terça-feira, 3 de março de 2020

Fontes Lares ... as minhas velhas botas ... ou a Vida a Sonhar...

O que me atrai às Fontes Lares … ao meu "santuário" secreto nas terras de Vale de Espinho ... ao meu barroco "sagrado" ... às ruínas da velha casa? Já perdi a conta ao número de vezes que ali fui...
Fontes Lares, 20 de Abril de 1973
Como já aqui contei algumas vezes, as Fontes Lares eram um sítio "histórico", pertencente à família materna da pequena arraiana que um dia veio parar à minha vida. Um lugar cheio de memórias, sofridas, muitas, mas de memórias que o barroco "sagrado" parece sempre querer contar, rejuvenescidas a cada dia pelas águas límpidas e frescas da pequena nascente que dava e dá vida à pequena e velha presa e aos campos que a rodeiam. Situadas a 4 km da aldeia, para norte, conheci as Fontes Lares logo quando da minha primeira vinda a Vale de Espinho, no longínquo ano de 1973! Ainda conheci a velha casa de pé ... a velha casa que viu as núpcias dos pais da minha estrela, depois de um casamento nocturno, num dia 28 de Abril de 1952. Sim ... um casamento nocturno ... mas isso são velhas lendas envoltas na bruma do tempo ... contadas à lareira da velha "avó de baixo" (a ti Maria "Clementa") ou da "avó de cima" (a ti Gusta B'gueira), como a minha Lala lhes chamava no seu linguarejar de menina raiana.
Fontes Lares, 3 de Março de 2020 ... o eterno regresso...
Aquele lugar e as suas memórias prenderam-me para sempre. Gosto de receber a energia do barroco "sagrado", de ver correr a água da nascente, de contemplar o freixo e o carvalho seculares ...
O que me atrai aqui ... ao meu "santuário" secreto ...
... ao meu barroco "sagrado"... onde...
           "Eles não sabem que o sonho
             É uma constante da vida
             Tão concreta e definida
             Como outra coisa qualquer...
             Como esta pedra cinzenta
             Em que me sento e descanso...
mesmo que assistindo, ano após ano, ao desmoronar da velha casa, transformada em ruína ... a ruína que escolhi para última jazida das "minhas botas, velhas, cardadas, palmilhando léguas sem fim". Em Março de 2014, fiz ali o "funeral" a um meu primeiro par de botas, históricas, que muito já tinham palmilhado ... por fragas e pragas. Mais tarde, um segundo par ali ficou também ... e hoje, numa tarde cinzenta e fria ... mais um episódio para esta história.
 
"Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos" ...
 
Das minhas "botas velhas, cardadas" ... um dos pares tem "vivido" sobre a ruína da
parede da velha casa ,desprotegidas, sujeitas às intempéries. Uma ... estava tombada ...
O outro par, o mais antigo, tem "vivido" dentro do que foi a casa, na cantareira de pedra ... e a Natureza vai-as rodeando...
Mas ... há outra cantareira, no que resta da "sala" ...
E como havia outra cantareira no que foi a sala das Fontes Lares ... resolvi trazer as mais desprotegidas para "dentro" de casa, ocupando essa segunda cantareira. Junto com as botas ... deixei também nas Fontes Lares um par de bastões Berg ... históricos ... que entre outras "aventuras" me ajudaram a subir o Toubkal. E assim os dois pares de botas, que "palmilharam léguas sem fim", ficaram próximos um do outro, acompanhados pelos bastões; podem talvez conversar ... ou Sonhar.
E foi neste cenário da "sala" da velha casa das Fontes Lares que deixei botas, bastões ... e memórias...
... onde a Natureza é cada
vez mais Rainha e Senhora!
No regresso, vim pela velhinha Quelhe das Pedras ... como num Sonho ... porque...
Quelhe das Pedras

"Eles não sabem, nem sonham
Que o sonho comanda a vida"...

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