sábado, 13 de dezembro de 2025

Da Mata dos Medos à Fonte da Telha

Miradouros de Natal... a encerrar os 40 anos dos Caminheiros Gaspar Correia

Para encerramento do 40º aniversário dos Caminheiros Gaspar Correia - a minha grande e mais antiga família Caminheira - não podia ter havido melhor dia e melhor caminhada.
Mata Nacional dos Medos, 13.12.2025, 10h55, com a Serra de Sintra a fechar o horizonte
Seguindo a intenção de neste ano festivo o grupo recordar algumas das caminhadas já realizadas, percorremos caminhos já percorridos... há 30 anos, a 13 de janeiro de 1995! Atravessámos a Mata Nacional dos Medos, num percurso maioritariamente plano, com paragem em vários miradouros, de onde pudemos apreciar as belas vistas para o Oceano Atlântico e para as terras da Costa, com a Serra de Sintra a fechar o panorama a norte. Como novidade deste século XXI, percorreremos ainda alguns dos passadiços, relativamente recentes, da Fonte da Telha.
Melhor do que qualquer texto, neste caso... é acompanharem-nos na caminhada... 😄
Foi sem dúvida um "𝘓𝘰𝘷𝘦𝘭𝘺 𝘋𝘢𝘺", no qual os gasparitos traçaram "𝘈 𝘴𝘩𝘢𝘱𝘦 𝘪𝘯 𝘵𝘩𝘦 𝘴𝘬𝘺".
Se não entenderem... vejam o vídeo; é baseado numa história real... 😍💖

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Serra d'Ossa... até onde a vista alcança...

Quando num dia laboral alguém tem obrigações em Évora... leva três "guarda costas" que a deixam nas muralhas, calçam as botas e vão caminhar... 😀🥾
Aldeia da Serra, 25.11.2025, 10h20
O Zé, o Deonel e este vosso cronista de ocasião deixámos a trabalhadora em Évora... e fomos ao encontro da Serra d' Ossa, ali em pleno Alto Alentejo, entre o Redondo e Estremoz. O dia pedia contemplação, e o ponto escolhido tinha um nome bem sugestivo: Aldeia da Serra. Foi ali que ficou um carro que até já foi meu — ironias do destino — e dali partimos à descoberta da serra.
Folhas caídas, passadiços, pontes de madeira… trilhos que guardam histórias em tons de Outono...
Na Serra d’Ossa, cruzam-se histórias e murmúrios de santos e de mouras encantadas. Refúgio de eremitas durante séculos, o Convento de S. Paulo deixou hortas, levadas e açudes como quem deixa pegadas no tempo. A moda dos passadiços também lá chegou… e foi por eles que começámos a nossa travessia, ligando a aldeia à Ermida da Senhora do Monte da Virgem — fundada no Séc. XV — num percurso que nos envolveu como um conto serrano.
Ermida da Senhora do Monte da Virgem, 11h00
Diz-se que naquele ermo a Virgem se fez sentir entre monges e caminhantes, e ali nasceu a ermida, guardando histórias de fé, silêncio e milagres sussurrados pelo vento. A ideia era seguir a Rota dos EremitasPR4 RDD — mas deixámo-nos seduzir por um trilho estreito e serpenteante, que nos puxava encosta acima até à cumeada e ao alto da serra. Ao meio dia estávamos lá.
Às 12h00 em ponto atingíamos os 653m alt. da Ermida de São Gens, no cume da Serra d'Ossa
No cume da Serra, onde outrora se dizia haver um templo de Vénus, ergue-se a Ermida de São Gens. Entre ruínas e lendas, o santo ora é bispo, ora mártir, ora protetor celeste — e o vento que ali soprava parecia guardar todas essas histórias. Quem nos tirou a foto foi um dos técnicos que reparavam a antena de telecomunicações. "É do SIRESP ", disse-nos... e eu não resisti: "ah, aquele serviço que nunca funciona bem? ". Riu-se 😂 ... e nós encetámos a descida para sudoeste, pelo PP3 RDD — o trilho que recebeu a sugestiva designação de... "Até onde a vista alcança".
Até onde a vista alcança... chegamos ao vale a sul
do Convento de S. Paulo... e aos medronhos...😂
Almoçámos no vale, em modo volante… mas não sem o meu protesto! Com a encosta bordada de medronheiros, carregados de frutos vermelhos e tentadores, acabámos a parar quase um quilómetro depois — já longe dos mais generosos. Não se faz a um pobre devoto dos medronhos…😓😂
Convento de S. Paulo (Séc. XII), actualmente Hotel/Museu, foi durante séculos refúgio de oração, trabalho e silêncio...
A parte final da caminhada, o regresso a Aldeia da Serra, dir-se-ia que foi uma travessia de um inesperado paraíso verde, por entre sobreiros e pinheiros, acompanhando o pequeno Ribeiro do Convento. Pouco antes das três da tarde, lá estava o Duster à nossa espera, no local onde ficara... um Duster que só nestes três eternos peregrinos já teve dois donos... 😂
Regresso a Aldeia da Serra... através do paraíso...
E próximo da Aldeia, ainda fomos à Anta da Candeeira, onde fizemos a despedida desta belíssima jornada
Clique para ver no Wikiloc ou no Relive

