Quando fiz 60 anos - já vou a caminho de mais 11... - prometi a mim mesmo
tentar fazer 60 km a pé num máximo de 20 horas, proeza que até então nunca
tinha feito. Depois disso já fiz "maratonas" de 70, 100 ... 127 km; devo estar
garantido, portanto, até aos 127 anos...😂.
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Encruzilhada da Có Pequena, 05.03.24, 06h30
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Duvido que alguma vez venha a bater esse record pessoal, mas as caminhadas "de
longo curso", não sendo o ideal que mais ambiciono, continuam a seduzir-me,
particularmente se forem a solo. É assim como uma espécie de teste aos meus
limites, e não só aos limites físicos; para uma "prova" desta natureza, é
fundamental a gestão dos tempos e da média geral conseguida. Uma diferença de
velocidade média de 1 km/h (por exemplo uma média de 4 ou de 5 km/h) ...
resulta numa diferença de uma hora e meia a mais ou de uma hora e meia a menos
num percurso de 30 km
Vem esta introdução a propósito ... de uma "maratona" de 57 km percorridos em
11 horas e meia, nas "minhas" terras de RibaCôa. Os dias já vão sendo
maiores ... mas entre o nascer e o pôr do Sol ainda não há 12 horas, embora
haja luz desde uma meia hora antes até uma meia hora depois. E para percorrer
60 km (vieram a ser apenas 57) em 12 horas ... é preciso manter uma média
geral de 5 km/h.
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06h54 ... e o Sol nasce, na Malhada Alta, a caminho do
Soito
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A travessia da semana passada,
de Vale de Espinho à Sortelha, poderia também ter sido circular; não o foi, pelas razões
então descritas, mas ultrapassaria seguramente os 60 km ... e com bastante mais altimetria
do que o "circuito" que desenhei a norte e noroeste de
Vale de Espinho ... "circuito" que me encheu as medidas. É
difícil, ao fim de tantos anos, qualquer circuito raiano não ter troços já
conhecidos ... mas mesmo os troços conhecidos nunca são iguais ... nem os
sinto do mesmo modo.
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Soito, 07h35 ... uma povoação praticamente deserta, mas aqui eu
atribuí à hora matutina
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Nos primeiros 25 km desta "prova de resistência", a média manteve-se bem acima
dos almejados 5 km/h; mais concretamente, uma média que chegou a andar nos 5,7
km/h dava-me esperança de que, desta vez ... a 'coisa' seria "fazível". E foi!
E foi uma jornada em que me senti literalmente nas nuvens ... nas nuvens de
algo que se sente ... que não se descreve nem se explica. Apesar de caminhar a
solo, a maior parte destas onze horas e meia fui "acompanhado" pela
Ronda dos Quatro Caminhos, um dos nossos grupos
folk de que mais gosto. Ouvi a discografia
praticamente completa ... pelo menos a editada nos anos 80 e 90 do século
passado.
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Geodésico de Santiago (846m alt.) ... ou como de
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repente me vi em Santiago...
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Bismula, 09h45 ... e a jornada prosseguia a bom ritmo
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Nesta fase sempre a caminhar para norte, fui ao encontro da
Ribeira da Nave. Pouco antes de
Badamalos, fiz então a inflexão
para ocidente ... rumo ao
Côa, que cruzei na histórica
Ponte de Sequeiros. Provisoriamente, fiquei portanto na margem esquerda
do Côa, a margem que sempre foi portuguesa, mesmo antes do Tratado de
Alcanizes.
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Velhos caminhos ... caminhos velhos ... caminhos com história. E cruzo
a Ribeira da Nave, afluente do Côa
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Descida para o vale do Côa ... e para a
Ponte de Sequeiros. Eram 11h05 e tinha 27 km nos pés.
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Lameiros da margem esquerda do Côa. Ao fundo, o
Picoto do Seixo.
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Claro que a média global já reduzira de uns iniciais 5,7 para 5,3 km/h. Desde
que não fizesse praticamente paragens, a gestão da caminhada estava sob
controlo. Comer? Sim ... em andamento 😀. Mas comer em andamento é coisa que
nunca me importou ... particularmente se se tratar do delicioso folar de Vila
do Conde que o Joaquim Gomes e a Fátima nos tinham deixado ... recheado com
queijinho fresco de cabra, de Vale de Espinho 😋. Próxima "meta":
Seixo do Côa.
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Seixo do Côa, 11h50
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Travessia da Ribeira do Boi, afluente da margem esquerda do
Côa. Travessia ... a vau.
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Pensei duas vezes antes de atravessar a
Ribeira do Boi. O caudal dava
pelo joelhos. Havia umas pedras a imitar poldras ... mas molhadas eram mais
perigosas do que meter os pés na água. Os pés ... e as botas e as calças...😀!
O esplêndido dia de pré-Primavera já me convidara a tirar a camisola ... e os
pés molhados até soube bem, amenizou bastante o "massacre" que evidentemente
já denotavam...
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13h15 - Junto à Rapoula do Côa regressei à margem direita
do Côa
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Uma hora depois ... ao fundo já se vê o Rendo
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Rendo, 14h35. Ainda me faltavam cerca de três horas ... mas já
me começava a sentir em casa...
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A partir do
Rendo ... comecei a contagem decrescente para o final
pelo número de povoações. Faltava-me atravessar o
Cardeal,
Torre e
Quadrazais. Só que ... não vi viva alma! Se nas
anteriores tinha visto apenas meia dúzia de "gatos" ... nestas não vi
absolutamente ninguém... 😟
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Igreja do Cardeal, 15h00 ... com 45 km percorridos
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Quadrazais, junto à Senhora dos Caminhos e na Fonte
próxima da Igreja
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Praia fluvial de Quadrazais e
Capela do Espírito Santo ... já faltava pouco...
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Terras do Alcambar ... e a Praia fluvial de
Vale de Espinho, 17h15
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Vale de Espinho à vista. Estava a terminar uma belíssima
jornada circular ... em grande círculo
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De manhã vira-o nascer, das terras altas da Malhada Alta. Agora
via-o deitar-se ... já em casa.
Adeus Irmão Sol ... a Irmã Lua vai nascer lá para as 4 e meia da
manhã, embora em minguante ... mas o Sol voltará para outro
dia!
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Entrei em
Vale de Espinho ainda a ouvir a
Ronda dos Quatro Caminhos. Só desliguei quase em casa. A
Ronda fez sem dúvida parte desta bela
terça feira de Sol e até de algum calor; desde antes do Rendo que eu vinha de
manga curta ... e de manga curta entrei em casa!
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