Ao fim do passado dia 10 de junho, a chegar a
Ribadeo, publiquei a
introdução
ao meu Caminho de Santiago 2025.
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Ribadeo, 10.06.2025, 17h20
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Meu... e da Madalena, a grande peregrina que igualmente já tinha seguido os
Caminhos do evangelizador da
Galaecia, umas vezes a solo, outras em
pequenos grupos. A dois, já tínhamos vivido a grande aventura do
Caminho Inca
e mais umas quantas caminhadas, da nossa
costa oeste
ao
Gerês. Onze anos depois dos
Caminhos de Santiago
terem entrado na minha Vida... lançámo-nos na "aventura" do
Caminho do Mar e dos Apóstolos.
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Marina de Ribadeo e o Río Eo:
aqui
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é Galiza, do outro lado é Astúrias
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Como disse na
introdução, o
Caminho do Mar
está documentado historicamente como uma rota de peregrinação ao longo da
costa norte da Galiza, descobrindo paisagens, natureza, tradições e cultura.
Praticamente desconhecido da maioria dos peregrinos, é contudo uma rota
reconhecida pela Catedral de Santiago... mas praticamente sem albergues nem
qualquer sinalização em muitos troços, o que implica o recurso ao GPS e ao
estudo prévio do traçado e dos posíveis locais de alojamento.
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Abraçando o Caminho: entre Ribadeo e a
Praia das Catedrais, 1ª etapa, 11.06.2025, 08h20
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E assim, pouco depois das sete horas do 11º dia de junho, estávamos a sair do
Albergue Río Eo. Outros peregrinos? Sim, dois... durante os 400 metros comuns ao
Caminho do Norte. O dia ameaçava alguma chuva, que nos impediu de apreciar a famosa
Playa de las Catedrales. Mas, apaixonada pelo mar... a Madalena dava
graças ao marulhar das ondas, ao cheiro a maresia, ao começo da maior
confiança de que seria capaz de percorrer mais de 300 km. Eu era o "guia" ...
ela a "cerra filas"... 😂
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Rinlo... numa manhã chuvosa de fim de primavera. 11.06.2025,
09h15
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Praias de Esteiro e das Catedrais... em tons muito
mais de inverno do que de quase verão
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A praia da
Arealonga assinala de certo modo o final das Catedrais. Não
havendo praticamente albergues para peregrinos, o Caminho do Mar obriga a
procurar alojamentos que obedeçam fundamentalmente a dois critérios: que sejam
o mais próximo possível do Caminho... e o mais económicos. A primeira etapa
terminou assim próximo de San Cosme de Barreiros... mas a simpática
recepcionista do
Hotel Rías Altas fez
questão de nos ir levar e buscar ao
Restaurante Yenka,
precisamente na praia de
Arealonga, onde jantámos e ainda saboreámos o
fim de tarde.
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Praia de Arealonga, Barreiros, num final de tarde em que a
chuva já dava tréguas. 11.06.2025, 20h35
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Ponte de pedra sobre o Río Masma, próximo de A Espiñeira, 12.06.2025, 08h10
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O segundo dia acordou um pouco mais limpo. Pouco depois das oito horas
passávamos o rio Masma pela velha ponte de pedra, rumo à Igreja de
San Xoán de Vilaronte, à Capela do
Carme e à
Basílica de San Martiño de Mondoñedo, considerada a catedral mais antiga de Espanha.
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Capela do Carme, ou del Carmen, próximo de Foz,
12.06.2025, 09h15
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San Martiño de Mondoñedo,
12.06.2025, 10h05 Enquanto esperávamos pela abertura... fomos
recebidos pelos gatos 😂
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San Martiño de Mondoñedo,
12.06.2025, entre as 10h e as 11h00
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A
Basílica de
San Martiño de Mondoñedo
foi sede de dois bispados, um transferido de
Dumio, no distrito de
Braga, e outro transferido de
Bretoña, na província de Lugo.
San Rosendo (nascido em Santo Tirso em 907) foi um dos seus
bispos, bem como
San Gonzalo.
San Rosendo seria aliás uma memória marcante no nosso Caminho,
memória de uma época em que o norte de Portugal e a Galiza partilharam a
cultura e a língua, durante séculos, numa mesma unidade histórica e
geográfica, a grande
Gallaecia. Mas a história de
San Martiño de Mondoñedo remonta ainda mais
atrás no tempo e ao mítico rei suevo
Maelloc, a quem os
Milladoiro
dedicaram o seu primeiro álbum, "
A Galicia de Maeloc".
