O rio
Castro Laboreiro, ou simplesmente
Laboreiro, nasce junto à fronteira galega, no planalto de Castro Laboreiro. No seu percurso inicial, também é designado por
Corga do Gafo. Ao inflectir para sul, marca os limites entre as serras da Peneda e do Laboreiro; no seu troço final, de cerca de 14 km, marca a fronteira entre Portugal e Espanha, desaguando no
rio Lima junto ao
Lindoso.
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Ponte sobre o rio Laboreiro, Castro Laboreiro, 1.08.2011
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Das diversas vezes que estive em
Castro Laboreiro, a sua ponte medieval e as referências ao belo vale que o rio forma para sul, apertado entre as serras da
Peneda, do
Laboreiro e do
Quinxo, esta última já em terras galegas, chamavam-me para ir explorar aquelas paisagens selvagens, as fragas de onde o rio se despenha em rápidos, as aldeias perdidas na imensidão do tempo, cheias de tradições e de estórias. Ora, um convite para um fim de semana em terras do
Parque Nacional da Peneda-Gerês ... constituiu o mote para, uns dias mais cedo, partir à descoberta do
rio Laboreiro.
E a descoberta revelou-me um paraíso de paisagens fabulosas, ultrapassando as melhores expectativas que se me tinham criado.
1) Da Mistura das Águas a Ribeiro de Baixo
E assim, ao final da manhã de 4ª feira, com a minha companheira de "aventuras" felizmente recuperada de um incidente na
última "aventura", estávamos junto à barragem do
Lindoso e da foz do
rio Laboreiro ... que iria ser "nosso" por dois dias. No alto da fraga, para lá do
Lima, do lado português viam-se as casas da aldeia fronteiriça de
Paradela. Mas nós íamos para nascente, para terras galegas, para começar o nosso périplo próximo da aldeia de
Olelas. Cruzando o Lima já na Galiza, chegámos a Olelas por
Lantemil e
A Illa, com magníficas vistas sobre a barragem do Lindoso e o curso do Lima.
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Próximo de Quintela, Galiza, 9.Abril.2014: o rio Lima prepara-se para receber o Laboreiro |
O
Laboreiro em galego também se chama
Rio Barcia. Um caminho alcatroado desce de
Olelas até quase à beira rio, frente à aldeia portuguesa de
Várzea e à
Mistura das Águas do
Rio da Peneda com o
Laboreiro. Foi aí que começámos a primeira etapa desta "descoberta". Um trilho marcado há menos de um ano, no âmbito do Projecto "
Rutas con carisma", levou-nos ao longo do fabuloso vale deste rio selvagem, encaixado entre as
Serras da Peneda e do Laboreiro, do lado português, e o
Monte Quinxo, do lado galego; um autêntico paraíso que me faltava descobrir!
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Rio Laboreiro, com a aldeia de Várzea do lado português |
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A caminho do início da "aventura"... |
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E vamos subindo o vale... |
Menos de 2 km andados (mas já almoçados, que a jornada começara tarde...), um espectacular miradouro, construído em madeira, oferece-nos uma bela perspectiva do vale, mas também e fundamentalmente a perspectiva das "
pozas", as piscinas naturais formadas pelas múltiplas cascatas onde o Laboreiro se precipita em sucessivos degraus graníticos.
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No Miradouro das Cascatas do Laboreiro |
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Cascatas do
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Laboreiro
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Depois do miradouro vamos subindo gradualmente o vale, vigiados sempre pelos esporões rochosos do
Monte Quinxo, à nossa direita, e pelo imponente maciço da
Peneda à esquerda. No alto, situam-se a
Fraga das Pastorinhas e
Pena Calva ... à espera também que um dia as descubra...
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E vamo-nos aproximando de Ribeiro de Baixo ... |
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... vigiados pelos esporões do Monte Quinxo |
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Tudo é cor, neste recanto paradisíaco onde corre o Laboreiro |
Ribeiro de Baixo é uma aldeia onde verdadeiramente não há fronteiras. Os terrenos do lado galego, mais planos, são cultivados por portugueses. O rio separa duas margens que são iguais, ambas parte de uma mesma terra, de um mesmo recanto deste paraíso "perdido" nos confins do espaço e do tempo.
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Ribeiro de Baixo ... a aldeia "perdida" |
Nesta primeira "etapa" de descoberta do
Laboreiro, Ribeiro de Baixo marcava o ponto de inflexão. O regresso fez-se a meia encosta, por estreito e sinuoso carreiro que serpenteia a uma cota mais alta, proporcionando-nos uma panorâmica mais aberta do vale e do imponente maciço da Peneda/Laboreiro. E, numa tarde excessivamente quente para a época ... nas alturas da
Peneda ainda se via neve!
