Como em todas as noites que antecedem as grandes "aventuras" ... a noite de 6
para 7 de setembro, em
Puerto de la Cruz,
teve a ansiedade do acordar cedo. Tínhamos chegado a
Tenerife ao início
da tarde, como relatei na
crónica anterior
... e o
Teide até já se me tinha apresentado, imponente!
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Playa del Socorro, 07.09.2024, 06h50
- Estava lançado o desafio de subir do mar aos quase 4000m de altitude
do Teide
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Quando começou a esvoaçar o sonho de subir o colosso que domina as ilhas
atlânticas, pensei fazê-lo num dia. Só a subida, claro ... que eu nunca gostei
de correr ... nem sou extraterrestre. A sigla
0.4.0, pela qual é conhecido o percurso
PR-TF41
da ilha de Tenerife, simboliza precisamente a proeza de ligar, numa só
jornada, o nível do mar - 0 - aos quase quatro mil metros do
Teide - 4
- e voltar ao mar - 0 - o que totaliza 56 km de uma diversidade de tipos de
trilhos e de pisos, em que o único denominador comum ... é o desnível. Tal
proeza está apenas ao alcance dos adeptos do
trail (e muito poucos de
entre esses) ... mas mesmo assim é quase inacreditável que o melhor tempo
conseguido até hoje para aqueles 56 km e 4 km verticais ... seja de 6 horas e
15 minutos! Bem ... mas uma hora antes do nascer do Sol lá estava eu a partir,
sozinho, da
Playa del Socorro.
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Primeiros metros da aventura ...
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já só faltavam 27 km 😲
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Os meus três companheiros de digressão só não estavam à cota 0 porque os
quartos eram no 7º andar, em
Puerto de la Cruz. O plano era subirem o
Teide no
teleférico, encontrávamo-nos na estação superior -
La Rambleta - eu e o meu "mano velho" fazíamos o cume e descíamos os quatro de novo
no teleférico. Tínhamos as reservas e o
permiso obrigatório para o cume para o dia 8 ... mas o bom senso e o estudo
atento das características dos trilhos levou-me a optar por dividir o desafio
em duas etapas. Acrescentando apenas menos de 2 km, era possível o "resgate"
na estrada TF-21, a
carretera del Teide, o que me permitiria gerir a
subida sem o
stress de ter de chegar a tempo para fazer o cume e
descer no último horário do teleférico, às 18h30. E portanto, aí estava eu no
dia 7 ... a caminhar
del mar al cielo.
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Nasce o dia no Lomo El Boliche, 07h55, 07.09.2024 ...
y la mar ya se iba quedando lejos...
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Miradouro El Lance e estátua de Bentor,
mencey de Taoro, líder da resistência aborígene
ante as tropas castelhanas - 526m alt., 08h45
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Nestes primeiros
repechos, comecei-me logo a aperceber do nível de
esforço exigido. A encosta de
Tigaiga ao miradouro de
El Lance são quase 200 metros de
desnível, que se vencem em pouco mais de 1 km...
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Sim ... lá em baixo é mesmo a Playa del Socorro, de onde saíra quase duas horas antes.
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Icod el Alto (580m) e Miradouro
de La Corona (780m) ... e pela
primeira vez surge-me o Teide, imponente!
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Venci os primeiros mil metros de altitude entre os miradouros de
La Corona e de
El Asomadero. Eram dez horas de uma manhã de
sonho, mas as nuvens começavam a dar origem a um nevoeiro crescente ... à
medida que avançava por um estreito e sinuoso trilho. As povoações tinham
acabado. A descer, passaram por mim três corredores de
trail ... à
velocidade da luz! O
trail, sinceramente, não é para mim!
Estava, literalmente, acima das nuvens!
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Com 14 km percorridos, pouco depois das 13h30 chego aos 2000m de
altitude ... e o Mundo tornou-se meu...
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Sentia-me ao mesmo tempo eufórico e em paz ... uma paz que a alma já
buscava. Avançava agora por entre uma vegetação adaptada às condições
extremas do ambiente vulcânico, com solos pobres, alta insolação e grandes
variações de temperatura. Os pinheiros ficaram para trás, dominavam agora os
tufos amarelados da retama del Teide, salpicados aqui e ali pelas
inflorescências das tajinastes, um dos símbolos do
Parque Nacional. E nisto ... surge uma pequena Ermida.
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Ermita de la Fortaleza, ou
Cruz de Fregel (2090m
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alt.), 14h00 |
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Degollada del cedro, junto à
Cruz de Fregel. À minha frente tinha a
Cañada de los Guancheros
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Na Cruz de Fregel, surgiram-me pela
primeira vez outros caminheiros, ambos em sentido contrário ao meu.
Estávamos relativamente próximos da estrada TF-21, a carretera del Teide; ambos tinham vindo de El Portillo, um jovem espanhol que ficou
espantado quando lhe disse que tinha 71 anos (dava-me 58... 😂) e uma jovem
alemã que, segundo me disse, fazia montanhismo ao sabor de cada minuto.
Dormia na montanha, também me confidenciou; não sei se chegou a dormir ...
não sei se saberia que a amplitude térmica, ali, tem variações de mais de
20º C. Mas entretanto ... havia que tomar opções...
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mais emblemáticos do Parque Nacional
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Cañada de los Guancheros, um dos
locais
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Eram três da tarde. Faltavam mais de 12 km para o cume do
Teide ... e quase dois mil metros de desnível! Mais uma vez abençoei a
opção de fazer duas etapas; hoje ...
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A 1ª etapa da épica subida ao Teide desde a cota '0'
(Clique
aqui
para ver no
Wikiloc)
Nota: a
velocidade média indicada é a velocidade média em
movimento ... quando num desafio deste tipo é mais o
tempo parado do que em movimento; a velocidade
média
real é de ... 2,08 km/h ... 😏
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não tenho dúvidas de que não conseguiria numa. Na TF-21, havia três pontos em
que a minha "equipa" me podia "resgatar" ... e a decisão foi tomada face a
algo que nunca me tinha acontecido: a falta de água! Normalmente, 1 litro de
água chega-me (e muitas vezes sobra-me), mesmo em jornadas duras de montanha.
Mas desta vez ... já vinha a racionar a água há umas boas duas horas. Dos três
pontos possíveis, optei pelo mais perto, rodeando a sul o pico de
El Cabezón; cerca de 1,7 km de descida ... que no dia seguinte teria
naturalmente de voltar a subir.
E assim ... regressei à "base" em
Puerto de la Cruz de coração e alma
cheia. Como o meu fiel
Locus registou ... a etapa teve quase 2300 metros de desnível acumulado de subida,
num total de sensivelmente 18 km (16,2 a caminho do Teide).
(Escrito após o regresso a Lisboa)
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