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Ermita de San Gonzalo, o Bispo Santo,
12.06.2025, 11h35
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Conta a lenda que, no séc. XI, as populações destas paragens costeiras,
assustadas com a chegada de uma imponente frota de navios normandos, foram
pedir ajuda a
Don Gonzalo, conhecido como o Bispo Santo. Seguido pelos
habitantes que fugiam das cidades,
San Gonzalo começou então uma
procissão, com uma cruz às costas e descalço. Cada vez que parava para
descansar oferecia as suas orações... e cada vez que o fazia um navio normando
acabava afundado no mar. Em sinal de gratidão, as testemunhas daquele
acontecimento milagroso decidiram erigir uma ermida no lugar onde o Bispo
Santo começou a sua procissão, no morro de
Mourente, sobranceiro à vila
de
Foz. Actualmente, no mês de maio, é realizada a chamada Festa
Normanda, em que actores amadores representam os camponeses galegos e os
atacantes normandos, com os seus navios. A praia de
Tupide, em
Foz
, é o local onde se realiza o desembarque... que claro que termina
com uma grande queimada e
esconxuro, na cerimónia de pacificação. Temos
de lá voltar para assistir...
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Igreja de Santiago de Foz e Praia de Tupide,
12.06.2025, 12h40
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Terminámos a segunda etapa, em
Foz ... à hora do almoço. São os
alojamentos que ditam a extensão das etapas. Apesar de a seguinte ser a
maior (28 km), esta tinha de terminar naquela bonita vila, na foz do rio
Masma, o que nos permitiu uma tarde de descanso e de passeio descontraído ao
longo da praia. O
Hotel Fermont Playa
revelou-se uma excelente opção; um apartamento com
mezzanine, sala,
kitchenette e WC por 15 € cada um ... é mais barato do que a maioria
dos albergues privados.
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Praia da Rapadoira, Foz,
12.06.2025, 16h30. A meteo estava amena... mas só as
gaviotas circulavam na areia
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No dia seguinte saímos cedo. Ao contrário dos Caminhos mais frequentados,
neste Caminho raramente vimos algum bar aberto antes das dez ou onze da manhã,
quando existem. Felizmente estes dois peregrinos não sofrem de nenhuma forma
de
stressofagia; se não se come agora... come-se depois 😂
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Enseada junto à Praia de Llas, entre
Foz e Fazouro, 13.06.2025, 07h15
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Ponte velha de Fazouro, sobre o Rio
Ouro, 08h25
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Pedras esculpidas com Santiago
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peregrino, junto à ponte de Fazouro
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Panorâmica do Miradouro de Lousada, junto à Capela da Concepción, 08h45
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Nas mochilas havia umas parcas vitualhas... quando surgiu um bar aberto, junto
à linha do comboio e à pequena Praia de S. Pedro de Cangas. Não, não ficámos
lá... a minha
caña é que veio para o muro sobre a praia, e foi ali que
almoçámos... eram dez da manhã. As horas não podem ser dogmas... 😊
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Sobre a Praia de S. Pedro de Cangas... o local
de almoço, incluindo caña... às dez da manhã 😁
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As praias sucediam-se... e até um pequeno troço pela linha do combóio. Pelas
11h30 estávamos em
Burela, o maior
aglomerado do dia. Seguia-se a subida a
Sargadelos, célebre pelas suas
históricas
fábricas de cerâmica,
mas também pela
Igreja de Santiago de Sargadelos... mas nem o
can que nos recebeu tinha a chave. "O padre está em
Cervo", a sede do concelho, disseram-nos... mas não estava. Neste
Caminho também é complicado cumprir à risca os dois
sellos diários na
Credencial...
O pôr-do-sol afagou o cansaço
E todo o mar foi um abraço...👣🌊
O pôr-do-Sol, sim... porque aos 28 km ainda acrescentámos pelo menos mais
dois, num passeio ao porto e ao farol da
Ponta da Atalaia, a partir do
"nosso"
Hostal Buenavista, excelentemente localizado e com vista panorâmica sobre a praia.
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Pôr-do-Sol sobre a baía de
San Cibrao, no passeio à Ponta da
Atalaia, entre as 21h e as 22h00, 13.06.2025
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Nesta baía de
San Cibrao vive a
Maruxaina, metade peixe, metade mulher. Quando o tempo está mau, ela sobe a uma
rocha e começa a tocar a buzina, para avisar que não devem sair para o mar.
