Em Julho de 2011, uma
travessia da Malcata levou-me da "minha"
Vale de Espinho ao Terreiro das Bruxas, aos pés da
Serra d'Opa. A extensão da travessia e a hora a que tinha boleia de regresso não me
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Terreiro das Bruxas, 10.01.2012, 7:20h |
permitiu subir àquela Serra, que domina a Cova da Beira desde o vale da
Senhora da Póvoa, ao qual uma
outra travessia me levara em Agosto de 2008. De ambas as vezes, a Serra d'Opa tinha ficado apenas como silhueta no horizonte, à espera. Dois artigos recentes de José Carlos Mendes
* levaram-me a palmilhá-la ontem, do Santuário da Senhora da Póvoa ao cabeço de
Sortelha Velha e deste ao cume da Opa.
Feita a travessia a pé de Vale de Espinho ao Terreiro das Bruxas, em Julho passado, desta vez o carro ficou precisamente naquele "terreiro", junto à capela da singular
Senhora do Bom Parto. E dali segui, já em jornada pedestre, para o Vale da Senhora da Póvoa e respectivo Santuário, parcialmente ao longo do canal de irrigação da Cova da Beira, proveniente da Barragem do Meimão (incorrectamente chamada da Meimoa...). Estava, por enquanto, a acompanhar a Serra d'Opa pela base.
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Santuário de Nossa
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Senhora da Póvoa
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Campos geados ... |
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... e campos verdes |
Em direcção sudoeste, caminhos rurais e campos geados levaram-me à base do morro sul da Serra d'Opa, designado por
Sortelha Velha. Trepá-lo é que não foi obra fácil, já que a carta militar 236 me levou ao engano, mostrando um caminho que se revelaria inexistente. Durante uma hora, "perdi-me"
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"selva" de esteva
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No meio da
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assim no meio de uma autêntica selva de esteva, salpicada aqui e ali por alguns pinheiros ... até chegar à conclusão de que, se não tivesse ligado à carta e tivesse começado a subir mais cedo ... teria lá chegado em 15 ou 20 minutos!
Depois da "aventura", e já no bom caminho, ainda assisti à passagem de um grande rebanho de ovelhas e cabras, seguido de perto por pastores, cães de guarda ... e um aprendiz de cão de guarda...
J
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Ainda há rebanhos ... |
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... ainda há pastores ... |
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... ainda há cães de guarda ... |
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... e até há um aprendiz de cão de guarda J! |
No cimo de
Sortelha Velha, só com alguma boa vontade se conseguem ver vestígios castrejos, pelo menos para um leigo como eu. Mas notam-se os restos de uma muralha circular de pedra solta, com uns 50 metros de diâmetro, que consta ter sido precursora da vila e castelo de
Sortelha, 9 km a norte. Aqui e/ou nas faldas da serra se terá situado
Lancia Oppidana,
oppidum lusitano dos Vetões, a nação mais oriental da província da Lusitânia.
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Sortelha Velha (638m alt.) |
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Vestígios castrejos, Sortelha Velha
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Agora no sentido nordeste, a Opa obriga-nos a descer quase 100 metros ... para depois subir quase 300 até ao cume da serra. Mas à medida que avançamos a panorâmica vai-se abrindo 360º à volta. O vale da Senhora da Póvoa está agora aos meus pés, para lá dele as colinas onduladas da "minha"
Malcata. Viro-me, e tenho a
Serra da Estrela no horizonte, a ribeira do
Casteleiro, que igualmente surge lá em baixo, com o casario da
Sortelha mais acima, ao fundo.
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O Vale da Senhora da Póvoa visto da cumeada, entre Sortelha Velha e a Opa |
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A caminho do cume da Opa, sentido SW/NE |
Mas o cume da Serra d'Opa é um lugar mágico. Saídos como que por encanto das entranhas da Terra, grandes blocos de granito erguem-se em formas bizarras, algumas, a lembrar formas humanizadas, outras. É nestas penedias que vivem, escondidas, três lindas mouras com tranças de ouro, de formas esbeltas e de superior encanto, presas por eternos desígnios a uma eternidade infinda.
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Passagem para outra dimensão... |
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Concavidades escavadas na rocha. Com que fim? |
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A "arca de Noé"... |
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Um guerreiro
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vetão?...
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As guardiãs do Casteleiro |
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E a Serra da Estrela em pano de fundo |
Aqui sim, algumas destas fragas atestam evidentes vestígios da mão do Homem. Concavidades escavadas, aparentes formas traçadas, transportam-nos para onde a imaginação nos levar ... à medida que o olhar nos deixa "voar" para além dos horizontes. As histórias falam também de minas, grutas profundas, buracos enormes pela rocha abaixo, até às profundezas. E eles lá estão efectivamente. Conta-se até que se ouve lá no fundo o marulhar das ondas do mar!
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Grutas misteriosas e ruídos telúricos... |
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Outro soldado celta? |
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Vestígios de mão humana |
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No cume da Serra d'Opa (867m alt.) |
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Terreiro das Bruxas e Santo Estevão, do cume da Serra d'Opa |
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Foto panorâmica, do cume da Serra d'Opa |
Para qualquer lado que nos viremos, a "plantação" dos tempos modernos povoa diversas zonas, mas no cabeço de
S. Cornélio e à volta de
Sortelha as torres eólicas dão um aspecto aterrador à paisagem. As divindades celtas e as mouras encantadas da
Serra d'Opa devem estar bem atemorizadas...
L
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As muralhas de Sortelha e o
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alto de S. Cornélio ... "povoados"
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As colinas ondulantes da "minha" Malcata, do alto da Serra d'Opa |
As lindas mouras de tranças de ouro, diz-se que guardam enormes riquezas. Não as consegui ver. Elas também só saem uma só vez em cada ano, na noite de S. João...! Vim de lá sem tesouros, mas não desiludido, nem amedrontado ou confundido...
J. Pelo contrário, vim de lá mais rico, porque "ganhei" mais uma serra, galguei mais fragas.
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E começou a descida. Adeus Serra d'Opa. |
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Quinta do Coto ... e
a despedida da Serra
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Terreiro das Bruxas, no regresso
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Pouco passava das duas da tarde de mais um radioso dia de Sol de Janeiro, estava de novo no
Terreiro das Bruxas. Rapidamente a Serra d'Opa ficaria para trás ... e ao fim da tarde ficariam também para trás as "minhas" terras raianas. Como sempre ... não é um adeus, é só um até breve!
E aqui fica o percurso limpo, sem as "peripécias" vividas no meio do esteval...
(Além dos dois artigos de José Carlos Mendes citados no início, foi também consultado "As Mouras da Serra d’Opa", de Jaime Lopes Dias)