segunda-feira, 22 de junho de 2020

Solstício de Verão ... nas terras mágicas do Gerês

... ou do sonho sonhado ao Sonho Vivido e partilhado

Em Março passado, uma negra sombra chegou como um spray a uma Europa que acordou tarde para uma praga que tinha começado lá longe, na China. O meu Sonho de uma
A English Heritage transmitiu em directo o Solstício de Verão em
Stonehenge. Nós celebrámo-lo no prado mágico da Rocalva...
Sagração da Primavera nas terras mágicas do Gerês ... transformou-se numa espécie de twilight zone entre o sonho e a realidade ... que me levou a escrever as únicas crónicas ficcionadas destas minhas memórias.
Terminado o estado de calamidade no início de Junho, começámos a Sonhar com a transformação da Sagração da Primavera ... numa celebração do Solstício, umas boas vindas ao Verão ... nas mesmas terras mágicas do Gerês ... em autonomia total ... com a mesma equipa que, em Março ... teve de esperar pelo "Amanhã".
Tímido, cautelosamente, o Amanhã" chegou ... e as crónicas que hoje trago às "páginas" destas minhas memórias não são mais ficção ... são realidade ... são o Sonho Vivido ... na Magia da Amizade.

6ª feira 19 de Junho - da vila do Gerês ao vale da Teixeira
Tal como no Sonho e tal como todas as noites que antecedem as "aventuras" ... esta noite custou-me a adormecer. Mas a mochila preparada para partir era agora real ... a mochila grande, a das autonomias.
A viagem não foi tão rápida como no Sonho, mas estávamos os três na vila do Gerês ... preparados para começar. O Zé Manel e a Dina infelizmente não puderam ir. Fiz uma espécie de "recolha domiciliária"; primeiro apanhei a Lucy, uma hora depois a minha "panaymi" Madalena em Adão Lobo. Éramos, portanto ... um druida e duas sacerdotisas... 🙂🙏🌞. E ainda na véspera, à noite, a Sacerdotisa Mada escrevia:
Gerês, 19.Jun.2020, 11h40 - Um brinde ao que íamos Viver!

Lá...
Onde o sol nos vai guiar
A montanha namora a lua
E o céu a guarda como sua
Haverá estrelas p'ra contar...
E mais as que havemos d'inventar
😍

Almoçámos ainda na vila do Gerês. Mochilas às costas, iniciámos a subida. Mochilas ... de autonomia, claro; a minha ... nem a pesei... 🤪
A Sacerdotisa mor prega do seu altar... 😊
E assim íamos...
Entrando en terra de soños
iban os soños cantando...
Com o peso das mochilas, a progressão é naturalmente mais lenta. Subimos, subimos, subimos ... normalmente com a Sacerdotisa Lucy à frente, o Druida no meio a guardá-las e a Sacerdotisa Mada na retaguarda. Segundo esta última ... a lebre, o coelho e a tartaruga... 😊. Três horas depois estávamos na Lomba do Vidoeiro, seguindo o PR3 TBR, o Trilho dos Currais. Já tínhamos subido mais de 500 metros de desnível desde a vila do Gerês ... mas ainda tínhamos de ir para os 1050m de altitude ... para nos extasiarmos ante o Shangri-la do Vale da Teixeira; 800 metros de subida acumulada, nos 8 km desta primeira etapa. Felizmente o calor não apertava.
Lomba do Vidoeiro, 15h55 ... mas a "subida aos céus" ainda não tinha terminado...
Agora sim. Com o Shangri-la do Vale da Teixeira à vista ... o merecido descanso, recebendo a energia da terra mater!
O vale da ribeira da Teixeira era o nosso destino para a primeira das três noites na serra. Poderíamos usar a Cabana da Teixeira ou a do Cambalhão. Do nosso miradouro, vimos contudo que a primeira estava ocupada; pertencente à Vezeira de Vilar da Veiga (vila do Gerês), lá estava um pastor tomando conta do gado comunitário. "Um dia por cada duas vacas", disse-nos; e o gado não tem fins de semana. Assim, mais cerca de 1,5 km e subimos até ao curral do Cambalhão ... ao som das águas da ribeira.

