domingo, 12 de fevereiro de 2017

Por entre vulcões extintos e cascatas...

A máxima do saudoso Zeca Afonso, "Traz outro amigo também" ... também poderia ser aplicada aos grupos de amigos que a paixão pelo pedestrianismo e pela Natureza tem proporcionado juntarem-se.
Cheleiros, 12 de Fevereiro de 2017, 9h55
Efectivamente, cada nova caminhada, cada nova "aventura", traz novos conhecimentos, novos grupos, novas ideias. Hoje foi a vez das "Rotas e Trilhos na Natureza", um grupo informal de caminheiros com um objectivo comum: proporcionar caminhadas pela Natureza, com uma componente lúdica e cultural.
Num dia que ameaçava chuva, a partida foi dada com muito Sol, em Cheleiros, freguesia do Concelho de Mafra, na margem do rio Lizandro. Para além das "Rotas e Trilhos", tínhamos também a companhia de um numeroso grupo de nuestros hermanos, vindos propositadamente da zona de Badajoz para um intercâmbio pedestre.

Ponte Medieval de Cheleiros, sobre o Rio Lizandro
Cruzada a ponte medieval, seguimos uma rota de muito arvoredo, por caminhos dos antigos moleiros, sempre por perto do Ribeiro da Mata e subindo depois à típica aldeia da Mata Pequena. Já por aqui tinha passado antes, inclusive quando da grande rota entre a foz do Trancão e as Azenhas do Mar.

Ao longo do
Ribeiro da Mata
Mata Pequena é um pequeno povoado rural com uma dúzia de habitações simples, rústicas, pequenas, mas muito acolhedoras. Há uns anos pouco mais restava do que paredes e ruínas. As casas foram fruto do muito trabalho e dedicação de um casal que as recuperou e as destinou ao turismo rural, sendo hoje um lugar repleto de ternuras e de pedaços de um passado que nos é comum.

Aldeia da Mata Pequena: um lugar repleto de ternuras
e de pedaços de um passado que nos é comum...
Da Mata Pequena rumámos a leste e ao Penedo de Lexim. Com origem no complexo vulcânico de Lisboa, o Penedo de Lexim constitui os restos de uma chaminé vulcânica. O magma sofreu arrefecimento lento e gerou minerais bem desenvolvidos e arranjados em forma de colunas prismáticas; o basalto alcalino das colunas é constituído por cristais de olivina, piroxenas e feldspatos, sob a forma de minerais desenvolvidos, visíveis a olho nú.
Penedo de Lexim: história natural ao vivo
O Penedo de Lexim também é conhecido como sendo um dos pontos chave para a compreensão do Neolítico e da Idade do Cobre na Península Ibérica. Foi utilizado durante o Neolítico final, Calcolítico e Idade do Bronze, épocas das quais restam artefactos diversificados. Junto ao Penedo, proporcionou-se uma breve explicação sobre a geologia e a génese dos vulcões. E seguiu-se um frondoso trilho até à aldeia de Lexim, onde fui encontrar uma Imagem de Santiago. Decididamente, o Caminho faz parte de nós...

Santiago ... na aldeia de Lexim, com o Penedo ao fundo
Vale de Lexim, com a própria aldeia de Lexim ao fundo
Passando a leste dos Moinhos da Raimonda, subimos em direcção a Anços, para voltar a descer às fantásticas Cascatas de Anços, também conhecidas por cascatas do Rio Mourão, afluente do Lizandro É quase impensável o paraíso que ali existe, naquele ermo perdido da chamada região saloia, entre Sintra e Mafra. As águas são infelizmente muito turvas, mas a espectacularidade do local prende e encanta; sentimo-nos pequenos face à imponência da Natureza.

Aldeia abandonada de Mourão, junto ao rio do mesmo nome, próximo de Anços
E descida às espectaculares Cascatas de Anços
Cascatas de Anços, ou
do Rio Mourão
Das cascatas, faltava regressar ao ponto de partida, sempre com as águas ao nosso lado, primeiro do rio Mourão e depois do Lizandro, até Cheleiros. Mas - há sempre um mas... - tínhamos de atravessar o Lizandro. E atravessar o Lizandro ... foi uma pequena aventura... 😊

Descida ao vale do Lizandro, dominado ao fundo pelo Penedo de Lexim
E agora? Temos que atravessar as águas turbulentas do "selvagem" Lizandro...
Quatro imagens ... de uma travessia épica... 😉
A última das imagens acima mostra os dois últimos aventureiros que passaram ... sim porque os outros, os nuestros hermanos ... bateram em retirada. Voltaram a subir a encosta ... e devem ter chamado o autocarro que os trouxera de terras de Espanha. Com maior ou menor dificuldade, os nossos aguerridos "lutadores" passaram todos ... não sem que uma bota tenha ido Lizando abaixo ... e ande provavelmente nesta altura a navegar no Atlântico... 😮

Agora na margem direita do Lizandro ... já só faltava o regresso a Cheleiros
Pouco depois das três e meia, mais ou menos enxutos, mais ou menos encharcados, mais ou menos enlameados ... e mais ou menos descalços ... estávamos de regresso ao "porto de abrigo" junto à Igreja de Cheleiros. E, junto aos carros ... mais parecia um acampamento em troca de meias e botas.

De regresso ao ponto de partida ... em várias modalidades e níveis de calçado e humidade...
Quase seis horas de uma bela caminhada por entre vulcões extintos e cascatas ... e sem apanhar uma gota de água vinda do céu ... de um céu que as previsões ameaçavam que nos caísse em cima das cabeças. Boa estreia nas "Rotas e Trilhos na Natureza".
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