Como em todos os
últimos 22 anos... o "retiro espiritual" de
Vale de Espinho acolhe-nos no fim de
outubro. Outono... tempo de castanhas, tempo de brilhos e de cores... tempo de
Todos-os-Santos.
Segunda feira 27. O dia parecia rejubilar. Sol, céu azul, temperatura
amena... o Universo a sussurrar:
"Sai. Respira estes teus ares. Vai beber a água das fontes... das fontes
que brotam
muito mais do que água..."
E fui. Uma pequena caminhada à Coba Grande, às Guizias, às "minhas"
Fontes Lares e ao Seixel, com regresso pela Có Pequena e Areeiro.
Quatro silêncios... quatro vozes que já caminharam comigo. As mais jovens,
dois pares
Bestard – um dos quais fez o meu Caminho
de Vale de Espinho a Santiago de Compostela
– ainda guardam o fôlego dos trilhos (foto superior). As outras, as velhas
Meindl, também dois pares – as mais velhinhas vindas de terras da
Vanoise – jazem sob a manta morta do Tempo, quase invisíveis, quase pó;
há onze anos
que dormem naquele meu "santuário" de passos antigos (fotos inferiores).
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A noroeste do "santuário" das Fontes Lares. Ao fundo, a Serra
da Estrela.
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Saí do meu "santuário" eram quase onze e meia. A atmosfera parecia dissolver
as distâncias, de tão límpida. Parecia-me ver através das serranias, como quem
vê através do Tempo.
Caminhei para os lados da
Serra Madeira. Há muito que não ia ao
Seixel – um nome apenas, talvez, mas um nome com raízes, com ecos de
vidas e de trabalho, tal como as
Fontes Lares, onde a água da fontinha
ficou a murmurar histórias que só as pedras e os passos antigos sabem escutar.
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Seixel, na encosta sul da Serra Madeira
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A chegar ao Cruzeiro da Có Pequena, 12h30
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Todos estes caminhos me conhecem...
Conhecem-me pelas cores, pelos sons, pelos cheiros… e até pelas memórias do
que não vivi.
São feitos dos relatos das gentes que me adoptaram — e que eu adoptei — há
mais de meio século.
Tudo começou, um dia, nos bancos da velha Faculdade de Ciências de Lisboa. O
Universo, em gesto de alquimia, uniu uma arraiana e um urbano que, apenas
três anos antes, descobrira uma das suas paixões: a Natureza, os grandes
espaços, o mundo rural, as pequenas aldeias serranas.
Quis o destino que só tivéssemos um cantinho nosso em
Vale de Espinho trinta anos depois... quando o Céu nos levou o grande
timoneiro — o nosso saudoso Zé “Malhadinhas”, pai da minha estrela arraiana.
São os mistérios, os desígnios… as fragas e pragas do destino. E se já antes
começara a conhecer e a amar estas terras e estas gentes… as últimas duas
décadas foram de descoberta permanente. Descoberta, sim — porque mesmo os
trilhos conhecidos nunca são os mesmos.
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9 km que tão bem conheço... 9 km de magia (Clica para
reviver... no
Relive)
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E aqui estou eu, neste outono de 2025, nas minhas terras raianas…
Com uns 72 anos de vida que me parecem irreais…
Que me parece que voaram…
À espera da chuva anunciada…
À espera que o Tempo não traga o outono nem o inverno... da Vida...
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