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Freixial, 21.Jan.2023, 9h25 - Mais de 60 caminheiros em terras
de Constantino
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Com doze anos, Constantino ainda não deitara corpo, mas lá esperteza
não lhe faltava. O pior era a escola: gostava mais de andar aos peixes e
aos pássaros; acabou por apanhar uma raposa sem sequer ir à caça.
Enquanto guardava as vacas, o Constantino sonhava em ser serralheiro de
navios
e fazer um barco que o levasse a Lisboa, por esse Trancão abaixo. Um
Trancão que atravessava a paisagem quase intocada, desde os tempos em
que o Freixial era procurado pelo ar puro e pela sua beleza
natural.
Referem-se estas palavras a "Constantino, guardador de vacas e de sonhos",
um dos livros que Alves Redol escreveu no período em que viveu no Freixial,
Bucelas, terras que ainda hoje têm muito para contar e conhecer, desde o
património à história. A Câmara Municipal de Loures quis dá-las a conhecer
aos amantes do pedestrianismo ... através de uma caminhada "por terras de
Constantino". E assim, às 9h00 da manhã ... lá estava o autor destas linhas,
também ele "guardador de sonhos", junto ao coreto do Freixial.
A caminhada iniciou-se com um pequeno
briefing na Capela de
Nossa Senhora da Conceição da Pedra, junto ao Palácio do Conde de Rio Seco,
onde foi feita a alusão à obra de Alves Redol e nomeadamente ao facto ... de
Constantino ser um personagem real, ainda vivo ... e ao que consta pouco
mais velho do que eu! Que interessante seria tê-lo conhecido. Mas sobre a
obra de Alves Redol ... o
briefing foi a única altura em que
ouvimos falar...
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O Trancão junto ao Freixial e os edifícios
dos antigos e famosos aviários
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Começámos a caminhada pelas 9h30, cruzando o
Trancão por duas
vezes, antes e depois do que resta dos antigos aviários do Freixial.
Tinham-se inscrito na actividade mais de 60 pessoas, naturalmente com ritmos
e preparação diferentes. O
PDF da Câmara de Loures
apenas indicava que a caminhada teria 15 km, a percorrer em 5 horas, com
dificuldade média, em que seguiríamos a Ribeira de Ribas, afluente do
Trancão. Contudo, atravessada a N116, começámos a subir a encosta dos
Picotinhos, não propriamente a corta mato, porque a organização tinha aberto
um "trilho", o que, sendo naturalmente meritório, poderia ser divertido e
interessante ... se se tratasse de uma pequena extensão, através dos sem
dúvida bonitos "túneis" de vegetação ... com um grupo pequeno e homogéneo.
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Junto à EN116, 9h45 ... começávamos a subida da encosta dos
Picotinhos, a leste da foz da Ribeira de Ribas
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A sul da aldeia de Ribas de Baixo, 11h10
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Ora subindo ora descendo ... "divagámos" na encosta sul do vale da Ribeira
de Ribas (junto à qual estivemos 5 minutos), num terreno enlameado e por
vezes alagado, como naturalmente seria previsível, completamente fora dos
trilhos existentes ... e sem qualquer mais valia em termos de caminhada, a
não ser e quando muito uma ou outra "janela" para o vale ... quando a
maioria dos participantes podia tirar os olhos do chão. Mas claro que a
"aventura" permitiu fotos e momentos interessantes ou até bucólicos.
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Imagens ... de uma jornada "épica", aqui na última foto já próximo
do
Forte do Mosqueiro
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"Divagações" na encosta sul virada para a Ribeira de Ribas ...
quando pouco mais de 5 km levam mais de 3 horas...
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À uma da tarde estávamos no
Forte do Mosqueiro ... com 6 km
percorridos em três horas e meia. Para os prometidos 15 km ... faltavam 9
... e faltava uma hora para as 5 horas previstas de duração da caminhada 😀.
Paragem para almoço? Hmm ... não é preciso; quando os mais lentos chegaram
ao Forte do Mosqueiro já o guia descia para o Parque do
Cabeço de Montachique.
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Parque do Cabeço de Montachique, 13h20
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Não sei se o percurso de regresso ao Freixial foi encurtado ou se
"encolheu", mas os 15 km reduziram-se a menos de 12, contornando o cabeço do
Mogadouro e pela aldeia da
Chamboeira, agora sim por trilhos de pé
posto que permitiram "acelerar" o ritmo. O
PDF da Câmara de Loures também referia que seguiríamos a Ribeira do Juncal ... da qual
contudo só vimos a foz no Trancão.
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No percurso de regresso ... agora sim por trilhos de dificuldade
média e fácil
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Foz da Ribeira do Juncal no Trancão
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E, acompanhando o Trancão ...
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... chegamos ao Freixial às 14h45, com 11,7 km
percorridos
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Ai Constantino, Constantino ... provavelmente és tão sonhador como este "
rapaz pacato" que um dia resolveu começar a escrever as suas
memórias
de ar livre ... claro que nos contextos e vivências completamente diferentes
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Foto de família, junto ao Coreto do Freixial
(Clique para ver o
álbum completo
de fotos)
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dele e meu e à luz neorrealista de Alves Redol. Evidentemente que não dei
este sábado por desperdiçado ... até porque também estive em família. Sim
... a família não é só a biológica...
E se alguém da organização desta jornada "Por terras de Constantino"
ler esta "crónica" ... espero que entenda as minhas "divagações" como uma
crítica construtiva ao que faltou nesta caminhada e ao muito que a poderia
ter enriquecido.
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