Em
2011, já lá vão mais de dois anos, a minha paixão pelo
Gerês - a minha segunda "terra natal"... - trouxe-me o convívio e a amizade de quem conhece o Gerês como ninguém, que respira o amor pelas montanhas ... "
esse amor que de todas as vezes que se lá vai… dá… só dá… porque é na dádiva que a gente mais sente prazer…" ... de quem transpira uma "
alma de montanhista".
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Vale de Espinho, 4.Nov.2013, 10:30h
As terras do Côa recebem uma "embaixatriz" do Gerês... |
Já várias vezes a referi nestes meus escritos, já me guiou na sua Serra "mágica", ainda há bem pouco me acompanhou nos
Caminhos de Fátima. E como a amizade e a partilha é efectivamente a única vida que vale a pena ... já várias vezes a havia desafiado para vir conhecer a minha primeira "terra natal", as "minhas" terras da raia Sabugalense, a magia da
Malcata, as cores e reflexos do
Côa, os sons e os cheiros da "minha"
Vale de Espinho. E assim, durante três dias e meio ... a "
White Angel" esteve comigo e com a minha pequena arraiana no nosso "retiro espiritual" ... e conheceu as encostas das
Mesas e da
Malcata, as barrocas por onde correm as águas que alimentam o
Côa, as alturas que dominam as terras transcudanas; outras terras ... outras gentes...
Segunda feira, a "descoberta" das terras do Côa começou por um lugar "mágico" ... as "minhas"
Fontes Lares! Pela velhinha quelhe das pedras, o "anjo branco" do Gerês conheceu a velha casa, a fonte de água pura e cristalina, a velha presa ... o barroco "sagrado".
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No velhinho barroco "sagrado" das Fontes Lares, onde se sente a energia das terras e das memórias... |
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Na velha Ponte de Vale de Espinho, o Côa leva as águas e traz as recordações |
Nesse dia à noite, um "rapaz" de Vale de Espinho encontrou-nos casualmente ... e logo ali brotou um poema ... feito à medida dos olhos e da alma de uma montanhista...
Eu vi os seus olhos cravejados nos meus,
Quando ontem à noite lhe disse um poema dos meus.
Foi debaixo do meu céu,
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(Um "rapaz" de Vale de Espinho...) |
do céu da minha aldeia,
onde eu creio que só existe Deus.
A calçada debaixo dos meus pés
olhou p'ra mim e sorriu.
E o silêncio?...
E a voz do chafariz que estava ao redor,
calou a sua voz para ver se escutava o que estava a dizer.
É sempre assim quando passo ao anoitecer...
Devagar, devagarinho...
Olhei de novo os seus olhos...
e abalei de mansinho.
Terça feira era dedicada ao "Rio Sagrado". Do "
ventre das Mesas" a
Vale de Espinho, da "Serra Mãe" aos velhos lameiros do
Engenho e das
Veigas, percorremos o curso da
Grande
Rota do vale do Côa, em cujo levantamento eu havia colaborado no
início de Fevereiro.
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Do Lameirão, subimos ao alto da Serra das Mesas
Serra! Serra Mãe, Serra Dor, Serra Pão,
Traço de união entre irmãos da mesma luta!
Do teu ventre brota a voz do passado
E um sussuro magoado
Ecoa pelos ares, a contar histórias
(Amélia Rei, escritora e poetisa fojeira)
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Rio Sagrado
No ventre das Mesas
ouviu-se um gemido
de um ser que quis nascer
e correr serra abaixo ... |
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Llanos de Navasfrias e Serra do Espiñazo, do alto das Mesas |
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Eras tu, meu Rio Côa, que querias ser gigante
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e escolheste o teu caminho rasgando montes, dormindo em vales fundos...
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Na encosta do Cabeço dos Currais, após o prado da Barrosa, Fóios aparece-nos à vista!
E, hoje, sou eu que paro junto a ti,
penetro nesse templo sacrossanto do tempo que passou,
e contemplo esse andar tão lento de séculos e milénios
p’ra concluir que quase nada sou.
(Bernardino Henriques, escritor e poeta fojeiro)
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Açudes do Côa, |
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entre Foios e Vale de Espinho |
Com quase 18 km nos pés, a meio da tarde estávamos a entrar em
Vale de Espinho, pelos lados do velho
Engenho, que já foi moinho, que já foi fábrica de mantas, que já foi fábrica de luz...
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Junto à Azenha dos Pecas, |
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Vale de Espinho
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Lameiros do velho Engenho de Vale de Espinho, 5.11.2013 |
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Na aldeia que recebeu
a "deusa" do Gerês...
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Na terceira e última jornada pedestre desta "recepção" à "deusa" do Gerês ... voltámos à
Serra das Mesas. E se na terça feira descemos dela ao longo do
Côa, a manhã de quarta dedicámo-la às alturas da
Cancheira do Lameirão, ao longo da linha de fronteira, por "
bredas feitas à sorte" de quem calcorreava estas serras com os carregos do contrabando às costas ... por "
terras de onde se contam velhas lendas, quase negras" ... pelas "minhas" terras raianas...
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Entrega aos "deuses", na Carambola, 6.11.2013 |
As panorâmicas para o mar de nuvens que pairavam sobre terras
extremeñas, a velha ruína da
Caseta dos Carabineiros, o
Barroco Rachado, percorremos toda aquela cumeada numa bela e soalheira manhã, a pedir um regresso. Das
Torres das Ellas pareciam sair fumos mágicos, envolvendo e guardando os segredos de Fernán Centeno, do barroco do raio, da fonte do tesouro...
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Mar de nuvens na Extremadura espanhola... |
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Na velha Caseta dos Carabineiros |
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Meditação... |
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Pas de deux, no Barroco Rachado... |
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"Segurando" o |
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Barroco Redondo |
À tarde, faltava levar a "embaixatriz" a outro local mágico das terras de
Vale de Espinho e do
Côa: o
Moinho do Rato. Seria a despedida ... mas não seria um adeus, apenas um até breve...!
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Moinho do Rato, Vale de Espinho, 6.11.2013
"E de repente damo-nos conta que envelhecemos, a ver envelhecer estas pedras que não envelhecem..."
(Sérgio Paulo Silva) |
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Magia, nas
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águas do Côa
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E ... é o regresso. Mas não vai ser um adeus ... é só um até breve... |
Muito ficou por mostrar, nas "minhas" terras da
Malcata, do
Côa, do
Águeda, do
Bazágueda ... como muito me falta calcorrear nas terras "mágicas" do
Gerês! Pelo menos para mim e para a "
White Angel" que veio conhecer a Transcudânia ... o Gerês e as terras da raia passaram a ser terras gémeas, geminadas por uma paixão comum, por almas que sentem e vivem os grandes espaços ... por almas de montanhistas...
2 comentários:
adorei esta viagem, obrigada.
poste no face no grupo de meditação ao encontro da alma luzitana.
beijinhossss
É um prazer ler e reler estas linhas. Adivinha-se a íntima cumplicidade com a montanha e ruralidade circundante.
Testemunho da grandiosidade da paisagem e dos homens e mulheres, que a sentem perto de si.
Agraço
(Rooibos)
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