No Shangri-la do Vale da Teixeira ... um dos muitos paraísos ... no paraíso do Gerês
Curral e cabana do Cambalhão ... o nosso
primeiro "hotel", nesta "aventura" pelo Gerês profundo
No Cambalhão, a Sacerdotisa Mada preferiu o infinito do céu como tecto; os outros dois elementos deste trio druídico optaram pela cabana, limpa e acolhedora ... todos guardados pela Senhora do Cambalhão, que contudo só conseguimos distinguir, na rocha, na manhã seguinte ... a última manhã de Primavera.
Nª Srª do Cambalhão,
protegendo o vale da Teixeira

 
Segundo a nossa Sacerdotisa Mada ... este tinha sido o DIA 1 - A DESCOBERTA
Com tais amigos nem uma pedra perdida...💚
Sábado, 20 de Junho - do Cambalhão à Rocalva ... no adeus à Primavera
Segundo dia de autonomia. Às cinco da manhã, as luzes da aurora começam a apagar as estrelas. "Bom dia", dizemos ... mas ainda ficamos a ver o dia a nascer. O Sol começa, uma hora depois, a iluminar os pontos mais altos ... e nós vemos as sombras deslizarem suavemente, aquecendo as almas.
Curral do Cambalhão, 20.Jun.2020, 7h50 - O Sol já nasceu há quase duas horas, mas só agora vai chegando ao vale
Numa autonomia, com 10 ou mais quilos às costas, necessariamente fazem-se etapas curtas. A nossa segunda etapa era previsivelmente a mais curta; iríamos almoçar já ao destino que pessoalmente tantas vezes ambicionara para dormir: o prado mágico da Roca Alva; a tarde seria portanto para disfrutar daquele local que tantas vezes me chamara. Deixámos o Cambalhão passava já das oito e meia, mas foi ainda maioritariamente à sombra que fizemos a vertiginosa subida para a Chã da Fonte, ao encontro do trilho que vem do Vidoal e da Portela de Leonte. Os horizontes iam-se alargando.
Rumo ao Sol ... vamos conquistando as sombras!
A vertiginosa subida do Cambalhão à Chã da Fonte e Lomba do Pau: 300 metros de desnível em cerca de 1,5 km
O Mundo era cada vez mais nosso. Ultrapassáramos já os 1300 metros de altitude. Para lá do vale do Gerês, via-se o maciço da Calcedónia e o Pé de Cabril. Ao longe, uma leve cobertura de nuvens indiciava o litoral e, mais a norte, terras galegas. Uma cidade ... Braga ... e, à esquerda, o Bom Jesus!
A subida contudo ainda não terminara. Da Chã da Fonte subimos ao imponente Arco do Borrageiro, qual construção ciclópica esculpida pelos deuses da pedra. Nele aliás nos detivemos durante uma boa meia hora, descansando e percorrendo os horizonte imponentes que se nos deparavam.
No Arco do Borrageiro ... qual portal para outro Universo, num Reino da Pedra e de forças telúricas
Pouco antes do meio dia "conquistávamos" o pico do Borrageiro, o ponto mais alto dos nossos 4 dias de autonomia. A 1430 metros de altitude, a panorâmica é de 360º à volta. A norte, a Pena de Anamão identifica-se facilmente, nas lonjuras de Castro Laboreiro. As antenas da Louriça, na Serra Amarela, também se divisam bem, para além da Serra do Gerês em quase toda a sua extensão. Percebe-se o vale do Homem, entre o Cantarelo e as alturas das Albas e dos Carris.

