sexta-feira, 28 de junho de 2013

Lobos ao crepúsculo...

Velhinho de 26 anos, o CRLI - Centro de Recuperação do Lobo Ibérico - situa-se paredes meias com
a Tapada de Mafra, próximo das povoações de Vale da Guarda e Picão. Já o havia visitado com os Caminheiros "Gaspar Correia" em Dezembro de 2002 e acompanho com frequência as suas iniciativas e actividades.
Nos remotos anos 70 do século passado ... eu e a minha "sócia" fomos colegas de curso do Presidente do Grupo Lobo, Prof. Francisco Fonseca ... o nosso "Xico dos lobos"... J.
Da recepção "vigia-se" parte da encosta
Nessas actividades e iniciativas, há dias saltou-me à vista uma visita guiada ao CRLI, incluindo um pequeno percurso pedestre, para conhecer a biologia e a ecologia do último grande predador da fauna portuguesa. "Lobos ao Crepúsculo", é o nome da actividade que o Grupo Lobo propõe aos interessados que queiram visitar o Centro ao final do dia, em diversas datas, das quais 28 de Junho era a primeira.
O "território" dos lobos do CRLI, 28.06.2013
E assim ... um pouco antes das 19:00h lá estávamos no CRLI, preparados para tentar ver e ouvir os lobos que ali se encontram, em cativeiro, nos cercados que recriam um ambiente semelhante ao natural, adequado para lobos que não podem viver em plena liberdade.
O Sabor, nascido na Galiza (foto: CRLI)
A Tua, nascida num zoo do Sul de Inglaterra (foto: CRLI)
E a Faia, nascida em Junho de 2008
(foto: CRLI)
A visita decorreu ao sabor da paixão evidente nas explicações da jovem bióloga encarregue de a orientar. Um percurso pedestre naturalmente pequeno - uns simples 2 quilómetros - levou-nos aos vários cercados do Sabor e da Tua, da Faia e da Bolota, da Peneda ... dos lobos e lobas que um dia uma mão criminosa impediu algures de continuarem a sua vida normal, na Natureza. Só que, num fim de tarde ainda bastante quente ... os lobos não quiseram saber dos visitantes e não nos brindaram com a sua presença. É assim a Natureza, o CRLI não é um Jardim Zoológico, é impossível prever se e quando eles efectivamente se desinibem e nos oferecem um pouco do seu convívio.
Torre de vigia do CRLI
A visita e o pequeno percurso pedestre não foram contudo dados por mal empregues. Aprendemos aspectos ligados à biologia desta espécie protegida, trocámos impressões sobre a problemática da sua conservação, sobre a difícil relação homem / lobo, sobre as histórias do imaginário popular.
A missão do CRLI é uma missão altamente meritória e que bem merece ser apoiada, através das visitas, através do programa de adopção de animais, de qualquer das múltiplas formas que o Centro propõe a quem o pretenda apoiar. Visitá-lo e conhecer a biologia deste mítico animal ... é entregarmo-nos um pouco mais à Natureza ... descobrindo que afinal o "lobo mau" é bem melhor que o seu predador ... o Homem.
Finda a visita, e sabendo da nossa participação, o Prof. Francisco Fonseca quis honrar-nos com a sua presença! Na sua impressionante relação com os lobos, ainda os chamou através da forma de comunicação mais característica desta espécie: o uivo! E ... 2 ou 3 deles responderam uivando! Mas, se os quisermos ver ... teremos de lá voltar numa das restantes datas desta excelente iniciativa, "Lobos ao Crepúsculo".
Obrigado Xico!

Nesta visita tivemos casualmente conhecimento desta infeliz notícia: "Ganaderos proponen declarar Ávila “libre de lobos” y piden su aniquilamiento". Em que século vivemos?! Por esta notícia dir-se-ia que no século XV...! Assine a petição contra esta barbárie aqui.

domingo, 23 de junho de 2013

Rota do Solstício - Festival da Natureza

Regressar de uma caminhada às oito e meia da manhã ... convenhamos que não será muito vulgar... J. Mas nada foi vulgar no fim de semana que ainda estou a viver! A caminhada ... começou pouco depois das quatro da manhã ... menos de duas horas depois de terem terminado os concertos de sábado de um "mágico" Festival de sagração ao Solstício, em terras da Serra da Gardunha...
Nos dias mais longos e nas noites mais curtas de 2013, do Solstício de Verão, as encostas sul da Serra da Gardunha recebem um festival que redescobre as tradições, artes e saberes consolidados, ao longo do tempo, pelas relações do Homem com a Natureza.
Assim rezava o cartaz deste inovador festival, a realizar "à sombra" do velho e infelizmente abandonado edifício do antigo Colégio de São Fiel, Louriçal do Campo. Da programação constava inclusivamente um percurso pedestre para contemplação do nascer do Sol. Não podíamos faltar, eu e a minha "velha" companheira deste ciclo natural da vida e do tempo...

