domingo, 30 de março de 2014

Em terras do Pulo do Lobo e Minas de S. Domingos

Dois dias a andarilhar pela raia alentejana ... com um acidente de percurso...

Neste início de primavera a lembrar ainda um chuvoso e prolongado inverno, os deuses abriram uma excepção nos dois dias de uma actividade planeada há algum tempo por um grupo de meus habituais companheiros de "aventuras". O destino era o Alentejo profundo, as terras do Pulo do Lobo e das Minas de S. Domingos. A minha musa e companheira também ia, para o que desse e viesse...
A partida, sábado, tinha forçosamente de ser madrugadora ... pelo que duas das "aventureiras" desta "aventura" dormiram em nossa casa, sexta feira ... não sem que antes se brindasse, claro, à nossa amizade, construída há quase um ano atrás na "aventura" do Monte Perdido Extrem.
É preciso brindar à vida e às amizades ... porque certos dias são especiais ... com pessoas especiais... J
(Fotos de Anabela Rey Esteves)
Sábado 29: em terras do Pulo do Lobo
Já na companhia do quinto elemento da "equipa", eram seis da manhã quando saímos pela sempre bonita Ponte Vasco da Gama, a bordo de um novo "amigo motorizado" com pouco mais de 15 dias... J. Ao contrário dos dias anteriores e das previsões de até um ou dois dias antes, o dia acordou esplendoroso. O destino eram as terras de Mértola, a concentração com os organizadores e restantes participantes era na pequena aldeia de Amendoeira da Serra, junto ao Café do Centro Recreativo e Cultural, às 9:00h.
Por entre o olival e a esteva, começámos por atravessar uma bonita zona de montado, até ao Monte do Vento, uma exploração agro-silvo-pastoril, integrada na Associação de Defesa do Património de Mértola.

Por entre o olival e a esteva, passando pelo Monte do Vento
Do Monte do Vento seguimos em direcção à Ribeira de Terges, por cujas margens era suposto todos caminharmos até à confluência com o Guadiana. Mas ... por vezes há pragas no caminho das fragas...

Descida e travessia da Ribeira de Terges ... onde o destino tece pragas no caminho das fragas...
Na travessia da Ribeira de Terges, quando nada o faria prever, a minha pequena arraiana escorregou numa rocha, caiu lateralmente ... e desmaiou! Por uns vinte segundos ... fez uma "viagem" por mundos obscuros. Ao voltar a si, enquanto a transportávamos para melhor local, vimos que felizmente estava consciente, embora sem saber o que lhe tinha acontecido. Vómitos e má disposição geral aumentaram a ansiedade, dela e de todos.
"Por fragas e pragas" se faz o destino...
Entretanto, um companheiro saiu disparado, à procura de um sítio onde tivesse rede, que ali não havia, para chamar o 112 … o que só conseguiu na Amendoeira da Serra, de onde tínhamos saído, ou seja, fez de novo para trás os 8 km que já tínhamos feito até ali!
Quase duas horas depois da queda, felizmente melhor e não conseguindo comunicar com o companheiro que foi a pé chamar a ambulância, resolveu-se que o grupo avançasse para o resto da caminhada, voltando nós dois e outro companheiro para trás. Mas não chegámos a andar 1 km, apareceu a ambulância. Fizeram-lhe logo ali testes de glicémia, tensão arterial, etc., tudo normal. Mas ... era melhor ir ao Hospital, a Beja. O resto do grupo seguiu o curso do Terges e do Guadiana ... até ao Pulo do Lobo.

O Guadiana no Pulo do Lobo ... onde o destino não quis que chegássemos (Foto: Ramiro Jorge)
O atendimento em Beja foi super impecável. E como este mundo é uma verdadeira aldeia global, é atendida por quem, por mera casualidade? Por um clínico descendente de Quadrazais e que, ainda por cima ... me chama uma "figura pública"!!! Sim, a mim ... este humilde e simples mortal ... e isto porque se me declarou logo ... fiel seguidor de um blog chamado "Por fragas e pragas..." JJJ!
Exames feitos e confirmado que tudo não passou de um grande susto, rumámos a Mértola, onde pouco depois nos reencontraríamos com o resto do grupo. Foi apenas uma "praga" no caminho das "fragas", felizmente sem consequências. Obrigado Dr. Pedro Febra, pelo zelo, carinho, competência e simpatia demonstradas. Em tantos e tantos anos de "aventuras", com alunos, só a dois, em grupos de amigos caminheiros por sítios por vezes bem mais complicados … nunca tinha acontecido um incidente destes. Mas é assim … "por fragas e pragas" se faz o destino.