Cume do Borrageiro (1430m alt.) ... com o "mundo" aos nossos pés. Como me apetecia voar ... brincando aos deuses!
Do cume do Borrageiro ao prado da Roca Alva (ou Rocalva) deixámos a rocha nua. Tínhamos agora mais cor à nossa volta ... e não foi preciso muito para que as Rocas começassem a ser os nossos "faróis". Tinha posto a hipótese de subirmos ao cume da Roca Negra, mas entendemos por unanimidade que não se justificava; as panorâmicas que teríamos não seriam muito diferentes. Fomos assim deixando os dois cumes da Roca Negra à nossa direita, também já com a Roca de Pias, ou Cutelo de Pias, ao fundo ... e à uma e meia da tarde estávamos no prado mágico da Roca Alva.

Descida através das encostas coloridas do Borrageiro às Rocas. À esquerda a Roca Alva e, ao centro, o respectivo prado
Deixamos à direita a Roca Negra, com os seus dois cumes a quase 1400 metros de altitude
E chegamos ao prado mágico da Roca Alva. Ao fundo o Cutelo de Pias, sinalizando o início do vale do Rio Conho.
14h00 ... ia-se cumprir o meu sonho de uma tarde e noite na Cabana da Rocalva. E eram horas de almoço... 😉
Ao fundo do prado, no berço pantanoso do Rio Conho, havia ainda tufos de algodão (Eriophorum angustifolium). Em Março teríamos encontrado muito mais; mas agora ... estávamos a despedir-nos da Primavera ... o Solstício de Verão aproximava-se a passos largos.

Campos de algodão (Eriophorum angustifolium), no prado mágico da Rocalva
No deleite da última tarde de Primavera, o Druida e uma Sacerdotisa fomos até à cabeceira do Conho, onde ele se precipita para o seu profundo vale. É impossível não sentir a imponência e o respeito que emanam daquele magnífico cenário, ladeado pela Roca Negra, a Roca Alva e o Cutelo de Pias.
O Cutelo de Pias, ou Roca de Pias, à esquerda, guarda o vale profundo do rio Conho, que se precipita desde os prados
E regressamos ao nosso prado mágico da Rocalva
O pôr-do-Sol - e o Solstício - aproximavam-se. Não tínhamos rede ... não podíamos ver pela net a transmissão da
20h00 - Uma hora antes do pôr-do-Sol, o prado das
Rocas entrava nas sombras, com o astro-Rei a
esconder-se ao lado da silhueta da Roca Negra
Englih Heritage, directa de Stonehenge. Mas ... podíamos fazer a nossa cerimónia de adoração ao Sol ... a nossa celebração privada do Solstício. E que celebração!...
Solstício de Verão
Adeus ... vai-te, sofrida Primavera
Leva contigo tão longa espera...
Deixa saudar e dançar o nosso
💚
Nesta entrada encantada de VERÃO

(Madalena Estácio Marques)
Imaginação ... Alegria ... Amizade ... foi assim a celebração do Solstício, no prado da Roca Alva
Segundo a Mada ... foi assim o DIA 2 - A CONQUISTA E O DESLUMBRAMENTO
Com tais amigos, cada pedra descobrimento...😍

Mas a noite caiu e com ela a Primavera. No dia seguinte ... os raios de Sol pintavam cedo um quadro de magia e encantamento. A Roca Negra ficava avermelhada, como que a dizer ... já é Verão.
A Roca Negra aos primeiros raios do Sol de Verão, 21.Jun.2020, 06h08
Domingo, 21 de Junho - da Rocalva ao Abrigo de Pinhô
Terceiro dia de autonomia. Tal como no meu Sonho de Março, estivemos indecisos entre descer pelo Vidoirinho e Pradolã ou pela Arrocela e Couriscadas ... e, tal como no meu Sonho de Março,
Numa ligação entre os Caminhos de Santiago
Leki ficaram na cabana da Rocalva ... com um
e o Gerês, os meus bastões
raio de Sol a entrar na pedra!
optámos pelo Vidoirinho. Antes, contudo, havia uma "cerimónia" muito minha: os meus bastões Leki, comprados em Zubiri, no Caminho Francês, em Abril de 2016 ... ficaram no interior da cabana da Rocalva. Com quase 3000 km percorridos nos Caminhos de Santiago e de Fátima, um dos bastões já estava aberto e torcido ... pelo que entendi deixá-los a simbolizar a união entre dois marcos importantes na minha vida de peregrinações e de "aventuras": o Gerês e os Caminhos de Santiago.
Eram 7h15 quando iniciámos a jornada. Para trás ficavam as Rocas, agora já iluminadas pelo Sol da primeira manhã de Verão.
Rumo a sul, para trás ficavam os prados mágicos que nos tinham recebido para a noite do Solstício