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O vale do Laboreiro a meia encosta |
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No reino da magia, |
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das fadas e dos gnomos... |
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Na Peneda ainda há |
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vestígios de neve |
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Lá no alto situa-se a Fraga das Pastorinhas |
De um e outro lado do rio, em terra galega como em terra portuguesa, de todo o lado escorre água, saciando-nos facilmente a sede e lavando-nos a alma. E, à medida que descemos, a meia encosta, começa-se a abrir à nossa direita o vale do
Rio da Peneda, correndo para a
Mistura das Águas de onde havíamos partido, vendo-se a aldeia de
Tibo ao fundo.
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Do imponente maciço da Peneda vem o Rio que lhe foi buscar o nome, com a aldeia de Tibo ao fundo |
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Mistura das Águas (Rios da Peneda e Laboreiro)
E ... estamos no fim da "primeira etapa"...
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A descida para o ponto inicial foi mais ou menos a corta mato, frente mesmo à desembocadura do
Rio da Peneda. Passavam vinte minutos das seis da tarde (hora galega) quando regressámos ao carro, que em meia hora nos levou à já nossa velha conhecida
Lobios e ao "nosso" velho
Hotel Lusitano ... para no dia seguinte atacarmos a segunda etapa...
2) De Ribeiro de Baixo a Ameijoeira ... por Ribeiro de Cima e Pousios
A segunda etapa, a norte da primeira, percorreria o vale entre as aldeias de
Ribeiro de Baixo e
Ameijoeira. Mas a necessidade de a fazer circular levava a deixar o carro nesta última, aproveitando para conhecer mais algumas aldeias "perdidas" na Serra e nos vales do
Laboreiro. E, mais uma vez, o que passou por nós neste dia foi um desbobinar de paisagens fabulosas. Cores e sons de uma Primavera que finalmente desponta, demasiado quente até, neste paraíso que em boa hora viemos conhecer.
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Começamos a caminhada rumo à aldeia de Mareco ... |
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... deixando para trás a aldeia de Ameijoeira. Ao fundo, a Pena de Anamão, no planalto de Castro Laboreiro |
Às nove da manhã (portuguesas) estávamos a cruzar a fronteira de
Ameijoeira e a deixar o nosso "bólide" junto à ponte que une esta aldeia à de
Mareco, precisamente sobre o
Rio Laboreiro. Mas ao rio voltaríamos mais tarde; agora, íamos subir a velha calçada romana da
Costa de Mareco, que nos levava já perto dos 900 metros de altitude e a uma belíssima panorâmica que ia do planalto de
Castro Laboreiro às terras galegas e à
Serra do Gerês, a sul.
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Costa de Mareco, com uma panorâmica de 180º |
Como previsto, a parte final da subida foi contudo praticamente a corta mato, por entre a urze e a carqueja ... e algum tojo. Chegados ao alto, contudo, o panorama abriu-se para poente, sobre as três aldeias do vale da
Ribeira de Ossos, afluente do
Laboreiro:
Rio de Ossos,
Ribeiro de Cima e
Pousios. Por trás delas, as alturas da
Peneda, percebendo-se o geodésico de
Água Santa, a 1140 metros de altitude, próximo do Santuário da
Senhora da Peneda.
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Ribeiro de Cima e Pousios, no vale da Ribeira de Ossos. Ao fundo o Monte Quinxo, já em terra galega |
Pouco depois das onze e meia estávamos a passar a
Ribeira de Ossos por pontão de madeira, entre
Ribeiro de Cima e
Pousios. Tudo à nossa volta era verde, pastagens, campos de cultivo, rodeados pelo arroxeado da urze, ao som do correr das águas e de melodiosos trinados de aves.
Estávamos literalmente no paraíso...
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Vale da Ribeira de Ossos, entre Ribeiro de Cima e Pousios ... um recanto do paraíso |
Aproveitando a sombra de um velho espigueiro, o almoço foi à entrada de
Pousios, junto também a mais uma de tantas fontes de água gélida, pura e cristalina. Subimos depois a encosta do Monte da
Senhora da Oliveira ... e recomeçamos a ver o vale do
Rio Laboreiro. Já só faltava descer a
Ribeiro de Baixo. E se na véspera tínhamos apreciado chegar a Ribeiro de Baixo vindo de baixo ... chegar a Ribeiro de Baixo vindo de cima, de norte, oferece-nos uma imagem mais espectacular ainda, com a aldeia em socalcos e o rio seguindo seu curso, ao longo do vale que tínhamos percorrido na véspera.
