Se as viagens no tempo são possíveis ... ontem recuei mais de 40 anos no tempo! Pela mão de amigos e companheiros das caminhadas na
Ota e na
Malcata, ontem voltei às minhas velhinhas
Serras d'Aire e
Candeeiros, onde vivi tantas e tantas "aventuras" nos longínquos "
anos loucos" do início da década de 70 ... do século passado! E, para que a viagem no tempo fosse um verdadeiro
flashback, a actividade deste sábado começou e terminou precisamente na velha aldeia de
Alcaria ... a "minha" velha Alcaria do "Café da Bica" e da Dª Meireles. Permito-me transcrever aqui o que já escrevi a propósito da velha Alcaria e das "aventuras" perdidas na noite de mais de 4 décadas:
"Que será feito da D.ª Meireles e do velho "Café da Bica", em Zambujal de Alcaria, Serra d'Aire? Na minha primeira "missão" à serra d'Aire – 14 e 15 de Novembro de 1970 – dormi, como os outros, no palheiro a que chamávamos a Casa Abrigo do Centro Nacional Juvenil de Espeleologia. Começámos a subir a serra antes das 7 horas, ainda de noite. Percorremos uns km pelos píncaros e pelas 8 começou a nascer o Sol! Sem frio, com o grande cenário das serranias a perder de vista, o Sol elevava-se sobre o horizonte e nós caminhávamos entre
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O velho "Café da Bica" lá continua |
vales e serra, sobre estreitos e tortuosos atalhos, ao som do velho hino:
Minhas botas, velhas, cardadas,
palmilhando léguas sem fim,
quanto mais velhinhas e estragadas
quanto mais vigor sinto em mim"
Pois o velho "Café da Bica" lá continua em Alcaria, à beira da estrada. E as minhas botas, velhas cardadas, voltaram a palmilhar léguas sem fim naquela serra ... numa GRD -
Grande
Rota
Dura - que contou com a presença de quase 3 dezenas de amantes da Natureza e dos longos desafios. Depois de uma pequena incursão ao longo da ribeira do Alcaide, começámos a subir a serra precisamente em
Zambujal de Alcaria. Hora e meia depois estávamos no fabuloso trilho dos fósseis, que proliferam mesmo aos nossos pés.
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Alcaria, 22.09.2012, 8:50h - Com a Fórnea em pano de fundo, vamos começar a "aventura" |
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No fabuloso trilho dos fósseis |
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Abrem-se os horizontes |
Passada a povoação de
Pragais, recomeçámos a subir, agora para a
Corredoura. Pouco depois estávamos no trilho em boa hora aproveitado a partir da antiga linha do
Caminho de Ferro Mineiro do Lena. Vindo da Martingança, passava pela Batalha e Porto de Mós, seguindo depois até ao lugar da
Bezerra, de onde transportava o carvão explorado nas minas que ali existiram. Os túneis da Corredoura foram aliás o local do merecido almoço ... até porque depois íamos subir aos pontos mais altos da serra, os
Penedos Negros e
Vale Grande.
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Túneis da Corredoura,
na antiga linha de caminho de ferro do Lena |
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A caminho dos píncaros da Serra de Candeeiros |
E a caminho dos píncaros ... encontraríamos
Stonehenge! Não, claro, o verdadeiro círculo megalítico da distante planície de Salisbury, mas uma "imitação" natural onde a pedra impera, em formas e posições para todas as imaginações.
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Stonehenge na Serra de Candeeiros... |
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Geodésico dos Penedos
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Negros (547m alt.)
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Foto de grupo no Geodésico do Vale Grande (615m alt.) |
Dos mais de 600 metros de altitude do
Vale Grande, rapidamente descemos aos pouco mais de 400 da
Bezerra. Uma curta visita à velha mina de carvão, e pouco depois embrenhamo-nos num bosque de carvalho onde vamos encontrar ... a "
Cabana do Elias"! Esta cabana é um retiro para caminheiros, construída e propriedade de um simpático morador da Bezerra. Ali se encontram apetrechos de cozinha, com a particularidade de ter bens de consumo, principalmente bebidas à mão de todos. Uma Cabana mágica ... e onde as "loirinhas", as águas e outras refrescantes bebidas lá deixadas pela organização da actividade foram mais do que providenciais. Sem dúvida um lugar mágico...
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Na "Cabana do Elias" ... um lugar mágico no meio do bosque |
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Quando se está com 25 km nos pés, de uma |
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caminhada intensa ...que intermezzo sensacional...! :) |
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Subida das Penas da Feteira |
Depois ... seguiu-se a subida ao
Serro Ventoso e ao Cabeço da Fórnea. A
Fórnea é uma construção geológica espectacular, única no país. Trata-se de um magnífico anfiteatro natural, com cerca de 500 metros de diâmetro e 250 metros de altura, onde brota a ribeira da Fórnea, que passa em Alcaria. Contornámo-la no sentido NW/SE, já com as cores do final do dia a pintarem o horizonte e as paredes rochosas daquele anfiteatro. E descê-la ... é uma pequena "aventura"! O trilho mais seguro é, mesmo assim, uma cascalheira íngreme onde a técnica ... é ir depressa! Os calhaus rolam-nos debaixo dos pés, deixamo-nos levar num autêntico jogo de equilibrismo! Quando chegamos ao fundo e olhamos para cima ... parece-nos impossível ter descido aquelas paredes! Mas sim, era verdade, estávamos no fundo da Fórnea e já próximos do ponto de partida ... e de chegada!
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À beira da majestosa Fórnea |
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Abençoados pelo Sol poente ... lá vamos para o "abismo" |
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Que anfiteatro! |
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Sim ... é por aqui o caminho... Será que viemos mesmo lá de cima?...
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Alcaria, 19:45h - 11 horas depois da partida e com 33,5 km nos pés! |
E assim, onze horas depois da partida, estávamos de novo em
Alcaria. O regresso a casa, contudo ... só seria depois de uma saborosa sopa serrana, de umas saborosas morcelas de arroz, etc., tudo providenciado pelos organizadores desta excelente jornada caminheira.
Parabéns ... e venham mais GRDs...
J
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