Uma semana depois de uma caminhada de 130 km ... uma caminhada de 9 km. Uma semana depois de um desafio a testar os limites,
da porta de casa ao Santuário de Fátima non stop ... uma caminhada serena e com uma longa pausa, num outro "santuário": as "minhas"
Fontes Lares.
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Em terras de
Vale de Espinho desde sábado, na tarde do último dia de Outubro - dia de
Halloween, ou das bruxas - as Fontes Lares chamaram-me, como tantas outras vezes. Aquele local é mágico, tem uma energia especial. Sente-se o brotar da água vinda do ventre da terra, sente-se a energia telúrica ... sente-se o peso das histórias ali vividas, das vidas a que ali ficaram ligadas...
Saí de Vale de Espinho pelo
Cabecinho, rumo ao geodésico que recebeu o nome da aldeia, há muitos anos rodeado por denso carvalhal. Depois, a partir da
Có Pequena, segui o velho caminho para o
Seixel e a
Serra Madeira. E pouco depois das três da tarde estava nas "minhas"
Fontes Lares.
Apesar da interminável seca que nos assola, da fontinha "sagrada" das Fontes Lares brotava água límpida, fresca e saborosa. E ali, onde tantas vezes os mistérios me levam, onde já dormi
sob as estrelas, onde dormem eternamente dois pares de
botas históricas, ali, de onde se contam
velhas lendas envoltas na bruma do tempo, contos aprendidos a uma lareira quase apagada ... ali fiquei quase uma hora, meditando, entregando-me ao Universo, à terra.
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Fontes Lares, 31.10.2017 ... sempre as minhas Fontes Lares |
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Água sagrada... |
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Barroco sagrado... |
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Em entrega à Terra, ao Ar, ao Cosmos ... ao Universo |
Como não hei-de chamar "santuário" àquele barroco, àquele local mágico, às pedras da velha casa, hoje em completa ruína, que viram passar os pais e avós da pequena estrela cuja Vida um dia se viria ligar à minha? Casa que eu próprio ainda conheci de pé, há mais de 4 décadas ... e onde, no que dela resta, continua o que resta das minhas velhas botas, que palmilharam léguas sem fim...
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Um par de botas, as mais recentes, jazem
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sobre o que foi a parede da velha casa...
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E no interior, onde a vegetação invadiu o que já foi um lar,
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as botas mais velhas parecem querer começar a criar vida!
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O regresso foi pelos Linhares, ou
Nheres, como a área costuma chamar-se na gíria local. Os campos anseiam pela prometida chuva. Que venha ela, mansa e farta! Mas, nesta prece pela água da vida, os campos de Vale de Espinho continuam contudo a respirar beleza e magia. As cores outonais, os ouriços mostrando as suas castanhas, o dia a declinar, a Lua a elevar-se no céu ainda azul, o Sol a deitar-se por trás da
Malcata, numa explosão de cor ... foi neste sonho acordado que fui descendo até esta minha aldeia, que me adoptou e que adoptei ... há daqui a pouco 45 anos!
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Há formas fantasmagóricas nos velhos castanheiros dos Nheres... |
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Way back ... através de um mundo encantado... |
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A Lua eleva-se no
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céu ainda azul ...
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... enquanto o Sol se vai recolher como sarça ardente! |
Antes das seis horas estava a entrar em
Vale de Espinho pelo
Cabeludo ... mas o "trânsito" estava complicado... 😊 Rapidamente a noite caiu ... a noite de
Halloween. Ao chegar a casa, não tinha figuras estranhas nem abóboras com olhos ... tinha, isso sim ... umas prometidas e saborosas
mílharas, mais conhecidas por papas de carolo! As feitas pela minha estrela são as melhores do Universo...
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Entrada em Vale de Espinho ... com trânsito complicado 😊 |
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Mílharas (papas de carolo) ... uma iguaria e tanto! |
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