Depois de uma caminhada espectacular,
à descoberta da Serra de Béjar, que poderia haver de melhor ... do que outra caminhada espectacular? O "meu"
Xalmas, ou Xálima (a Serra da Xalma da gíria raiana) é o ponto mais alto da porção ocidental da
Serra da Gata. Mas ... há mais alto! Bem mais a nordeste, onde a Gata se "mistura" com a
Peña de Francia, já nas comarcas de
Las Hurdes (a "terra sem pão", de Luis Buñuel), a
Sierra de La Canchera e o seu
Pico Tiendas é considerado o ponto mais alto
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El Gasco, Las Hurdes, 4.01.2013 |
da Gata, com os seus 1590 metros de altitude. De regresso de Béjar a Vale de Espinho ... era a oportunidade de conhecer um pouco destas terras "perdidas" entre vales e serras, entre rios caudalosos e
cuerdas altaneiras.
El Gasco é uma dessas terras "perdidas", ao fundo do vale do rio
Malvellido, afluente do
Hurdano. O vale é tão profundo e apertado que a aldeia está quase sempre à sombra. A partir de
Vegas de Coria (onde pernoitei e onde, às oito e meia da manhã, estava a dois graus abaixo de zero), são 16 km de uma tortuosa estrada que acompanha o rio, passando por outras aldeias com nomes que lembram contos:
Rubiaco,
Nunomoral,
Martilandrán. E a estrada ... termina em El Gasco. Onde portanto começou a "aventura"...
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El Gasco despertava para mais um dia (750m alt.) |
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Os horizontes vão-se abrindo |
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Miradouro, já a 1095 |
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metros de altitude |
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Água ... fonte de vida! |
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E lá está a Serra de Béjar, ao fundo |
E a "aventura" era subir a encosta oeste do vale, rumo à
Collada de La Piornera. Uma subida íngreme, em zig-zag, dos 780 metros de El Gasco aos quase 1400 metros da
Collada. Um desvio para sul teria permitido ir ver o chamado "
Volcán del Gasco", mas a extensão e desníveis da jornada aconselharam-me a deixá-lo para outras "aventuras", tanto mais que iria testemunhar, à medida que subisse, a autêntica miríade de vestígios rochosos daquele fenómeno local, que tem, pelo menos, duas explicações possíveis: uma efectiva erupção vulcânica, ou o efeito de um impacto meteorítico há qualquer coisa como cerca de um milhão de anos. O que é facto é que as rochas de aspecto vulcânico que proliferam em grande parte das cumeadas apenas se originam mediante um extraordinário e rápido aumento de temperatura.
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Agulhas |
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apontadas ao céu |
Acima já dos 1400 metros de altitude, o rumo era o
Pico Tiendas, a 1590 metros e cume absoluto da
Serra da Gata. E a panorâmica ... permitia girar 360º, com a
Serra de Béjar a leste ... e a
Serra da Estrela no horizonte, a oeste! A norte, o cume da
Peña de Francia, a sul, o vale de
Horcajo e a planura estremenha, a perder de vista. Era magia em estado puro!
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Pico Tiendas, cume da Sierra de Gata, 1590m alt. |
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Para sul, o vale de Horcajo ... e a magia em estado puro... |
Descendo do Pico Tiendas para norte, abria-se-me agora o imponente vale das
Fuentes del Hurdano. Foi sobre essa garganta que "pousei" para almoçar ... almoço que teve um episódio digno de registo: a garrafita de "Quinta dos Termos" de que normalmente me faço acompanhar já estava encetada de ontem mas, ao tirar a rolha ... esta partiu-se e ficou a meio do gargalo. E agora? Aquele preciso néctar era mal empregado não acompanhar o pitéu que me estava a repôr as forças. Com o dedo ... a rolha não se mexia...; saca-rolhas ... não tinha! Bem ... pedras havia por ali ... e escolher uma pedra fina que coubesse no gargalo não foi difícil. Assim, lá tentei empurrar o resto da rolha para dentro, com a pedra ... e a rolha lá acabou por ir para dentro ... juntamente com a pedra!!! O resto do almoço foi acompanhado portanto ... com "vinho da pedra"...
J. Mas aprendi a lição: nunca mais caminharei sem um canivete multi-funções, aliás companheiro inseparável de um arraiano que se preze!
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Panorâmicas |
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sempre fabulosas |
E a caminhada estava já na parte de regresso, agora a norte do vale de
El Gasco, sempre com panorâmicas espectaculares. Por estas alturas encontrei o único humano desta jornada: um pastor tomava cuidadosamente conta das suas cabras. "
Faz queijos?", perguntei; "
no, el suelo es pobre, no es como en Portugal". Se lhe podia tirar uma fotografia? "
no, que después me judían en el pueblo". Sem dúvida original, este pastor, cujas cabras lá andavam uns socalcos abaixo.
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Como eu gostava de ser como tu... |
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Descida do Lombo de La Pina, de regresso a El Gasco |
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Um último adeus a Béjar, lá ao longe |
Mas estava ainda acima dos 1350 metros de altitude ... e era preciso descer quase 700 metros para o ponto de origem! Através de um estreito e pedregoso carreiro pelo meio de frondoso pinhal, vencer esse desnível descendente - o
Lombo de La Pina - não foi obra fácil...
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De regresso a El Gasco ... já quase à sombra |
Pouco passava das quatro da tarde quando voltei a entrar em El Gasco, agora vindo de nordeste. E depois ...
Vale de Espinho estava a pouco mais de 80 km ... onde a minha "musa" me esperava!
Estes foram sem dúvida dois dias especatculares. Duas caminhadas bem diferentes, mas que me permitiram, como sempre, carregar as baterias, encher as vistas ... rejuvenescer a cada nova cumeada, a cada esvoaçar de alguma ave que passa, a cada marulhar das águas que correm, a cada rocha que salto, a cada curva de um caminho ... de um caminho que se faz caminhando!
3 comentários:
Olá José Carlos,
Que fotos magníficas, que bela caminhada!
Excelente!
Abraço.
Bonito de se ver. Aquelas rochas valem a reportagem, já não digo a canseira...
Dás-me licença, que copie uma para o meu mural? Aquela dos montes e vales corridos pelas brumas?
Abraço!
Gostei das paisagens e não resisti a transmitir as emoções que senti ao vê-las, em alguns comentários.
É excelente ver estas reportagens, sem ter de calcorrear todos estes montes e vales. Fica a curiosidade do vinho da Quinta dos Termos, com sabor a pedra! Ainda aproveitam a ideia...
Um abraço.
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