segunda-feira, 21 de junho de 2021

Solstício de Verão 2021 em terras de Vale de Espinho e do Xalmas

No dia 11 de Maio de 2017, no primeiro dia do meu Caminho Primitivo, no Albergue de San Juan de Villapañada estava um português, a quem nos juntámos ao jantar ... jantar em que um gato nos ia roubando uma costeleta 🤪; talvez esse episódio ... tenha sido o mote para uma Amizade que foi crescendo entre o dito português e o autor destas "crónicas".
A caminho das Fontes Lares, 19.Jun.2021, 8h55
Quatro anos depois ... o "Papaléguas" veio com o "Xalmas" ao retiro de Vale de Espinho ... onde neste solstício fizemos três caminhadas "de rajada", das Fontes Lares ao Côa, à Raia, e, para além dela, à Serra da Enxalma, como é conhecido o cume ocidental da Sierra de Gata, que recebeu o nome do deus vetão das águas ... Xalmas. Quatro anos depois de um gato roubar uma costeleta ... o Universo tem muito para dar a esta Amizade 💖🙏
Apesar de o solstício ser de verão ... só no sábado caminhámos com Sol e céu razoavelmente limpo. E foi a caminhada maior, 22 quilómetros.

19.Jun.2021, 9h25 - as Fontes Lares ... como nunca as tinha visto: até o barroco "sagrado" quase desaparece no mato!
Água abençoada pelas forças telúricas das Fontes Lares...
Fontes Lares: no "santuário" das minhas velhas botas, cardadas, que palmilharam léguas sem fim...
Das Fontes Lares fomos às Balsas, descemos aos Entremontes, passámos a estrada entre as Braciosas e os Fóios, subimos à linha de fronteira, que seguimos até à Lomba, para regressar a Vale de Espinho pela Quinta do Passarinho e pelo Nabo da Crasta e entrando pela velha ponte do Côa.

O Côa na Fontanheira, para onde descemos pelas Balsas e Entremontes
Os dois "exploradores" entram na Reserva Natural da Serra da Malcata
Do Côa subimos à Raia ... nesta caminhada internacional ...
... e da Raia regressámos a Vale de Espinho, que já víamos aos nossos pés
Antes das três da tarde estávamos na velha ponte, onde
o João tirou um pouco da fome desta pobre cadelita
Duas caminhadas em terras de Vale
(Sábado 19 - Clique aqui para
de Espinho, nos dias 19 e 20 de Junho
ver no Wikiloc)
Para domingo tínhamos programado subir o Xalmas ... mas domingo acordou muito chuvoso. "Recolher obrigatório", portanto. Mas à tarde o Sol despediu-se da Primavera, pelo que lá fomos a uma volta mais pequena; o João "Papaléguas" não podia sair de Vale de Espinho sem conhecer o Moinho do Rato.
Pontão das poldras do Moinho do Rato ... as pedras que não envelhecem...
Mas do Moinho do Rato subimos a encosta da Pelada e descemos de novo ao Côa, para outros dois ícones de Vale de Espinho: o Engenho e o Moinho dos Pecas, regressando a casa pela estrada.

