Hesitei antes de escrever e publicar este artigo. Nestas minhas memórias, não costumo publicar viagens ou passeios de índole mais turística. As "fragas e pragas" - vindas dos "
anos loucos" da minha adolescência - sempre foram vocacionadas para as "aventuras" vividas na Natureza, calcorreando serras e vales, escutando as águas das correntes e ribeiros … escutando os sons do silêncio.
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Santo Estevão, Apóstolo dos húngaros |
Contudo, apesar de desta vez a "aventura" dizer respeito a uma cidade … três dias em
Budapeste corresponderam a quase 40 km percorridos a pé, com o
Danúbio quase sempre por tema, numa cidade que combina harmoniosamente a Natureza ligada ao rio e às duas colinas de
Buda, com a imponência e a história dos grandes e faustosos edifícios, como as majestosas casas do Parlamento Húngaro, em
Peste, onde aliás se situam a maior parte dos restantes motivos de visita.
E assim, sem cruzar muitas fragas e felizmente sem pragas … na noite de domingo para segunda voámos do Tejo ao Danúbio, para dois dias e meio a percorrer as belezas naturais e históricas de uma das mais belas capitais europeias. A fraga, apenas a dois … foi a forma de comemorar 42 anos de vida em comum. Depois de Viena e de Praga … a estrela que me tem acompanhado há muito que queria conhecer Budapeste … mas só soube que tinha uma mala para fazer 5 dias antes…
J
Nas últimas décadas, a História confunde-se com o Turismo, nesta cidade que já foi imperial.
Budapeste e toda a Hungria atravessou tempos conturbados durante quase todo o século XX, como grande parte da Europa. A História sente-se e vive-se quase em cada esquina, em cada local ligado a episódios dos quais a raça humana se deveria envergonhar. Episódios recentes fazem recear a repetição de ciclos … cujos ventos se espera e deseja que se esfumem. Cada vez mais … a Vida é o Presente! O Passado não volta, pelo menos igual … e o Futuro ninguém o adivinha. Mas, para além das fotos, não me vou alongar na escrita. A História não é o tema deste meu
blog. Apenas a referência a alguns episódios a que assistimos ou vivemos nestes dois dias e meio em
Budapeste e às jornadas pedestres que nos mostraram a capital húngara. Após um
transfer do aeroporto Liszt Ferenc (Franz Liszt) quase à uma da manhã, o dia de segunda feira começava apesar de tudo às 9:30h. Optámos pelos serviços da "
Eurama" para um primeiro e único
Tour de apresentação à cidade: três horas de um misto de autocarro com guia em espanhol e algumas saídas nos pontos principais. Não nos arrependemos da opção por esta das muitas empresas turísticas, aliás a mesma que nos fez os
transfers de e para o aeroporto. Pontualidade como eu gosto e cortesia; recomendável, sem dúvida.
Começámos pela
Praça dos Heróis, ao cimo da grande e imponente
Avenida Andrássy, o mais cosmopolita dos grandes
boulevards de Budapeste. Gyula Andrássy foi primeiro ministro húngaro no século XIX. Consta ter sido amante da Imperatriz Erzsebet, ou Isabel da Baviera, casada com o imperador Francisco José I; era conhecida como Sissi da Áustria e Hungria.
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Budapeste, 14.12.2015, 09:30h - Praça dos Heróis |
Descendo a
Avenida Andrássy, o
tour levou-nos seguidamente a atravessar o Danúbio da margem esquerda –
Peste – para a margem direita –
Buda – para subirmos aos espectaculares miradouros naturais das colinas de Buda: a colina da
Cidadela e a colina do "
Castelo", ou Palácio Real, onde se situa também o célebre
Bastião dos Pescadores. De qualquer destes miradouros … tínhamos o
Danúbio e a maior parte da vastíssima e rica cidade aos nossos pés.
