Quando em Setembro de 2011 encerrei a parte retrospectiva destes "instantâneos" - os meus primeiros "Quarenta anos por fragas e pragas..." - trouxe mais uma vez ao de cima a minha paixão por aquelas a que costumo chamar as minhas três "terras natais". Escrevi então, sobre mim próprio:
«Nos "paraísos perdidos" das suas serras e rios, nas suas três "terras natais", o nosso jovem, agora avô, continua a subir velhas bredas, a beber a água divina das fontes, a sentir a energia telúrica de escarpas e barrocos, a descer torrentes e ribeiras, a pulular de som e de vida … saltando as fragas.»
A Vale de Espinho, às terras do Côa, vou com alguma frequência; a Somiedo ainda em Junho lá estive; ao Gerês, ao meu amado Gerês ... há mais de dois anos que não ia! Até a mim me pareceu uma eternidade, ao constatar a passagem do tempo ... sem viver o Tempo! A última vez tinha sido em Março de 2015, quando parti em busca de um recarregar de baterias ... e quando vivi dois dias a ver a minha Mãe e um grande Amigo, acabados de partir, em cada corga, em cada estrela na imensidão da eternidade. Foi um Gerês com Alma, muita Alma ... guiados pela Alma de Montanhista, a grande mulher que um dia se entregou de Alma e coração àquelas serras, àquelas fragas, às rocas e às corgas, aos prados e currais do seu amado Gerês ... do meu amado Gerês!
Agora, dois anos e meio depois, as saudades do Gerês eram já muitas ... e fizeram nascer esta (re)descoberta do Gerês profundo. E assim se juntaram dez amigos, companheiros e companheiras de fragas e pragas. Salamonde foi a base para as duas primeiras incursões.
A nossa "White Angel", ou Alma de Montanhista, mais uma vez nos ia conduzir na serra dos seus amores ... tanto mais que está presentemente envolvida num projecto de actividades outdoor, a "Gerês sem limites", juntamente com outro amante e conhecedor dos segredos do Gerês. A partir de Fafião, o objectivo do feriado de 5 de Outubro era um local que, para este "rapaz pacato" que um dia começou a escrever as suas memórias, ainda permanecia secreto: Porta Ruivas, no coração do Gerês. E como a amizade não tem limites nem fronteiras, a Dorita e o Manel mobilizaram o amigo Fernando de Matos, fafioto permanentemente apaixonado pela sua terra e serra, para nos transportar até à cabana do Vidoal. Aí sim ... ia começar a "aventura", com as cores do jovem astro-Rei a pintarem a paisagem ... e a perspectiva de mais um dia de calor como os anteriores e os seguintes, neste Outono que teima em ser Verão.
Pouco depois das dez horas estávamos no curral de Palma, acima já dos 1100 metros de altitude. Mas a jornada seria um permanente sobe e desce. À nossa frente tínhamos agora o imponente vale da Corga de Valongo, para lá do estradão do Porto da Laje, a que era obrigatório descer. Apesar da seca que tem assolado todo o país, o vale de Valongo apresenta-se felizmente verdejante.
Pouco depois das onze horas estávamos a cruzar a Corga Mão de Cavalo. Um pouco de água para amenizar o calor, onde até a Heidi se refrescou, a cadelinha que também já tem em si uma autêntica Alma de Montanhista. Seguiu-se a imponente subida a Porta Ruivas, pela face nascente, num sucessivo ziguezaguear à medida do qual os horizontes se iam abrindo.
Era uma e meia quando, após uns momentos de relax junto ao Curral de Porta Ruivas, iniciámos a subida à respectiva Meda, que com os seus 1299 metros de altitude domina os horizontes a quase 360º; só a norte e nordeste as alturas do Cantarelo, da Torrinheira, de Cidadelhe, nos impedem de ver os pontos mais altos do Gerês. Na Meda de Porta Ruivas ... cada um deu asas à imaginação.
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pacato" das fragas e pragas, c/ a "Gerês sem limites"... 😊
... live your dreams |
O calor continuava. Lá em baixo, o rio da Touça evidenciava bem a seca prolongada. A própria albufeira do Porto da Laje ... nunca a tinha visto tão em baixo. Mas passava já das cinco da tarde quando lá chegámos, para iniciar o trilho ao longo do vale do Rio Toco, ou de Fafião.
Do Vidoal a Fafião tínhamos ainda cerca de 4,5 km pela frente. De manhã o Fernando de Matos tinha-nos levado. Agora não se justificava; em pouco mais de uma hora descemos até às desejadas "lourinhas", com as cores do pôr-do-Sol a transportar-nos para um país de magia ... a magia com que fui encontrar, no Café "Fojo dos Lobos" ... a Vieira e a Cabaça de Santiago! É que Santiago é o Santo padroeiro de Fafião, que todos os anos festeja o seu dia.
Café "Fojo dos Lobos", Fafião ... e Santiago acompanha-me sempre!... |
Tínhamos percorrido 19 km ... em 12 horas! De Sol a Sol, ou melhor ... do Sol à Lua! A jornada tinha sido durinha, mas todos vínhamos de Alma cheia ... uma Alma de Montanhista. Um grande obrigado à Dorita, ao Manel ... e à Heidi. Os três fazem uma excelente equipa, que augura o melhor sucesso para a "Gerês sem limites". Ainda iríamos contar com eles no dia seguinte ... numa jornada muito mais soft.
(Continua)
Olá José já vi este trilho uma duzia de vezes, pois de cada vez consigo caminhar com vocês neste Gerês agreste e profundo que tanto nos fascina. Mais uma vez um grande Abraço para si e para meus grandes amigos Manel e Dorita.
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