Próximo de Vilela, 19.Out.2019, 11h20 ... em dia de muita chuva
agendado para o terceiro fim de semana de Outubro ... um fim de semana em que as abençoadas e bem vindas chuvas chegaram finalmente às terras que tanto delas precisam. Dois dias de qualquer modo meteorologicamente bem diferentes: sábado de chuva quase permanente, em que a água foi rainha e senhora, como que descarregando dos céus a força e a vitalidade com que o leito das inúmeras linhas de água e das suas margens há muito a pediam; e domingo ... um dia que nasceu mágico, com Sol e a humidade a elevar-se dos vales ... com outras luzes, outras cores, outras perspectivas. Qual a mais bela? Ambas ... ângulos diferentes de uma mesma Natureza, uma mesma vida ... uma mesma magia.
Ponte medieval de Vilela, sobre o rio Vez, e próximo de S. Martinho, Loureda ... onde os passadiços foram a banhos...
A caminhada começou junto à ponte medieval de Vilela, de construção tipicamente românica. Sabíamos que íamos apanhar chuva ... mas não sonhávamos que as chuvas já caídas tivessem transformado o Vez numa corrente larga e selvagem. Que espectáculo! Os bosques ribeirinhos pareciam gritar bem alto ... Obrigado! Mas, embora eu e a minha estrela já os conhecêssemos, o que também não contávamos era que os passadiços tivessem sido construídos, nalguns pontos ... abaixo do possível leito de cheia! Próximo de Loureda, o único recurso foi usar a estrada.
Pelos caminhos do Vez, subindo o seu curso rápido e selvagem. Junto à foz do Rio Cabreiro, afluente da margem esquerda
O milagre da água!
E assim chegávamos a Sistelo, chamado muitas vezes o Tibete português
Com muitos pés cheios de água mas com os olhos e a alma cheios de Vida, pouco depois das três da tarde estávamos em Sistelo, o pequeno Tibete português, como a aldeia é muitas vezes chamada ...
com algum exagero, na modesta opinião do autor destas linhas. A Tasquinha da Ti Mélia ... foi o excelente porto de abrigo em que o grupo ancorou, para os mais variados néctares e petiscos, desde um fabuloso chocolate quente às loirinhas e ao belo verde em malga, pois claro.
O nosso "acampamento base" foi em Arcos de Valdevez, no Hotel Arcos, uma excelente unidade nas margens do rio ... e onde a equipa organizadora deste fim de semana caminheiro tinha providenciado uma surpresa. Depois do jantar ... o Rancho Folclórico de S. Paio brindou-nos com uma excelente actuação. Numa genuína e sublime manifestação de cultura popular e de tradição, aquele foi seguramente, para além das caminhadas, um dos momentos mais altos deste fim de semana! Bem hajam!
Mas o Rancho de S. Paio ainda foi, sem saber, responsável por outra surpresa. Uma amiga, companheira de caminhadas, tinha visto os vídeos que eu publicara numa rede social ... e ao acordar, domingo, tinha uma mensagem a dizer-me que estava no mesmo hotel!!! E ao pequeno almoço ... não era uma, eram três!!! Adeptas também do trail, iam participar no "Sistelo Extreme Marathon"!!!
Breia, 20.Out.2019, 8h55 ... o despertar dos mágicos (Fotos: Raul Branco)
Obedecendo às previsões, domingo já havia Sol. Começámos a caminhada junto à pequena aldeia de Breia, desta vez descendo o curso do Vez, rumo a Arcos. Do vale, das encostas, dos campos ... elevavam-se névoas a apelar ao sonho, à contemplação, à imaginação ... num despertar dos mágicos de que o nosso Raul captou sabiamente o misticismo!
Os mistérios do Vez, captados pela pena sublime do Raul Branco
Sim ... estávamos autenticamente a viajar num reino de novas cores, novas luzes, novas fragrâncias e matizes...
E à medida que descíamos o Vez, nesta manhã sublime, os concorrentes da "Sistelo Extreme Marathon" passavam a correr, em sentido contrário. Pouco depois das dez e meia ... bati as palmas e desejei boa continuação às "minhas" 3 atletas. Uma delas, há 4 anos ... esteve comigo no Toubkal...
Três amigas, companheiras de lides pedestres ... estavam na "Sistelo Extrem Marathon"
Enquanto a Ana e as duas Luísas subiam em direcção a Sistelo, a um ritmo bem mais calmo nós continuávamos a descer rumo aos Arcos, pelo meio do verde e das águas do Vez, também bem mais calmas do que na véspera. Por entre a ramagem, o Sol criava reflexos e mistérios.
Próximo da foz do Ázere, na margem direita do Vez
Brilhos e cores de uma mágica descida do Vez ...
... com mistérios atrás de cada arbusto ou de cada pequena curva do caminho (Foto: Raul Branco)
E o rio Vez conduz-nos à vila de Arcos
Fonte do Piolho
Eram dez e meia estávamos a entrar em Arcos de Valdevez. Toda a vila é como que uma pequena caixa de sedução, conservando o encanto característico do Alto Minho. À caminhada propriamente dita seguiu-se uma visita cultural aos principais motivos arquitectónicos e históricos da vila, começando pela escultura da autoria de José Rodrigues, executada integralmente em bronze fundido, que evoca o Recontro de Valdevez, episódio que se seguiu à invasão da Galiza por D. Afonso Henriques, em 1141. Em resposta, o exército leonês entrou em território portucalense; para pouparem homens e recursos, optaram por lutar entre si num torneio ... e a sorte das armas pendeu para o lado português. Antecedendo o Tratado de Zamora, este episódio foi considerado o passo decisivo e a última etapa para o nascimento de Portugal.
Escultura alusiva ao Recontro de Valdevez
Em resposta, o exército espanhol, entra em território portucalense; para pouparem homens e recursos, optaram por lutar entre si num torneio ... e a sorte das armas pendeu para o lado português. Antecedendo o Tratado de Zamora, este episódio foi considerado o passo decisivo e a última etapa para o nascimento de Portugal como país.
Igreja Matriz de Arcos de Valdevez, debruçada para o rio
Com um saboroso almoço de convívio que se prolongou até às quatro da tarde, os Caminheiros Gaspar Correia deram por terminadas as actividades deste belíssimo fim de semana. Seguia-se ... a longa jornada de regresso à capital.
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