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E ... o Danúbio, visto da Cidadela de Buda, com a Ponte dos Leões (ou das correntes). À esquerda, o Palácio Real. |
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As estátuas da liberdade, na Colina Gellért, alusivas à libertação da
Hungria pelas tropas soviéticas, em 1945. Na base, encontrava-se a
estátua ao soldado soviético, removida quando da revolução húngara
(1956) e substituída depois por uma réplica ... igualmente removida
em 1989/90, com a queda dos regimes comunistas. |
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Dois turistas na Cidadela de Buda, contemplando
o Danúbio e a Ponte Sissi |
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O Palácio Real, ou "Castelo" de Buda, na colina a norte da da Cidadela |
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Bastião dos Pescadores (Halászbástya), construído em homenagem às 7 tribos que fundaram a Hungria em 896 ... |
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... e a panorâmica do Bastião sobre o Danúbio e a Ponte dos Leões |
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O casario de Buda, o Danúbio e, na margem oposta, em Peste, as imponentes Casas do Parlamento húngaro |
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A Igreja Mathias, junto ao Bastião dos Pescadores,
e a Catedral de Santo Estevão, já em Peste
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Terminado o
Tour de apresentação ... começou o nosso circuito a pé. Depois da visita à
Catedral de Santo Estêvão e à sumptuosa
Ópera de Budapeste, claro que o périplo tinha de ser ao longo do
Danúbio, que atravessámos na famosa
Ponte das Correntes (
Széchenyi lánchíd), ou
Ponte dos Leões.
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Travessia do Danúbio pela Ponte dos Leões, ou das Correntes (Széchenyi lánchíd) |
Pela margem direita, seguimos sempre ao longo do rio, passando pela Ponte
Erzsébet (a
Ponte Sissi) e a Ponte
Szabadság, ou
Ponte da Liberdade, talvez a mais bela das muitas pontes da cidade, pela qual regressámos a
Peste. Íamos visitar o
Memorial do Holocausto ... mas estava fechado à 2ª feira.
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Três das Pontes que atravessam o Danúbio: Széchenyi (das correntes), Erzsébet (Sissi) e Szabadság (da Liberdade) |
Ao longo deste trajecto, acompanhando o rio, vamo-nos também apercebendo das muitas termas situadas na base do
Monte Gellèrt, bem como da
Igreja subterrânea que ocupa uma das várias grutas da colina.
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Monumento a Santo Estevão, na encosta da Colina Gellèrt |
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Ponte da Liberdade e Hotel Gellèrt: ainda não são 4 da tarde ... mas o Sol já se está a pôr em Budapeste |
Pouco depois das quatro da tarde é noite em Budapeste, nesta altura do ano. Com o
Memorial do Holocausto encerrado, regressámos ao centro, admirando as belas iluminações de Natal. Na grande Avenida
Erzsébet, detivemo-nos no majestoso
Café Nova York.
Na transição para o século XX, o
New York Kávéház era o mais famoso ponto de encontro de escritores e editores. Depois da segunda guerra mundial, só reabriu em 1954, com o nome de
Café Hungária. Mas só foi restaurado e devolvido ao seu antigo esplendor em 2006.
U
Um café no
New York Kávéház custa o equivalente a 4 € ... mas os momentos de descanso e o êxtase naquele esplendor de arquitectura valeram bem a despesa...
J.
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A Sinagoga de Budapeste,
tida como a maior e mais monumental da Europa |
Eram, entretanto, quase seis da tarde. Cedo para jantar, tarde para mais visitas. Passámos pela monumental
Sinagoga, já encerrada ... e decidimos regressar ao "nosso" hotel, o
Hotel Belvedere, em Buda.
O regresso teve um episódio digno de registo: junto à ponte
Széchenyi, entrámos num autocarro ... mas na altura a nota mais baixa para comprar os dois bilhetes era de dez mil florins (cerca de 33 €) ... e o motorista/cobrador não tinha troco. De imediato, vindos nem soubemos de quem ... "caíram-nos" dois bilhetes pré-comprados nas mãos...
