domingo, 16 de dezembro de 2012

Gigantes, serras e frades: regresso à Arrábida

Depois de muitos anos afastado da minha velha Serra da Arrábida, as voltas e fragas da vida fizeram que agora, em menos de um mês, fizesse duas caminhadas espectaculares naquela que era, nos "anos loucos" de há 40 anos, uma das zonas que mais frequentava. Levado pela minha "família" dos Caminheiros Gaspar Correia, voltei ontem à Arrábida para repetir, em sentido contrário, parte do percurso da GRD entre Castelos de há quatro semanas atrás.
De Pedreiras para nascente, rumo às Terras do Risco
Partindo de Pedreiras para nascente, a primeira atracção foram as marmitas de gigante da Ribeira do Risco, depressões mais ou menos arredondadas existentes no leito rochoso de alguns rios e ribeiros. Trata-se de um fenómeno de erosão hídrica causado pelo fluxo da ribeira ao longo de um afloramento calcário que ganhou, assim, formas ímpares.
Mas ... formas ímpares e algumas escorregadelas também foram frequentes, enquanto avançávamos lenta e prudentemente ao longo da "selva" da ribeira do Risco, engrossada pelas águas das intensas chuvas dos dias anteriores, principalmente da véspera. E assim se levam duas horas para progredir ... 1 quilómetro...J


Marmitas de Gigante da Ribeira
do Risco, 15.12.2012
Ao longo da Ribeira do Risco
Terras do Risco
Atravessada a estrada 379-1, o destino era agora o Convento da Arrábida, com fabulosas panorâmicas de serra e de mar.

Convento da Arrábida
No Convento da Arrábida, revivemos a vida e as memórias de Frei Agostinho da Cruz, pela descrição do autêntico "guardião do templo" que é Quirino Lopes de Almeida, o zeloso cicerone que orgulhosamente descreve a história do convento ... ou não tivesse sido ele já actor de Manoel de Oliveira.
Quirino Lopes de Almeida, o zeloso
guardião do Convento da Arrábida
Solidão, naquele lugar isolado, diz nunca ter sentido. No convento começou uma vida nova: a sua contratação para tão particular trabalho levou-o - talvez influenciado pelo lugar - a querer saber mais sobre o lado oculto e espiritual e a pôr de parte outros géneros de leitura. Diz que aquele local é "altamente energético". Senta-se num banco em frente ao mar azul que banha as praias da Arrábida, o mesmo onde se sentava Sebastião da Gama escrevendo poesia.
Perdido no imenso espaço do Convento (onde todas as 19 horas acerta o relógio para que o tempo ali entre), Quirino tem ainda outras funções: do outro lado do oceano, a Fundação Carl Sagan conta também com os seus préstimos.
Esta instituição tem um programa de descodificação de milhões de sons que chegam à Terra, através de um rádio telescópio no Peru. Através da internet, o guardião da Arrábida soube da sua existência e ajuda na descodificação dessa informação que vem de todo o Universo. “Se há vida no nosso sistema solar, que é considerado pequeno em relação a outros, em outros maiores ou com as mesmas condições não poderá haver também?”                  Fonte: "Correio da Manhã", 21.09.2003


"Alta Serra deserta, de onde vejo
as águas do Oceano de uma banda,
da outra, já salgadas, as do Tejo"

(Frei Agostinho da Cruz)

1 comentário:

joaquim Gomes disse...

Parabéns grande amigo....mais um belo trabalho........gostei muito de ler e ver.......parabéns a todos .......