terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Em terras da Malcata e das Mesas, a abrir 2024 ... o "ano +1"

Uma "maratona" pedestre, mas também de afectos, de tradições ... de celebração da Vida!

Terminado o "ano especial" de 2023 (um ano de celebrações da Vida) ... o "rapaz pacato" e a sua arraiana vieram para a Raia ... para o retiro raiano de Vale de Espinho. A partir de Vale de Espinho,
como sempre, as pernas precisam de andar; os primeiros dias do ano foram de chuva, mas dia 5 à tarde já deu para um pequeno passeio de 5 km a norte da aldeia ... e para assistir a um belo pôr do Sol.
Pôr do Sol em Vale de Espinho, 05.Janeiro.2024
O dia seguinte era Dia de Reis. Dia de tradições, como o cantar as janeiras, mas também de convívios, de celebração de amizades. O almoço foi nos Fóios, com os bons amigos com quem normalmente nos encontramos nestas terras raianas. Depois, assistimos à partida dos grupos a cantar pelas ruas, anunciando o nascimento de Jesus e desejando um feliz ano novo ... e ao fim da tarde fomos os quatro até às Quintas de S. Bartolomeu, assistir à recriação de "Uma noite de Natal" pelo Grupo de Teatro "Anel de Pedra", junto ao Presépio daquela aldeia do concelho do Sabugal.
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"Uma Noite de Natal", recriada pelo grupo de teatro "Anel de Pedra", nas Quintas de S. Bartolomeu, 06.01.24
Às seis da tarde nas Quintas de S. Bartolomeu a temperatura era de 2ºC ... e um ventinho cortante dava uma sensação bem mais baixa ... mas o "S. José" (o actor João Reis) lá andava de sandálias, indiferente ao frio ... ao frio que na madrugada seguinte cobriu os campos com uma "russa" das grandes; por aqui é habitual dizer-se que "caiu uma russa" quando a geada cobre os campos de branco, que por vezes quase parece neve. Foi essa a manhã que escolhi para uma "aventura" das boas... 😃

Os campos e lameiros de Vale de Espinho, na manhã gélida do primeiro domigo do ano, 7 de janeiro de 2024
Saí de casa pouco depois das sete e meia, disposto a uma caminhada que ocupasse a manhã do belo dia de Sol que sabia que ia estar. O 1º positivo não era nada, se comparado com os 7º negativos com que um dia, há 18 anos, saí de Vale de Espinho para ir ver nascer o astro rei nas ruínas da antiga caseta de carabineiros, no Picoto da Raia. E, ao sabor do improviso, fui subindo em direcção à Lomba.
Pouco antes da Quinta do Passarinho. Não, não é neve, é uma "russa" das grandes!
E em pouco mais de uma hora chego à Lomba, próximo do Cabeço do Clérigo
Panorâmicas da Lomba para a Marvana (foto superior) e para Valverde del Fresno
A ideia era de uma caminhada que ocupasse a manhã, já que à tarde tínhamos combinada uma visita ao José Corceiro Lucas, que em boa hora conheci há 11 anos. O Zé Lucas faz parte dos encantos da Malcata ... mas telefonou-me, estava eu a chegar à Pedra Monteira, a pedir imensa desculpa mas a propor o encontro no dia seguinte. Sem nenhum problema, respondi-lhe ... e de imediato surgiu a hipótese de transformar a caminhada matinal numa jornada de dia inteiro, de Sol a Sol.
Cantxo So, 10h45 ... nesta jornada pedestre ao sabor do improviso
E agora? Se fosse para ir almoçar a casa, tinha pensado descer do Pizarrón ou do Cantxo So, na linha de fronteira, para os Fóios e dali de regresso para Vale de Espinho. Assim, dispondo do dia maravilhoso que estava e depois de avisar a "donzela" que ficara no "ninho" ... fui desenhando a jornada pedestre completamente ao sabor do improviso ... onde e por onde as minhas botas me levassem...

