sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Es tristeza que llueve con lágrimas negras sobre tierra sin vida...
O "meu" Xalmas está de luto!

Na "minha" Vale de Espinho há uma semana, preparava-me para começar a esboçar alguns percursos e "aventuras", quando fui surpreendido pelo fumo e pela notícia vinda de Espanha: a vizinha Serra da Gata estava a arder!
Rodeira (entre Fóios e Aldeia do Bispo), 7.08.2015, 15:55h
Ao fundo ... o "meu" Xalmas fumegava...
A praga dos incêndios florestais é sempre trágica ... mas a dor é maior quando se trata de locais que conhecemos bem, que calcorreámos ... que nos falam fundo. Mais de 5000 hectares devastados ... mais de 1400 pessoas desalojadas ... e as notícias falavam de Acebo ... na encosta leste do "meu" Xalmas, a Serra da Enxalma, ou da Xalma, como é conhecida pelas gentes do lado de cá da raia. O Xalmas (ou Jálama, em castelhano, ou Xálima), sendo o ponto mais alto do maciço ocidental da Serra da Gata e de toda a zona transfronteiriça ... é também o meu nickname em diversos meios ... era o deus Vetão das águas ... das águas que tardam em cair neste verão abrasador.
Assim que soube a notícia e vi algum fumo no ar ... saí de Vale de Espinho direito aos Fóios e à raia. Da Rodeira, ali ao lado do Cabeço Vermelho, logo avistei o "meu" Xalmas fumegante! E vieram-me de imediato à memória os primeiros dias de Setembro de 2009 ... quando o inferno passou pelas terras de Vale de Espinho e pintou do negro da morte as "minhas" Fontes Lares!
O Xalmas visto do Huerto del Lugar,
próximo da estrada Payo - Gata
Rodei célere até Navasfrias e Payo. A estrada para sul estava cortada ao trânsito ... as imensas colunas de fumo negro saíam da encosta leste do Xalmas. Deixei o carro pouco acima do cruzamento de Payo ... e parti a pé para a vertente de Las Cabreras e do Cerro Milano, tentando-me aperceber da dimensão da tragédia. O "meu" Xalmas estava de luto! Toda a encosta leste desapareceu...; todo o fabuloso vale da Cervigona e da Ribeira de Acebo desapareceu...; a barragem do Prado de Las Monjas, as ruínas da velha "fábrica da luz" ... tudo estava debaixo do espesso manto de grossas nuvens negras que vi saírem daquele paraíso transformado em inferno...! Percorri aquele vale e desci àquela fabulosa cascata pela última vez em Janeiro do ano passado; agora ... só o velho "deus" Xalmas ditará quando é que a vida vai voltar àquelas encostas e àquele vale verdejante! A caminhada não foi longa - apenas cerca de 7 km - por matos e caminhos da serra ... mas só perto do fim me apercebi que a tinha feito de sandálias! As dores da alma fazem esquecer as dificuldades físicas...

Era este o cenário para os lados de Santa María e de La Ventosa, com o Xalmas ao fundo (vista do Teso del Milano)
Faço minhas as palavras de alguém que, como eu, um dia se apaixonou por estas terras e gentes, de ambos os lado da Raia. Tal como ele ...
"Que tristeza sinto, eu que estive várias vezes no Acebo e que sempre que ia por essas terras as trazia dentro dos olhos e dentro do peito! A besta humana quando veste a pele do diabo devia tragar o seu próprio veneno. Os que amam a raia por muito tempo vão ficar com o coração da mesma cor da terra que as chamas lavraram."
(Paulo Sérgio Silva, escritor, amigo da Raia)
As nuvens de fumo voam para leste. Ao fundo, à direita, percebe-se a Torre Almenara, sobre a vila de Gata
Partilho também o poema, escrito nestas horas amargas, do meu amigo e poeta Tomás Acosta Píriz, de Navasfrías ... ao lado do Xalmas (Jálama, em castelhano):

FUEGO EN JÁLAMA

No la claridad, el humo
es bandera de fuego.

Señorea cielos, subversivo
en su nube sin pájaros.

Es tristeza que llueve
con lágrimas negras
sobre tierra sin vida.

Es la llama una lengua
de verdugo inconsciente.
(Tomás Acosta Píriz, poeta)

PARAISO PERDIDO

Han vestido de negro los montes de sed.
La luz agreste en surcos se divorció del cielo.

¿Dónde estás paraíso?
¿Dónde la voz amiga de quien llegó
a sentir tu elocuente silencio?

Calcinados recuerdos de cumbres y ríos
para siempre cenizas.
Puerta libre que se tapió con fuego.

Ni las manos amigas pueden curar la brecha,
el dolor vegetal del corazón que anida
en la fauna que huyó. ¿Regresará algún día?

Ha de venir la nieve a cubrir de armiño
la impiedad de las llamas.

Nuevamente comenzará una flor diminuta
la labor de los siglos.
(Tomás Acosta Píriz, poeta)

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