sexta-feira, 19 de abril de 2013

De Vale de Espinho a Penha Garcia (40 km)

Atravessar a Serra da Malcata a solo, assistir ao espectáculo do nascer do Sol no "Crelgo" ou na Marvana, vê-lo levantar-se para lá das Ellas, já não é para mim novidade. Quantas vezes já o fiz? Quantas veredas já trilhei? Que distância já percorri? Não sei ... perdi a conta.
Vale de Espinho, 19,04.2013, 6:20 - "Saio rente ao rio"...
Sexta feira, 19 de Abril, mais uma vez atravessei a Malcata a pé, sozinho. Pela Ladeira Grande desci aos férteis vales de Pesqueiro. Passei a velha Prensa, os "Badagonais", a estrada de Valverde. Voltei a entrar em Portugal onde o Rio Torto se junta ao Bazágueda ... numa travessia "épica". Sempre para sul, contornei a Serra do Ramilo. E pelo Vale Feitoso, a meio da tarde ... cheguei a Penha Garcia.
Porquê esta "peregrinação"? Como recordei no último post ... completaram-se 40 anos que pela primeira vez conheci Vale de Espinho. Coincidindo a data com a véspera de actividades programadas para as terras da Idanha, com outros apaixonados pelas grandes jornadas pedestres, que melhor homenagem poderia prestar a estes 40 anos de ligação à raia ... do que uma longa jornada, completamente sozinho, de ligação das terras do Côa às terras da Idanha? Foi, como sempre, um tempo para meditar, um tempo para medir, para avaliar o que já foi avaliado, um tempo de catarse, de reencontro ... ou de encontro.
As seis da manhã tinham batido há pouco no campanário de Vale de Espinho, quando saí "rente ao rio" ... para subir "ao secreto mundo dos deuses" ... "Ao Teu Encontro".
         Saio rente ao rio e subo ao secreto mundo dos deuses.
         Os sons do casario ainda chegam, esbatidos, à pauta dos sentidos…
         Sei que me esperas…
         Nas pedras nuas oferecidas ao tempo,
         Na cama de urze e musgo ainda orvalhada,
         Nas heras rastejantes e empoleiradas,
         No chão calejado pela neve, pela chuva, pelo sol.
         Sei que me esperas…
         Na brisa que sacode o vento e rasga este véu que me veste,
         Nas árvores que rangem de dor e de prazer,
         Nos carreiros e caminhos por onde se passeiam os segredos.
         Sei que me esperas….

                                                   "Adelaide Graça", "Ao Teu Encontro" (adaptado)
O Sol já raiou...
A Marvana de todos os segredos...
A descida da Ladeira Grande para Pesqueiro, a passagem no que resta da Prensa, tudo naquelas paragens relembra a luta pela vida das gentes de Vale de Espinho. Algumas famílias viviam lá permanentemente, na Florida, nos Badagonais, em Carnicas, desenvolvendo os labores da produção do azeite. Mas o tratar o olival criava ocupação a muito jornaleiro da aldeia: era o lavrar o solo, cortar os fieitos e o mato, limpar as oliveiras, "desmamoar", varejar a azeitona por grupos de homens, a apanha por ranchos de mulheres e o transporte nos animais para a Prensa. Em Dezembro, Vale de Espinho ficava despovoado de mocidade e não só; todos partiam para a apanha da azeitona, permanecendo e pernoitando em Pesqueiro por cerca de um mês! Ainda hoje muitos Valespinhenses têm propriedades em Pesqueiro.

Vinha mesmo de Portugal...
Em Pesqueiro, terra de tantas labutas, de tantas recordações
Na velha Prensa de Pesqueiro
Aqui já floresce o rosmaninho e a giesta
Já se percebe o vale do Bazágueda
A reentrada em Portugal foi junto à foz do rio Torto no Bazágueda. Já estava portanto em terras de Penamacor. Mas atravessar o Bazágueda foi épico...; corrente, altura de água, seixos a "furar" os pobres pés ... quando me vi na margem portuguesa agradeci aos deuses... J


Rio Bazágueda ... uma travessia épica... J
Já em Portugal ... Penha Garcia estava logo ali a seguir ... faltavam só 14 km... J.

Para trás ainda as Torres das Ellas a o Xalmas
Vale
Feitoso
Barragem do Ponsul ... já falta pouco...
E ... Penha Garcia!
Penha Garcia ... à espera da "recolha"... J
Em Penha Garcia fui "recolhido" pelos amigos com quem iria partilhar o fim de semana ... em terras de Idanha. Tinha completado 40 km em sensivelmente 9 horas de jornada.

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