|
Pitões das Júnias ... a aldeia mágica... |
Sexta feira ao fim do dia estávamos em
Tourém. A aldeia mágica de
Pitões das Júnias não foi, desta vez, o "acampamento" para o que nos faltava viver, já que a "minha" velha "
Casa do Preto" estava de lotação esgotada. A "
Casa dos Braganças", em Tourém, foi assim a segunda base, com a hospitalidade e a grande simpatia dos seus proprietários, Sr. Fernando Carvalho, esposa e filha.
A ideia original era a grande travessia da Serra, a "minha" velha ligação Pitões - Fonte Fria - Carris - Sombras - Baños, onde o amigo Fernando nos iria buscar no seu minibus, como aliás já tem feito. Mas, ao jantar de sexta feira, já tínhamos praticamente decidido que 30 km de serra pura e dura seria demasiado para as altas temperaturas deste início de Outono. Seria mais sensata uma caminhada mais curta, envolvendo à mesma locais emblemáticos daquele recanto oriental da
Serra do Gerês. Já não tínhamos a Dorita, Manel e Heidi, mas, modéstia à parte ... tínhamos as minhas muitas fragas palmilhadas naquelas terras, que de certo modo também são minhas...
E assim, quase uma hora antes de o Sol se levantar, lá estávamos a caminho de
Pitões, onde os carros descansariam. Quatro minutos depois das sete começámos a caminhar, atravessando a aldeia ainda meio adormecida ... excepto a
Padaria de Pitões, já a trabalhar a bom ritmo.
|
Campos de Pitões das Júnias às cores do Sol nascente, 7.10.2017, 7h15 - Ao fundo, a Fraga de Brazalite |
|
Calçada da Espinheira |
Para trás iam ficando o
Seixo, a Calçada da
Espinheira, a ribeira das
Aveleiras, à medida que íamos ganhando altitude, ao longo de uma manhã mágica e mística. O rumo eram as alturas da
Fonte Fria ... tal como numa madrugada igualmente mística, há 11 anos ... completados precisamente um dia antes. Às 4 da manhã de 6 de Outubro de 2006, saí a solo de
Pitões, para uma
travessia abortada pela intempérie; recordei o local onde estive recolhido. Agora, pelo contrário, tínhamos um dia magnífico a iluminar a nossa progressão:
Fornos, a imponência da
Brazalite (ou Bruzalite), a
Corga da Tulha ... o milagre do verde e das cores outonais, apesar da seca continuada...
|
À medida que subimos, também o Sol sobe ... e a Lua prepara-se para se recolher |
|
No mar de fetos, junto ao Ribeiro de Fornos |
|
Subindo o vale da Corga da Tulha, com as alturas da Fonte Fria como farol |
Antes das nove e meia passávamos os 1300 metros de altitude. Para a frente, na direcção das
Gralheiras, passeavam-se cavalos. Não vimos cabras selvagens; soubemos à noite que andavam mais a leste, na
Carvalhosa. E ali, aos pés da
Fonte Fria, era o nosso ponto de inflexão para sul, rumo aos marcos de fronteira e depois ao longo deles, ziguezagueando entre terras lusas e galegas.
|
Fonte Fria: percebe-se o marco de fronteira no cume (1458m alt.) |
|
Ao longo da linha de fronteira, entre o Curral das Bestas e a Pedra do Laço |
Entre a
Pedra do Laço e os
Cabeços de Mação, era altura da grande decisão ... que já estava tomada. Se quiséssemos fazer a travessia, continuaríamos a seguir a fronteira para sudoeste, rumo à
Nevosa e aos
Carris, ainda distantes. Mas o bom senso (e o calor) aconselhavam a regressar a
Pitões, numa caminhada circular igualmente fabulosa mas mais suave ... e que me permitiria dar a conhecer a mágica Ermida de
S. João da Fraga, aliás frequentemente à nossa vista como que aérea. Da linha de fronteira descemos assim para sudeste, rumo à
Fraga do Paúl e ao
Curral das Touças.
|
Ao fundo, lá em baixo, a Ermida de S. João da Fraga |
|
Fraga do Paúl, à direita |
|
Descida das alturas, em direcção ao Curral das Touças |
|
Um autêntico miradouro, debruçado sobre as Touças, com Pitões das Júnias ao fundo |
Entretanto ... era meio dia. Falei ao grupo na possibilidade de umas sombras refrescantes, onde poderíamos almoçar, descansar e ouvir a Natureza. Ligeiramente a norte do
Curral das Touças, parámos num bosquezinho místico ... que se tornou mágico... 😨
|
Pausa para almoço ... no bosque dos druidas... 👪👪 |
E porque é que o "bosque dos druidas" se tornou mágico?...
