terça-feira, 14 de agosto de 2018

O paraíso a Ocidente (2)

... ou nos encantos das ilhas do Corvo e das Flores
Costa leste das Flores, 12.08.2018
Depois de dois dias de caminhadas no paraíso das Flores, domingo dia 12 estava destinado à descoberta do Corvo, a mais pequena ilha do arquipélago, com cerca de 6 km de comprimento e 4 km de largura. Dista da sua vizinha ilha das Flores sensivelmente 24 km, a cerca de uma hora de lancha rápida ... precisamente a forma como as mais de 4 dezenas de Caminheiros se lançaram ao mar. Duas lanchas, três viagens para cada lado ... num dos dias mais soalheiros e espectaculares do nosso périplo açoriano. Mas, antes de avançarmos rumo ao Corvo, as lanchas ainda nos levaram a conhecer algumas maravilhas da costa leste das Flores.


Maravilhas naturais na costa leste da ilha
das Flores
E ... rumo ao Corvo
Entre as Flores e o Corvo, é frequente verem-se golfinhos e cachalotes. Tanto de manhã como à tarde, fomos brindados por uma miríade de golfinhos que autenticamente se exibia para nós; no regresso, houve até quem visse a barbatana de um cachalote. Definitivamente, este dia tornar-se-ia inesquecível.


Depois do espectáculo dos golfinhos, as lanchas apontaram ao Corvo. E no Corvo ... íamos descobrir a fantástica dimensão do Caldeirão, majestosa cratera do vulcão que deu origem à ilha.

12.Agosto.2018, 11h00 - E assim chegávamos a Vila do Corvo
Vila do Corvo, 12.08, 11h30
Duas carrinhas fizeram o transfer do pequeno porto da vila para o Miradouro ... a partir do qual cada um deu largas à imaginação durante cerca de 4 horas, para viver como entendesse aquela fabulosa envolvência. Pela minha parte ... optei por circundar o bordo verdejante da caldeira, como havia feito na do Faial. Os Faialenses vão-me desculpar ... mas se aquela já me havia deixado maravilhado ... o Caldeirão do Corvo como que me transportou para um outro mundo, um mundo de magia, onde a imaginação vê formas e levita, solta, fértil ... livre!

O fabuloso Caldeirão da Ilha do Corvo, visto do Miradouro que é, sem dúvida ... um portal para uma outra dimensão!
O Miradouro do Monte Gordo situa-se a 540 metros de altitude, sendo o acesso mais fácil ao interior do Caldeirão; a maior parte do grupo desceu a partir daquele ponto. Eu ... subi para norte, rumo ao Espigão (600m alt.), com duas ideias em mente para gerir no tempo disponível: ou circundar toda a caldeira, regressando ao ponto de origem, ou descer do Morro dos Homens (720m alt., o ponto mais alto da ilha) para a Vila do Corvo, por trilho que as cartas me indicavam.

As lagoas do Caldeirão, vistas do Espigão (600m alt.)
Bordejar as cristas abruptas do Caldeirão do Corvo, sozinho, foi qualquer coisa de fantástico. Aos meus pés, à esquerda, tinha as lagoas, bem lá no fundo daquela vasta depressão; à direita tinha o mar imenso, de um azul profundo, do qual por vezes subiam rapidamente algumas nuvens que mais pareciam farrapos de algodão, emprestando ao ambiente uma atracção mágica. Lá do alto, via também alguns dos meus companheiros a avançarem no fundo da caldeira, até se deterem num pequenino morro junto à Lagoa do Cachimbo, local que escolheram para tirar o almoço das mochilas.

No topo norte da ilha (640m alt.), com vista para as cristas pontiagudas da costa noroeste ...
... e com vista para o mar azul e imenso, do qual sobem as nuvens ...
... que se espraiam sobre aquelas mesmas cristas, enrolando-se no interior do Caldeirão
Por trás daquelas cristas abruptas sobre o mar fica a Ponta do Marco, onde se situaria a estátua do Cavaleiro do Corvo, uma estátua equestre, em pedra, representando uma figura humana sobre um cavalo em osso, com um braço apontando a ocidente, que teria sido encontrada quando da descoberta da ilha no século XV.
E ali, no extremo norte daquela fantástica caldeira, sozinho ... a imaginação facilmente se elevou acima do chão que pisava. Voando no meio da neblina que vinha do mar, como que vi o "cavaleiro do Corvo" a apontar ao Sol poente ... como que me senti transportado para uma outra dimensão, um outro Tempo ... talvez o Tempo em que, muitos séculos antes dos portugueses, os cartagineses ou os fenícios ali desembarcaram ... ou o Tempo em que ali viviam os habitantes do continente perdido da Atlântida...
The continent of Atlantis was an island        
Which lay before the great flood        
In the area we now call the Atlantic Ocean...     
(Donovan - Atlantis)                     
Mas o Tempo presente impunha-se à liberdade da imaginação. E a gestão do tempo aconselhava a descer ao fundo da caldeira pela encosta mais baixa, para depois bordejar a lagoa e subir ao ponto onde iniciara. Não me arrependi da opção. Alguns dos meus companheiros observavam a minha descida ... bem como algumas vacas corvinas que pastavam nos prados férteis do fundo.