Mas outros contam que os marinheiros, atraídos pelos cantos melodiosos da
sereia, sofriam constantes naufrágios naquelas costas, especialmente nas
falésias de
Os Farallóns. Numa noite de lua nova, saíram em busca
dela, tocando uma trompa. Em terra, apagaram todas as luzes e, naquela
escuridão, conseguiram capturar a
Maruxaina e levá-la para a cidade,
onde foi julgada e condenada.
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Mais um Despertar dos Mágicos, para o 4º dia de Caminho: San Cibrao, 14.06.2025, 06h05 / 07h20
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À quarta etapa, o
Caminho do Mar
cruza o Río Cobo pela Ponte Medieval de O Bao, 07h30
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Saímos cedo de San Cibrao. A etapa seria pouco menor do que a
anterior, mas com mais desníveis. A meteorologia compunha-se, o Sol dava luz
e cor à Natureza, sem frio nem calor. Cruzado o rio Cobo, o Caminho
contorna a península de Xove, rumo à praia de
Portocelo e às ruínas da Igreja de
San Tirso.
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Praia de Portocelo, 14.06.2025,
10h00 ... numa pausa de descanso e de contemplação
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San Tirso de Portocelo: Igreja, ou
Mosteiro, provavelmente fundado pelo diácono português Rodrigo, em
meados do Séc. VIII
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Na actual Igreja de
San Tirso de Portocelo, em
Vilachá, 11h05
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Antes... mais um bar fechado. Mas em
Vilachá Santiago enviou-nos um
padeiro providencial, que tinha boas
empanadas, de atum e de
bacalhau...
🙏. Vi-o
parar à porta do Centro de Dia... e até passei à frente de uma utente; mas
depois pedi-lhe desculpa. E lá seguimos para a costa oeste da península.
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Descida para a Praia de
Muiñelo ... local do nosso lauto
almoço, adquirido ao enviado de Santiago
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À praia de
Muiñelo seguiu-se a de
Esteiro, e a esta a aproximação a
Celeiro, contornando o
Monte Faro. O sobe e desce já pesava. À vista da longa praia de
Area (quase 1,5 km) e olhando para o
mapa... perguntei à peregrina "cerra-filas": "
Queres ir pela praia?".
A areia aparentava alguma solidez... e lá fomos, numa travessia completa
daquela extensa praia... com botas de caminhada... 😂
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Igreja velha e Cruzeiro de San Xiao
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de Faro, sobre a longa Praia de
Area
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Travessia da extensa praia de
Area, 14h05 / 14h30 ... onde a
Madalena ganhou uma vieira.
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Celeiro e Viveiro são uma malha urbana contínua. À entrada de
Celeiro... finalmente um bar aberto! Que bem soube aquela caña e
aquele zumo natural... e aquela pausa antes do troço final.
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Porto de Celeiro e monumento em homenagem às gentes do mar,
14.06.2025, 15h40
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Viveiro: Igreja e Convento de S. Francisco, 16h05
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Albergue Oli Vita, Viveiro: um albergue...
sin encanto...
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Além dos
sítios web
próprios, para a preparação deste
Caminho do Mar
recolhi também alguma informação de uma das poucas estruturas de alojamento
que aparentava estar vocacionada para a sua divulgação e implementação, o
"
Oli Vita Hostel, Albergue con encanto", cuja gerente gere também o grupo "
Camino del Mar de Peregrinaje". Mas quando as expectativas são muitas (esperava que fosse o alojamento
mais icónico deste Caminho)... muitas vezes somos defraudados. Não que o
albergue seja mau... mas o preço superior à média para o estilo e
principalmente a arrogância da alberguista... desfizeram completamente o
"mito", logo à chegada.
Quando imagináramos ter com a alberguista e eventualmente com outros
peregrinos uma conversa amigável e animada sobre o
Caminho do Mar
e o nosso projecto... confrontámo-nos com uma arrogância e petulância de
quem nem deixa falar os outros. Só ela sabe tudo. "
Camino de los Apóstoles? No existe!"... e por mais que eu lhe tentasse dizer que há um grupo que está a
trabalhar para o implementar... todas as frases eram interrompidas. Sobre o
preço... apelidou os albergues "baratos" de precários, alegando não poder
competir com os albergues subvencionados pelo estado.