E o que aconteceu e ainda está a acontecer este fim de semana nas encostas da Gardunha ... é magia! Logo na sexta feira - dia do Solstício de Verão - uma homenagem a Arlindo de Carvalho, verdadeiro músico das campinas da Idanha, seguido dos Anafaia, excelente grupo de recolha e recriação de temas das beiras, com inspiração no imaginário rural da Beira interior.
Depois ... depois foi uma "maratona" de mais de 24 horas seguidas de actividades, desde workshops de produtos da terra, como o pão, aos instrumentos musicais que têm raízes nessa mesma terra, aos contadores de histórias, às danças, à medicina tradicional chinesa ... e à Rota do Solstício, a subida nocturna à Serra da Gardunha, para contemplar o nascer do Sol, dois dias depois do Solstício de Verão, de um verão que tardava a querer chegar.

Louriçal do Campo, 22.06.2013 - Workshop 
de produtos locais: o pão
Ontem, sábado, havia dois workshops à escolha: o "Sol nascente" e o "Sol poente". Como na caminhada a realizar na madrugada de hoje íamos assistir ao nascimento do astro-rei ... nós escolhemos o "Sol poente". Em Louriçal do Campo, integrados num grupo de uns 20 jovens dos quais nós éramos os mais velhos (como começa a ser vulgar... J) começámos por acompanhar o labor do pão, desde o amassar ao tender ... e ao comer... J. Depois, Miguel Carvalhinho fez-nos um excelente historial e demonstração de viola beiroa. Já depois do almoço e em S. Vicente da Beira, foi a vez do verdadeiro homem espectáculo que é Sebastião Antunes nos falar e mostrar parte da sua colecção de instrumentos musicais tradicionais. E na típica "Taberna Vicentina" de S. Vicente da Beira ... sentimo-nos transportados de volta no tempo ao "Encontro de contadores, lareiras e sabores", em que participámos há quase 4 anos nas aldeias de Manhouce e Candal, no maciço da Gralheira; também agora nos contaram histórias e estórias, de uma velha que tinha um gato e debaixo da cama o tinha, estórias de papões, de esqueletos, de medonhos vales...

Casal da Serra e a Serra da Gardunha, 22.06.2013
Na aldeia do Casal da Serra, foi a vez de uma sessão de Chi Kung, terapêutica tradicional chinesa que visa controlar os fluxos de energia, a relaxação ... a meditação. E que melhor, depois da relaxação ... do que um workshop de danças tradicionais? Já de regresso a S. Fiel, com os GiraSol, as danças foram uma verdadeira sagração ao astro-rei, já também ele em relaxação de fim de dia, preparando-se para mergulhar por detrás da serra ... para dar lugar a quatro "concertos mágicos", nos dois palcos do "Solstício".

São Fiel: uma autêntica Sagração ao Sol ...
... sob a forma de um workshop 
de danças tradicionais
O velho e infelizmente abandonado edifício do antigo Colégio de São Fiel
Pela noite de sábado dentro, dos estremenhos Aulaga Folk à ousadia dos Diabo na Cruz e à "ficção científica" dos Sampladélicos ... penso não errar se disser que foram os Pé na Terra os autênticos e verdadeiros mágicos desta noite mágica, em que uma assistência de todas as idades foi levada ao rubro. Como eles próprios afirmam, “o tradicional não se baseia apenas na recolha.”.

"Pé Na Terra" ... um concerto mágico!
Passava das duas e meia da manhã da madrugada que já era de hoje, domingo, quando terminaram os concertos. A caminhada ... estava programada para as 4 horas! Há largos anos que não fazíamos uma "directa" (tantos que lhes perdemos a noção) ... foi hoje... J! Guiados pelo luar da grande Lua cheia quase coincidente com o Solstício - a Super Lua - mais de 200 pessoas subiram a Gardunha nesta madrugada, de São Fiel ao talefe da Baldeira ... onde o nascer do Sol ia ser homenageado com um pequeno concerto de harpa e tintinábulo! 400 metros de desnível, que vencemos em pouco menos de 5 km, levando os primeiros sensivelmente uma hora a atingir aquele imponente "miradouro" virado a nascente, sobre o majestoso anfiteatro que vai de Alpedrinha às terras de Penha Garcia e Monsanto, à Idanha, a Castelo Branco.