Ao longo da descida da encosta norte do Caldeirão,
para os prados junto às lagoas do fundo
A vida perpetua-se, no fundo do Caldeirão do Corvo
No fundo do Caldeirão do Corvo ... a imaginação voou-me de novo para outras dimensões. Ali, completamente alone naquela imensidão, próximo do abrigo de pedra da foto acima, encontrei ossadas de animais. Gado que não regressou aos seus currais ... gado que se perdeu num tempo sem Tempo.
Na minha imaginação logo se formaram imagens como as de um filme de culto dos anos 60 que será fácil de identificar. E ainda me passou pela cabeça ... protagonizar e filmar uma cena idêntica...


Nenhuma nave espacial apareceu contudo nos céus do Caldeirão. As ossadas lá ficaram ... e eu prossegui o meu caminho, contornando a Lagoa grande, subindo e descendo pequenas elevações. Agora já no trilho "oficial" do Caldeirão do Corvo - PRC2COR - antes das duas e meia tinha pela frente a subida ao Monte Gordo, onde havia começado ... e reunia-me de novo ao resto do grupo.

Contornando as lagoas e atravessando o fundo do Caldeirão do Corvo, de regresso ao ponto inicial
As mesmas carrinhas que nos haviam levado de manhã transportaram-nos de novo a Vila do Corvo. O Caldeirão continuaria a guardar os seus segredos, enquanto o dia continuava magnífico, reservando-nos uma tranquila viagem marítima de regresso às Flores, assistindo a novo bailado de alegres dezenas de golfinhos a exibirem-se para nós a meio do trajecto.

Vila do Corvo, 12.08.2018, 15h35
PR2FLO - Lajedo - Fajã Grande
O dia do Corvo foi sem dúvida um dos dias mais memoráveis desta digressão açoriana. No regresso à nossa base na Fajã Grande, passámos ainda sobre a pequena povoação de Lajedo, na qual começaríamos, no dia seguinte, a terceira e última caminhada nas Flores.

Sobre a aldeia de Lajedo e as suas curiosas formações rochosas, 12.08.2018, 20h10
Mas à boa maneira açoriana, o último dia de caminhadas acordou completamente diferente do anterior: a chuva acompanhou alguns troços do percurso, não impedindo de qualquer modo de admirarmos a beleza da paisagem, com cores e "mistérios" diferentes. Tal como o PR1FLO, o PR2 coincide também com a GR das Flores, que portanto apenas não fizemos entre Santa Cruz e Ponta Delgada.
Lajedo, 13.08, 11h25 - Início da última caminhada
Atravessando várias linhas de água - que a chuva engrossara - pelas 12h30 estávamos a subir para a freguesia do Mosteiro, uma das duas aldeias atravessadas neste percurso. A segunda seria a Fajãzinha, em cujo pequeno jardim almoçámos. A descida para a Fajãzinha não foi fácil ... com as pedras basálticas molhadas e escorregadias, em desnível acentuado ... mas com belas panorâmicas sobre o anfiteatro das cascatas.

Entre o Lajedo e
Mosteiro ... em dia de chuva...
Igreja da Santíssima Trindade, aldeia do Mosteiro
Um bonsai natural?...
Panorâmica sobre a foz da Ribeira Grande, com a Fajã Grande ao fundo
Sobre a Fajãzinha, com o cenário magnífico das cascatas em pano de fundo
Igreja de Nª Srª dos Remédios, Fajãzinha
Da Fajãzinha à Fajã Grande, voltámos a subir à estrada, junto à qual um moinho de água recuperado mostra uma imagem de antigos labores. Depois ... depois seria um dos quadros mais paradisíacos que levámos da ilha das Flores e de todo o arquipélago: o fabuloso Poço e Cascata da Ribeira do Ferreiro. O Sol teria emprestado outras cores àquele lugar mágico, mas o dia cinzento e o nevoeiro sobre as origens altaneiras das águas que ali se precipitam também lhe davam outra beleza ... outra magia.

No cenário fabuloso do Poço e Cascatas da Ribeira do Ferreiro
No Paraíso ... os pais, no solo, levam a
comida aos filhos, nos ramos das árvores!
E quase já na Fajã Grande, em final de caminhada ... a última deste périplo açoriano 2018
Ver o álbum completo das Flores e Corvo

O regresso à Terceira ... e a Lisboa
No final do dia 13 de Agosto ... estávamos a acabar as nossas "aventuras" nos Açores. Ainda na Fajã Grande, fomos brindados com um espectacular pôr do Sol, como que a dizer adeus às belezas naturais que tínhamos retido. No dia seguinte voaríamos para a Terceira, onde ainda fomos surpreendidos com um animado almoço e uma pequena visita a Praia da Vitória, a segunda cidade da ilha.

Pôr do Sol na Fajã Grande, Flores, 13.08.2018, 21h00
Praia da Vitória, Terceira, 14.08.2018, 18h00
Da Terceira para Lisboa foram as previstas pouco mais de duas horas de voo ... com uma imprevista seca de quase três horas no aeroporto das Lajes. A SATA "largou-nos" em Lisboa ... às duas da manhã do dia 15; cerca de dez horas depois ... estávamos a almoçar em Vale de Espinho... 😉
(Escrito em Vale de Espinho e Bobadela, em 25 e 28 de Agosto)

1 comentário:

Raul Fernando Gomes Branco disse...

Maravilhosas paisagens e reportagem!Adorei!