 
Restava-nos fazer a recolha da trabalhora "eborense"... mas ainda houve tempo para uma voltinha no centro da cidade... em Caminho de Santiago (Via Portugal Nascente). O Caminho faz parte de nós...
E ao fim do dia estávamos os quatro a passar a Ponte Vasco da Gama e a regressar à grande metrópole. Foi uma belíssima terça feira de Outono... até porque a contabilidade pedestre anda muito baixa, neste ano da graça de 2025...

sábado, 15 de novembro de 2025

10 km de uma balada entre Mato de Miranda e Alqueidão...

… com 8 km de chuva e 100% de boa disposição… 😄

Sábado... mais uma caminhada com os Caminheiros Gaspar Correia. E hoje foi uma daquelas caminhadas que se contam com riso e pingos na memória. Entre Mato de Miranda e Alqueidão, a
nossa família caminheira enfrentou 10 km de trilhos... com uns bons 8 km de chuva! E como a previsão meteorológica era precisamente de chuva - por culpa da Cláudia - ontem eu tinha aconselhado os participantes... a não se esquecerem do protector solar... e pedi aos meus "amigos" da Inteligência Artificial para fazerem um cartoon humorístico nesse sentido 😂
A minha “Maria Arraiana” lá foi, firme e sorridente, acompanhada pelos nossos três "Manos Velhos" caminheiros... e pela estreante Madalena, que entrou no grupo com direito a baptismo molhado e gargalhadas partilhadas.
Da "balada" das capas de chuva e chapéus encharcados… saiu um vídeo que ilustra bem o que foi esta caminhada😂. A caminhada... e não só; como manda a tradição neste mês de novembro, terminámos em festa: um magusto lauto e acolhedor no solar do casal fundador, que há 40 anos semeou este grupo de passos e de afectos.
Choveu? Pois choveu. Mas ninguém se molhou por dentro... 💖👏🌧️🔥👣
 
Balada do Alqueidão... (Veja no Relive)

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

🥾 Nómada... 👣

Brilhos e memórias das Guizias, das Fontes Lares... dos meus santuários perdidos...

