Em Maio do ano passado, dois filhos "biológicos" de
Vale de Espinho dinamizaram uma "romagem"
às terras do Vale da Maria e da Fonte Moira, para a qual me pediram que delineasse o percurso e guiasse o grupo, de naturais e amigos da aldeia. Como então escrevi, foi a nostalgia de quem viveu os tempos em que estas terras tinham vida, gente, trabalho, suor.
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17.05.2014, 9:00h - Partida para a II Caminhada de Primavera
em Vale de Espinho |
Este ano, na mesma altura de um mês de Maio pintado, como é "de lei", pelo amarelo das maias que cobrem as encostas, voltaram a ter a mesma iniciativa ... e voltaram a "convocar-me". No ano passado levei-os para sul, cruzando o
Côa; este ano tracei um percurso a norte ... incluindo as mágicas
Fontes Lares.
Às nove da manhã de ontem, mais de meia centena de naturais e amigos de
Vale de Espinho, alguns deles vindos da capital e de outras zonas, estavam assim a partir do
Largo das Eiras, pela rua do
Cabeludo. Cruzado o
Ribeiro da Presa, rumámos aos "
Nheres" (Linhares) e às
Fontes Lares. A velhinha
Quelhe das Pedras traria mais memórias, mas seria um trajecto complicado para um grupo tão grande e diversificado ... até porque desta vez também participou na caminhada um burro, com a sua albarda ... para se fosse preciso trazer alguém...
J
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O jerico também vai à caminhada...J |
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Aqui ficou para a eternidade uma "bordigueira"... |
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E lá vamos, rumo ao Ribeiro da Presa e aos "Nheres" |
Uma hora e vinte minutos depois estávamos nas "minhas"
Fontes Lares. Para além das raízes familiares da minha "pequena arraiana", claro que outro "motivo de atracção" com que aquele mágico local passou a contar desde Março ... é o "monumento" às minhas velhas
botas Meindl, erigidas no alto das ruínas da velha casa...
J
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Fontes Lares ... onde um dia se fez o "funeral" de umas botas...J |
Das Fontes Lares descemos às
Guisias. E se as Fontes Lares são "mágicas" pelas ligações familiares da minha "pequena arraiana", as Guisias são-no para um dos organizadores destas caminhadas nostálgicas. Por lá comemos a merenda que levámos, não muito longe d'"
o meu estimado e adorado mostageiro … para mim é a árvore mais emblemática das Guisias" (
José Manuel Corceiro, 24.03.2012).
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A caminho das Guisias |
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"Lá continua o mostageiro saudável e em pé, à minha
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Após a merenda, e à semelhança do ano passado, fizeram-se ouvir as vozes de diversos convivas, entoando animadas cantigas e havendo lugar, também, a uma pequena introspecção religiosa, já que a caminhada contou também com a presença do pároco auxiliar de Vale de Espinho.
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Leituras e cantorias ... convívio! |
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E seguimos pela Coba Grande |
Seguiu-se a parte alta da
Cova Grande, com belas panorâmicas para a
Coba, o outeiro das
Cabeças, a
Serra da Malcata para lá do vale onde se situa Vale de Espinho. Na ladeira, restam vestígios da antiga pedreira de onde foi retirada a pedra para muitas das casas da aldeia, mas também um belo chão de pão (centeio), a lembrar os campos a perder de vista de antigamente.
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Coba Grande e a Malcata ao fundo. Vestígios das pedreiras de Vale de Espinho |
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Aqui há vida e cor! |
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Já há "sortes" de "pão", ondulando ao vento... |
Chegados ao cruzeiro da
Có Pequena, parte do grupo já sentia as pernas cansadas e optou por descer o velho caminho do
Areeiro, directamente de regresso às suas casas. O burro, cujos serviços não foram necessários, recolheu também a casa, até porque lhe seria difícil a parte do percurso que faltava, pelos
Urejais e
Barroco do Sino. Descemos o caminho velho do Soito até meio da ladeira, inflectindo depois para poente e atravessando a ribeira debaixo mesmo do maciço granítico onde se situa aquele e outros originais barrocos.
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Travessia da Ribeira dos Urejais |
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Barroco do Sino |
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Memórias perdidas no tempo... |
No regresso, cometi o erro de confiar na "sabedoria" de um Valespinhense...
J. "
O caminho é ali em cima", dizia; eu achava que não era ... mas ele é que é filho "biológico" destas terras. Passado pouco tempo estávamos no meio do mato, tendo que o "furar" para apanharmos o caminho correcto que, como eu lhe havia dito ... estava ali em baixo...
J. Uma coisa é conhecer os montes como eles se nos apresentam hoje ... outra é como os conheciam há 15, 20, 30 e mais anos...
Pelo caminho correcto, voltámos a atravessar a Ribeira dos Urejais, seguindo-se a travessia do frondoso carvalhal da
Fieiteira. Subida bem empinada ... mas pouco passava das três da tarde quando o grupo entrou em
Vale de Espinho, com mais esta bela jornada vivida em convívio e alegria.
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Lameiros junto à Ribeira dos Urejais |
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E pronto ... só falta subir o carvalhal da Fieiteira |
No início, de manhã, antes da partida, todo o grupo guardou um minuto de silêncio, à memória de um dos filhos da terra que, há 5 meses atrás, partiu em terras de França para uma viagem sem regresso. As suas cinzas foram depositadas na campa dos pais, cumprindo assim a sua vontade. Por ironia do destino, era ele também um adepto das caminhadas, que praticou enquanto pode, na sua França adoptiva. O Vital Malhadinhas, figura carismática em
Vale de Espinho ... era irmão do meu querido e saudoso sogro,
levado pela mesma praga já lá vão 11 longos anos...
Cumprindo igualmente a sua vontade, depois das exéquias os filhos organizaram um lanche na casa que era a dele, aberto a todos quantos quiseram comparecer. E que contente ele esteve, certamente, ao assistir do além àquele convívio que se gerou na sua casa ... e ao qual se seguiu um outro, na
Associação dos Amigos de Vale de Espinho, para todos os participantes nesta 2ª Caminhada de Primavera Valespinhense.
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No convívio dos participantes na caminhada, uma oferta
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de uma Valespinhense para todos os Valespinhenses
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2 comentários:
Prabens a todos dinamisadores e particípantes de mais uma caminhada em Vale de Espinho, também sou filha dessa linda terra e é com muita pena minha que ainda não consegui participar nestas caminhadas das quas me têm dito maravilhas. Obrigada por tão gentilmente me proporcionarem todas estas belas fotos acomanhada por uma descrição que é sem dúvida alguma muito importante. mais uma vez Obrigada
Isabel Moreira ( filha dos já falecisos Palmira Ché e Zé Pratas)
É evidente que o êxito da caminhada, de Vale de Espinho, se deve ao empenho e saber do estimado amigo José Carlos Callixto… O José Carlos, com mestria e minúcia, delineou e selecionou um magnífico percurso, por onde a sua diligente perícia nos guiou…
Obrigado, José Carlos, por teres incluído no trajecto, as minhas amadas Guizias… Nas Guizias, tive o prazer de ouvir, com nitidez, os ecos da voz que por ali deixei, no tempo em era criança… Ecos de vozes do passado, onde se fundiram a minha voz com a voz dos meus antepassados …
Um abraço
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