O Clube "
Ar Livre" e as autarquias abrangidas pelas históricas
Linhas de Torres Vedras organizam todos os anos em Outubro a chamada
Marcha dos Fortes, um percurso de resistência de 44 km, que interliga várias das
fortificações construídas entre 1809 e 1812 como linhas de defesa, a norte de Lisboa, contra os invasores napoleónicos. Com sete anos de intervalo, participei na terceira e na décima edições desta Marcha, em 2007 e 2014. Agora, 12 anos depois da primeira, um percurso circular em vez de linear e quase inteiramente novo aliciou-me a nova participação.
Pouco depois das seis e meia da manhã, ainda noite, já se concentravam as "tropas" no largo do Santuário da
Senhora da Ajuda, freguesia de
Arranhó, concelho de
Arruda dos Vinhos! Conta a
lenda que certo dia andava uma pastorinha a guardar as suas ovelhas, quando lhe apareceu uma imagem cheia de luz, que lhe comunicou que seu pai devia erguer ali uma ermida em sua honra. A cena repetiu-se nos dias seguintes, mas o pai não acreditava. Como a menina insistia, o pai pediu-lhe que dissesse à Senhora que não havia ali água, pelo que ninguém conseguia construir uma ermida sem água. Seguiu a filha, para se certificar. A menina transmitiu o recado ... e logo após o homem viu que a jovem pastora, ao levantar uma pedra, fez surgir um jorro de água muito clara e cristalina! Afonso Anes - assim se chamava o pai da pastorinha - correu para a filha com os olhos cheios de lágrimas e abraçou-a, pedindo-lhe perdão por não ter acreditado nela. Depressa se ergueu a ermida, em cujo altar foi colocada uma imagem de pedra da Virgem Mãe de Jesus, com a evocação de Nª Srª da Ajuda, que ainda hoje é ali adorada com devoção.
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Às 7h00 em ponto a Marcha partia da Senhora da Ajuda, rumo à Serra de Alrota |
O dia começava a clarear à medida que caminhávamos para sul, subindo a
Serra de Alrota, entre terras da Arruda e terras de Bucelas. O dia nascia com muitas nuvens mas com o Sol pelo meio delas; esse filtro e algum vento fresco foram bem vindos ao longo da longa jornada. Com mais de 400 pessoas, o ritmo de caminhada nunca pode ser rápido, mas cumprimos sempre escrupulosamente os tempos delineados no programa previamente reconhecido e calculado.
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O Sol já nascera há quase uma hora, mas por vezes renascia por entre as nuvens... |
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Antigos aviários do Freixial, |
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desactivados e abandonados... |
No
Freixial havia o primeiro abastecimento e o primeiro carimbo no "passaporte" da Marcha, seguindo-se a subida ao Reduto do Freixial Alto, mais conhecido por
Forte de Ribas, e à cumeada que ladeia a sul o vale da
Ribeira de Ribas, até ao
Forte do Mosqueiro e ao
Parque Municipal do Cabeço de Montachique, onde nos esperava o tradicional almoço de esparguete com carne guisada.
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As "tropas anglo-lusas" avançam para o Forte de Ribas ...
e eu tinha uma "mana" e um "cunhado" na organização... 😊
(Foto: CAAL) |
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Pouco passava das 11h00, mas com 15 km percorridos chegava a hora do apetecido almoço |
Como que vigiados pelo
Cabeço de Montachique, o rumo era agora para norte, entrando em terras do Concelho de Mafra, passando pelo
Forte da Prezinheira em direcção a
Calvos, seguindo a margem direita do jovem
Trancão e onde tínhamos novo abastecimento, com 21,5 km percorridos.
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"Vigiados" pelo Cabeço de Montachique ... |
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... rumamos a norte, encontramos o rio Trancão ... |
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... e entramos em Calvos, 13h36, 2º abastecimento |
Pouco depois de
Sapataria cruzámos a
Linha do Oeste, em direcção a
Enxara dos Cavaleiros e ao
Forte da Enxara, ou de S. Sebastião, cujo objectivo estratégico era a defesa da estrada Torres Vedras - Montachique, em apoio ao Quartel General de Wellington, em Pêro Negro. Por isso ... era ali que a organização tinha à nossa espera uma recriação histórica. As "tropas" foram recebidas por elementos militares, do clero e do povo. E tínhamos também ... mais um abastecimento.
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Igreja de Enxara dos Cavaleiros |
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E recepção no Forte de S. Sebastião da Enxara |
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Parte das "tropas", no Forte de S. Sebastião da Enxara ... |
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... onde fomos recebidos por |
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elementos do clero e do povo |
O
Forte da Enxara marcou por assim dizer o início do regresso. Rumando agora a leste, voltámos a cruzar a
Linha do Oeste junto a
Malgas, onde tínhamos a penúltima paragem e o último selo no "passaporte". Seguia-se a maior subida do percurso, quase 6 km até ao
Forte do Alqueidão, onde chegámos com o Sol a pôr-se ... e a Lua a levantar-se.
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Pelas vinhas da zona de Pêro Negro |
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Não, não é um vulcão em erupção ... é mais um incêndio 😪 |
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Malgas, 17h25, último selo |
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Subida ao Forte do Alqueidão, através de densa vegetação, 17h50 |
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E, 18h50, a caminho do Alqueidão, |
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com o Sol a por-se e a Lua a nascer |
Foi já de noite, portanto, que fizemos o troço final, cerca de 5 km entre o Alqueidão e a
Senhora da Ajuda, onde tínhamos começado 13 horas e meia antes. A previsão de 44,7 km alargou-se a 45,9, mas as primeiras "tropas" chegaram poucos minutos depois da hora prevista, 20h30. Esperava-nos um jantar retemperador, de que se destacava uma muito saborosa sopa de peixe. Gradualmente, os "pelotões" foram recolhendo aos seus quartéis, a grande maioria com o "passaporte" todo preenchido. A extensão e o desnível acumulado (superior a 1100 metros) não motivaram muitas "baixas". Para o ano há mais; se farei ou não parte das "tropas" ... o tempo ditará.
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Senhora da Ajuda, 20h36 ... e as "tropas" regressavam ao quartel de origem... |
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