Enquanto uns dormiam e outros tentavam ouvir o silêncio, de repente dos carvalhos começaram a cair ... amendoins... 😳. O Carlos entretinha-se a distribuir aquelas nutritivas sementes ... em voo!
Por entre os sons do silêncio, o descanso e a recolha das alcagoitas ... por ali nos deixámos ficar mais de uma hora. O próximo objectivo era a Ermida de
S. João da Fraga.
|
Rumo à Ermida de S. João da Fraga |
|
Subida à Ermida pelo lado poente, com a Barragem de Paradela ao fundo |
Subir à Ermida de
S. João da Fraga é sempre uma sensação inesquecível. A 1120 metros de altitude, no alto daquela imponente fraga, a origem da Ermida é totalmente desconhecida. Não se sabe nem quando nem quem a mandou construir. Todos os anos, no primeiro domingo a seguir ao São João, os habitantes de
Pitões e muitos forasteiros cumprem a tradição de subir ao alto da fraga, em romaria. Mas nós subimo-la vindos de poente, vindos da serra. Lá no cume ... apetecia-nos voar, dando asas à imaginação, ao companheirismo, à alegria de Viver! Brindámos à Vida e à Amizade!
|
Ermida de S. João da Fraga ... ou a emoção de estar num local mágico! (Penúltima foto: Carlos Aguiar) |
Ainda não eram três da tarde quando iniciámos a descida e, com ela, o regresso a
Pitões das Júnias, agora sim pelo caminho da romaria, atravessando os frondosos carvalhais do
Teixo e do
Beredo. No dia da romaria, manda a tradição que, no final, os habitantes comemorem nestes carvalhais, comendo os lanches ali deixados e dançando ao som das concertinas. Quanto a nós ... ainda íamos à velha aldeia de
Sancti Vincencii de Juriz, referida já nas Inquirições Afonsinas. O denso carvalhal camufla e protege os toscos vestígios do povoado, onde parece ouvir-se nas sombras as especulações sobre o seu abandono no século XV, talvez devido à peste, talvez devido a uma praga de formigas … talvez!
|
Descida do S. João da Fraga, com Pitões em pano de fundo |
|
Na magia dos velhos carvalhais, onde a todo o momento parecem poder saltar fadas e duendes... |
|
Por entre as pedras que falam |
|
da Aldeia Velha do Xuriz |
|
E de repente, por entre a ramagem ... surge a velha Cruz do "Castelo" de Xuriz |
A Cruz colocada na rocha, assinalando a localização da aldeia do Xuriz e a que os locais chamam o "
Castelo" ... é outro dos locais mágicos destas terras mágicas de
Pitões. E como todos fomos e somos fantásticos ... a magia do local mais uma vez se transmitiu a todos, naquele último local desta fabulosa caminhada. Pouco depois das cinco da tarde estávamos de regresso a
Pitões.
|
"Castelo" da aldeia velha do Xuriz ... gente fantástica, num local mágico... |
O regresso a
Pitões foi pela velha
Ponte das Aveleiras. Pouco depois das cinco da tarde estávamos na "aldeia mágica". E embora lá não tivéssemos desta vez feito base ... claro que tinha de ir visitar as minhas velhas amigas da "
Casa do Preto". Já se perde na noite do tempo de 4 décadas e de três gerações de "Senhoras Marias" (incluindo a Sandra e a Tina ... que não são Marias...