Prado do Vidoirinho, 7h40. As Rocas Negra (à esquerda) e Alva (à direita) continuam a espreitar sobranceiras
Avançávamos agora para o "estreito", entre o vale do rio do Conho e o rio Laço. Uma espessa camada de nuvens parecia um mar no horizonte, mas à medida que descíamos, o Sol e o céu azul obrigavam-nas a subir. Cada paragem, cada curva do trilho, dava lugar ao êxtase. Correndo para a Touça, o rio Laço abriu um dos vales mais paradisíacos deste paraíso. Para lá dele as Sombrosas e o alto de Porta Ruivas ... com as minhas Sacerdotisas admiradas por eu saber todos estes nomes...

Ainda não são oito da manhã: um oceano de nuvens sobe do vale do Rio Conho ...
... enquanto que, do "estreito", as Sacerdotisas admiram extasiadas a cor, a vida e a magia do vale do Rio Laço
E a jornada prossegue para sul. Lá ao fundo ... ainda se vêem os "faróis" da Roca Negra e Roca Alva
À vista dos Bicos Altos, pouco antes das nove estávamos em Pradolã, com o seu acolhedor forno/cabana ... e a rocha aquecida pelo Sol, para aquecer corpos e almas. Ali descansámos uma meia hora, enquanto as últimas nuvens acabavam de se libertar dos vales.

Curral e forno/cabana de Pradolã ... guardado
pela Sacerdotisa mor do nosso trio druídico 😊

O Druida e as Sacerdotisas,
reunidos a receber a Terra Mater
E à vista dos Bicos Altos (à esquerda em ambas as fotos), deixamos Pradolã
Continuávamos a caminhar para sudeste. Sensivelmente aos mil metros de altitude ... tínhamos "alguém" à nossa espera; simpáticas e pachorrentas, as vacas da vezeira de Fafião deixaram-nos atravessar os prados da Carvalhosa sem qualquer problema. E continuámos a prometida descida.

Descida das alturas na direcção de Fafião. Gradualmente íamos deixando o reino da pedra ...
... para entrarmos nos bosques que nos levariam até Pinhô. Ao fundo, do lado de lá do vale do Cávado, a Serra da Cabreira
Quase em Pinhô, junto à charca na confluência de dois pequenos afluentes do rio do Conho
A nossa Sacerdotisa Mada tenta desbravar a
"selva" impenetrável de fetos, giestas e silvas
Eram onze horas ... e estávamos quase no destino. Mas, antes ... quis mostrar às minhas Sacerdotisas o verdadeiro "altar" dos deuses, o curral velho de Pinhô. Como nunca gosto de voltar atrás, quis entrar por nascente ... mas a tarefa revelou-se difícil; a vegetação era completamente cerrada. Apesar da tenacidade da Mada ... optei pela desistência ... mas a entrada naquele lugar mágico pelo lado poente, essa sim estava livre. Ao contrário de quando o conheci há quase 7 anos, ao Curral velho de Pinhô só se chega agora pelo mesmo trilho por onde se sai.
E no Curral velho de Pinhô ... sentimo-nos verdadeiramente transportados para um Tempo sem tempo ... brincando aos deuses. Éramos nós os deuses ... ou um Druida e as duas Sacerdotisas ... num Concílio místico e mágico. Não me lembrava de ali haver também um forno/cabana, mas a Sacerdotisa Lucy descobriu-a; e a cabana do curral velho de Pinhô ficou logo baptizada ... Cabana Lulua ... ou da Lucy ... adoradora da Lua.