S. Fiel, 23.06.2013 ... 4:20h da madrugada
O horizonte na raia de Espanha começa a colorir-se ...
Entretanto a Super Lua
põe-se a oeste
Três minutos depois das seis da manhã ... o majestoso Sol erguia-se lá para as bandas da raia de Espanha, um pouco a sul de Monsanto, lançando chispas de luz num céu já antes iluminado pela cor vermelha  do nascente. O Sol, fonte de toda a energia, fonte de vida, de inspiração ... de êxtase!

Baldeira (910m alt.), 6:03h - E assim nasceu o Sol, 2 noites depois do Solstício!
E dessa inspiração e arte saíram os acordes melodiosos de um instrumento único no mundo, o tintinábulo lusitano, formado por 4 barras que suportam séries de chocalhos, ao modo de carrilhão. A harpa de vento, ou harpa eólica, por sua vez, não é “tocada” no sentido tradicional da palavra; exposta ao vento - como foi o caso - a harpa eólica ... “toca sozinha”.

Tintinábulo
lusitano
Harpa de vento



E a maratona que começou ontem para os workshops da manhã ... terminou hoje pouco antes das 8 horas. Foram mais de 24 horas non stop. Cansado? Não ... preparado para terminar este fim de semana mágico logo à noite, em que o Festival Solstício encerra com bombos, com os Musicalbi ... e com o "grande" Sebastião Antunes em concerto...! Durante o dia ... recarga de baterias... J!

2ª feira 24 de Junho

E o Solstício terminou efectivamente com mais uma noite de concertos ... mágicos.. J. Ou não fosse esta última noite a que incluía o "grande" Sebastião Antunes! Nunca será demais relembrar que o nome deste blog se inspirou no título do primeiro álbum da "Quadrilha", a banda fundada por Sebastião Antunes ... há uns já longínquos 20 anos...
23.06 - Uma super Lua ilumina as campinas da Beira Baixa
Iluminada pela maior lua cheia do ano - a "supermoon" - a noite foi também do Rancho Folclórico da Soalheira, dos Bombistas e dos Musicalbi Folk, considerados uma das referências da nova música tradicional portuguesa.
Ver todas as fotos



E "Quando a noite já ia serena" ... o Festival da Natureza encerrou esta que foi a sua primeira edição. A história deste inovador Festival em terras da Gardunha não vai ter seguramente o seu fim ... mas "valeu a pena, mesmo que o fim da historia seja aqui ".

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Da Praia das Maçãs à Samarra...
e regresso ao pôr-do-Sol

Um convite para uma caminhada em dia de Santo António ... para caminhar pelas arribas ... num dos primeiros dias de Sol que finalmente parecem ter chegado ... com gente amiga ... era irrecusável.
Praia das Maçãs, 13.06.2013
O percurso era muito idêntico ao que fiz com os Caminheiros Gaspar Correia em Janeiro de 2011 ... mas agora era quase verão. E a caminhada incluía uma bela sardinhada e grelhada, na Praia da Samarra, na nossa sempre imprevisível costa oeste.
Assim, às 9 da manhã encontrávamo-nos na Praia das Maçãs, prontos para percorrer as arribas litorais até à Samarra e voltar, pelas Azenhas do Mar e Magoito. Foram 21 km de boa caminhada, sempre pautada pelo marulhar das ondas e pela brisa norte ... e pela boa disposição dos 17 caminheiros humanos e da cãominheira canina que a realizaram. Para além das paisagens litorais em si mesmas, de destacar a curiosa formação rochosa da Lomba dos Pianos, próxima já da praia da Samarra. Trata-se de um afloramento basáltico com disjunção prismática, relativamente fácil de escalar e com uma panorâmica aliciante sobre a costa.

Magoito à vista
A Lomba dos Pianos, próximo já da Praia da Samarra
Subida para a Lomba dos Pianos
E há que voltar a descer...
A caminho da Samarra
Descida para a Praia da Samarra ... carregando o nham nham para o almoço...
Um boa
sardinhada...
... e banho!
17:05h - Era tempo de regressar ...
E o regresso foi pelo mesmo percurso, acompanhando agora a gradual descida do Sol no horizonte. Passavam vinte minutos das oito horas, com o astro rei a cair já no mar, chegávamos de novo à Praia das Maçãs, no final de mais uma bela jornada pedestre.

O Sol começava a cair no horizonte
Azenhas do Mar
Foi sem dúvida uma bela forma de passar o dia de Santo António. Ficam, como habitualmente, os registos...
... e a foto do grupo, claro!