😉) a minha ligação àquela Casa. Foi lá que matámos a sede e convivemos, no final desta fabulosa caminhada.
|
Ponte da Ribeira |
|
das Aveleiras |
|
Campos de Pitões. Ao fundo, a imponência da Brazalite e das alturas da Fonte Fria. Sim ... foi por ali que começámos! |
|
E em Pitões, com as minhas velhas amigas
Maria, Maria e Tina, da Casa do Preto |
Sábado não tinha ainda contudo acabado. Como a Paixão pela Montanha, a Paixão pelo
Gerês, prende e une os seus Amantes ... um casal que há alguns anos segue as minhas "fragas e pragas", eles como eu apaixonados pelo Gerês, quis-me conhecer pessoalmente. Falo dos "
Célitos da Montanha", cujo blogue igualmente acompanho. Para conhecerem "
mais uma lenda das nossas montanhas" (palavras deles...😄), deslocaram-se propositadamente de Gaia a
Calvos de Randín, próximo de Tourém, onde todos jantámos.
|
Com os Célitos da Montanha em Calvos de Randín. Um abraço também muito especial a estes dois amantes do Gerês. |
E ... chegávamos ao último dia, que seria também o dia do regresso a casa. Para fechar esta (re)descoberta do
Gerês, a caminhada foi apenas a curta descida ao velho
Mosteiro de Santa Maria das Júnias e à
Cascata de Pitões. O bucolismo da paisagem do Mosteiro e as margens do
Campesinho fizeram sonhar quem ainda não conhecia aquele recanto do Paraíso; até houve ... quem lá queria ficar, transformando-se em Monja... 😆. No miradouro da cascata, contudo, a desolação foi total: a bela cascata de Pitões era um fio de água, tão radicalmente diferente do que conheço.
|
Mosteiro de Santa Maria das Júnias |
|
Margens do Ribeiro do Campesinho: a água corre ... mas não chega para alimentar a bela Cascata de Pitões |
|
Cascata de Pitões vista do
Presentemente ... era
|
|
Miradouro ... mas em Maio de 2013
um fiozinho... 😔 |
Nas terras celtas de
Pitões das Júnias, o almoço e convívio final destes dias estava combinado na
Taberna Terra Celta. Ponto de encontro obrigatório nesta aldeia mágica que conheço há mais de 40 anos, ao percorrer as "fragas e pragas" do "meu" Gerês, ali fomos recebidos com a transbordante simpatia e arte da Dª Margarida ... a grande Fada Celta por trás deste cantinho tão especial e imperdível.
|
E com o "almoço celta" terminou esta actividade fantástica. Durante e depois da mesma ... recebi agradecimentos, ouvi falar em boas escolhas, em sensibilidade de grupo, em humildade. Durante e depois da mesma ... senti alegria, Vontade, Amizade ... Vida! Para que uma actividade em grupo resulte fantástica não basta que a escolha das caminhadas seja boa, que haja boa disposição, que o tempo esteja bom. É preciso ... que as pessoas sejam fantásticas! E se realmente houve sensibilidade de grupo, humildade e companheirismo ... é porque TODOS fomos e somos pessoas fantásticas. A boa disposição, a alegria de Estar e de Viver, vieram de TODOS! A magia do Gerês apimentou ... mas a matéria, numa actividade em grupo, são sempre as pessoas!
" Happiness is only real when shared "
(Chris McCandless)
E como no Gerês há MUITO mais para ver e percorrer ... este foi e é um grupo a repetir, (re)descobrindo aquelas terras mágicas ... (re)descobrindo-nos a nós próprios!
Até porque...
" na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura... "
(Miguel Torga)
PS -
Este artigo foi acabado de escrever quase uma semana depois, em 14 de Outubro ... com as lágrimas nos olhos. Em 13 e 14 de Outubro foram declaradas pelo menos duas frentes de fogo no Parque Nacional da Peneda-Gerês ... precisamente nos Paraísos onde vivemos os dias descritos nestas três partes. A norte de Fafião, na manhã do dia 14, ardia na Touça, Palma, Valongo e Porta Ruivas, bem como a nordeste de Pitões das Júnias; à tarde ... chegam-me relatos de que a Serra do Gerês está coberta de fumo. Mudam-se os tempos, mudam-se vontades, mudam-se governos e políticos ... mas a Natureza em Portugal continua a saque. Dói ... dói fundo!
4 comentários:
Muito boa descrição. Um fim de semana fantástico com um grupo fantástico. Obrigada Zé por me dares a conhecer este paraíso.
Como sempre, excelente José Carlos . GRato pelo previlégio de ter caminhado com este grupo guiado por ti. Grande Abraço. Américo
Obrigado Paula, pelas tuas palavras ... e por seres minha Mana :)
Obrigado também, Américo. A tua participação é sempre um privilégio. Abraço.
Enviar um comentário