No Universo mágico do Curral velho de Pinhô ... onde nos sentimos deuses
A Lucy descobriu o forno/cabana do Curral velho de Pinhô...
a Cabana Lulua 😊

E nós três ... somos um trio druídico, reunido neste mundo
mágico. Um Druida e duas Sacerdotisas ...
Ficámos bem nas "fotos"?... 😉
Estivemos quase uma hora naquele recanto esquecido do paraíso. Na adoração do Sol, das cores ... da Amizade e da Vida! Dali à cabana de Pinhô (a nova) eram pouco mais de 10 minutos ... e ao meio dia entrávamos no recinto vedado do "hotel de 5 estrelas" que é aquela cabana, onde já várias vezes fiquei, inclusive com a minha estrela, agora mais ausente de "aventuras" deste género. A tarde era mais uma vez nossa. Para a Mada era o...

                                                DIA 3 - A PROMETIDA DESCIDA
  Com tais amigos, cada pedra é melodia...😍

Ao meio dia em ponto chegamos à minha
velha conhecida Cabana de Pinhô ...
... com esta "varanda" como deleite para a vista e para a alma!
E como nos deleitámos nesta primeira tarde de Verão. Nem frio nem calor demasiado. O horizonte sempre límpido mostrava-nos o vale do Cávado e a Cabreira. Ao contrário dos dias anteriores, contudo, muitos caminheiros foram aparecendo no trilho, provenientes uns do lado da Ermida ou da Tribela, outros do lado de Fafião. E perdi a conta às vezes que nos perguntaram o caminho ... para o Poço Azul.
estás à janela...
Menina (e menino)
O Poço Azul tornou-se nos últimos anos um dos locais mais procurados no Gerês ... mas felizmente bem escondido, no vale profundo do rio Conho. Alguns diziam terem GPS e as coordenadas ... mas não tinham dado com ele 😳. Quando lhes disse que tinham uma boa hora de trilho para cima e outra de regresso ... alguns ficaram admirados. Não sei quantos efectivamente lá terão chegado 😊. Mas o Universo está sempre do nosso lado: um dos caminhantes que por ali passou ... deu-nos o isqueiro quando lhes perguntámos se tinham fósforos! E assim a nossa Maga Lucy deu-nos aos três o calor e a companhia da lareira acesa! Éramos verdadeiramente um Concílio druídico ... e tu, Lucy ... és a Sacerdotisa do Fogo!
Com os amigos Lírio e Orion, 10.Jul.2012,
quando com a minha "estrela" os encontrámos na Serra
Entre os caminhantes que passaram ... reconheci um casal. Decididamente, a montanha une e liga os seus amantes. Eram a Lírio e o Orion, do blog "Cabra do Gerês" ... que já não via há 8 anos, desde que nos encontrámos ... também na serra, na descida precisamente para Pinhô!
E o primeiro dia de Verão ia-se aproximando do fim. O calor do fogo fazia aumentar a alegria ... a alegria de estarmos Vivos ... a Felicidade da Amizade Vivida e partilhada. E a música surgiu, enquanto as estrelas surgiam no céu. A música acompanha-me sempre, mesmo nas "aventuras" em autonomia. De Francisco Fanhais à Brigada Victor Jara, da Ronda dos Quatro Caminhos ao Pedro Barroso, ao Fernando Pereira e ao Sebastião Antunes ... a música tradicional portuguesa ficou bem representada na nossa última noite de autonomia ... à lareira da cabana de Pinhô.
O poder e o calor do fogo ... graças à tenacidade e à paixão da Lucy ... cada vez mais in the sky
2ª feira, 22 de Junho - o regresso à vila do Gerês
Era chegado o despertar do último dia. Um Despertar dos Mágicos, como os sinto sempre que Vivo "aventuras". Tínhamos adormecido os três na cabana ... mas só acordámos dois... 😳; a Sacerdotisa Mada ... tinha ido ver as estrelas ... e por lá ficou, na alta madrugada daquelas terras mágicas.
Pinhô, 22.Jun.2020, 6h20 - Num verdadeiro "Despertar dos Mágicos" ...
uma das Sacerdotisas tinha vindo para o exterior da nossa cabana/"templo"

Nem um vento
Nem um lamento
Dum chilrear
Daquela ave ao acordar

Ainda há uma estrela
Mas se a apanhar
Ela vai deixar de brilhar...

