"Um vulcão do tempo dos dinossauros, a devoção a uma santa que,
decapitada, caminhou com a cabeça nas mãos, filas de gado a dar voltas
em torno de um cruzeiro e uma Meca na Ibéria... cantadores dos Reis que
pintam as paredes de cada casa onde param, e belas paisagens, claro.
Tudo isto... às portas de Lisboa." (Henrique Feliciano Silva - Wikiloc)
Assim faz o meu amigo Henrique a sua apresentação no
Wikiloc
ao
PR5
de Alenquer, a chamada
Rota de Santa Quitéria, na freguesia de Meca, daquele concelho. Foi precisamente esta Meca Ibérica
que escolhemos
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Basílica de Santa Quitéria, Meca, 11.07.2020, 8h10
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para um reencontro de amigos e "irmãos de campo" (e de coração), depois da
longa noite
escura e bretemosa a que a Covid nos remeteu ... e que
ainda não terminou; alguns amigos e "manos" ... não os via desde Dezembro!
De acordo com as regras e recomendações da
DGS, fora da área
metropolitana de Lisboa é possível reunir até um máximo de 20 pessoas ... e
escolhemos uma caminhada propositadamente acessível à minha "estrelita"
arraiana. Com encontro marcado para as oito da manhã, 12 candidatos ...
rumaram a
Meca. Sobranceira ao Rio de Alenquer e ainda nas faldas sul
da
Serra de Montejunto, Meca é uma vila de toponímia pouco explicada,
embora seguramente de origem árabe. É uma zona marcadamente agrícola,
alternando as zonas de vinha e de pomares.
Para além da Basílica, dedicada a Santa Quitéria, o principal motivo de
atracção é o que resta do chamado "vulcão de Meca", uma chaminé
integrada no Complexo Vulcânico de Lisboa, estrutura com cerca de 72 milhões
de anos.
Iniciámos a caminhada no estacionamento pouco abaixo da Basílica, começando
desde logo a subida para Catém e contornando a encosta poente do
vulcão.
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Meca, vista já da subida para Catém
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Quase todas as casas da freguesia e até do concelho têm inscrições alusivas à
tradição de cantar e pintar os Reis, na noite de 5 para 6 de Janeiro de cada
ano. Quem pinta vai à frente, depois segue quem canta. Os moradores apresentam
mesas de iguarias natalícias.
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Textos e símbolos da tradição dos Reis, pintadas na noite de 5
para 6 de Janeiro de cada ano. Desenham-se vasos e corações
floridos, a vermelho e azul, a inscrição "Bons Reis" e a
sigla "V.R." (Viva a República)
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Campos a poente do vulcão de Meca, entre Catém e
Bogarréus. Ao fundo, a Serra de Montejunto.
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Sempre com a
Serra de Montejunto no horizonte, a norte, a chaminé
vulcânica de
Santa Quitéria já se via ... bem lá no alto. A subida para
Bogarréus foi um pouco penosa para a minha estrelita, até porque o
calor começava a apertar. Umas boas sombras, um café (para ela) ... e um
branco fresquinho (para vários dos restantes) ... recarregaram energias. Mesmo
assim, optei por seguir com ela directo para
Canados e S. Brás,
enquanto o resto do grupo seguiu o
PR5, descendo o
Vale Mourisco e subindo depois a encosta nordeste do
vulcão. Reencontrámo-nos pouco depois de
S. Brás.
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Lagoa de Meca, que ocupa a antiga cratera da chaminé vulcânica
de Santa Quitéria
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E do vulcão ... descemos a
S. Brás e a
Meca. Parte do grupo,
seguindo o
PR5, ainda foi a
Casal Monteiro ... quatro descemos directos à
Basílica de Santa Quitéria. Quitéria terá nascido no ano de 120, sendo
uma das nove filhas nascidas de parto único da mulher do governador romano.
Nove filhas num só parto?! Superstições, vergonha e medos terão levado a
parteira a receber ordem de as afogar. Mas ela, piedosa e Cristã, entregou as
meninas ao arcebispo de Braga, Santo Ovídio, que as baptizou e entregou a
diversas famílias cristãs. Anos mais tarde, o pai, tomando conhecimento da
existência delas e estando comprometido com um cortesão de nome Germano,
decidiu que com ele a filha se casaria.
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Regresso a Meca, 12h10
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Mas ela recusou e fugiu, vindo a ser encontrada em Aire-sur-l'Adour, em
França. Condenada à morte, foi executada pelo ofendido Germano, com apenas 15
anos. Mas ... os soldados que a prenderam ficaram cegos; e Quitéria, após ter
a cabeça decepada, tomou-a nas suas mãos e caminhou até à cidade vizinha, onde
caiu e foi sepultada. Muitos séculos depois, em 1238 terá aparecido uma imagem
de Santa Quitéria na Quinta de S. Brás, construindo-se uma pequena Ermida no
local em que hoje se situa a Basílica, construída no reinado de D. Maria I.
Hoje, a romaria de
Santa Quitéria de Meca é, para a população do alto
concelho, o acontecimento mais importante dos festejos anuais destas terras. A
procissão, a bênção do gado e o grande arraial são os componentes obrigatórios
e constantes desta antiga festividade, no domingo seguinte a 22 de Maio, dia
de Santa Quitéria.
Ao meio dia e um quarto estávamos de regresso ao ponto de origem. A Basílica
estava infelizmente fechada. Em frente, há também um monumento singelo em
homenagem aos trabalhadores rurais da freguesia.
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Monumento ao trabalhador rural, Meca
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Meca, 13h05 - No fim da caminhada ... um merecido almoço de
grupo (Foto:
Fernando Damil)
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E assim terminou esta bela primeira actividade ... um pouco menos confinada. O
meu lema é e continuará a ser, sempre dentro das normas superiormente emanadas
... a precaução dentro do bom senso, da responsabilidade e do respeito pela
sensibilidade dos outros. Obrigado a todos os que fizeram deste sábado ... a
"festa" possível que ele foi.
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Wikiloc
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