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Almoço, à entrada de Pousios |
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Subida ao Monte da Senhora da Oliveira |
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E ... Ribeiro de Baixo visto de cima |
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Uma montanheira de gema...
Admirando o vale do Rio Laboreiro
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À entrada de
Ribeiro de Baixo, uma aldeã de bonita idade meteu conversa connosco. Agarrada também a dois "bastões", falava mais em galego do que em português. Se tínhamos vindo de Ribeiro de Riba, perguntava-nos ela; a resposta de que vínhamos da
Ameijoeira e ainda para lá voltaríamos deixou-a boquiaberta. "
Bote-me lá os anos a ver; cuido que não mo los dá ". E não los dávamos mesmo: a ti Piedade, como disse chamar-se, carrega 90 anos de uma vida numa pele quase sem rugas! E se a deixássemos ... por ali ficaríamos a tarde de conversa...
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Com a "ti" Piedade ... à entrada "de riba" de Ribeiro de Baixo. 90 anos de uma vida! |
A pequena aldeia de
Ribeiro de Baixo ... tem uma ponte internacional! Um pontão em cimento liga as duas margens do
Laboreiro, permitindo o acesso aos terrenos de cultivo no lado galego. Atravessámos precisamente essa "ponte internacional", regressando assim à Galiza ... para voltar a subir, agora na encosta esquerda, tudo o que tínhamos descido para Ribeiro de Baixo na encosta direita.
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O Laboreiro, na "ponte internacional" de Ribeiro de Baixo |
À medida que subíamos, a panorâmica sobre o rio voltava a abrir-se, deixando
Ribeiro de Baixo para trás. Na zona da "volta do rio", podíamos ver quase todo o troço feito na véspera e, para norte, mais rápidos e quedas de água que dão à paisagem o aspecto de um quadro natural de sonho.
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Ribeiro de Baixo fica para trás... |
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O Laboreiro na Volta do Rio |
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E o rio corre por entre a urze e a carqueja... |
Continuamos a acompanhar o vale, mas o que havia visto na preparação desta caminhada levava a voltar a descer, mais a norte, à margem mesmo deste rio de águas bravias. O objectivo era agora a "
Casa do Frade", um velho moinho de água recentemente restaurado, quando da marcação do PR128 do Concelho galego de Entrimo, a "
Ruta do Pan". E que lugar mágico e espectacular é aquele!
O moinho situa-se praticamente em cima de um conjunto de quedas de água fabulosas, onde apetecia ficar a ouvir o som das águas e da imaginação a fluir!
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Casa do Frade |
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O Laboreiro junto à Casa do Frade |
O local requer o máximo dos cuidados, dada a inclinação do acesso e das rochas envolventes. Um painel elucidativo chama aliás a atenção para os perigos ... desaconselhando a visita. Bem ... mas para que se restaura então um moinho, se se desaconselha a visita?...
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E continuamos a subir o curso do Laboreiro |
O restante percurso até ao ponto onde tínhamos iniciado a caminhada foi sempre à beira rio. E, mais uma vez, a sensação era a de avançarmos por entre imagens e sons do paraíso! Não nos admiraríamos se de repente saíssem do bosque fadas e duendes, ou ninfas das águas! O
Rio Laboreiro é efectivamente um rio de uma beleza extraordinária, felizmente ainda bem conservado na sua pureza! Estas duas etapas de descoberta encheram-nos a vista e a alma!
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Imagens do paraíso, nas margens do Rio Laboreiro |
A ideia original era a de continuar ainda esta segunda "etapa" para norte, até à ponte da
Cava da Velha, a caminho já de
Castro Laboreiro. Mas a jornada não tinha sido propriamente fácil, além de que o fruir de paisagens tão fabulosas também requer tempo, claro. Tínhamos feito duas curtas caminhadas, respectivamente de 9 e de 13 km ... mas vínhamos maravilhados!
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Quem não conhece o Rio Laboreiro pode bem vir conhecê-lo... |
Para outras "aventuras" ficarão assim mais dois troços do
Laboreiro: da
Mistura das Águas ao
Lindoso, a sul, e da Ponte de
Mareco a
Castro Laboreiro, a norte. E esta "descoberta" do Laboreiro fez também nascer o sonho de um projecto maior...