quarta-feira, 8 de julho de 2020

Volta ao Estuário do Tejo ... ou uma jornada ciclista K 122

Quinta da Piedade, 30.Jun.2020
Conforme confidenciei no meu tímido regresso às origens a 13 de Maio ... durante o confinamento comprei uma "bicla" 😋. A paixão sempre foi contudo e é o pedestrianismo; a bike foi essencialmente para aumentar um pouco o raio de acção das minhas "aventuras confinadas" ... pelos bairros perto de casa ... pela várzea do Trancão ... pelos passadiços ribeirinhos. Mas ... nos meus planos começou a surgir algo mais ousado: que tal ... dar a volta ao Estuário do Tejo? Fiquei à espera de um dia propício, em que houvesse pouco calor mas bom tempo. E esse dia surgiu...

8.Jul.2020 - Com o nascer do Sol ... nasceu o projecto da volta ciclista ... abençoada por Santiago
Cinco minutos antes das seis da manhã e 23 minutos antes do nascer do Sol, saí de mansinho para a minha primeira grande volta ciclista. A manhã estava fresca, como era desejável ... e o astro Rei levantou-se sobre o Tejo quando já pedalava nos passadiços ribeirinhos, a bom ritmo. Algumas nuvens embelezavam a alvorada, originando raios mágicos e reflexos de cor e de luz. Pela primeira vez ... aquele que é para mim o grafiti mais bonito de quantos conheço foi registado em modo bike; pedi a bênção a Santiago, para a jornada a que me propusera ... e prossegui para Vila Franca.
Vila Franca, Ponte Marechal Carmona, 7h40 ... atravessando o Tejo
A recta do Cabo era a parte eventualmente mais perigosa do meu projecto: 7 infindáveis km, com muito trânsito, mas felizmente com uma faixa bem larga; percorri-os em pouco mais de 20 minutos, com uma paragem junto à setecentista Ermida de S. José das Lezírias, ao estilo da contemporânea Ermida da Senhora de Alcamé, nos trilhos da Ponta da Erva e da foz do Sorraia, Sorraia que cruzei à entrada do Porto Alto.

Ermida de S. José das Lezírias e o Rio Sorraia, à entrada do Porto Alto, 8h10
A seguir ao Porto Alto, novos 7 km de recta, agora na EN 118; a margem agora era estreita, mas felizmente não havia muito trânsito. Quinze minutos antes das nove da manhã, com 43 km percorridos à boa média geral (incluindo pequenas paragens) de 15,5 km/h ... não me pareceu mal. E ali ... deixei a estrada, para entrar nos estradões que me levariam aos Montes de Pancas e Vale de Frades ... e de novo à EN 118 mas já quase à entrada de Alcochete.

Monte e Herdade de Pancas ... onde cheguei a bom ritmo... 😊
Sapais e Marinhas de Vale de Frades e da Bela Vista
A Ponte das Enguias, no que resta da antiga EN 118, está em franco abandono e degradação. De repente ... quase me senti transportado para a rota dos túneis e das pontes, na antiga linha do Douro. Mas aqui a extensão é curta ... e nem eu nem a bicla fomos parar à ribeira das enguias... 😂
Ponte sobre a Ribeira das Enguias ... em estado não muito convidativo...
Contava virar quase logo a seguir à direita, para o Parque das Areias, já junto ao Tejo. Mas o caminho rural que a carta me indicava ... tinha um portão fechado a cadeado: "Herdade da Tarouca, 1789", lê-se no muro. Ok ... tive de seguir como se fosse para o Freeport e só mais à frente virar para o citado Parque das Areias, por um caminho ... com muita areia; foi dos poucos locais onde tive de desmontar.

Parque Ambiental das Hortas, ou das Areias, Alcochete
O Parque das Hortas, ou das Areias, à beira Tejo, foi o local para uma primeira paragem propriamente dita, com 58 km percorridos. Estava sensivelmente em frente de casa. Já conhecia o local, de quando em Novembro de 2018 ... uma ida da cara metade ao Freeport me proporcionou uma bela caminhada por terras de Alcochete e das salinas do Samouco. A praia dos Moinhos, em Alcochete, tinha banhistas ... ou melhor, veraneantes, já que com a maré vazia as águas propriamente ditas estavam longe. E assim, a caminho do Samouco e do Montijo ... passei por baixo da Ponte Vasco da Gama.

A sempre bela Alcochete, a Praia dos
Moinhos e ... a caminho do Samouco
Ainda não era uma hora e estava no Montijo; nem sei há quantos anos não ia ao Montijo. A zona marginal, o Moinho de Maré, o Cais dos Pescadores, tudo bem cuidado e aprazível. Gostei.

