhos
Pouco passava da uma da tarde quando rumei definitivamente a sul, com 21 km percorridos. Faltariam sensivelmente outros tantos, ou pouco menos. Guiando-me pelo LocusMap, onde também tenho as cartas M888 (216-3 e 227-2), a direcção era agora a de Aldeia Velha, voltando a cruzar a ribeira do mesmo nome depois de Vale dos Arcos e das ruínas do velho Moinho do Surdo.

Ruínas do Moinho do Surdo, junto às quais estes
simpáticos cavalinhos me deram as boas tardes...
14h25 ... e tinha Aldeia Velha à vista, cruzando a estrada Aldeia Velha - Alfaiates
Faltava-me agora ... atravessar a Serra de Aldeia Velha ... ou seja "trepar" cerca de 250 metros de desnível e voltar a descê-los para Vale de Espinho. Na subida da encosta norte ainda se viam manchas das maias, a flor da giesta, que durante o mês de Maio cobrem de amarelo todas estas serranias.

Já esbatida a sua cor viva de Maio, as maias ainda preenchem a encosta norte da Serra de Aldeia Velha
Contrastando com a beleza da Natureza ... um exemplo do que não devia existir... 😥 (Posição 40°20'41.5"N 6°53'00.1"W)
Às três da tarde estava nas vetustas ruínas do "Sabugal velho", junto ao pequeno Santuário da Senhora dos Prazeres. Num dia extraordinariamente límpido, a panorâmica abarcava da Serra da Marofa, a norte, às Serras da Peña de Francia e da Gata, a leste, culminando com o "meu" Xalmas.

Santuário da Senhora dos Prazeres e ruínas do "Sabugal velho", na Serra de Aldeia Velha
Extraordinária panorâmica sobre Aldeia Velha, com a Serra da Peña de Francia como pano de fundo no céu azul
A sudeste, mais próximo, o "meu" Xalmas fecha o horizonte ... do lado de lá da raia agora de novo fechada pela Covid-19
Depois de um descanso a contemplar estas belas panorâmicas ... ainda faltava chegar à cumeada da serra. Contornado o chamado Muro, sempre com as belas panorâmicas a leste e sudeste, não há alternativa ao alcatrão da estrada Soito - Fóios. Poderia ter optado pelo Cabeço Melhano e descer pela Serra Madeira, mas apeteceu-me descer pelo Lameirão e pelas Balsas ... esquecendo-me que a Quinta do Lameirão é fechada para o caminho que liga a Serra Madeira à Fonte da Bicha. Bem ... valeu-me uma pequena zona nas traseiras em que foi fácil saltar o arame ... já sou especialista... 😊

Da Quinta do Lameirão às Balsas, Cortes e Castelo Velho ... onde o "trânsito" era intenso
Pouco depois das cinco e meia estava a entrar em Vale de Espinho, pelo "Porto", a zona que separa a Barreira do Povo. Com 40 km nos pés, penso que cumpri os objectivos propostos pelo Clube de Montanhismo da Guarda, neste Dia Mundial do Ambiente. Com pequenas correcções, a minha Global Nature Activity permite desenhar um percurso circular de elevado potencial como percurso pedestre de Grande Rota, que pode ser iniciado em Vale de Espinho, Soito, Alfaiates ou Aldeia Velha e percorrido em qualquer dos sentidos. Muitos dos trilhos percorridos nestas terras permitem igualmente transformar a Grande Rota num ou mais percursos de Pequena Rota (até 30 km). Fica o desafio às Autarquias...
17h45 ... quase 12 horas depois regresso a Vale de Espinho ... com os olhos e a alma cheios!

(Clique nos mapas para ver o percurso ou
AQUI para o álbum completo de fotos)


Clique abaixo para o vídeo (7 minutos)

3 comentários:

Aurora Martins Madaleno disse...

Dei o meu passeio imaginário, enquanto fui lendo e apreciando as fotografias e descrições do meu Amigo José Carlos Calixto. Obrigada. É sempre um prazer "caminhar" pelas nossa terras raianas.
Grande abraço
Aurora Madaleno

BADAMALOS disse...

Muitos parabéns, muito bom

Unknown disse...

Excelente documento sobre as nossas terras de Riba Côa. Parabéns!