Vale de Espinho vista da encosta do Cabeço da Pelada ... e a prova nos líquenes de que aqui não há poluição
Grande "chapa", João. Obrigado!
Ruínas do velho Engenho de Vale de Espinho ...
tempos e memórias
fábrica "de luz", fábrica de mantas, moinho...
perdidas no Tempo...
O Côa na Açude
das Veigas
Moinho dos Pecas: mais memórias de um tempo sem Tempo...
As botas do João ... já paparam muitas léguas...🤪
A Vida não é só caminhar...🤪
Um par de botas do João "Papaléguas" terminaram os seus dias em Vale de Espinho. Talvez a fome com que elas pareciam estar nos tenha aberto o apetite para o jantar ... em que tínhamos, claro, de ir ao encontro da bela costeleta de vitela do "El Dorado", nos Fóios. E para o convívio gastronómico, eu e a minha estrelita arraiana convocámos também os já velhos amigos Zé Manuel Campos/Natália. Foram bons momentos de convívio e amizade, de volta também do livro "Contrabando e Emigração numa aldeia raiana" ... que com muito orgulho já faz parte da minha pequena Biblioteca Raiana. Obrigado, Zé Manel!
Puerto de Santa Clara, 21.Jun.2021, 8h40 locais - Em dia de solstício ... o "Papaléguas" foi com o "Xalmas" ao Xalmas
Como já referenciei noutras crónicas, o cume ocidental da Sierra de Gata adoptou o nome do deus Vetão das águas; "primos" dos Lusitanos, os Vetões eram celtas que habitavam a parte noroeste da
Meseta Ibérica, onde se viriam a constituir mais tarde Castela, a Extremadura espanhola e as zonas raianas do actual território português. Consoante a língua (português, castelhano, extremeño), esta porção da serra e o seu cume aparece referenciada como Serra da Enxalma, Jálama, Xálama, Xálima ... ou Xalmas ... o meu nick name no Wikiloc e em diversos outros sítios na internet.
2ª feira era o último dia do João em terras raianas ... com ele cheio de vontade de conhecer o verdadeiro Xalmas. O solstício de Verão foi às quatro e meia da manhã ... mas o dia nasceu a parecer de Inverno. Mesmo assim, resolvemos confiar; pegámos no carro, atravessámos a raia entre Aldeia do Bispo e Navasfrias, passámos o Águeda ... e, antes das nove horas espanholas, "Xalmas" e "Papaléguas" estavam no Puerto de Santa Clara, para subir ao cume do Xalmas.
E em boa hora o fizemos! Caminhámos à chuva, não vimos as panorâmicas para a Serra do Espinazo, não se abriram os horizontes à medida que subíamos ... mas vivemos um ambiente a todos os títulos mágico e místico, como a foto à esquerda ilustra. Por vezes parecíamos vultos na neblina; os pássaros, esses cantavam alegremente, dando graças à água que escorria pelas folhas e ramos ... ou não fosse Xalmas o deus vetão das águas.

Vultos na neblina ... vamos subindo a encosta poente do Xalmas, passando pela Ermida de San Casiano
E o "Papaléguas" chegou ao cume
do Xalmas (1492m alt.)...
com o "Xalmas"
Dadas as condições climatéricas, poucos minutos estivemos no cume; iniciámos desde logo a descida, agora para a vertente norte, rumo à Nevera, poço escavado e revestido com pedras, com vista à conservação da neve.
No Pozo de la Nevera, na encosta norte do Xalmas (1423m alt.) 
Em pouco mais de uma hora, descemos das nuvens para a estrada Payo - San Martín. A chuva tinha parado ... o Sol timidamente parecia querer romper ... e de repente o deus Xalmas abriu um flash que nos deixou ver os campos de Payo e de Navasfrias! Estávamos, literalmente, nos céus...

Descida da Nevera: os céus parecem querer
abrir ... e de repente, num flash mágico ...
... as terras de Payo e de El Rebollar abriram-se diante de nós!
Às onze e meia locais estávamos no final da Senda norte do Xalmas. A "missão" estava cumprida ... e o João dizia-se de papinho cheio; adorou as três caminhadas ... mas especialmente estes 11 km de sobe e desce ao cume ocidental da Gata, paredes meias com as Mesas, onde nascem o Côa e o Águeda.
21.Jun.2021, 11h30: chegamos à estrada Payo - San Martín ... quase no fim de quatro dias em terras de Vale de Espinho e do Xalmas (Clique aqui para ver o álbum completo de fotos)
(Clique aqui para ver no Wikiloc)
Regressados a terras lusas - mas as fronteiras são puras invenções - era quase chegada a hora da despedida. O João regressou à sua "base" ... os dois arraianos - natural e adoptivo - permanecem na Raia ... talvez para mais "aventuras". Who knows? O Universo é inteligente ... e a Vida é Bela...

2 comentários:

João Gonçalves disse...

Sensações únicas que o tempo não vai conseguir apagar. Obrigado Zé (Xalmas) Callixto pelos momentos épicos com que me brindaste.

José Carlos Callixto disse...

Faço minhas as tuas palavras. As sensações épicas foram bidirecionais ☺️
Abençoado gato 🐱🐈