J Havia de ser em Portugal...! Mas ... segundo episódio: duas ou três paragens depois comecei a verificar, pelo GPS, que o autocarro se afastava do hotel...; saímos ... e chegámos ao hotel com 14 km percorridos no nosso primeiro dia na imponente capital da Hungria!...
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Casas do Parlamento, Budapeste, 15.12.2015 |
O dia seguinte começou pelo
Parlamento húngaro, um dos edifícios legislativos mais antigos da Europa, que constitui um notável exemplo paisagístico nas margens do
Danúbio. Nas traseiras, na Praça
Szabadság (
Praça da Liberdade), situa-se o monumento que glorifica a libertação pelos soldados soviéticos, em 1945. Na mesma praça, situa-se também um memorial erigido em 2014, supostamente à memória das vítimas do holocausto, mas contestado mesmo antes da sua construção, por representar a Hungria como vítima do nazismo ... e não como país aliado que foi do regime nazi.
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Monumento alusivo à libertação de Budapeste pelas tropas soviéticas, em 1945, na Praça da Liberdade |
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Monumento erigido supostamente à memória das
colaboracionismo |
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vítimas do holocausto ... mas contestado pelo
do governo húngaro com os nazis! |
Nesta contestação ao memorial judaico, encontrámos também uma "inscrição" no mínimo assustadora, face aos conturbados tempos actuais: em caracteres ocidentais pintados sobre uma das estruturas, lia-se ... "
Allah Akbar" (Alá é grande). Não fotografei ... e seguiu-se a visita à maior e mais monumental
Sinagoga da Europa, na rua
Dohány, da qual regressámos à
Avenida Andrássy, para a mais impressionante visita desta nossa viagem às terras húngaras: a
Terror Háza ... a "
Casa do Terror".
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Interior da majestosa Sinagoga |
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e respectivo cemitério judeu |
O número 60 da Avenida Andrássy - a "
Casa do Terror" (
Terror Háza) - era o quartel general do
Nyilaskeresztes Párt, o Partido da Cruz Flechada, pró-alemão e anti-semita. No final da guerra, com a ocupação soviética ... passou a ser o quartel general da AVH, a polícia política húngara. Chamava-se então
Hűség Háza ... a "Casa da Lealdade"...! Em 2002 foi transformada em Museu, que recebeu o nome actual: um Museu retrospectivo do Terror vivido na Hungria ao longo de dois regimes teoricamente opostos ... e de quase todo o século XX. As imagens e textos que vimos e lemos falam por si.
As imagens e textos que vimos e lemos falam por si, como disse acima. Mas também falou fundo assistir a um jovem visitante, não sabemos de que nacionalidade ... a ler as descrições do Terror com grossas lágrimas a correrem-lhe pela cara...! Mas da "
Casa do Terror" regressámos às margens do
Danúbio...
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Cruzeiro nocturno no Danúbio ... |
Para o final do segundo dia em Budapeste ... esperava-nos um cruzeiro no
Danúbio, com jantar a bordo, reservado na mesma agência "
Eurama" com que fizemos o
Tour inicial e os
transfers. Durante uma hora e meia, ao som do Danúbio Azul e outras harmoniosas melodias tocadas ao vivo, degustámos um esplêndido jantar
buffet, onde não faltou, claro, o típico
goulash húngaro.
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A bordo do Cruzeiro com jantar e música ao vivo ... enquanto percorríamos o Danúbio |
É de salientar que normalmente se tem ideia que uma coisa desta natureza - um cruzeiro no Danúbio, com jantar
buffet a bordo (4 pratos), música ao vivo, etc. - custa uma pequena fortuna. Provavelmente em Portugal (se existisse...) custaria. Pois bem ... em Budapeste custou o equivalente a 36 € cada um...