E as minhas botas levaram-me ao barroco 'ratchado' e às ruínas da velha Caseta de Carabineiros
Caseta de Carabineiros, 11h20 ... quase
sinto estas ruínas como minhas
E da caseta dos carabineiros desço à estrada Navasfrias - Valverde, rumo à Fonte do Crespo
Desde o Cantxo So que não havia trilho. Descendo a serra a corta mato (mato propriamente ali é pouco), o rumo foi a casa junto à Fuente del Crespo, à qual cheguei sem dificuldade. Mas ... o portão estava fechado a cadeado ... e todas as "aventuras" têm uma história para contar... 🤣

Os bastões já estavam do lado de fora...
Esta casa e este portão têm uma história... 😂
Não seria difícil saltar o portão, por isso passei os bastões para o lado de fora ... mas depois reparei que a rede junto ao pilar direito estava ligeiramente solta; afastando um pouco a rede e agarrando-me ao pilar, a "manobra" seria fácil. E foi ... não contei foi com o desnível junto ao pilar, do lado de fora ... e caí para a valeta da estrada! A queda não teve
Fuente del Crespo, 12h30
consequências para o "aventureiro", mas o telemóvel, acoplado à mochila com o respectivo suporte, deu uma pirueta no ar e estatelou-se no chão. Felizmente é um bom telefone rugged e nada sofreu ... mas já o mesmo não posso dizer do suporte, cuja fixação à mochila se partiu pela base; no resto da "aventura", o telefone viajou portanto no bolso das calças... 😂
Passada a Fuente del Crespo, subi a estrada Navasfrias - Valverde
Na curva em que a estrada cruza a Majada del Rey, onde a água cantava bem, ainda pensei cortar a curva seguinte, mas o desnível e o mato cerrado não o aconselhavam. Mas precisamente na curva seguinte saí por um trilho na encosta de La Refiesta, no extremo ocidental da Sierra do Espiñazo.

A leste da estrada Navasfrias - Valverde, na encosta de La Refiesta, Serra do Espiñazo
Passava já da uma da tarde (duas, em Espanha). Como só contava fazer uma caminhada matinal, só trouxera na mochila água e um pedaço do bolo rei da véspera. Passar fome nunca foi minha preocupação no campo, mas pensei ... "como qualquer coisa em Navasfrias"; mas ir a Navasfrias ainda seria um desvio grande e, mais importante, uma descida de cota que depois teria de subir. E porque não ... subir directamente dos Llanos ao talefe das Mesas, para depois rumar aos Fóios?
Llanos de Navasfrias, lado poente, 13h35 portuguesas. A seguir àquela casa ... não há trilho... 😋
Pois ... trilho não há. Um pouco mais a sudoeste, já há uns anos descera em sentido contrário, pela nascente do rio Águeda. E assim, cortando as curvas de nível o mais na diagonal possível ... levei quase hora e meia para subir dos Llanos às Mesas! Se valeu a pena? Claro que valeu! Por vezes perfurando a vegetação, provavelmente seguindo os rastos dos javalis (e felizmente silvas não havia), à medida que subia e que me aparecia alguma "clareira", via os Llanos cada vez mais abaixo; ao longe a Serra do Espiñazo, e a nordeste, na atmosfera límpida, a Peña de Francia.

