segunda-feira, 15 de junho de 2020

Da Serra das Mesas ao coração da Malcata

Na minha primeira "fuga" para Vale de Espinho após o confinamento mais apertado, e após a grande Global Nature Activity já relatada ... claro que não fiquei parado. Pequenas deslocações, é um facto,
Com amigos Valespinhenses e Fojeiros, revivendo as velhas
rotas do contrabando na Serra das Mesas, 7.Jun.2020
mas a Serra das Mesas, a nascente do Côa, o "meu" Moinho do Rato ... já tinham saudades minhas. Adoro o Moinho do Rato, onde as águas do Côa são límpidas e as libélulas fazem maravilhosos bailados. Em Janeiro e em Março deste ano, quando ali cheguei ... tive um choque: havia poldras arrancadas pela força das águas do inverno. Voltei lá na quarta feira. Embora a reparação permaneça por concluir, pelo menos as poldras já foram colocadas no seguimento das restantes.
Com a família do "Mano" Messias na
Nascente do Côa, 9.Jun.2020

⏪  Moinho do Rato, 10.Jun.2020  ⏬
Urge agora completar a reparação ... para que possamos continuar "a ver envelhecer estas pedras que não envelhecem" (Paulo Silva).
O bailado das libélulas no
Moinho do Rato, 10.Jun.2020
Dois dias depois ... chegaram dois "hóspedes especiais" ... um deles com 95 anos ... meu pai (Vasco Callixto) ...que veio a conduzir um Opel Corsa quase tão velho como ele ... de Lisboa a Vale de Espinho e aos Fóios! E trouxe com ele - como co-pilota - uma cada vez mais minha Amiga e companheira de "aventuras": a já anteriormente referida Lucy ... in the sky with diamonds 😃.
Com a Lucy, no troço inicial da jornada através do coração da Serra da Malcata, 14.Jun.2020, 7h15
Após uma pequena digressão à nascente do Côa e zona raiana da Serra das Mesas, no domingo tinha por objectivo dar à Lucy uma visão global da "minha" Malcata. O Sol nascia às 5h58 ... saímos com o Sol, pela velha ponte de Vale de Espinho, rumo à Lomba. Em Março de 2016, a Lucy participou nos "Segredos e Mistérios da Marvana", que organizei para um grupo de mais de 30 amigos e amigas, companheiros e companheiras de "aventuras", de Vale de Espinho a Pesqueiro e a Valverde ... pela serra de todos os medos. Agora entendi levá-la à Quinta do Major ... o coração das "terras do lince".
Ao longo da linha de fronteira, com a Marvana de todos os medos como pano de fundo
No paraíso escondido do Bazágueda,
pouco antes da Quinta do Major
Pouco depois das nove da manhã, com quase 15 km nos pés em pouco mais de três horas, estávamos à beira do Bazágueda, um dos três principais rios que sulcam a Malcata. Como em tantas outras vezes que já ali estive ... o Universo chama-me para um dia ali ir pernoitar ... a ouvir o correr das águas ... o cantar da passarada ... o restolhar de algum lagarto ... ou de um javali. A Lucy gostou da ideia ... mas por enquanto estivemos ali apenas uma meia hora ... numa envolvência mágica e mística. Mas ... as botas dela não são impermeáveis. Ou se descalçava ... ou precisava "teletransportada". E portanto ... mochilas e bastões passados de margem ... máquina pronta a filmar o "fenómeno" ... e aí vou eu buscar o "carrego" 😊. Carrego, sim ... ou não estivéssemos nós em terras de contrabando... 😊
Quando a Lucy é "teletransportada" para a margem direita do Bazágueda... 😊
Atravessado o "oceano", pouco depois estávamos na Quinta do Major. Tantas vezes já ali estive ...
tantas vezes continuo a sentir que aquele local tem alma ... tem o "espírito do tempo". Não se sabe ao certo as origens da Quinta do Major ... sabe-se que foram terras com gente, gente de trabalho; a velha eira ... que quase já só se vê sabendo-se que lá está ... as pedras e a inscrição enigmática no portal principal ... tudo nos remete para uma viagem no tempo. Ninguém ali chega a caminho de nada, a não ser do próprio local ... ou então quem, como nós ... gosta de "correr à guisa do vento"...
Corri à guisa do vento
Ao certo nem sei as léguas
Se a rota é mesmo a contento
As pernas não pedem tréguas
(Manuel Leal Freire, poeta arraiano)                
Quantas histórias guardarão estas pedras?... Mas a Casa Grande da Quinta do Major hoje ... foi da "Majora" 😉
A Casa Abrigo da Quinta do Major, bem mais recente ... continua ao abandono... 😔
Abastecidos de água e como as pernas não pediam tréguas ... eram 10h00 quando a jornada prosseguiu a bom ritmo. Não ... não pus a Lucy a subir a encosta do Cabeço do Pão e Vinho, que desci em Março passado, pelo meio do mato, tipo javali, poucos dias antes do confinamento. Subimos o estradão rumo aos Quartos e à Malhada Medronheira ... quase 300 metros de desnível desde o vale do Bazágueda e a Quinta do Major. Depois tínhamos duas hipóteses: ou voltávamos a Vale de Espinho pelos Carvalhos Basteiros e Espigal, ou rumávamos ao Meimão pela Serra dos Concelhos. Estávamos nós a analisar os prós e contras de uma e outra hipótese quando surgiram dois vigilantes da Natureza no jeep da RNSM. Dois dedos de conversa ... as minhas deambulações pela Malcata eram do conhecimento de um deles, dos Fóios! E nós ... decidimos rumar ao Meimão. Tínhamos a possibilidade de uma "recolha especial" e a Lucy ficaria com uma visão mais diversificada destas terras selvagens.
A caminho da Serra dos Concelhos. Ao fundo, o cabeço de Monsanto espreita vigilante.
Na Serra dos Concelhos voltámos aos mil metros de altitude. Muitos pinheiros tinham sido arrancados pela fúria dos ventos. E dali ... íamos "mergulhar" para o vale da Ribeira da Meimoa. Ainda não era meio dia; estávamos a andar francamente bem! Parabéns, Lucy, pela tua excelente forma!
Meimão à vista, no início da descida da Serra dos Concelhos para o vale da Ribeira da Meimoa
Descida radical, rumo
às águas da ribeira
Numa floresta de "fieitos", já no vale da Ribeira da Meimoa
Junto à ribeira, a Primavera tinha feito crescer muito mais vegetação do que aquela que existia em Março passado. Alguns fetos (ou fieitos) pareciam árvores; felizmente poucas silvas, o que nos permitiu avançar sem muita esfoliação. Vegetação tão densa ... que assistimos à passagem de uma família de javalis com crias! A mãe javali sabia que eu e a Lucy somos gente de bem...!
E assim, foi junto à Ribeira da Meimoa que fizemos a paragem para almoço. Estávamos muito bem de tempo ... pelo que nos demos ao luxo de almoçar com os pés de molho e descansar ... numa ilha privativa ... e com "Quinta dos Termos"! Não é para todos!... 😋