Como em todos os últimos 22 anos... o "retiro espiritual" de Vale de Espinho acolhe-nos no fim de outubro. Outono... tempo de castanhas, tempo de brilhos e de cores... tempo de Todos-os-Santos.
Segunda feira 27. O dia parecia rejubilar. Sol, céu azul, temperatura amena... o Universo a sussurrar:
"Sai. Respira estes teus ares. Vai beber a água das fontes... das fontes que brotam
muito mais do que água
..."
E fui. Uma pequena caminhada à Coba Grande, às Guizias, às "minhas" Fontes Lares e ao Seixel, com regresso pela Có Pequena e Areeiro.
Enquanto segues este post, deixa que a voz de Joaquim de Almeida te acompanhe. Clica no leitor e caminha comigo…
Sobre Vale de Espinho, 27.10.2025, 09h30
Caminhei só, sem estar só...
O sol acendia as cores, a paisagem em escuta.
No meu santuário, repousam botas que já conheceram léguas e abraços.
A Natureza vai-se encarregando de as fazer voltar à terra que tanto calcorrearam...
tudo tem o seu tempo para parar e adormecer...🌿🙏⭐️👣
Naquele dia... apenas silêncio, memória e luz...
Depois... depois fiquei à espera da chuva anunciada...
Pelas Cabeças e pela Coba Grande, chego às Guizias
Através de um mundo de brilhos e de cores...
... chego ao "santuário" das Fontes Lares, 11h00. Os fieitos quase cobrem o barroco!
Na velha casa das Fontes Lares... ou no que dela resta...
A Natureza vai cobrindo
ruínas e memórias...
Quatro pares de botas... que talvez só eu saiba encontrar...
Quatro silêncios... quatro vozes que já caminharam comigo. As mais jovens, dois pares Bestard – um dos quais fez o meu Caminho de Vale de Espinho a Santiago de Compostela – ainda guardam o fôlego dos trilhos (foto superior). As outras, as velhas Meindl, também dois pares – as mais velhinhas vindas de terras da Vanoise – jazem sob a manta morta do Tempo, quase invisíveis, quase pó; há onze anos que dormem naquele meu "santuário" de passos antigos (fotos inferiores).
A noroeste do "santuário" das Fontes Lares. Ao fundo, a Serra da Estrela.
Saí do meu "santuário" eram quase onze e meia. A atmosfera parecia dissolver as distâncias, de tão límpida. Parecia-me ver através das serranias, como quem vê através do Tempo.
Caminhei para os lados da Serra Madeira. Há muito que não ia ao Seixel – um nome apenas, talvez, mas um nome com raízes, com ecos de vidas e de trabalho, tal como as Fontes Lares, onde a água da fontinha ficou a murmurar histórias que só as pedras e os passos antigos sabem escutar.
Seixel, na encosta sul da Serra Madeira
A chegar ao Cruzeiro da Có Pequena, 12h30
Todos estes caminhos me conhecem...
Conhecem-me pelas cores, pelos sons, pelos cheiros… e até pelas memórias do que não vivi.
São feitos dos relatos das gentes que me adoptaram — e que eu adoptei — há mais de meio século.
Tudo começou, um dia, nos bancos da velha Faculdade de Ciências de Lisboa. O Universo, em gesto de alquimia, uniu uma arraiana e um urbano que, apenas três anos antes, descobrira uma das suas paixões: a Natureza, os grandes espaços, o mundo rural, as pequenas aldeias serranas.
Quis o destino que só tivéssemos um cantinho nosso em Vale de Espinho trinta anos depois... quando o Céu nos levou o grande timoneiro — o nosso saudoso Zé “Malhadinhas”, pai da minha estrela arraiana.
São os mistérios, os desígnios… as fragas e pragas do destino. E se já antes começara a conhecer e a amar estas terras e estas gentes… as últimas duas décadas foram de descoberta permanente. Descoberta, sim — porque mesmo os trilhos conhecidos nunca são os mesmos.
Cada passo é uma nota nova, numa melodia às quatro estações… como no título do filme que também já se vai perdendo nas memórias do Tempo: Vale de Espinho, Uma Melodia a Quatro Estações (2006).
9 km que tão bem conheço... 9 km de magia
(Clica para reviver... no Relive)
 
E aqui estou eu, neste outono de 2025, nas minhas terras raianas…
Com uns 72 anos de vida que me parecem irreais…
Que me parece que voaram…
À espera da chuva anunciada…
À espera que o Tempo não traga o outono nem o inverno... da Vida...

👣  🍂