Mértola by night ... onde nos esperava um bom ensopado de borrego... J! (Foto: Anabela Rey Esteves)
Domingo 30: nas Minas de S. Domingos
O programa de domingo era bastante mais leve. Estando felizmente a acidentada bem melhor, depois de uma noite repousante à Beira Rio, o objectivo era conhecer o velho complexo mineiro das Minas de S. Domingos. A Fundação Serrão Martins é a instituição que tem trabalhado na protecção, conservação, valorização e divulgação dos valores patrimoniais da Mina, assim como na promoção das potencialidades dos valores patrimoniais e culturais ali existentes, em prol do desenvolvimento das populações locais.

Minas de S. Domingos, 30.03.2014, 10:40h - 2º dia de um fim de semana pela raia alentejana
Em paralelo com as velhas e abandonadas estruturas mineiras e as terras e águas contaminadas, o que ali encontrámos foi contudo uma bela e atraente envolvência natural, com o Sol a iluminar as margens dos grandes lagos da tapada Grande e Tapada Pequena. Largas dezenas de autocaravanas encontravam-se aliás na Estação que a Fundação e a Câmara ali instalaram.

Lago da Tapada Grande, Minas de S. Domingos
Um espólio modesto
para uma grande riqueza...
Visitámos a Casa do Mineiro e, através de uma pequena caminhada guiada, deambulámos por aquele outro mundo que são as estruturas do Complexo Mineiro de São Domingos (extracção, carregamento, oficinas, armazéns, lagoas, vestígios de mineração romana).
Tanto na Mina propriamente dita como na Achada do Gamo, cerca de três quilómetros mais a sul, ao andar pelo meio das ruínas, retendo a mistura de cores de uma Natureza alterada pelos materiais ferrosos e sulfídricos, dá-nos uma sensação simultaneamente de magia e de respeito, respeito pelas vidas e pelo labor de tantas e tantas gerações de famílias, cujas vidas dependiam dos filões que o subsolo daquelas terras continha. Dir-se-ia que caminhávamos pelo meio de uma descida aos infernos...

Imagens de uma descida aos infernos...
Será do ferro ou do sangue dos mineiros?!...
Dir-se-ia que, ao mesmo tempo, estávamos a viver memórias perdidas no tempo ... ou imagens de um filme de ficção...
Depois desta "descida aos infernos", vivida por gente bem real durante décadas e décadas, soube bem voltar a ver o verde, o amarelo e o branco naturais, da esteva ou dos imensos campos de tremoceiro das terras de Mértola. E no fim deste fim de semana atribulado mas fabuloso, voltámos à Amendoeira da Serra para um almoço no Café do Centro Recreativo e Cultural.

Campos de tremoceiro, entre Amendoeira da Serra e Corte Gafo

Um ensopado de borrego melhor ainda que o da véspera (ou um arroz de lampreia para os apreciadores...) selaram a despedida. Mas a verdadeira chave de ouro foi o que vivemos e sentimos em mais dois dias de são e alegre convívio, boa disposição, solidariedade, paciência e notável espírito de grupo.
Obrigado, companheiros!
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terça-feira, 25 de março de 2014

Por trilhos e escarpas do Cabo Espichel

"Saímos do Clube de Futebol da Azoia, descemos em pé posto para as paredes de escalada rochosa, descemos à Praia da Baleeira, Forte da Baralha e Chã de Navegantes até ao Espichel. Passaremos pelas falésias dos dinossáurios, Praia da Foz e regressaremos a Azoia (~22 Km durinhos)."
Rezava assim o convite que, há umas semanas atrás, um dos meus mais movimentados companheiros de "aventuras" lançara no Facebook. Apesar de conhecer ... não podia deixar de aceitar o desafio... J
Litoral da Serra da Azóia, Arrábida, 25.Março.2014, 9:15h
E o desafio foi tão "durinho" ... que os 22 km se reduziram a 18. Com algumas semelhanças com o primeiro de dois dias em Novembro de 2013, começámos por descer às paredes rochosas da Serra da Azóia, ricas em grutas a convidar a uma viagem à pré-história.