Pelo meio do mato, os Llanos vão ficando mais lá em baixo e, ao fundo nesta segunda foto, a Pena de Francia
Terei cara de javali 🐗? 🤪  E de quem será aquela sombra sobre os penedos?
De certeza que é de alguém que é "lá dos montes que medem o céu"...
Finalmente o mato torna-se mais rasteiro, ao
chegar ao geodésico da Mesas (1256m alt.)
E do alto das Mesas, às três da tarde, já via os Fóios e Vale de Espinho
No alto das Mesas, ainda em terras de nuestros hermanos, estava com 19 km percorridos. Descer aos Fóios e regressar a Vale de Espinho sabia que seriam sensivelmente mais 10 a 11. O bolo rei já tinha marchado há muito tempo ... mas nas jornadas pedestres a fome nunca foi minha preocupação; que o digam as três refeições feitas a cubinhos de marmelada, no Caminho de Santiago de Inverno... 😂
Cancheira do Lameirão e Centro de Interpretação
da Serra das Mesas: já não faltava tudo...
15h45 ... Fóios à vista
Clique no mapa para ampliar, ou aqui para ver no Wikiloc
Eram quatro da tarde quando entrei nos Fóios, pela chamada Ponte dos Castelhanos, sobre o Côa. Já que lhe passei à porta, ainda fui dar um abraço ao grande Zé Manel Campos, mesmo tendo estado com ele e a esposa na véspera. Mais tarde, havia de me dar os parabéns numa rede social, e de escrever: "Fiquei admirado quando o Zé Carlos bateu à minha porta dizendo-me que só já lhe faltavam esta meia dúzia de quilómetros que separam as nossas duas freguesias. Pois vi o Zé Carlos tão fresquinho que fiquei com a impressão de que ainda ia começar."... 😀
Fresquinho ou não ... optei por fazer a tal meia dúzia de quilómetros pela estrada, já que só tinha sensivelmente uma hora até ao pôr do Sol. E os 6 km passaram rápido ... até porque os ocupei a publicar e legendar fotos em andamento... 😂
***
Esta foi a primeira grande caminhada do ano. Mas a este início de ano em terras raianas bem lhe poderei chamar uma "maratona", não só pedestre mas também de tradições, de afectos ... de celebração da Vida! Para repor as energias desta grande jornada ... a minha "pequena arraiana" tinha preparado um jantar "especial" ... para o qual, durante a própria caminhada, me apeteceu convidar o primo e amigo Zé Domingos, cativado pelas fotos que fui publicando. Como ele próprio disse, nas conversas ao jantar, acompanhado com um branco da Quinta dos Termos e selado com um Armagnac ... "Os temas nasciam e desenvolviam-se em catadupa.". E ... ainda havia bolo rei 👑😁
Mas ainda faltava o convívio com o Zé Lucas, em Malcata. E qual teria sido a via através da qual o Universo o fez adiar a nossa visita para segunda feira? É que ... domingo foi de longe o melhor dia desta nossa estadia raiana ... o único em que teria sido possível uma jornada pedestre de dia inteiro.
O Zé Lucas e a esposa fazem parte ... dos encantos da Malcata 💞. Tímido como sempre foi,
receoso de não saber o que tão bem sabe e encanta ... o Zé Lucas lá pegou na sua guitarra ... e encantou 💖
E assim se encerram os primeiros dias do ano "+1" ... o ano pós cinquentenário da minha ligação a Vale de Espinho e à Raia ... o ano pós cinquentenário de uma Vida a dois 💞. Como também um amigo escreveu ... "O melhor e a essência da vida são, sem dúvida, os amigos, a família, a conexão com lugares e pessoas que nos tocam, as memórias dos que partiram, mas estão no nosso coração."💖. Obrigado também pelas tuas belas palavras, Zé Silva! 🙏 "Gracias a la Vida, que me ha dado tanto🙏

☮️💖 BOM E FELIZ ANO DE 2024 💖✝️

3 comentários:

Eulália Callixto disse...

Bela aventura com muitas peripécias.

António Dinis Sanches da Silva disse...

Em primeiro lugar bom ano e boas caminhadas. Para mim, raiano exilado em Lisboa, é sempre um prazer seguir as suas aventuras, em particular as passadas na raia do Sabugal. Infelizmente não tenho a possibilidade de fazer essas incursões com a regularidade que desejaria, mas vou viajando com as suas " marchas". Já agora onde se localiza o cantxo só e qual o significado da palavra. Desde já agradeço a sua disponibilidade. Mais uma vez bem haja pelas partilhas!

José Carlos Callixto disse...

Muito obrigado pelas suas palavras, António Dinis Silva.
O topónimo "Cantxo So", que muitas vezes aparece referenciado como "Cancho Sozinho", ou "Cancho Só", refere-se a um local na fronteira, entre os Fóios e Valverde del Fresno. “Cantxo” em espanhol significa rocha, ou penhasco. O nome refere portanto um “penhasco solitário” ali existente; aparece na carta militar 238, a nascente do geodésico da Pedra Monteira.