Novos Trilhos. Mais uma caminhada, a última de Janeiro. E que caminhada! Com início na aldeia de
São José das Matas, na região de
Envendos, concelho de
Mação, a proposta era uma caminhada circular, a norte e a sul da A23, com passagem pelas gravuras rupestres encontradas no vale do
Ocreza quando da construção daquela auto-estrada e que fazem parte do sistema mais vasto de gravuras submersas pela Barragem do Fratel.
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28.01.2017, 9h50 - Mais uma caminhada Novos Trilhos,
à saída de S. José das Matas, Envendos |
Pouco depois das 9 horas de uma manhã fria e enevoada, juntávamo-nos assim junto à Igreja de
S. José das Matas quase 30 caminheiros ... e uma caminheira canina já frequente nas caminhadas Novos Trilhos. Por estradões de bom andamento, rumámos a norte, em direcção à serra de Envendos, passando por baixo da A23 no chamado viaduto do
Vale Longo.
Às onze horas estávamos a subir a encosta sul do
Penedo do Aivado, na linha de cumes que separam o norte e o sul da freguesia de
Envendos. Começaram as subidas mais radicais ... bem à maneira dos
Novos Trilhos. O objectivo era o cume de
Castelo Velho, a 434m de altitude, com uma ampla panorâmica sobre a serrania e a
Barragem da Pracana, no rio
Ocreza.
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Subida da encosta sul do Penedo do Aivado, serra de Envendos. Progressão nem sempre fácil... |
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Panorâmica para a encosta norte e aldeia de Zimbreira |
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Barragem da Pracana (rio Ocreza), vista do Castelo Velho |
Do
Castelo Velho descemos à bela cascata do
Pego da Rainha, um autêntico paraíso na Ribeira da
Zimbreira e próxima da aldeia do mesmo nome. A ribeira é afluente do
Ocreza e ali se precipita entre paredes rochosas escolhidas para principal núcleo da escola de escalada de
Mação.
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Cascata do Pego da Rainha. A Kiara ... foi a única
a "provar" as delícias deste paraíso!
(Foto superior: Cris Madeira) |
Do
Pego da Rainha seguimos para a
Barragem da Pracana e para o "
Circuito Rupestre" ali assinalado. Poderia e deveria ser um belo trilho! A paisagem é soberba, acompanhando a margem direita de um
Ocreza selvagem e ultrapassando diversas linhas de água por pontes de madeira, como as ribeiras de Aivado e de Alpalhão, que correm para o rio, enquanto nos aproximamos do altivo e imponente viaduto do Ocreza, na A23.
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Descida ao vale do Ocreza, com o viaduto da A23 ao fundo |
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Passagem da Ribeira de Aivado |
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Rio Ocreza |
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Cascatas da Ribeira de Alpalhão |
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Passagem da Ribeira de Alpalhão e |
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descida às pinturas rupestres do Ocreza |
Apesar das indicações iniciais e das pontes de madeira ... pouco depois da ribeira de Alpalhão o trilho torna-se complicado. Não só se encontra mal cuidado como desaparecem as indicações ou mesmo quaisquer painéis alusivos às pinturas rupestres. Junto delas, só os mais entendidos saberão que estão ali obras de arte com dez a quinze mil anos, tais como a
Rocha do Cavalo e a
Rocha dos Dois Veados. O próprio trilho desaparece, tornando-se pedregoso e, por vezes, carregado de vegetação.
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Rocha do Cavalo ... esquecida |
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e abandonada à beira do Ocreza |
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Isto é trilho... 😕 (sob o viaduto da A23)
(Foto à direita: Helder Carvalho)
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E já são horas de um almoço tardio... (Foto: Helder Carvalho) |
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O Ocreza segue o seu rumo para o Tejo |
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Rocha do Peixe |
Continuando a acompanhar o curso do
Ocreza, a seguir às pinturas rupestres vimo-nos envolvidos por uma autêntica selva de mato e silvas, em permanente desbravar até à foz, no
Tejo. O trilho já terá existido, nota-se a sua existência ... mas quase tão antigo como as gravuras... 😳. Três quartos de hora para percorrer um quilómetro ... evidencia bem as características daquele "trilho"...! A Câmara de Mação muito tem ali a fazer, essencialmente entre a Ribeira de Alpalhão e a foz do Ocreza, no sentido de valorizar um trilho que poderá ser espectacular e a importância das pinturas rupestres.
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Ponte do Ocreza, Linha da Beira Baixa |
Já passava das quatro da tarde quando saímos da "selva". O
Ocreza verte as suas águas no
Tejo e nós estávamos agora na linha da Beira Baixa. Do lado de lá do Tejo é Concelho de
Nisa ... e lá estava nítido o que resta dos
muros de sirga naquele troço do rio, fazendo parte actualmente do percurso pedestre
Trilhos das Jans, que percorri há uns já longínquos 14 anos,
com os Caminheiros Gaspar Correia. Um caminho de
sirga é um caminho ao longo das margens de um rio ou canal e que tem como objectivo permitir a tracção de barcos por meio de animais ou pessoas. A sirga era o cabo de sisal utilizado para rebocar os barcos a partir da margem, solução frequentemente utilizada quando a navegação à vela era impossível, por exemplo devido à existência de correntes fortes.
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O Tejo entre a foz do Ocreza e a Barca da Amieira. Do lado de lá está o Trilho das Jans, sobre o muro de sirga |
Antes das cinco estávamos na Estação CP da
Barca da Amieira, outrora um importante
interface de ligação entre as duas margens do rio. Os passageiros provenientes ou destinados à margem sul - por exemplo à
Amieira do Tejo - passavam o rio na barca que deu o nome ao local e à estação.
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Estação da Barca da Amieira / Envendos |
Junto ao
Tejo, a uns escassos 75 metros de altitude, restava-nos subir quase 200 metros de desnível, de regresso a
S. José das Matas. Fizemo-lo em pouco mais de meia hora, pelo que pelas 17h15 estávamos no ponto onde oito horas antes nos havíamos encontrado, com quase 24 km percorridos, de uma caminhada dura nalguns troços ... mas fabulosa! Obrigado
Novos Trilhos!
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Subida do Tejo de regresso a S. José das Matas e ao ponto de partida |
3 comentários:
A caminhar na zona da "minha aldeia"...
A cascata do Pego da rainha que foi das minhas primeiras "descobertas" , nos princípios dos anos 90 e onde me deliciei a tomar banhos refrescantes na companhia dos meus filhos. Local "selvagem" nessa altura e de difícil acesso ao comum dos mortais...
Mais uma vez é bom ler e sentir essas palavras que escreves.....O sentimento é tal que chega ao ponto que tás a caminhar ao mesmo tempo que escreves...
Grande Calisto.....E obrigado por participar nesta aventura com algumas fotos.
Parabéns! Bela descrição de uma excelente caminhada! Abraço.
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