Junto ao Casal da Serra, ruínas viradas ao mar continuam a contar a história de uma construção desregrada. Descemos aliás quase até ao mar, ao longo do que resta do muro de vedação daquela antiga propriedade.
Grutas nas paredes rochosas da Serra da Azóia
Directo ao mar...
E vá de trepar...

E vá de descer de novo... J
Vista para nascente, a caminho da Praia da Tranca
Sempre com rumo a ocidente, fomos calcorreando as falésias, sempre à espreita de possíveis caminhos entre diversas varandas de pescadores. A Primavera incipiente já se faz sentir por aquelas paragens...


Garganta da Ribeira da Praia da Tranca
Pouco depois das onze horas estávamos na Praia da Baleeira,onde também havíamos descido em Novembro de 2013. O esforço dispendido e a beleza do local levou a uma primeira maior paragem ... e um primeiro "pic-nic" com o farnel que cada um levou... J.

Descida à Praia
da Baleeira
No regresso ao cimo das falésias, reparámos numa autêntica "cova" no azul profundo do mar. O que seria? Um OVNI que ali mergulhou... J? Efeito de ventos cruzados, provavelmente.

Há uma "cova" no Azul Profundo do Mar...
Terá sido um OVNI?...
E já de novo sobre a Praia da Baleeira
Da Baleeira rumámos ao Forte da Baralha, depois de contornar o vale da Ribeira da Mareta. No Forte da Baralha, a imaginação leva-nos sempre para longe deste tempo e deste mundo...
Forte da Baralha ... um convite à contemplação e à meditação
Pela Chã dos Navegantes e o seu monumental arco natural, continuámos em direcção ao Cabo Espichel. No regresso ao topo das falésias, surgiram-nos núcleos de Euphorbia pedroi, a eufórbia da Arrábida, ou trovisco, endemismo apenas presente nestas arribas e escarpas calcárias.

Chã dos Navegantes, a oeste do Forte da Baralha
Arco natural na Chã dos Navegantes ...

e os "Fernão Capelo" da costa encantada da Arrábida
Rumo ao Cabo Espichel
Subida das arribas a oeste da Chã dos Navegantes
Núcleos de Euphorbia pedroi,
endemismo destas escarpas da Arrábida
Cabo Espichel ... onde a terra se acaba e o mar começa...
Eram já duas e meia quando chegámos ao Cabo Espichel ... onde a terra se acaba e o mar começa ... e onde estava, como ali é habitual, um vendaval que quase nos levava a voar nas nuvens, que aliás por instantes despejaram grosso aguaceiro. E da ponta do Cabo contornámos a Praia dos Lagosteiros, para ir ver as lajes calcárias de ambas as encostas desta praia, onde há milhões de anos se passeavam os dinossáurios que ali deixaram o testemunho da sua passagem.

Nas pegadas de dinossauros das
arribas da Praia dos Lagosteiros
A Praia dos Lagosteiros e a famosa Pedra da Mua, vistas da arriba Norte
A Praia dos Lagosteiros e as pegadas da Pedra da Mua trouxeram-me, claro, a recordação das várias vezes que, por incrível que possa parecer, a subi com grupos de alunos, creio que a última vez em 1999 ... numa "pré-história" não tão antiga como os dinossauros mas quase... J
O projecto era de avançar ainda para norte até à Praia da Foz, para depois regressar ao ponto de partida mais ou menos ao longo do vale da Ribeira das Lajes. Mas a caminhada tinha realmente sido "durinha" e as horas aconselharam ao regresso com uns quilómetros a menos. Passava já das quatro e meia da tarde quando voltámos ao campo de futebol da Azóia, no fim de mais uma bela (e "durinha"...) actividade em terras da Arrábida. Obrigado, mais uma vez, ao "mentor" destas "expedições" à Arrábida... J
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