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Mercado de Budapeste, 16.12.2015, 8:30h |
E ... chegávamos ao último dia. Só tínhamos a manhã. Com 24 km feitos a pé nos dois dias anteriores ... a minha donzela preferiu ficar a descansar no hotel...
J
Eu ... lancei-me de novo a pé ... rumo mais uma vez ao
Danúbio. Não tínhamos chegado a ver o
Mercado de Budapeste, que certamente a uma hora matinal seria animado. Atravessei mais uma vez a Ponte
Szabadság ... e a azáfama no mercado era grande, com os dois pisos cheios de produtos hortícolas, carnes, mas também muitas lojas de objectos típicos e de decoração.
Ainda pensei visitar o
Memento Park, o parque para onde foram trasladadas as estátuas derrubadas quando da queda do comunismo. Mas a distância fez-me recear; tinha de regressar ao hotel antes do meio dia, pelo que decidi ir visitar o
Memorial do Holocausto, relativamente próximo. Mas ... só abria às 10h ... e pouco passava das 9h. Decididamente, o
Memorial do Holocausto não estava destinado a que o visitássemos.
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Relíquia de um passado ainda não muito distante... |
Não havendo portanto mais visitas ... resolvi regressar ao hotel de novo a pé, passando pela grande estação de comboio de
Nyugati, tristemente célebre particularmente no passado mês de Setembro, no auge da crise dos refugiados vindos da Síria e de outros países. Pelo caminho ... um velho Trabant recordava um passado mais distante. E foi a boa velocidade que percorri as ruas e avenidas que me separavam da Estação, onde corria uma azáfama de gente, mas onde já não se viam refugiados. Como e para onde foram ... só soubemos o que os
media na altura divulgaram...
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A imponente Estação de Caminho de Ferro de Nyugati |
Da Estação de Nyugati, restava-me descer a
Avenida Szent István (Santo Estêvão), atravessar para Buda na
Ponte Margarita ... e regressar ao hotel. Foi pena não haver já tempo para um passeio pela
Ilha Margarita, que acrescentaria um pouco mais de Natureza a esta "aventura" em terras húngaras. Mas o Sol e as águas do
Danúbio criaram algumas imagens mágicas, naquela que foi a despedida de uma cidade verdadeiramente monumental.
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Margem de Peste, a norte da Ponte Margarita |
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Ilha Margarita, com acesso a partir da ponte |
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Um dos últimos olhares sobre o Danúbio ... |
Com mais 14 km percorridos em pouco mais de duas horas e meia ... às onze e pouco estava no hotel. A "aventura" pedestre em Budapeste totalizou, para mim, 38 km...
J
Uns minutos antes das 14h ... estávamos de partida para o aeroporto Liszt Ferenc, no
transfer da "
Eurama". Em Budapeste, recomendo vivamente os serviços desta agência. Seguiu-se a habitual "seca" típica de todos os aeroportos ... e às 16:30h, já noite cerrada, estávamos a voar de regresso a Lisboa. A "aventura" húngara foi, sem dúvida, memorável!
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16:43h - Bye bye Budapest and the Danube... |
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E três horas depois ... Lisboa é sempre Lisboa! |
Deixei para o fim uma curiosidade ... curiosa...
J. Se, para a minha "estrela", esta foi a primeira visita a
Budapeste, que há muito ambicionava conhecer ... para mim foi a segunda vez. A primeira ... foi há exactamente 50 anos!!! Com apenas 11 anos, nas muitas viagens efectuadas com meus pais e referenciadas na
apresentação deste
blog ... eu já tinha estado em
Budapeste. Sinceramente ... só me lembrava da Ponte dos Leões...
J.
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A "Ponte dos Leões" ... em Setembro de 1965! |
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No Bastião dos Pescadores. Em baixo, olhando o Danúbio ... é a minha mãe...; ao fundo, arrumando a máquina ... o meu pai |
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E o Danúbio visto da Cidadela ... igualmente há 50 anos. Memórias perdidas num tempo remoto... |
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