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Plaza Mayor de Viveiro, 14.06.2025, 19h10
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A petulante Oli intitula-se diplomada pela UNED... e aconselha os peregrinos
a focarem-se no "
Oli Vita" para irem e virem vários dias para as diversas etapas, incluindo as da
Ruta del Cantábrico, uma rota litoral que por vezes coincide com o
Caminho do Mar
mas que acompanha praticamente todos os recortes da costa, desde Ribadeo.
Embora por vezes coincidam, não se trata de um Caminho de Santiago, tal como
o
Camiño dos Faros, entre Malpica e Fisterra, também não o é. São rotas pedestres, de
indiscutíveis valores naturais e paisagísticos, mas não são Caminhos de
Santiago.
Para além de nós dois, estava também no Albergue uma caminheira espanhola
que estava precisamente nessa modalidade, de misturar etapas do Caminho do
Mar com a rota do Cantábrico... regressando todos os dias a Viveiro. Não
tenho qualquer objecção, não se lhe pode é chamar Caminho de Santiago. Aliás
a própria o dizia, numa conversa essa sim cordial, em claro contraste com a
"famosa" Oli. Quando lhe disse que no dia seguinte íamos terminar a etapa em
Mañon... desaconselhou-nos vivamente, porque tem muitas subidas, é
uma etapa feia... e até porque há cães perigosos!...
Mas o
dia seguinte ao Oli Vita... era felizmente outro dia, outra etapa,
outras histórias... ou estórias...
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À partida de Viveiro, pelo Arco e Ponte da Misericórdia, e em
Covas, do outro lado da ria,
15.06.2025, 08h / 08h10
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Entre Viveiro e Ortigueira, o
Caminho do Mar
atravessa o interior do concelho de
O Vicedo. Depois de tanto mar...
esta etapa transportou-nos para uma Galiza rural, perdida no tempo. Uma
etapa feia? Os objectivos e métodos da "famosa" Oli não são, seguramente, os
que movem os peregrinos!...
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Interior de O Vicedo: imagens de uma Galiza esquecida
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... perdida no tempo! Igreja de S. Paulo de Ríobarba
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Como sempre nos meus Caminhos... os meus
mastínes guardadores de gado
vêm ter comigo, e agora connosco... completamente pacíficos e amigos, porque
sabem que vimos em paz. Eram estes os "cães ferozes" com que a Oli nos
queria dissuadir de fazer esta etapa... que contudo continuava, rumo a
ocidente. Antes do meio dia descíamos para o pronunciado vale do
Sor, que separa as províncias de Lugo e de
A Coruña... e completávamos os primeiros 100 km deste périplo, pouco antes
da
Ponte do Porto, romana. Junto a ela e ao rio, a
Capela das Angústias parecia ler os receios de que a subida da
encosta adjacente fosse dura... mas ambos a subimos sem problemas.
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Capela das Angústias e Ponte do Porto, sobre o rio
Sor... aos nossos primeiros
100 km de Caminho! 15.06.2025, 11h55
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Subida da margem esquerda do
Sor... através do paraíso...
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Regressados do fundo do vale, seguiam-se pequenas aldeias "perdidas".
Dir-se-ia que estávamos afastados de tudo. Não esperávamos encontrar bares,
tínhamos alguma coisa nas mochilas... mas nem um tronco havia para nos
sentarmos. À passagem pela minúscula aldeia de
Os Francos... a Madalena foi entrando num pequeno recinto... e lá estava o desejado
banco... e até uma torneira. Apareceu uma senhora à porta, pedimos licença
para nos sentarmos... e passado pouco tempo já conhecíamos quase toda a gente
que ali ainda reside. Um saiu de carro, outros chegaram; era domingo...
certamente reunião de família! E a foto não se fez esperar! São momentos assim
que fazem O Caminho! 🙏
O
Abeiro do Sor
é um antigo Colégio sabiamente transformado em Albergue rural. Qualquer
semelhança com o "famoso"
Oli Vita... não existe. Por apenas mais um
euro... em vez de um "armazém" adaptado dispõe de quartos de 2, 3 ou 4 camas;
três toalhas por pessoa,
o que até nem seria necessário; e, principalmente... a simpatia, cordialidade
e amizade do casal que o gere. Desfazendo-se em sorrisos... prepararam-nos
também um dos melhores jantares deste Caminho! Isto sim, é hospitalidade e
acolhimento! Bem hajam e muita saúde, sorte e felicidade.
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16.06.2025, 08h00, Despertar dos Mágicos nº 6: Iluminados pelo Sol
nascente, ao fundo já se vê o Cabo Ortegal... e portanto a
península de San André de Teixido
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Imagens de uma Galicia rural e profunda...
