domingo, 20 de outubro de 2019

Nos passadiços de Sistelo ... do milagre da chuva ao milagre do Sol

Há 3 anos, a convite do meu mano Vítor, conhecemos os então quase novos passadiços de Sistelo, em terras de Arcos de Valdevez e integrados na Ecovia do Vez. Agora, os Caminheiros Gaspar Correia tinham aquele famoso percurso pedestre
Próximo de Vilela, 19.Out.2019, 11h20 ... em dia de muita chuva
agendado para o terceiro fim de semana de Outubro ... um fim de semana em que as abençoadas e bem vindas chuvas chegaram finalmente às terras que tanto delas precisam. Dois dias de qualquer modo meteorologicamente bem diferentes: sábado de chuva quase permanente, em que a água foi rainha e senhora, como que descarregando dos céus a força e a vitalidade com que o leito das inúmeras linhas de água e das suas margens há muito a pediam; e domingo ... um dia que nasceu mágico, com Sol e a humidade a elevar-se dos vales ... com outras luzes, outras cores, outras perspectivas. Qual a mais bela? Ambas ... ângulos diferentes de uma mesma Natureza, uma mesma vida ... uma mesma magia.

Ponte medieval de Vilela, sobre o rio Vez, e próximo de S. Martinho, Loureda ... onde os passadiços foram a banhos...
A caminhada começou junto à ponte medieval de Vilela, de construção tipicamente românica. Sabíamos que íamos apanhar chuva ... mas não sonhávamos que as chuvas já caídas tivessem transformado o Vez numa corrente larga e selvagem. Que espectáculo! Os bosques ribeirinhos pareciam gritar bem alto ... Obrigado! Mas, embora eu e a minha estrela já os conhecêssemos, o que também não contávamos era que os passadiços tivessem sido construídos, nalguns pontos ... abaixo do possível leito de cheia! Próximo de Loureda, o único recurso foi usar a estrada.
Pelos caminhos do Vez, subindo o seu curso rápido e selvagem. Junto à foz do Rio Cabreiro, afluente da margem esquerda
O milagre da água!
E assim chegávamos a Sistelo, chamado muitas vezes o Tibete português
Com muitos pés cheios de água mas com os olhos e a alma cheios de Vida, pouco depois das três da tarde estávamos em Sistelo, o pequeno Tibete português, como a aldeia é muitas vezes chamada ...
Tasquinha da Ti Mélia, Sistelo, 15h30
com algum exagero, na modesta opinião do autor destas linhas. A Tasquinha da Ti Mélia ... foi o excelente porto de abrigo em que o grupo ancorou, para os mais variados néctares e petiscos, desde um fabuloso chocolate quente às loirinhas e ao belo verde em malga, pois claro.
O nosso "acampamento base" foi em Arcos de Valdevez, no Hotel Arcos, uma excelente unidade nas margens do rio ... e onde a equipa organizadora deste fim de semana caminheiro tinha providenciado uma surpresa. Depois do jantar ... o Rancho Folclórico de S. Paio brindou-nos com uma excelente actuação. Numa genuína e sublime manifestação de cultura popular e de tradição, aquele foi seguramente, para além das caminhadas, um dos momentos mais altos deste fim de semana! Bem hajam!
Início da actuação do Rancho Folclórico de S. Paio, Hotel Arcos, 21h35
Mas o Rancho de S. Paio ainda foi, sem saber, responsável por outra surpresa. Uma amiga, companheira de caminhadas, tinha visto os vídeos que eu publicara numa rede social ... e ao acordar, domingo, tinha uma mensagem a dizer-me que estava no mesmo hotel!!! E ao pequeno almoço ... não era uma, eram três!!! Adeptas também do trail, iam participar no "Sistelo Extreme Marathon"!!!

Breia, 20.Out.2019, 8h55 ... o despertar dos mágicos (Fotos: Raul Branco)
Obedecendo às previsões, domingo já havia Sol. Começámos a caminhada junto à pequena aldeia de Breia, desta vez descendo o curso do Vez, rumo a Arcos. Do vale, das encostas, dos campos ... elevavam-se névoas a apelar ao sonho, à contemplação, à imaginação ... num despertar dos mágicos de que o nosso Raul captou sabiamente o misticismo!
Os mistérios do Vez, captados pela pena sublime do Raul Branco
Sim ... estávamos autenticamente a viajar num reino de novas cores, novas luzes, novas fragrâncias e matizes...
E à medida que descíamos o Vez, nesta manhã sublime, os concorrentes da "Sistelo Extreme Marathon" passavam a correr, em sentido contrário. Pouco depois das dez e meia ... bati as palmas e desejei boa continuação às "minhas" 3 atletas. Uma delas, há 4 anos ... esteve comigo no Toubkal...
Três amigas, companheiras de lides pedestres ... estavam na "Sistelo Extrem Marathon"
Enquanto a Ana e as duas Luísas subiam em direcção a Sistelo, a um ritmo bem mais calmo nós continuávamos a descer rumo aos Arcos, pelo meio do verde e das águas do Vez, também bem mais calmas do que na véspera. Por entre a ramagem, o Sol criava reflexos e mistérios.

Próximo da foz do Ázere, na margem direita do Vez
Brilhos e cores de uma mágica descida do Vez ...
... com mistérios atrás de cada arbusto ou de cada pequena curva do caminho (Foto: Raul Branco)
E o rio Vez conduz-nos à vila de Arcos
Fonte do Piolho
Eram dez e meia estávamos a entrar em Arcos de Valdevez. Toda a vila é como que uma pequena caixa de sedução, conservando o encanto característico do Alto Minho. À caminhada propriamente dita seguiu-se uma visita cultural aos principais motivos arquitectónicos e históricos da vila, começando pela escultura da autoria de José Rodrigues, executada integralmente em bronze fundido, que evoca o Recontro de Valdevez, episódio que se seguiu à invasão da Galiza por D. Afonso Henriques, em 1141. Em resposta, o exército leonês entrou em território portucalense; para pouparem homens e recursos, optaram por lutar entre si num torneio ... e a sorte das armas pendeu para o lado português. Antecedendo o Tratado de Zamora, este episódio foi considerado o passo decisivo e a última etapa para o nascimento de Portugal.
Escultura alusiva ao Recontro de Valdevez
Em resposta, o exército espanhol, entra em território portucalense; para pouparem homens e recursos, optaram por lutar entre si num torneio ... e a sorte das armas pendeu para o lado português. Antecedendo o Tratado de Zamora, este episódio foi considerado o passo decisivo e a última etapa para o nascimento de Portugal como país.

Igreja Matriz de Arcos de Valdevez, debruçada para o rio
Com um saboroso almoço de convívio que se prolongou até às quatro da tarde, os Caminheiros Gaspar Correia deram por terminadas as actividades deste belíssimo fim de semana. Seguia-se ... a longa jornada de regresso à capital.
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