Montijo, 12h50 - Uma muito bonita e cuidada zona marginal, do Moinho de Maré ao Cais dos Pescadores
Ao planear esta "aventura" ciclista, não sabia como é que íamos reagir ... eu e a máquina 😊. Tinha por isso previsto as várias "escapatórias" que a Transtejo proporciona para regressar à margem direita do rio: Montijo, Barreiro, Seixal, Cacilhas, ou até mesmo Porto Brandão ou Trafaria. A primeira, dado estar perfeitamente dentro dos tempos que previra, nem a considerei. É verdade que já tinha entretanto começado a descobrir alguns músculos que não conhecia em mim 😋. Os quadríceps (particularmente o da coxa esquerda) e os aductores já davam sinais de uso; mas nada que não fosse controlável e "gerível" ... pelo que logicamente avancei, sabendo embora que, a seguir ao Montijo, me esperava o troço menos agradável da "aventura", com muita estrada, pela Lançada, Sarilhos Grandes (onde felizmente não houve nenhuns... 😉), Pinhal da Areia (mas eu ia em alcatrão...), Moita, Arroteias, rumo à Mata da Machada. O Barreiro ficava a noroeste ... e com ele a segunda hipótese de "escapatória", que verdadeiramente nunca pusera. Antes das 14h30 estava na Mata da Machada.
Mata da Machada, 14h25/15h20 ... a maior paragem desta "aventura" ... o merecido descanso
Já tinha estado na Mata da Machada há 4 anos, com os "meus" Caminheiros Gaspar Correia. Hoje, apesar do dia mais fresco da semana, o calor já pedia um saboroso descanso, à sombra do muito arvoredo. E foi durante esse retemperador descanso que fiz a minha opção: entre o Seixal e Cacilhas, o meu voto (e único...) foi para o Seixal. A diferença era apenas de 6 a 7 km, mas, por um lado, a opção Cacilhas parecia-me menos atractiva, mais urbana, e, por outro lado, a travessia do Tejo a partir do Seixal pareceu-me que seria paisagisticamente mais bonita ... e num atractivo catamarã.
Pouco antes de Coina, com a baía do Seixal à vista
E assim, por próximo de Coina e pela aldeia de Paio Pires ... poucos minutos depois das quatro estava no cais do Seixal. Tinha entretanto falado com o mais sénior dos meus dois juniores, que, morando não muito longe ... resolveu ir ter ao cais e assistir à partida 😍. O "transatlântico" era às 16h20.

Praia do Seixal, com a Ponta dos Corvos ao fundo (foto superior). E ... quase
de partida para a travessia do Tejo ... com um filho na despedida 😀.
A viagem Seixal - Cais do Sodré demora 20 minutos. Foram pouco mais de 4 milhas (cerca de 8 km) ... em que não tive que pedalar; a bicla também descansou, num compartimento próprio e bem segura. O catamarã tem boas instalações ... e ia quase vazio. A máscara, claro, teve de sair da mochila. E às 16h40 estava em Lisboa. Faltavam-me 16 km para casa...
Travessia do Tejo, do Seixal ao Cais do Sodré: 20 minutos de descanso ... para homem e máquina 😂
Cais do Sodré, 16h40: a volta ao Estuário estava a terminar. Só faltavam ... 16 km para casa!
Os 16 km para casa ... já são sem história; já várias vezes os fiz a pé. Felizmente já há ciclovia em quase toda a extensão ... e assim o fechar do "círculo" progrediu a bom ritmo. Em pouco mais de uma hora ... estava em casa. Das seis da manhã às seis da tarde ... 12 horas de uma volta completa ao Estuário do Tejo. Um bom banho e uma massagem de gel frio nos tais músculos que não conhecia ... e venham daí novas "aventuras"!... 😜😊

(Clique na foto ou aqui para ver o Álbum completo de fotos)



(Clique nos mapas para ampliar ou aqui para ver no Wikiloc)

2 comentários:

Rui Cortes disse...

FABULOSO! E O QUE É INCRÍVEL É TERES CONSEGUIDO FAZER ISSO TUDO NUM DIA BEM SEI QUE SAISTE ÁS 6 DA MANHÃ). SERÁ QUE VAMOS TER CICLISTA EM VEZ DE PEDIASTRINISTA?

José Carlos Callixto disse...

Em vez de não, Rui, nunca! Agora como complemento, isso talvez. Mas a prioridade é e será sempre o pedestrianismo.
Sobre fazer isto num dia ... já fiz idêntico num dia ... a pé... 😁