Galicia máxica 🙏
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Continuávamos a rumar a ocidente, naquela manhã mágica da 6ª Etapa de Caminho,
em direcção a
Ortigueira. O
Caminho do Mar
atravessa o interior da península de
Bares, a mais pronunciada da costa
norte e onde se situa a
Estaca de Bares, o
ponto mais setentrional de toda a Península Ibérica.
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Rego do Foxo e Igreja de San Cristovo de Couzadoiro, 16.06.2025, 09h30
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Pois... dos montes ainda se via o mar...
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A jornada continuou bela até descermos dos montes. Depois... depois
transformou-se no troço mais monótono até ali, com muita estrada, pouca
paisagem, mesmo quando próximos do mar. Mas é assim, o peregrino não exige
nada, agradece... e nós agradecíamos ambos ao Universo estarmos vivos,
estarmos bem e estarmos alegres e divertidos 🙏🤪
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Ponte Mera, 13h50 ... depois da
fastidiosa travessia desde os arrabaldes de Ortigueira
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Antiga Escola de Montecelo, 14h15 ... com separação para
niños e niñas
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A Madalena chegava ao fim das etapas mais duras com o corpo cansado... mas a
alma intacta. A confiança de chegar sempre a bom porto alimentava-lhe a veia
poética e sensível... expressa através das fotos e das palavras...
Oiço o susurrar do vento p'las ramagens
Numa harmonia serena encantandora
O pipiar das aves em vôos curtos, rasantes
E eu...passos recentes, memórias d'outrora...🌿👣
Depois do pior e do melhor Albergues deste Caminho, passava das três da tarde
quando chegámos ao
Hotel Pedramea, em
Esteiro de Abaixo. Este Caminho obriga à utilização de uma
tipologia de alojamento que não é, naturalmente, a que prefiro nos Caminhos de
Santiago. Mas não existe alternativa; e, mesmo assim, optei pelos alojamentos
aos preços mais económicos que foi possível. Por outro lado, apesar de
estarmos quase no verão, continuávamos com alguma dificuldade no que respeita
às refeições. Próximo do hotel há um restaurante... apenas aberto para
almoços; e no restaurante do hotel... fomos os únicos a jantar... pelo menos a
horas peregrinas.
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Sobre Cariño, no início da subida à
Serra da Capelada, 17.06.2025, 08h30
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E ao 7° dia ... chegávamos a
San André de Teixido... onde
quen non vai de vivo, vai de morto! Cumpríamos a primeira
meta de peregrinação deste
Caminho do Mar e dos Apóstolos... mas a esta
etapa poderíamos chamar... "
Uma Aventura na Serra da Capelada"... 🫣😃
É difícil descrever o vendaval em que nos vimos envolvidos... no meio do denso
nevoeiro que cobria a serra. Na mágica Vixia da Herbeira não se
via rigorosamente nada... e quase voávamos. Mas depois, na descida para
Teixidelo e para o Santuário de Teixido... as névoas
abriram como que por milagre!
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09h10 - Primeiro... foi uma aventura na "selva"...
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09h50 / 10h30 - Depois... desceram as névoas
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sobre a mística
Serra da Capelada
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10h55 - A Garita da Herbeira parecia saída de algum
episódio de "O Senhor dos Anéis"...
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11h30 / 12h10 - Na descida para Teixidelo e para o Santuário de
Teixido... as névoas foram abrindo como que por milagre!
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A receber-nos em Teixido estava o meu amigo Roxelio... o "
miñoto do norte"... já que eu para ele sou o "
galego do sur" 😁. Foi com ele como
guia que a Madalena conheceu este lugar mágico... e com ele vivemos momentos
mágicos, em casa do Salvador e da Susana, um casal e família de grandes amigos
dele. O Caminho não é só andar... o Caminho também são momentos, histórias,
sentimentos... como os que ali vivemos! Agora já podíamos ambos dizer...
A San André de Teixido ... fun de vivo !
Obrigado Roxelio! Voltaríamos a ver-nos três dias depois, em terras de
A Capela!
Obrigado Madalena! Obrigado Universo! 🙏
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O ocaso do dia 17 de junho não era apenas o fim daquele dia.
Mergulhando no mar imenso, aquele ocaso representava também o epílogo
da primeira parte do desafio a que nos lançáramos.
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(Crónica escrita entre 30.06 e 03.07 e publicada a 03.07.2025)
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