Almoço, Spa e descanso em ilha privativa na Ribeira da Meimoa. Os paraísos existem... 😊
Estávamos a 5,5 km do Meimão. Passava já das duas quando deixámos a nossa ilha privativa ... já com a "recolha" combinada para entre as três e as três e meia. E quem nos iria recolher em Meimão? Um "motorista" com 95 anos, pois claro ... meu pai (Vasco Callixto), trazendo com ele desta vez a pequena arraiana que, há quase meio século, me transformou em filho adoptivo das terras da Raia.
Barragem da Meimoa (por se situar na Ribeira da Meimoa, embora em terras do Meimão)
Meimão, 15h20 - Os dois "aventureiros" terminaram a jornada, com 32 km percorridos e mais de 1100m de altimetria
Panorâmica sobre o Meimão e Barragem da Ribeira da Meimoa, ao jeito de despedida, 15.Jun.2020
A "equipa" destes últimos dias raianos ... em que o
elemento mais velho tem uns invejáveis 95 anos!

A própria estadia em Vale de Espinho também estava a terminar. 2ª feira era o regresso de todos à base. Na viagem para a urbe, voltámos a passar pelo Meimão ... como que a despedir-nos destes dias de desconfinamento na Raia. Nos Concelhos do Sabugal, Penamacor e Idanha-a-Nova não há felizmente casos de Covid-19.
E agora ... aproximam-se novas "aventuras"...


(Clique nos mapas para ver o percurso ou
AQUI para o álbum completo de fotos)

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