Este silêncio
Do amanhecer
Como um compêndio
Para saber ser
 com o Cutelo de Pias ao fundo
Ponte de Servas, sobre o rio Conho,
Tudo bem escrito
Donde vens, p'ra onde vais
Porque é que existo
Vou ser capaz...

Noite de fogo e cantoria
Dormida fingida
Aperto da despedida
Olhos loucos da escuridão
Da luz das estrelas
A sonhar em cada mão...


       (Madalena Estácio Marques)

Eram 7h15 quando deixámos a cabana de Pinhô para a última "etapa". A maior em distância a percorrer ... 10 km; numa autonomia, com todo o nosso "mundo" às costas ... fazem-se poucos quilómetros por dia. Descemos ao vale do Conho ... subimos à Tribela e ao Curral de Portos (já lá dormi com a minha "estrela"), à Malhadoura ... e antes das oito e meia estávamos junto à Cascata do Arado.

Nos bosques da Tribela, entre o vale do Conho e o curral de Portos
Estradão e Ponte do Arado: começávamos a aproximar-nos da dita civilização...
A Cascata do Arado tinha menos água do que era previsível. Afinal ... o Inverno e Primavera "deviam" ter sido mais chuvosos. Mas subir aquelas escadarias e admirar as sucessivas quedas de água é sempre um espectáculo da Natureza. E às 9h00 estávamos no alcatrão que nos levaria à Pedra Bela.
Cascata do Arado: vista sobre o vale
e para a cascata e piscinas naturais
Antes das dez da manhã estávamos na Pedra Bela, contemplando a sempre imponente panorâmica sobre a Caniçada
Já só nos faltava a descida para a vila, para fechar o nosso "círculo mágico". Seguindo de novo o PR3 TBR, as sombras souberam bem, num final de manhã em que o calor apertava já significativamente. Tudo tinha jogado a nosso favor, durante estes 4 dias: nem calor demasiado, nem frio; Sol e nuvens, num céu azul a cobrir uma atmosfera límpida; nós éramos, seguramente ... os eleitos!

Descida da Pedra Bela para a vila do Gerês,
pelo trilho da Corga dos Carvalhos (PR3 TBR)
Gerês à vista: às 11h15 estávamos de regresso à vila
(Clique na foto ou aqui para ver o Álbum completo de fotos)
(Clique no mapa para ampliar ou aqui para ver no Wikiloc)
Este tinha sido o...

DIA 4 - A DESCIDA DA CONVERSÃO

Com tais amigos, cada pedra uma paixão 😍


E o Sonho sonhado passou a realidade Vivida e partilhada. Obrigado Lucy. Obrigado Mada. Brincando aos deuses ... nós Vivemos ali a nossa Paixão pela Natureza ... pelos grandes espaços ... pela Amizade sã ... pela Vida! Neste ano em que completo 50 anos de "aventuras" de ar livre ... senti-me nestes dias voltar aos meus 17 anos ... voltar aos "anos loucos" em que comecei a minha Vida ... "Por fragas e pragas...". Bem hajam! Nós somos o que quisermos Ser ... num Tempo sem tempo...

3 comentários:

Atic disse...

Belíssima partilha!

Órion disse...

Mais uma vez um excelente relato.
Este encontro fortuito foi quase idêntico ao primeiro, na pontes das servas, há 9 anos, https://cabradogeres.blogspot.com/2011/06/roca-negra-asas-brancas.html.

Abraços

Raul Fernando Gomes Branco disse...

Callixto, vi e li com muita atenção! Mais uma vez reportagem deslumbrante! Um abraço.